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quinta-feira, 2 de julho de 2009

Antes de querer correr é preciso saber andar...

Já várias vezes aqui afirmámos que aos autores de pseudo-histórias faltam conhecimentos básicos do ofício de historiador.
Se a Diplomática é um dos seus calcanhares de Aquiles (vejam-se as asneiras que têm sido escritas a propósito do morgadio de Cristóvão Colombo) a Paleografia é o outro - muito temos rido com o que se tem escrito a respeito das assinaturas de Colombo e das grafias com que outros escrivães grafam o nome do primeiro almirante das Índias de Castela.
Veja-se o exemplo do nome que consta nas bulas alexandrinas:

Cristoforum Colon


Crhistoforum Colon


É espantoso como com estes simples nomes se é capaz de produzir os discursos mais alucinados!
E querem eles fazer história assim...

Adenda:
Christoforum Colon
(Nome do Almirante numa cópia de bula alexandrina
in Livro dos Privilégios de Cristóvão Colombo)


quinta-feira, 9 de abril de 2009

Bibliografia da controvérsia (07)

  • BARRETO, Augusto Mascarenhas. A Identidade Portuguesa de Cristóvão Colombo – Comunicação, Lisboa, Academia de Marinha, 1990.
Nesta obra, onde Mascarenhas Barreto aparece identificado como professor, são referidos e remete-se para os dois primeiros artigos publicados pelo autor no jornal Correio da Manhã, os quais já foram aqui objecto de apreciação.
Como a maior parte dos escritos deste autor, trata-se dum compêndio de notas soltas, sem lógica discursiva, onde se apresentam dados parciais, deturpados ou fora de contexto para justificar os preconceitos do pretendente a historiador em relação a Cristóvão Colombo. Portanto, a este respeito, nada de novo.
Novo – tanto quanto a cronologia até agora estabelecida dos seus devaneios colombinos permite afirmar – são os epítetos com que Mascarenhas Barreto brinda Paolo Emilio Taviani a quem chama mafioso e mentiroso.
O maior impostor histórico da actualidade, senador italiano Paolo Emílio Taviani... (p. 15).
... Mas isso não passa de um pecadilho venal; pecado mortal é a despudorada fraude que comete ao citar uma frase de Fernando Colón [o que não é verdade!]: «Quis Deus, que o tinha guardado para maior coisa, dar-lhe força para que chegasse a terra»; e relacioná-lo com um extracto da carta que, em 1505, Colombo escreveu ao Rei Fernando «o Católico»: Deus nosso Senhor enviou-me aqui miraculosamente, porque acostei a Portugal (...).» E pronto. Com estas segunda citação, Taviani sugeriu o milagre do naufrágio, mas como todos os mafiosi genovistas não teve pejo em omitir o resto da missiva: «(...) digo por milagre, porque me apresentei ao Rei de Portugal, que entendia mais do que qualquer outro em matéria de descobrimentos, e Deus lhe fechou os olhos e as orelhas e cada um dos sentidos, tão bem que durante catorze anos não me escutou» (p. 15).
... Note-se que a mentira é o prato forte deste «Comissário dos Descobrimentos» (p. 16).
E não vale a pena continuar com maior levantamento de baixezas, bastando afirmar, só para terminar, que é Mascarenhas Barreto quem, neste texto, tem dificuldade em lidar com a verdade dos factos ao esquecer Rui de Pina na cronologia dos autores que dão o nome de Colombo ao Almirante das Índias de Castela (p. 19 e ss.) e que, portanto, dificilmente se trata duma invenção de italianos.

terça-feira, 17 de março de 2009

Subsídios para a História de uma polémica (II)

Waldemar Paradela de Abreu, editor da Referendo, publica o livro de Augusto de Mascarenhas Barreto O Português Cristóvão Colombo Agente Secreto do Rei Dom João II em 1988 do qual ainda no mesmo ano, em Setembro, se publica uma segunda edição – ou se calhar, mais propriamente, uma segunda impressão.
O livro em si poucas, ou nenhumas, novidades apresenta em relação ao que outros autores já haviam escrito em Portugal desde que em 1915-1916 Patrocínio Ribeiro teve a duvidosa honra de primeiro reclamar a nacionalidade portuguesa para Cristóvão Colombo na refutação que fez de Celso Garcia de la Riega, ideias essas que mereceram três edições.
Pouco acrescentando ao que anteriormente havia sido escrito, mantendo praticamente os mesmos erros e acrescentando outros de sua lavra, o que consta no livro de Mascarenhas Barreto é dado como se de grande originalidade e descoberta do seu autor se tratasse. É uma simples desonestidade intelectual, mas nada de mais, pois há que vender o produto a um grande público que não tem, propriamente, memória de bibliófilo, o que já não acontece com os especialistas.
Precisamente porque os especialistas sabem de bibliografias (e têm mais com que se preocupar do que com o trabalho de amadores a fazerem pela vida) ignoraram o livro de Mascarenhas Barreto – ou pelo menos não foram lestos a cantarem hossanas como o autor desejaria, mas de modo algum impediram que propagandeasse as suas ideias como muito bem quis e entendeu.
Tanto assim foi que a própria Academia de Marinha – uma instituição que contava (e conta) entre os seus membros alguns dos mais prestigiados especialistas em História da Marinha e dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa – lhe abriu as portas para que pudesse aí apresentar as suas ideias. Como se isso não bastasse, a mesma instituição publicou essa comunicação em 1990 (por esta altura também deverá ter ocorrido uma comunicação do mesmo autor na Sociedade de Geografia de Lisboa).
Estas atenções da Academia de Marinha são tão mais louváveis, quanto, desde muito cedo, Mascarenhas Barreto não se coibiu em trazer para a praça pública um debate que deveria processar-se no meio científico. E isso é ainda mais lamentável quando rapidamente começa a recorrer à insinuação, ao insulto e, até mesmo, ao logro.
Fosse uma estratégia comercial, pressa em obter reconhecimento (numa área onde se leva décadas a obtê-lo) ou simples maus-fígados, Mascarenhas Barreto enveredou por uma via agressiva de apresentação e defesa das suas ideias, sem que lhe faltassem lugares onde o pudesse fazer. O jornal Correio da Manhã facultou-lhe um espaço onde, livremente, apresentou o que lhe ia na alma, sem, durante muito tempo, qualquer oposição ou réplica. O primeiro destes artigos, seis meses depois da segunda impressão do livro, é publicado em 13 de Março de 1989 com o título Os Caluniadores do Infante D. Henrique e, em pouco tempo, mais de duas dezenas de outros são passados nas rotativas do mesmo jornal.


A. Mascarenhas Barreto, «Os Caluniadores do Infante D. Henrique (I)», Correio da Manhã, 13-3-1989, pp. 2-3.
(Clicar na imagem para ampliar)

À parte do amontoado de factos, interpretações e notas pseudo-eruditos, e portanto pouco esclarecedores de um qualquer problema histórico - além de a maior parte deles não serem coevos ou respeitarem à época do Navegador (e que se destinam somente a impressionar os leigos) – sobressai o modo displicente como se refere a alguns dos mais notáveis historiadores portugueses desde Luciano Pereira da Silva até Luís de Albuquerque, ao qual alude depreciativamente várias vezes quando não se lhe dirige abertamente de forma desagradavelmente negligente. Não é que os erros, imprecisões e interpretações alternativas não devam ser apresentados, o que não cai bem é a duplicidade de comportamento, pois na dedicatória que fizera a Luís de Albuquerque desfizera-se subservientemente em encómios, enquanto que publicamente insinua falta de patriotismo, motivações políticas e desmandos na gestão da coisa pública.


A. Mascarenhas Barreto, [«Dedicatória a Luís de Albuquerque»], in Luís de Albuquerque, Dúvidas e Certezas..., I, p. 173.
(Clicar na imagem para ampliar)

A pretexto da protecção da honra do Infante D. Henrique, serve-se de um jornal de grande tiragem e muito popular para levar a cabo um vingança privada contra aqueles que considera servirem interesses nefastos ao país, defendendo alternativamente uma visão já ultrapassada da História e da política – se é que alguma vez as concepções que defende foram dominantes.
Sem grande subtileza, o auto-intitulado historiador Mascarenhas Barreto, desmascara os por si considerados pseudo-historiadores que ousaram denegrir o mito criado ao longo de séculos em torno da imagem do Infante D. Henrique. No entanto, sem qualquer propósita relação com o Infante, mete Cristóvão Colombo ao barulho – afinal a (quase) sua grande tese – e lá vem o Salvador Fernandes Zarco cujo nome descobriu depois de outros terem inventado um Cristóvão de Cólos, um Simão Palha ou um Salvador Gonçalves Zarco – outros agora querem-no D. Diogo, o Zombie, ou ainda Salvador Henriques Zarco, mas enfim...
Neste esforço acaba por se esquecer de explicar ao grande público como chegou a tão fabulosa descoberta, mas há que deixar os leitores na expectativa para que comprem o livro. Também não explica aqui, nem noutro lado, porque é que só ele usou uma sigla cabalística e mais ninguém antes ou depois dele.



A. Mascarenhas Barreto, «Os Caluniadores do Infante D. Henrique (II)», Correio da Manhã, 14-3-1989, pp. 2-3.
(Clicar na imagem para ampliar)

Como quase todos os amadores que incautamente metem as mãos no passado, Mascarenhas Barreto revela grande dificuldade em lidar com o tempo histórico. A diacronia e a sincronia estão completamente ausentes no discurso, na interpretação e no uso dos conceitos. Como consequência cai no pecado mortal do historiador: o anacronismo. Mas isso não o impede mostrar complexos negativos em relação aos graus académicos e ao ofício de historiador enquanto actividade individual cujo mérito é de reconhecimento exclusivo pelos pares. Ao amesquinhá-los, tanto nestes artigos como no que publicará no Diabo, está a manifestar o sentido de inferioridade que continuará a afligir os partidários destas ideias pouco consistentes mais de vinte anos depois de dar início a estas diatribes.
Parafraseando um grande professor, um licenciado em Direito intitula-se jurista; um em Economia, economista, etc. No entanto, os licenciados em História (bem como a maior parte dos que se dedicam à História) não se intitulam historiadores e arranjam sempre uma qualquer outra designação para definir o seu trabalho. Na comunidade historiográfica o grau académico detido e a proveniência do mesmo são pouco relevantes, pois a competência manifestar-se-á pelo trabalho desenvolvido. Assim sendo a designação historiador é geralmente um atributo, como que um título de reconhecimento, dado aos autores já falecidos e de mérito firmado.
Se Mascarenhas Barreto, com toda a legitimidade, queria ser um historiador tinha de esperar para ver o seu trabalho reconhecido como sendo historiográfico; tinha de sujeitá-lo ao normal processo de reconhecimento deste ofício, que é a discussão e a crítica pela (e dentro da) comunidade historiográfica. Mas o mais notável de tudo isto nem é o esforço propagandístico (insultos à parte) de Augusto Mascarenhas Barreto. O espantoso é que vinte anos depois ainda haja quem leve este disparate a sério, chegando ao ridículo de, muitas vezes, chamar a si a autoria de ficções que, na realidade, são pertença de outros.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Oportunismo

A pseudociência tem como um dos seus atributos a recusa da crítica. O mesmo se passa com a pseudo-história, como já se mostrou nesta página. A crítica é o instrumento de verificação do conhecimento e não pode haver conhecimento sem crítica.
Qualquer discurso que procure passar por História mas que recuse a crítica passa a ser pseudo-história. Como a crítica é geralmente feita por especialistas e estes se encontram principalmente em instituições – universidades, academias e centros de investigação –, a pseudo-história passa a identificar esses organismos com os seus críticos e torna-se assim anti-institucional. Esta rejeição das instituições, confundindo-as com os seus membros, também nisso é reveladora da ignorância do processo de produção historiográfica.
Não deixa por isso de ser curioso que à recusa, por princípio, das instituições se procure sustentar nelas as suas próprias convicções quando erradamente se pensa estarem elas a dar o apoio para as ideias que se professam. É este mesmo raciocínio equivocado que faz pensar serem as instituições a validar um qualquer conhecimento e não os cientistas que na área em causa trabalham, como se a Universidade A pudesse validar, ou não, a Proposição X e a partir daí mais ninguém pudesse defender o seu contrário ou algo de diferente.
Na produção do conhecimento não há qualquer instituição certificadora de verdades e mesmo quando verdades são descobertas são-no feitas por homens, eventualmente institucionalmente enquadrados.
É por isso que, quando, por todo o lado (como aqui e aqui), vão aparecendo afirmações de que a Sorbonne apoia a ideia de ser Cristóvão Colombo português, estamos perante mais uma fraude feita por quem isso afirma. Tal como é fraudulento dizer que François Baradez é professor e é da referida universidade.
Conforme está amplamente demonstrado na página de Kristol Goulm, o jornalista François Baradez escreveu – sabe-se lá porquê – um pequeno artigo laudatório numa revista (Marins et Océans, n.º 3, 1992) de que se publicaram três números antes de fechar. O mesmo Baradez fez publicar noutros periódicos textos laudatórios do livro de Mascarenhas Barreto, facto que poderá indiciar um esforço sistemático de divulgação dos erros do autor do ... Agente Secreto de D. João II. O artigo na Marins et Océans é uma opinião que não é subscrita publicamente por nenhum professor, passado ou presente, da Sorbonne ou de qualquer outra instituição das que geralmente estão associadas à investigação histórica. Tendo cessado a publicação, essa revista foi posteriormente digitalizada e posta em linha por algum instituto ligado à Sorbonne. Quem nisto quiser ver um qualquer endosso pela universidade da opinião de Baradez sobre Colombo – ou de qualquer outro autor da revista sobre os vários temas publicados – erra tanto como aquele que vir na existência de livros numa biblioteca o apoio da mesma às ideias expressas nesses livros – pura burrice!
É, também, nestes pequenos detalhes que se manifesta toda a incoerência da pseudo-história. Esta rejeita a autoridade dos académicos e menospreza as suas instituições, mas ao mesmo tempo procura afincadamente obter o reconhecimento destes. Quando isso não acontece os seus praticantes inventam graus - usados como se de títulos se tratassem - e criam novas instituições que mimetizam as que desprezam.


Adenda de 12-12-2008.

Ver também:
CHRISTOPHE COLOMB ET LE PORTUGAL: ÉTAT DE LA QUESTION
Ouvrages de référence pour comprendre le livre de Barreto...
Les détracteurs du livre de Mascarenhas Barreto
Le professeur Mascarenhas Barreto est-il un mystificateur?

Adenda de 21-12-2008:
Fábrica de diplomas (diploma mill)
Life-experience diplomas from the Web are all the rage
Diploma mill: Bennington University
Adenda de 26-1-2009:
Qui est Mascarenhas Barreto?

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Subsídios para a História de uma polémica

O semanário O Diabo publicou em 1990 uma entrevista a Luís de Albuquerque que gerou uma forte reacção de Mascarenhas Barreto e de outros devotos da causa, reacções essas que parecem ir muito mais além do que o razoável para fazer valer uma qualquer posição académica.
Veja-se o que diz Luís de Albuquerque ao jornal O Diabo em 24 de Julho de 1990:
(Clicar na imagem para ampliar)

E agora a reacção de Mascarenhas Barreto no mesmo jornal de 7 de Agosto de 1990:
(Clicar na imagem para ampliar)

Pelo meio houve, pelo menos, uma carta ao director sobre o assunto, de que não dou mais notícia pois vale o que valem a maior parte das cartas aos directores dos jornais, e ainda mais um artigo de opinião por um José Martins, oficial da Armada reformado, em que desanca fortemente nos espanhóis, na CNCDP e até nos seus camaradas de armas que, cépticos, não paparam a historieta de Barreto quando este último a contou na Academia de Marinha.
O artigo em causa com o antetítulo de A Tese sobre a Portugalidade de Colombo e com o título muito indicativo de Estamos a Ser Alvo de uma Conspiração? foi publicado pel'O Diabo de 28 de Agosto de 1990 nas páginas 8 e 9.
Entre as muitas banalidades que o autor escreve - na linha do que já se está habituado a ver neste blogue aos defensores da Portugalidade do Almirante das Índias - está a notícia, dada pelo próprio, da carta que escreveu ao Primeiro-Ministro com altos conselhos de estado - eufemismo meu para dizer exigências - de como se deveria lidar com tão grave questão nacional. Transcreve a carta e desta convém reter a genial ideia - exigência - de - e passo a citar - mandar contratar os melhores peritos internacionais na ciência da cabala para estes confirmarem a descodificação da sigla daquele navegador ou, no caso contrário, nos dizerem o significado da mesma.
Agora compreendo como chegou ao fim a hegemonia da Marinha Portuguesa...

sábado, 10 de novembro de 2007

O código Colombo - O Método da Sopa de Letras

Mascarenhas Barreto, depois de Patrocínio Ribeiro, Pestana Júnior, et al. e uns anos antes de Doron Witztum, Eliyahu Rips, e Yoav Rosenberg inventarem o Código do Génesis, aplicou à assinatura de Cristóvão Colombo aquilo a que chamou o método cabalístico, mas que (nesta variante) com melhor propriedade se pode chamar de Método da Sopa de Letras.
Munido desse poderoso instrumento analítico gerou várias séries de caracteres donde sem grande esforço, mas não menor arrebatamento, extraiu das letras que figuram na assinatura de Cristóvão Colombo o nome Salvador Fernandes Zarco (e não importa que já antes outros, com menor esforço e menos palavreado, lhe tivessem chamado Salvador Gonçalves Zarco, entre outros epítetos).


Um dos muitos quadros de seriação de caracteres resultado da aplicação do Método da Sopa de Letras. Repare-se nos originais pormenores dos itálicos ou de como até existem reais palavras portuguesas pelo meio e que foram totalmente desprezadas na construção do personagem SFZ.
Mascarenhas Barreto, Cristóvão Colombo..., 2.ª ed., Lisboa, imp. 1988, p. 351.


Salvador Fernandes Zarco (SFZ, para os íntimos e para os amigos da vinhaça) é caso único em toda a História Universal. A Sopa de Letras que o gerou não mais foi usada para a revelação dos mistérios históricos. Será um daqueles moldes perdidos depois do uso? É que para além do alienado navegador – que demorando mais um pouco a compor a assinatura nunca seria almirante e ainda hoje pastariam bisontes nas Grandes Planícies – ninguém mais usou, que se saiba, esta ou semelhante chave de encriptação. Será que, em alternativa, deixou de haver historiadores capazes de identificarem a utilização da Chave Sopa de Letras e por isso mesmo ninguém mais foi descoberto como não sendo quem se pensava ser?

Genealogia de Cristóvão Colombo, na versão Salvador Fernandes Zarco, resultante da aplicação por Mascarenhas Barreto do método cabalístico à assinatura do Almirante.
(Clicar na imagem para ampliar)

(Última actualização: 25-02-2010)

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Quinze Anos é muito tempo


  • Mascarenhas Barreto investigou 15 anos (Cristóvão Colombo, Agente Secreto de D. João II, 2ª ed., Lisboa, Referendo, 1988, p. 10).
  • Ruggero Marino investigou 15 anos [Página eliminada ou mudada de endereço].
  • Manuel Rosa investigou 15 anos.
  1. O que têm em comum estes autores além da obsessão pelo n.º 15?
  2. Já agora, será que o n.º 15 tem um significado cabalístico incompreensível aos não iniciados?
  3. Ou trata-se duma mera reprodução comportamental?
  4. Sabe-se, lendo as páginas antigas deste blogue, aonde Manuel Rosa intervinha pessoalmente, que aqui disse pessoalmente que efectivamente investigou, não quinze, nem quatorze anos como de outra vez dissera, mas apenas treze, e nesse caso o significado numérico será o que reproduzimos ao lado...
  5. A interpretação a dar ao número XIII em tarot, à carta da Morte que nele simboliza um fim de ciclo permitindo novos começos, é portanto o maçadoríssimo mas inevitável começar de novo: Pelo menos, em tudo o que toque a interpretações, e diremos mesmo mais, designações, diante do documentado...


(Última actualização: 18-10-2008)

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Resposta aos Amigos da Cuba sobre a estátua a Cristóvão Colombo inaugurada na sua terra

No ex-blog "Colombo-o-Novo" ontem rebaptizado de "Mistério Colombo Revelado" escreve o sr. Carlos Calado, dos "Amigos de Cuba", parecendo falar em nome desta associação, o seguinte pequeno artigo intitulado "A Estátua da Polémica", que transcrevemos na íntegra:

"No dia 28 de Outubro de 2006 foi inaugurado na Cuba, Alentejo, Portugal, o único monumento dedicado a Cristóvão Colon em todo o mundo. Que ninguém se surpreenda.
Todos os outros monumentos são dedicados ao tecelão genovês Cristoforo Colombo (sonhando que este se transformou no Almirante) ou ao Almirante de Castela Cristobal Colón (sem saber bem quais foram as suas origens).
A inauguração do monumento, numa iniciativa conjunta da Fundação Alentejo-TerraMãe (cujo Presidente, Dr. José Flamínio Roza, ofereceu a estátua de bronze), da Câmara Municipal de Cuba e do Núcleo de Amigos da Cuba (associação que desde há alguns anos tem vindo a divulgar e dinamizar a questão sobre a nacionalidade e naturalidade do Descobridor das Américas)
Porquê COLON? Porque foi assim que escreveu o Rei D. João II e foi assim que escreveu o Papa Alexandre VI em documentos absolutamente incontestáveis.
Mas isto faz irritar muita gente.
Amigos da Cuba - Carlos Calado"


O Pseudo-História Colombina responde:

"...foi inaugurado na Cuba, Alentejo, Portugal, o único monumento dedicado a Cristóvão Colon em todo o mundo. Que ninguém se surpreenda."

1. Pensamos que ao cidadão comummente esclarecido não seja tanto motivo de surpresa, antes de comiseração.

"Todos os outros monumentos são dedicados ao tecelão genovês Cristoforo Colombo (sonhando que este se transformou no Almirante) ou ao Almirante de Castela Cristobal Colón (sem saber bem quais foram as suas origens)".

2. O PHC crê que os Amigos e a Câmara de Cuba pecam por soberba injustificada. Todos os monumentos erguidos no mundo a Cristóvão Colombo foram-no, sem qualquer dúvida, ao italiano documentado natural dos Estados de Génova (não necessariamente tecelão, e decerto não nascido Colon...) mercenário passado de Portugal ao serviço da coroa de Castela, independentemente de esta figura ter sido rebaptizada em Castela como Colón, e como tal designado apenas no mundo de fala castelhana. Pois que o mercenário italiano e o almirante "castelhano" sempre se soube que são a mesmíssima pessoa.
Ignoramos se existe na Galiza algum monumento ao "Colombo galego", se existe na Catalunha algum em honra do "Colombo catalão", se existe na Córsega algum em honra do "Colombo corso". Mas nesta ilha, que era então em parte genovesa, existe uma antiga marca de vinho com rótulo em homenagem ao "Colombo corso". É muito diferente no entanto uma homenagem individual a uma hipótese não aceite cientificamente, do que uma mesma homenagem feita com carácter oficial. Uma coisa é existir em Verona uma falsa casa quatrocentista dita de Romeu e Julieta, atracção turística gerando fartos lucros. Outra coisa seria o município de Verona tombar essa casa como de interesse municipal, por exemplo, por ser a "verdadeira" casa dos amantes de Shakespeare.

"A inauguração do monumento, numa iniciativa conjunta da Fundação Alentejo-TerraMãe (cujo Presidente, Dr. José Flamínio Roza, ofereceu a estátua de bronze), da Câmara Municipal de Cuba e do Núcleo de Amigos da Cuba (associação que desde há alguns anos tem vindo a divulgar e dinamizar a questão sobre a nacionalidade e naturalidade do Descobridor das Américas)."

3. É uma pena que as aludidas individualidades, antes de se prestarem a cobrir publicamente teses de pseudo-história, há muito desmontadas, não tenham antes preferido subsidiar com o muito dinheiro gasto uma investigação séria. Que permitisse estabelecer com certeza em que ponto dos Estados da República de Génova nasceu esta figura, recuperada interesseiramente para a atenção mundial apenas no sc. XIX.
Evidentemente que a descoberta exacta da terra da naturalidade de Colombo, em Itália necessariamente, em nada contribui para a afirmação no mundo nem para o progresso económico do Alentejo... Que pena não terem preferido investir em Sines, na naturalidade do grande alentejano D. Vasco da Gama, dos Gamas oriundos da alentejana Olivença. O Conde da Vidigueira é verdadeiramente o maior nauta da sua era, em termos simbólicos... Embora em termos reais talvez antes o tenha sido Bartolomeu Dias. Mas isso já são outros quinhentos. Uma certeza temos: quando como cidadãos escrevemos firme mas educadamente a protestar pela filosofia que presidiu à inauguração da estátua, no blog da Cuba, fomos imediatamente censurados... o resultado da censura, está aqui.

"...Porquê COLON? Porque foi assim que escreveu o Rei D. João II e foi assim que escreveu o Papa Alexandre VI em documentos absolutamente incontestáveis...."

Tal como bastas vezes já aqui referido, existe apenas um único documento, não estudado cientificamente, aonde consta em sobrescrito o nome Colon, aparentemente por mão diferente da que escreveu a carta. A carta pode até não ser verdadeira, total ou parcialmente. Não lhe foi ainda estudado nem o estilo, nem o suporte, nem a tinta, nem as várias caligrafias que evidencia. E mesmo que verdadeira, há mais hipóteses de ser do escrivão que do Rei. E mesmo que fosse do Rei, era dirigida a um estrangeiro já em Castela, conforme o nome em castelhano já lhe vinha. Nada mais. O sr. Carlos Calado ignora que Alexandre VI era castelhano... não leu bem o nosso artigo. Naturalmente também crê que o ex-Cardeal Borja, escrito sempre Borgia em Itália, escreveria pela sua própria mão as bulas...

"Mas isto faz irritar muita gente."

Acredito. A nós não. Antes nos faria chorar. A Câmara e os Amigos de Cuba preferem oficializar teses não sustentáveis, sem rigor científico nem metodológico, teses manipuladoras aliás, pois que ignoram deliberadamente as restantes e numerosas teses. Algumas dessas teses já centenárias, de outras nacionalidades, também elas sempre por comprovar até hoje. A Câmara e os Amigos de Cuba e a Fundação Alentejo Terra-Mãe, em vez de confiar na historiografia séria, nacional e estrangeira, preferem perseguir um desígnio. A nós não nos importa e menos nos irrita que esse desígnio não seja a dignidade da verdade. Um dia, a História esclarecerá se os estranhos actos praticados no concelho de Cuba em 2006, a respeito de Colombo, foram feitos por mero bairrismo ou regionalismo, circunstância atenuante, ou por outro tipo de interesses quaisquer.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Censura aqui não há

Já no passado os debates sobre a nacionalidade portuguesa de Cristóvão Colombo descambaram no insulto, veja-se o que se passou quando Mascarenhas Barreto ainda conseguia fazer correr a tinta na imprensa.
Uma das características da pseudociência, logo também da pseudo-história, é a incapacidade de aceitar a crítica sem tomar isso como algo de pessoal, o que leva os partidários destas correntes de argumentação a cair no insulto por incapacidade de demonstração com base na experiência, no documento, na análise e no raciocínio lógico, ou seja, por falhas insanáveis dos métodos (ou falta deles). A não aceitação da crítica, reputando-a sempre e no mínimo de incompetente, é a demonstração final do que é a pseudociência, pois recusa que a única forma de validação do conhecimento é a crítica. Para mais informação sobre este tema veja-se este excelente artigo (se ainda não foi adulterado).

Tudo isto para enquadrar um comentário posto hoje (Quarta-feira, Dezembro 20, 2006 8:45:00 AM) por um anónimo:

Pessoal nao vale a pena gastarem o vosso tempo com esses preguiçosos da leitura... Se eles nem leram as criticas a barreto nem barreto, como é que teriam lido o livro de Manuel Rosa?!
Como ja se sabe eles nao repondem à critica das suas pseudo criticas..
Tambem devo lembrar que fui aqui varias vezes censurado mas mesmo assim nao me tornei paranoico ao ponto de pensar que MR tem 20 heteronimos e q censura tudo no seu forum.
E sim, o ultimo anonimo ta certo, quando ja nao se tem nada para dizer faz-se ataques pessoias...com a juda da paranoia...


Ignorando por irrelevantes os dois primeiros parágrafos, quer-se aqui desmentir peremptoriamente o terceiro. É absolutamente falso que se tenha censurado qualquer comentário nesta página. Até agora, removeram-se unicamente dois comentários por conterem linguagem obscena, torpe. Se mais como tais houver, seguirão o mesmo caminho. Se alguém acha que expressões obscenas são aceitáveis como argumentos duma discussão, então deverá procurar outras paragens, pois aqui não será tolerado.
Quanto aos insultos que diariamente têm sido dirigidos aos autores, mais do que afectar os destinatários, revelam muito de quem os profere.

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Alentejo Terra Mãe

No número 6 da revista Alentejo Terra Mãe, Maria Antónia Goes assina um artigo intitulado “Cristóvão Colombo, aliás, Colon, era de Cuba!” Surge logo como primeira preocupação deste artigo o facto de Colombo não poder ser um cardador de lã pois casou com Filipa Moniz, uma nobre portuguesa filha dum Perestrelo.
São enunciados alguns autores que preconizaram a nacionalidade portuguesa de Colombo e contam-se entre eles Patrocínio Ribeiro, Mascarenhas Barreto, Manuel Luciano da Silva, José Rodrigues dos Santos, Manuel Rosa e Eric Steele. Nesta listagem constam portanto trabalhos de ficção como é o caso do Codex 632 e trabalhos de pseudo-história em que se podem incluir todos os outros.
A autora cita ainda Lopes de Oliveira que numa obra de 1949 se fundamentou em Baltazar Teles (1595-1675), Gaspar Frutuoso (1522-1591) e o Padre Cordeiro (que não se conseguiu apurar quando viveu) para afirmar que Colombo teve conhecimento de terras no Atlântico Ocidental por marinheiros que morreram todos, não se percebe se duma assentada ou gradualmente, depois de recolhidos na casa do dito Colombo na sequência dum naufrágio.
Segundo o artigo, Lopes de Oliveira justifica que o verdadeiro nome de Colon era Salvador Fernandes Zarco baseado em autores que viveram dezenas de anos (um século no que se refere a Baltazar Teles) depois de Colombo ter estado na Madeira e ter passado por Portugal. Chega a afirmar que era filho de D. Fernando e de Isabel Sciarra da Câmara baseado numa citação em latim onde alguém refere que estes eram os seus pais, mas - talvez para agradar ao público e influenciado por Alexandre Dumas - refere ainda que Colombo ou Salvador Fernandes Zarco era o filho ilegítimo do dito duque que fez com que a mãe fosse para Génova ter o filho entregando-o então a Susana casada com o cardador de lã.
Portanto, conclui-se para justificar que Colombo sabia de terras a Ocidente, que era nobre e não um cardador de lã, há que confiar em Lopes de Oliveira socorrendo-se de autores que não conheceram Colombo e que viveram um século depois. Todos os autores coevos que não se referem a Colombo nestes termos são omitidos.
Refere-se ainda que Cristóvão era tido por Patrocínio Ribeiro como um predestinado cujo objectivo era descobrir o Novo Mundo baseado num livro de Profecias inédito que provavelmente só o dito Patrocínio teve a honra de ver.
Passa-se de seguida a analisar a firma, que em português corrente se pode designar de assinatura de Cristóvão Colombo, e que no artigo é designada também por hieróglifo. Contudo, não se trata dum hieróglifo pois não se consegue ver qualquer representação que designe um pictograma da escrita egípcia, distinguindo-se perfeitamente caracteres latinos e, no caso da palavra Cristóvão a utilização de caracteres gregos (xpo).
De acordo com Patrocínio Ribeiro que inverteu os caracteres ou letras da sigla que acompanhava sempre a assinatura de Colombo chega-se à conclusão que afinal Colombo era de Colos uma povoação alentejana. Até este momento Colombo é de duas localidades do Alentejo: Colos e Cuba se contarmos com a referida no título. E os leitores mais incautos poderão pensar Colombo é definitivamente alentejano! Neste aspecto ainda estamos atrás dos italianos, são necessárias mais terras a reivindicar a naturalidade de Colombo.
Mas, continuando a leitura do artigo: passa-se de seguida para a origem judaica de Colombo que apenas se justifica com o facto de Colombo querer esconder a sua verdadeira identidade. A teoria explicativa elaborada por Marcarenhas Barreto com base na Cabala surge neste contexto. Colombo é judeu por isso usa a Cabala ou se usa a Cabala é judeu. No entanto ficou por referir a Cabala e o estudo cabalístico da assinatura foi uma apropriação de Mascarenhas Barreto de outros autores anteriores, como Barbosa Soeiro ou Pestana Júnior.
Refere-se ainda que Colombo não pode ser italiano porque não dominava o italiano, na medida em que não há documentação nesta língua. Contudo, esta mesma argumentação não é aceite para o português, pois não há nada escrito neste idioma com excepção de algumas palavras que se podem explicar como sendo influência da sua presença em Portugal e em alguns casos dirigidas ao seu filho, esse sim português de nascimento.
A nacionalidade portuguesa de Colombo também é justificada pela proibição decretada por D. João II dos estrangeiros embarcarem em navios portugueses. Mas, esquecem-se Vespúcio, Noli, Cadamosto e todos os genoveses que desde D. Dinis serviam a marinha portuguesa (vinte pelo menos). Para não falar do elevado número de bombardeiros alemães e flamengos que serviam as armadas da Carreira da Índia e do Estado da Índia assim como criados e aventureiros como Linschoten que com os seus escritos incentivou os Países Baixos à expansão ultramarina.
Para reforçar que Colombo não era estrangeiro argumenta-se com a proibição destes navegarem para a Guiné nem que fosse em navios portugueses. Ora, o que está demonstrado é que apesar dessa proibição os estrangeiros nunca deixaram de navegar para a Guiné ou outras partes em navios próprios ou não. Para além disso, o atlas de Henricus Martelus (c. 1489) nega a política de sigilo portuguesa, ou pelo menos manifesta a sua grande permeabilidade, pois cerca dum ano depois da viagem de Bartolomeu Dias consta nele toda a informação geográfica dessa viagem (ver cópia exposta na Sociedade de Geografia de Lisboa).
Colombo também era português porque “fazia os seus cálculos usando a criptografia náutica portuguesa”, seja isso o que for!
As alusões ao tratado de 1479-1480 estão erradas pelo que se recomenda a revisão da matéria. As alusões ao papel de Salvador Fernandes Zarco (assimilado a Cristóvão Colombo) decorrentes deste erro são, portanto, de todo descabidas.

Em nenhum lado se mencionam os trabalhos historiográficos que rebatem tais ideias e muito menos se faz a referência a informações contrárias às difundidas. Trata-se claramente de manipulação da História com fins propagandísticos venha-se lá a saber do quê?