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segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Subsídios para a História de uma polémica

O semanário O Diabo publicou em 1990 uma entrevista a Luís de Albuquerque que gerou uma forte reacção de Mascarenhas Barreto e de outros devotos da causa, reacções essas que parecem ir muito mais além do que o razoável para fazer valer uma qualquer posição académica.
Veja-se o que diz Luís de Albuquerque ao jornal O Diabo em 24 de Julho de 1990:
(Clicar na imagem para ampliar)

E agora a reacção de Mascarenhas Barreto no mesmo jornal de 7 de Agosto de 1990:
(Clicar na imagem para ampliar)

Pelo meio houve, pelo menos, uma carta ao director sobre o assunto, de que não dou mais notícia pois vale o que valem a maior parte das cartas aos directores dos jornais, e ainda mais um artigo de opinião por um José Martins, oficial da Armada reformado, em que desanca fortemente nos espanhóis, na CNCDP e até nos seus camaradas de armas que, cépticos, não paparam a historieta de Barreto quando este último a contou na Academia de Marinha.
O artigo em causa com o antetítulo de A Tese sobre a Portugalidade de Colombo e com o título muito indicativo de Estamos a Ser Alvo de uma Conspiração? foi publicado pel'O Diabo de 28 de Agosto de 1990 nas páginas 8 e 9.
Entre as muitas banalidades que o autor escreve - na linha do que já se está habituado a ver neste blogue aos defensores da Portugalidade do Almirante das Índias - está a notícia, dada pelo próprio, da carta que escreveu ao Primeiro-Ministro com altos conselhos de estado - eufemismo meu para dizer exigências - de como se deveria lidar com tão grave questão nacional. Transcreve a carta e desta convém reter a genial ideia - exigência - de - e passo a citar - mandar contratar os melhores peritos internacionais na ciência da cabala para estes confirmarem a descodificação da sigla daquele navegador ou, no caso contrário, nos dizerem o significado da mesma.
Agora compreendo como chegou ao fim a hegemonia da Marinha Portuguesa...

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Qual é a forma dum acto notarial no século XV?

Depois de desvarios em torno da veracidade dum acto notarial alegando que estes diplomas:
1. têm sempre sinal de tabelião.
2. têm sempre assinatura dos envolvidos
3. têm sempre o nome dos pais das pessoas envolvidas.

Vejamos um caso prático. O testamento datado de 7 de Janeiro de 1419 de Gonçalo Rodrigues de Azambuja e de Maria Gonçalves, sua mulher (ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, Maço 1, n.º 13, primeira e última página)





A Diplomática é muito mais complexa do que podem imaginar levianamente os leigos.

Infelizmente para os investigadores, o nome dos pais nem sempre consta na documentação, depende muito das épocas, da idade dos contratantes e de inúmeros outros factores tidos por relevantes na altura em que cada acto é celebrado.
No que se refere à idade das pessoas:
Nos documentos medievais e modernos por regra NUNCA se indica a idade exacta.
A forma usual é dizer fulano tem cerca de X anos, tem entre X e Y anos, homem/mulher de mais de N anos, tem mais ou menos, pouco mais ou menos tal idade.
Esta dificuldade de quantificar nas épocas pré-industriais só causa estranheza a quem não lida com documentação.
Aproveitando a lição gratuita de Diplomática, o sinal de tabelião só é aposto no documento original entregue às partes; já as assinaturas das mesmas não se esperam encontrar nas cópias posteriores dos actos.

sábado, 10 de novembro de 2007

O código Colombo - O Método da Sopa de Letras

Mascarenhas Barreto, depois de Patrocínio Ribeiro, Pestana Júnior, et al. e uns anos antes de Doron Witztum, Eliyahu Rips, e Yoav Rosenberg inventarem o Código do Génesis, aplicou à assinatura de Cristóvão Colombo aquilo a que chamou o método cabalístico, mas que (nesta variante) com melhor propriedade se pode chamar de Método da Sopa de Letras.
Munido desse poderoso instrumento analítico gerou várias séries de caracteres donde sem grande esforço, mas não menor arrebatamento, extraiu das letras que figuram na assinatura de Cristóvão Colombo o nome Salvador Fernandes Zarco (e não importa que já antes outros, com menor esforço e menos palavreado, lhe tivessem chamado Salvador Gonçalves Zarco, entre outros epítetos).


Um dos muitos quadros de seriação de caracteres resultado da aplicação do Método da Sopa de Letras. Repare-se nos originais pormenores dos itálicos ou de como até existem reais palavras portuguesas pelo meio e que foram totalmente desprezadas na construção do personagem SFZ.
Mascarenhas Barreto, Cristóvão Colombo..., 2.ª ed., Lisboa, imp. 1988, p. 351.


Salvador Fernandes Zarco (SFZ, para os íntimos e para os amigos da vinhaça) é caso único em toda a História Universal. A Sopa de Letras que o gerou não mais foi usada para a revelação dos mistérios históricos. Será um daqueles moldes perdidos depois do uso? É que para além do alienado navegador – que demorando mais um pouco a compor a assinatura nunca seria almirante e ainda hoje pastariam bisontes nas Grandes Planícies – ninguém mais usou, que se saiba, esta ou semelhante chave de encriptação. Será que, em alternativa, deixou de haver historiadores capazes de identificarem a utilização da Chave Sopa de Letras e por isso mesmo ninguém mais foi descoberto como não sendo quem se pensava ser?

Genealogia de Cristóvão Colombo, na versão Salvador Fernandes Zarco, resultante da aplicação por Mascarenhas Barreto do método cabalístico à assinatura do Almirante.
(Clicar na imagem para ampliar)

(Última actualização: 25-02-2010)

sexta-feira, 29 de junho de 2007

A Assinatura de Colombo - Moses B. Amzalak

(imagem retirada e adaptada de CIL)


AMZALAK, Moses Bensabat, Uma interpretação da Assinatura de Cristovam Colombo, Lisboa, s. n., 1927, pp. 19-23.


Excerto da análise da assinatura


Depois de termos focado estes dois problemas interessantes da vida de Colombo, o da sua natalidade e o da sua psicologia, vejamos aquele que constitui o objecto da presente monografia: a assinatura de Colombo.
Reproduzimos a seguir alguns fac-similes da sua assinatura:


A



B

C



As assinaturas A e B encontram-se documentos anteriores a 1492.
A assinatura C é usada depois da descoberta da América.
Analisando as duas assinaturas B e C encontramos como elemento comum as letras


S
S A S
X M Y


havendo apenas diferença na assinatura propriamente dita; na primeira encontramos XPO FERENS e na segunda apenas EL ALMIRANTE.
A assinatura B misto de grego e latim põe em evidência o nome de Cristo. Seria uma defesa de cristão-novo contra perseguições inquisitoriais? Mais tarde após a sua viagem de descobertas elimina o nome de Cristoferens substituindo-o pelo de El Almirante. Será licito formular a hipótese de uma reacção religiosa que levaria Colombo a abandonar a primeira assinatura em que tanto fez ressaltar o nome de Cristo?
Tratemos porém das enigmáticas letras que precedem a assinatura de Colombo. Analisemos o triângulo com a letra S nos seus vértices tendo dentro a letra A.
Os judeus chamam a Deus: Adonai אדוני palavra esta cuja primeira letra é alef א que corresponde ao nosso A.
No livro do profeta Isaías (Cap. VI, 3) encontra-se a seguinte frase: «Santo Santo Santo: Deus dos exércitos».

קדוש קדוש קדוש ה צבאות

Esta frase é muito empregada nas orações hebraicas. A frase Deus dos exércitos diz-se em hebraico Adonai Sebaót.
Supondo que a letra A que está dentro do triângulo é Adonai = Deus e que cada um dos três S é a primeira letra da palavra Santo teremos: Deus santo, santo santo, ou Deus santíssimo.
Se considerarmos que o S se refere à palavra hebraica Sebaót teremos Deus dos exércitos.
Vejamos agora como interpretar as letras X M Y.
A letra X tem como sua correspondente em hebraico a letra chin ש, A letra M é a letra hebraica méme מ; e a letra Y pelo seu feitio e ainda por alguns dos seus empregos tem como correspondente a letra áin ע.
Como o hebraico se escreve da direita para a esquerda colocando nessa ordem as letras X M Y teremos:

Y M X
ש מ ע
A palavra שמע ou Chemá quer dizer Ouve e constitui a primeira palavra da frase do versículo 4 do capítulo VI do Deuteronómio e que diz: «Ouve Israel o senhor é nosso Deus, o Senhor é Único».
É na Bíblia um dos pilares do monoteísmo e constitui o início de uma das mais conhecidas orações hebraicas, que segundo o respectivo ritual se recita três vezes por dia.
Vulgarmente entre os judeus essa oração é conhecida só pelo nome de Chémá.

Resumindo, se nas letras Colombo segundo a nossa interpretação quis dizer Deus dos exércitos ou Deus santíssimo, na parte final X M Y quis dizer: Deus único.
Deste modo a interpretação que propomos para as letras que antecedem o nome de Colombo é: Deus dos exércitos e único, ou Deus santíssimo e único.

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Cristóvão Colombo – de volta ao positivismo

Chegou a altura de se pôr de lado as picardias e começar a analisar seriamente a ideia de ser Cristóvão Colombo português. Por isso tem de se começar pelo princípio e ver o que dizem as fontes.

1.º Qual é o documento que diz ser Cristóvão Colombo natural de Colos?
2.º Qual é o documento que diz ser Cristóvão Colombo natural de Cuba?
3.º Qual é o documento que diz ter Cristóvão Colombo a naturalidade portuguesa?
4.º Qual é o documento que diz o nome dos pais de Cristóvão Colombo?
5.º Qual é o documento que diz ter Cristóvão Colombo casado com Filipa Moniz?
6.º Qual é o documento que diz ser Cristóvão Colombo parente da família real portuguesa?
7.º Qual é o documento que diz que Cristóvão Colombo não é Cristóvão Colombo?
8.º Qual é o documento que dá a chave de decifração da putativa assinatura críptica de Cristóvão Colombo?
9.º Qual é o documento que diz ter estado Cristóvão Colombo ao serviço do Rei de Portugal?
10.º Qual é o documento que diz ser Cristóvão Colombo um agente secreto?

Auguste Comte (1798-1857)

Mais perguntas ficam para já por fazer e outras far-se-ão posteriormente na sequência e decorrentes das presentes.
Faz-se notar que a ausência de resposta a estas perguntas deitam por terra qualquer possibilidade de se afirmar ser Cristóvão Colombo português, parente da família real e agente secreto.
Chama-se, também, a atenção que por documento se quer designar o que os historiadores denominam de fonte primária.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Colombo: o ajoelhar do mito

Seguimos uma sugestão do virtual sr. "A. de Carvalho", que muito agradecemos, alvitre hoje publicado (3) dirigindo-se a quantos não se deixaram convencer pelas teorias pseudo-históricas tendentes à desitalianização de Colombo: "...podem escolher uma pena alternativa: ajoelhar perante a estátua de Cristóvão Colon, em Cuba e fazer penitência. A foto desse momento será depois publicada onde todos a possam ver..." (sic).

Por nós, será de aguardar que a Câmara da Cuba mande construir uma passadeira marmoreada ao redor da estátua colon'ial que colocou em praça, a fim de os penitentes ali idos de todo o mundo melhor poderem massacrar os joelhos, como as mentes, ajoelhados por sobre o labiríntico solo vermelho daquela boa terra alentejana.

Até lá, na imagem, podemos ir admirando ao portuguesíssimo folião "Salvador Cristóbal Fernández Enríquez de Colos Nasao Zarco Paja y Columna" (Olé!), descido do seu pedestal público colocado junto ao edifício do ajuntamento da Cuba del Allatajo. Encontra-se o alegado portador do Espírito Santo aos seus bem-amados ameríndios de Cipango aqui representado já despido da sua máscara de "Cólon", ajoelhado e pedindo perdão aos Portugueses por os ter entrudado.

A explicação oferecida para a inocente mistificação teria sido o medo de seu pai ao rolo da massa da sua "madrasta" Condestavelessa (2), a sereníssima Infanta D. Brites, senhora da Bacalhoa. Por esse facto teria o bastardo real e seus dois irmãos inteiros sido feitos passar por filhos do pai adoptivo de seu pai, e tio de seu pai e madrasta, o Infante D. Henrique, porém como o cronista Zurara preferiu afirmar-nos que morreu virgem e em limpa castidade este suposto avô ou pai biológico putativo, veio a descobrir-se a marosca, e daí ter fugido o desorientado fruto dos amores proibidos para Castela.

Quanto aos "poderes" e "máscaras" de Cristofero Colombo, entre nós Cristofo Colombo>Cristophom Colom>Cristóvão Colombo, depois redenominado em Castela como Cristóval Colombo>Cristóbal Colomo>Cristóbal Colón (1), preferimos não nos pronunciar por já ter passado o tempo de Carnaval. Mas sugerimos daqui aos autores das novelas portuguesas que com tanto sucesso passam actualmente no pequeno ecrã que não deixem de aproveitar este riquíssimo enredo para uma futura produção.

_______________________________

1) Salientemos já agora que este, antes de passar a assinar-se "El Almirante", preferiu sempre a expressão latina mais próxima do seu nome em língua materna, rubricando-se simplesmente Cristoferens por Cristofero, Cristóvão em italiano.
2) Cf. Joaquim Rasteiro em linha sobre a história da Quinta da Bacalhoa, antes denominada Quinta da Condestavelessa: "...No tempo de D. João I o seu monteiro-mor, João Vicente, tinha emprazado em três pessoas a «Quinta de Azeitão em Ribatejo». Uma parte da propriedade era foreira à Coroa e a restante a Diogo Fêo. Em virtude de João Vicente estar velho, cego e pobre, o rei comprou o domínio directo da quinta a Diogo Fêo e permitiu que se emprazasse, em 1427, a seu filho D. João, mestre da Ordem de Sant'Iago e Condestável do Reino, a quem, mais tarde, seu irmão, o rei D. Duarte, (dela) fez doação. Por sua morte, em 1442, sucedeu-lhe na posse sua filha (a infanta) D. Brites, que veio a casar em 1447 com (seu primo) o infante D. Fernando, irmão de D. Afonso V. A quinta, lembrança da nova possuidora - que a usufruiu 64 anos, desde 1442 até à sua morte, em 1506 - tornou-se conhecida por «Quinta da Condestablessa» e passou a dispôr, desde essa data, de uma edificação notável, que, segundo se crê, constava de uma cerca torreada e de um revestimento de azulejo do modelo levantino, de que existem ainda numa das dependências da edificação alguns exemplares, pertencentes aos tipos rajolas que se fabricaram em Valência na segunda metade do século XV. Deve recordar-se ainda que «D. Brites por si (própria), pela casa de seu pai, pelos bens do seu marido, pela generosidade do seu cunhado D. Afonso V e de seu genro D. João II, viveu com um fausto e uma grandeza só excedidas pelas prodigalidades do próprio marido cujos hábitos imitou». O filho de ambos, D. Manuel, depois rei, mostrou bem que a «semente frutificara e encheu o reino com as maravilhas da arte e os esplendores das indústrias decorativas». Este monarca não esqueceu também a Quinta de Azeitão, propriedade de sua mãe, conferindo-lhe, em 20 de Julho de 1490, uma carta de privilégios que compreendia os caseiros, lavradores, arrendadores dos bens, lagareiro, mordomo e escrivão que estivessem na quinta, a qual dirigiu aos juizes e justiças da comarca de Azeitão e ao ouvidor..." (apud http://www.azeitao.net/quintas/bacalhoa.htm).

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Patrocínio Ribeiro - O carácter misterioso de Colombo (3)

RIBEIRO, Patrocínio. O Carácter Misterioso de Colombo e o Problema da sua Nacionalidade, Coimbra, Imp. da Universidade, 1916, Sep. Academia de Sciencias de Portugal, 1 série, t. 5.

Texto Integral


Mas a nacionalidade portuguesa de Cristóvam Colombo – afirmada pela carta de Toscanelli e confirmada pela de D. João II – é esclarecida, ainda, por outras pontos comprovativos, por factos históricos que vou enunciar transcrevendo, primeiramente, para elucidação preambular das minhas deduções o que diz o ilustre escritor J. A. Coelho, eruditíssimo autor da «Evolução geral das sociedades ibéricas», que Teófilo Braga cita na sua «Historia da Literatura Portuguesa»:

«... é lusa e bem lusa a ideia, levada definitivamente à pratica, de uma navegação atlântica, científica, sistematicamente realizada, e tendo por objectivo – numa primeira fase devassar os mistérios do Oceano, e numa segunda, relacionar o Levante e o Ocidente, e portanto, substituir por uma nova, linha de comunicabilidade de carácter atlântico a simples artéria de carácter mediterrâneo que se alargava, passando pelos desertos, desde o Indo às Colunas de Hércules. Esta concepção, verdadeiramente nova, de carácter aventuroso e essencialmente marítimo, nunca poderia sair do cérebro dum castelhano, pois estava isolado na cerrada continentalidade do seu planalto... Na Península, só a podia criar o Lusitano, porque ocupava uma situação verdadeiramente insular... franca e largamente atlântica... Por isso, apesar da América ter sido descoberta por um homem de génio ao serviço de Castela, não foi do cérebro do Castelhano que despontou essa ideia; ... criada sob La influencia da alma lusa, levaram-lha de fora, encontrou mesmo por parte do génio castelhano dura e intransigente aposição e, francamente aceita, só o foi por uma mulher superior – a grande Isabel, a qual bisneta do grande Mestre de Avis, era de alguma maneira a nobre e digna representante do génio luso em terras de Castela» ([1]).

Posto isto, vejamos pois.

O maior amigo de Colombo, o seu grande amigo íntimo, foi um frade português que, se estava de posse do segredo confidencial da descoberta, havia de estar, evidentemente, bem informado também sobre a verdadeira personalidade do descobridor do Novo Mundo.

É pena que nada deixasse escrito sobre o assunto esse modesto franciscano, que os historiógrafos têm confundido com outro religioso chamado frei João Perez, quando afinal as suas entidades são perfeitamente distintas.

Colombo – numa carta endereçada aos monarcas de Castela – referiu-se a este seu dilecto amigo duma forma que, de futuro, destruirá todas as dúvidas que ainda prevaleçam no espírito indeciso dos investigadores:

«Ya saben Vuestras Altezas que anduve siete años en su côrte importunandoles por esto; nunca en todo este tiempo se halló piloto ni marinero, ni filosofo, ni de otra ciencia que todos no dijesen que mi empreza era falsa; que nunca yo hallé ayuda de nadie, salvo de Fray António de Marchena, después de aquella de Dios eterno» ([2]).

A oposição singular que o navegador encontrou na côrte de Isabel, a católica, – especialmente dum cortesão de grande influência e muito devotado ao soberano português, Hernando de Talavera, – afim de lhe ser concedida autorização para o seu empreendimento, é bem sintomática; D. João II sabia, tudo quanto se passava em Castela, dentro e fora da côrte; refere Resende que a espionagem diplomática; paga pelo ouro, português, era exercida até pelos próprios castelhanos de destaque em cargos oficiais do paço, «de quem recebia muitos avisos bem necessários a seu serviço e estado e ao bem de seus reinos» e «todolos conselhos e segredos lhe eram descobertos primeiro que nenhuma coisa se fizesse». Desta forma se explica que, tendo sabido que um piloto e dois marinheiros se haviam ausentado do reino afim de irem oferecer os seus serviços a Castela, mandasse, pelos seus espias, apunhalar os marinheiros no caminho e trazer preso a Portugal o piloto que foi enforcado em Évora, para exemplo de futuros traidores à pátria. Mas a despeito da oposição tenaz aos projectos de Colombo, oposição que durou anos seguidos, como se sabe, sempre e sempre mais cheia de embaraços de toda a ordem, a viagem foi autorizada, por fim, e o descobridor fez-se ao mar sob o patrocínio de Isabel, a católica. Ora o ousado nauta pôde, afinal, partir da Península para efectuar a descoberta a que se tinha proposto, porquê?

«... porque nesse tempo – é o cronista Garcia de Resende que esclarece, – entre os Reys de Portugal e Castela houve causas e cousas que pareciam de quebra; El Rey alem das lianças que com França mostrava mandou no reino e fora delle fazer grandes e dissimulados apercebimentos que para se segurar da guerra que desejava escusar, por causa da sua doença, muita lhe aproveitaram» ([3]).

No entanto, dias antes do embarque em Palos, os reis de Castela tinham mandado apregoar pelos seus estados que as caravelas que iam enviar-se às Índias não podiam tocar em portos portugueses, aviso este que tanto poderia ser para salvaguarda dos nossos interesses de povo vizinho e evitar complicações previstas como para obstar a uma deslealdade de Colombo de que, de resto, não se livrou da fama, como as suas cartas posteriores o demonstram, suficientemente, muito em especial aquela que dirigiu a Dona Juana, ama do príncipe D. Juan e irmã de Pedro de Torres, secretário da rainha Isabel, a católica:

«Yo creo que se acordará vuestra merced quando la tormenta sin velas me echó en Lisbona, que fui acusado falsamente qué habia ido ya alla al Rey para darle las Indias. Despues supieron sus Altezas al contrario, y todo fue con malicia. Bien, que yo sepa poco: no sé quien me tenga por tan torpe que yo no conozca que aunque las Indias fuesen mias, que yo no me pudiera sustener sin ayuda de Príncipe».

Mas, apesar da recomendação proibitiva dos soberanos Colombo – no regresso – aportou, intencionalmente, a terras portuguesas. Em 18 de Fevereiro de 1493 fundeou nos Açores, no porto de S. Lourenço da ilha de Santa Maria, onde foi pagar uma promessa que fizera à Virgem durante a viagem, a uma capelinha rústica, edificada sobre a rocha, sobranceira ao Oceano vasto que a sua caravela vinha de sulcar pela segunda vez. Depois, aproando novamente à terra portuguesa, entrou a barra de Lisboa, a 4 de Março, subiu o Tejo; fundeou em frente do Restelo, e foi visitar D. João II – que se achava em Vale de Paraíso – que o hospedou, durante três dias, presenteando-o, à despedida, com uma mula como sinal de distinção. E só a 13 de Março é que levantou ferro para se ir a Sevilha levar, aos castelhanos, a notícia estrondosa do seu feito épico.

Não foram apenas os súbditos de Isabel, a católica, que tiveram a honra insigne de ir descobrir o Novo Mundo, nas caravelas, capitaneadas pelo glorioso nauta. Colombo quis levar portugueses consigo, também. Ao certo, não se sabe quantos teriam ido mas numa relação incompleta da equipagem, que chegou até nossos dias, figuram os nomes de dois grumetes, compatriotas nossos, que a imortalidade bafeje:

JOAO ARIAS

filho de Lopo Arias – de Tavira –

e

BERNALDIM

criado de Afonso, marinheiro de João de Mafra.

Relatando uma transacção comercial com os naturais, quando da sua chegada a S. Salvador, escreveu Colombo aos soberanos de Castela: «Vi dar 16 ovillos de algodon por tres ceotis de Portugal, que és una blanca de Castilla...». O ceotil (nome derivado de Ceuta), foi mandado cunhar por D. João I, exclusivamente, em comemoração da primeira empresa marítima dos portugueses à Africa em 1415, de que resultou a conquista daquela praça mourisca para o nosso domínio. O facto de Colombo consignar este episódio da sua primeira viagem – em que figura a pequena moeda comemorativa portuguesa, tem o seu quê de significativo...

Realmente, Colombo só deixou ficar à posteridade escritos seus em latim e em castelhano; mas, nos escritos castelhanos que dele nos restam, a mais superficial análise revela logo que a ortografia de muitos termos é aportuguesada, que bastantes vocábulos são, a rigor, da nossa língua, e que a construção sintáxica – como da era então por esse tempo – é, positivamente, lusitana.

Colombo, que possuía a crença sincera e fervorosa do português do tempo das descobertas, tinha uma devoção especial com o Espírito Santo. Tendo-se em vista o quanto as impressões subjectivas dos primeiros anos actuam na alma plástica, no espírito dúctil, das crianças isto parece até que vincula, etogéniamente, a sua naturalidade insulana. A festividade dos Açores – a mais antiga, a mais tradicional, – é a do «Divino Espírito Santo», que teve a sua origem primitiva na ilha de Santa Maria onde a divinizada pomba, tinha uma capela sob a sua invocação e festejos anuais de grande pompa, já ao tempo da descoberta da América. Se foi, efectivamente; à ermida do Espírito Santo que Colombo foi orar, quando veio do Novo Mundo; e se a ilha de Santa Maria é de facto, a que figura por «insula de Colombi» (ilha dos Pombos) na carta catalã e no atlas inédito italiano da biblioteca Pinelli, a que já fiz referência, talvez se possa esclarecer um pouco o tenebroso mistério colombino, pois as epistolas latinas de Toscanelli, de 1474, chamam-lhe «Christophorus Columbus» (Cristovam Pombo) e o apelido Pombo ainda hoje existe em Portugal...

No descritivo das suas viagens ao Continente Novo ele extasia-se perante as belezas emocionantes da Natureza, exaltando a frescura convidativa: das sombras dos arvoredos, o pitoresco das encostas alcantiladas, a elevação soberba das montanhas colossais, a fragrância penetrante das flores e o canto melodioso dos passarinhos. Isto- caracteriza, profundamente, a alma lírica do lusitano, o espírito contemplativo do português, navegador e poeta.

Quando a má fé dos espanhóis o intrigava com mais bravio furor e maior hostilidade, não lhe permitiram desembarcar na ilha Espaniola nem sequer fazer consertos nos seus navios avariados pelas tormentosas rotas dos mares ocidentais que ele, pelo seu génio luminoso, lhes dera. Naufragou na Jamaica e após ter pedido, com ansiada insistência, varias e repetidas vezes socorros à colónia daquela outra ilha, o governador resolveu-se, afinal, a atendê-lo e enviou-lhe, como viveres, um porco pequeno e um barril de vinho que mandou pôr no meio da praia, recomendando muito que ninguém da sua gente comunicasse com os companheiros do desventurado nauta e, em especial, com ele. Este gesto infame dos castelhanos demonstra um ultraje feito a um compatriota nosso pois é sabido que já por esse tempo portugueses e espanhóis se assacavam, mutuamente, o epíteto depreciativo de marranos (judeus). E por isso, escarnicadores, lhe enviaram a cuba de vinho e o animal excomungado em que o israelita não pode tocar.

Daí a razão de Colombo consignar, no seu «Diario», esta frase dolorida referindo-se a si próprio: – «O que te esta sucedendo agora é a recompensa dos serviços que prestas-te a outros amos». Outros amos São os reis de Castela, porque o seu verdadeiro amo era o rei de Portugal.

E, por essa ocasião, escreveu também: – «Quem, depois de Job, não morreria de desespero ao ver que, apesar do perigo que corria a minha vida, a de meu filho, a de meu irmão, a dos meus amigos, nos vedavam a terra e os portos descobertos a preço do meu sangue? A preço do seu sangue?!... Sim, a preço do seu sangue, porque tendo-se insurgido contra a autoridade do seu legitimo rei, D. João II; tivera necessidade de se mascarar de genovês para salvar a vida e evitar a vingança do monarca mas vendo sempre ameaçadoramente, na alucinação remordente da sua deslealdade, o punhal homicida dos espias.

No entanto, reconforta-o a esperança da justiça póstuma, a certeza da futura imortalidade: – «Quando chegaste a uma idade conveniente Deus encheu maravilhosamente toda a terra com a fama do teu nome, e o teu nome tornou-se célebre entre os cristãos». Nada receies, tem confiança. Todas estas tribulações estão escritas no mármore e não são sem motivo».

Era a submissão heróica da raça portuguesa que palpitava nele, essa heróica submissão ao fatalismo do lusitano verdadeiro, essa resignação piedosa perante a fatalidade vendo, unicamente, no que lhe acontecia a interferência súbita de Deus omnisciente, o dedo justo da Providência impondo um desígnio, inexorável. No seu brado vibra a força máscula, o belo estremecimento nervoso que ainda anima o português de hoje, quando pretende arrojar-se a um lance perigoso de que possa sobrevir o fim da vida: – Morra o homem e fique fama!

Por disposição testamentaria, o descobridor do Continente Novo, legou várias quantias a mercadores genoveses e a judeus, residentes em Lisboa, recomendando, porém, que «... hasele de dar en tal forma que no sepan quien se las manda dar». Colombo parece pretender pagar, assim, uma dívida antiga de gratidão – aos genoveses, de quem recebeu, talvez, auxílios monetários ou outros quaisquer, e aos judeus que lhe deram a ilustração, a preparação intelectual, como os seus escritos, todos cheios de citações bíblicas, comprovam. A colónia de mercadores genoveses era então muito vasta e acreditada no nosso país, e os sábios semitas viviam livremente na côrte, apadrinhados pelo rei ([4]). Todavia, Colombo recomenda, misteriosamente, que se não diga quem mandou entregar as quantias legadas. Recearia ele que os contemplados – criaturas honestas, decerto – se recusassem a receber o dinheiro do homem que, por egoísmo, privara a sua própria pátria da glória duma descoberta épica?

Cheguei, finalmente, ao ponto mais importante deste meu estudo histórico-determinativo da personalidade misteriosa do descobridor da América: – a análise do curioso hieroglífico com que autenticava os documentos oficiais, e todos os seus escritos em Castelhano, hieroglífico singular que é a chave do enigma colombino. Colombo não era «Colombo», nem «Colomo», nem «de Colon», pois nunca assim se assinou mas, unicamente, desta maneira inconfundível:

XPOFERENS (Chrispoferens).

Ele deixou muito recomendado, aos seus descendentes, que firmassem sempre com a firma de que tinha feito uso:

«... firme de mi firma la cual agora acostumbro, que és una X com una S en cima, y una M com una A romana, en cima, y en cima dela una S y despues una y griega con una S en cima com sus rayos y virgulas, como yo agora fajo; y se parecerá por mis firmas de las cuales se hallaran muchas y por esta parecera. Y no escrebira sino el Almirante puesto que otros titulos el Rey le desse o gafiasse: esto se entiende en la firma y no en su ditado que podra escribir todos sus titulos como la pluquire; solamente en la firma escrebirá el Almirante» ([5]).

Esta recomendação aos descendentes – certamente para que a firma-hieroglífica se perpetuasse através dos tempos – não deixa de ser significativa num homem tão misterioso, dum carácter tão reservado e tão enigmático, que conforme via o seu nome tornar-se mais e mais célebre «... tanto menos Conocido y cierto quiso que fuese su origen y patria». Ora a assinatura do grande nauta, antes de embarcar para a primeira viagem ao Ocidente, era esta:

.S.

.S. A .S.

XMY

XPOFERENS.

Depois da descoberta – quando entrou na posse de todos os direitos e honras que pelo seu feito ganhara – passou a assinar-se assim:

.S.

.S. A .S.

XMY

EL ALMIRANTE.

Varias escritores de diversas nacionalidades – excepto portugueses, que eu saiba, – têm tentado decifrar o enigma da firma. Entre algumas interpretações que existem impressas, apontarei as duas que conheço, não podendo, porém, precisar os seus autores:

Suplex

Servus Altissimi Salvatoris

Christi Maria Yosephus

Christoforo.

Servus

Sum Altissimi Salvatoris

Xriste Maria Jesus

Xriste Ferens.

O Sr. Dr. Arribas y Turull ao tratar da firma «de Cólon», no seu livro, passou sobre ela como gato por brasas... pois diz, textualmente, isto: «Dejando aparte los multiples significados que se han dada a esta geroglifica firma, segundo mr. Lambert de Saint Bris la traduccion del autografo és la siguiente:

Salva me

Sanctos Altissimi Spiritu

Xristos Maria Josephus

Cristobal.

«Mucho menos laberintico el autografo de su hijo y biografo D. Fernando, podeis contemplarlo en esta nueva proyeccion», etc., etc. E segue divagando, largamente, sobre judeus, voltando a afirmar que «el idioma de Cristobal Colon, no ha sido otro que el castellano», acrescentando ainda que «nada hay escrito en italiano ni en português». Pois vai sofrer a decepção de saber que ele deixou um escrito em português puro – a sua firma hieroglífica!

Ora na firma-hieroglífica do descobridor da América – conquanto pese aos eruditos não há latim; há, muito lusitanamente, isto apenas: X (chris) M () Y (y); juntando depois, de novo, o M com o A central e com o S superior, ligando-se-lhes o S lateral, para qualquer dos lados, se poderá ler: – «Me assy», porque a letra chris (X) tem também, neste caso, o duplo valor de i grego, segundo o seu desenho caligráfico em alguns autógrafos, cujos fac-similes analisei para estudar a minha interpretação. Portanto a firma diz isto, escrito em português – português antigo, português do século XV, mas português autêntico, português de lei, –

«Chrismey me assy»

crismei-me assim, alcunhei-me, denominei-me, adoptei o apelido porque me conhecem, evidentemente.

Mas, se alguma hesitação restar, basta o nome, logo por baixo da firma, para diluir a incerteza e destruir a dúvida.

A palavra XPOFERENS (Chrispoferens) escrita metade em grego XPO (Chrispo) e metade em latim FERENS (o que leva) foi inventada pelo misterioso nauta para achar equivalente próprio ao seu nome de baptismo «Chrispouam» ou «Xpouão» (Cristóvam), segundo a ortografia da época; ora o vocábulo Cristóvam é de origem portuguesa, e a sua significação literal diz: – o que conduz Cristo, o que vai com Cristo, o que leva Cristo. Logo se quisesse assinar-se em latim, escreveria Christophorus, em italiano Christoforo, em castelhano Christobal, e em galego Christobo. Porém, – como era português e não podia assinar o seu nome correctamente (Xpouão ou Chrispouam), que seria revelar a sua verdadeira pátria, – inventou então uma palavra onde entram duas línguas clássicas querendo assim simbolizar nela, talvez, a sua linguagem natal – a nossa bela língua, a língua de Nuno Álvares Pereira, de Gonçalo Velho Cabral, de Fernão Lopes, derivada em grande parte do grego e do latim!



[1] V. Historia da Literatura Portuguesa – Segunda Época: Renascença, pág. 20-21, Porto, 1914, por Teófilo Braga.

[2] «Todo esto engendró nueva ansia y golosina en Cristobal Cólon (que de suyo era, aunque pobre, de anima alentado para emprender este descubrimiento, pero no tenia el con que executarlo. Aviendo se aconsejado cõ su hermano Bartolomé Colon, y con uno Relegioso llamaao Fray Juan Perez de Marchena, del Monasterio de la Rabida del Orden de San Francisco, Portugués de nacion, que sabia algo de Cosmografia y con parecer y acuerdo suyo fué a valerse del favor del Rey don Juan de Portugal, que no lo oyó como el quiera...», etc. V. Historia general de la Orden de Nuestra Señora de la Merced, vol. 2.º, cap. VI. pág.89, por Frei Alonso Remon, mercenário.

Neste cronista monástico o nome do frade Marchena não condiz com o dos seguintes documentos, mais antigos, que ,confirmam o da carta de Colombo, com todo o rigor:

«Nos parece que seria bien llevasedes con vos un buen estrologo y nos parescio que seria bueno para esto Fray António de Marchena, porque és buen estrologo, y siempre nos paresció que se conformaba con vuestro parecer».

V. «Carta mensajera», dirigida pelos reis católicos ao Almirante, em 25 de Setembro de 1493, dando-lhe várias instruções para a sua segunda viagem ao Novo Mundo, publicada, nos «Documentos Diplomáticos», por Navarrete.

Las Casas – na sua «Historia general de las Índias», parte 1.ª, cap. XXXII, – diz também:

«Segundo parece por algunas cartas de Cristobal Colon escritas por su mano (que yo he tenido en las mias) á los Reys desde esta isla Espaniola, un relegioso que habia por nombre Fray Antonio de Marchena, fué el que mucho le ayudó, á que la Reyna se persuadiese y aceptase la peticion. Nunca pude hallar de qué Orden fuese, aunque creo que fuese de San Francisco, por cognoscer que Cristobal Colon después de Almirante siempre fué devoto de aquella Orden. Tampoco pude saber cuando, ni en qué, ni como le favoreciese ó que entrada tuviera con los Reys el ya dicho Padre Fray Antonio de Marchena».

[3] V. «Chronica de D. João II», respectivamente, cap. CLXVIII, CLXIX e CLXIV.

[4] Mestre António, cirurgião-mor do reino, era judeu, e ao tornar-se cristão-novo foi seu padrinho de baptismo o próprio monarca, segundo refere Resende no cap. XCI da «Chronica de D. João II».

O físico-mor de D. João II era um judeu, mestre Rodrigo, que tinha grande ascendente sobre o soberano.

O grande «estrolico judeu» Abraham-ben-Samuel Zacuto, professor de astronomia e matemática e autor do «Almanach perpetuus», veio para Portugal a convite de D. João II, que o nomeou astrónomo real.

Mestre Josepo Judeu ou José Vizinho era astrónomo de D. João II e médico da Junta dos Matemáticos; em 11 de Março de 1485 achava-se próximo da Serra Leoa, pois fôra à Guiné de propósito para determinar algumas latitudes, segundo uma nota marginal de Bartolomeu Colombo, irmão do descobridor, no livro «Historia Papae Pii» (Veneza, 1477) que se achava presente quando foi recebido o relatório. Convêm notar aqui, de passagem, que este irmão de Cristovam, parece que tinha algum emprego oficial, e que ainda o desempenhava em 1485.

[5] V. o testamento do imortal navegador, publicado por Navarrete na «Coleccion de los viajes», etc. vol. 2.º

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Pestana Júnior: Christopher Columbus, a.k.a. Simão Palha

PESTANA Jr. D. Cristóbal Colom ou Symam Palha na História e na Cabala, Lisboa, Imprensa Lucas, imp. 1928.


Pestana Júnior starts his thesis with a brief critique of Patrocínio Ribeiro, after the short praise required by convention. He allows for some merit on Ribeiro’s part, essentially for having discovered the inversion that enabled him to read Colos – not to have done it would not have gone down very well – but points him out as a poor Latinist and eventually casts aside his main conclusion, one that had been obtained through the use of the supposedly praiseworthy method.
However, Patrocínio Ribeiro will have influenced Pestana Júnior in ways of which the latter was not conscious – or at least did not explicitly admit – in that, such as Ribeiro, Pestana Jr. also lost a few nights around Cristopher Columbus’ sigla.
He doubted the Admiral’s Genoese origin through the reading of contemporary documentation – as did all the others, it should be noted – and was convinced that the mystery – always the mystery – was in his signature – obviously! How do they all get there?
Reflection and critique make him reject XPO FERENS as Christoferens, as this is an unknown way of writing the name Cristóvão. Good at Latin, unlike Ribeiro, palaeography lets him down – as it does many others – and he thus rejects XPO as Cristo, but ends up by embracing the Greek-Latin mixture and reading Cristo – confusing? So it should be!
He questions the function of the cross over XPO and the «“baton” that contains FERENS» - his quotation marks – and it is not anymore Cólon, comma. Pestana Júnior’s palaeography, which had already showed itself to be on the weak side, here sinks irretrievably.
The elaborate method of the mirror set up and developed by Ribeiro leads him to the following salad of Greek characters:

ΧWΛΑS.WΛΧΑS.ΛΑΧΑS.WΧΧΑSW.ΜΥΑ.SWΛYS
XPO FERENS

which, converted into Latin characters – if some of them are not already present above – results in:

colas, olcas, lacas, occaso, mya, solis,
christo ferens


«Ferens» still causes noise in this thesis, since according to the authors mentioned it is not Greek but Latin, which results in the above-mentioned Greek-Latin mixture that will make it possible to arrive at Christopher Columbus’ identity. Later, as has been seen and will further be seen, and in order to lighten up all the darkness surrounding the Admiral, Hebrew elements will also be added.
To return to the Greek text, it translates as follows:
«I am, such as Mya, the one that brings Christendom the precious pearls, the emeralds and the gems through the distant sunset».
Unquote, p. XCIV. I cannot unfortunately ascertain the correction of the translation as it does sound like Greek to me!
To the Latin FERENS at the end of the Greek salad an outlying X is now added. This fact will go on disturbing the author, but he will return to it.
A sudden inspiration emerges. Or was it a revelation?
Says the author, pp. XCV-XCVI: «The possibility then arose of relating Columbus with Miguel Molyart, who in the general study had appeared as an agent for the Perfect Prince (King John II, TN) and who was no other than the owner of the Alvarenga entail, Bernardo de Vasconcelos, married to Violante de Almeida of the Palha family from Évora. At a given moment the metathesis takes place: Colom is simply Colmo = Palha (Straw TN)»
It should be noted that, according to Pestana Jr., Miguel Molyart is an anagram of Bernardo (Brynaldo, in the name’s old form) de Vasconcelos, the Miguel element arising out of another, more far-fetched, anagram which is not relevant here.

To cut a long story short, after a few more pentagonal cabalistical contortions, the final deciphering is arrived at: «That is what you call me, Simão Moniz». And, to add a nice touch, he makes the trace over XPO slide until it crosses the «baton» - and not colon – and obtains «XPO FERENS †» which he reads thus: «Christo ferens crucem». The one that brings the cross to Christ; the Cyrenaic; Simon (pp. C-CI).
One then arrives at Christopher Columbus’ name which is none other than: Simão Palha!


It is all in here.
The falsely-named Columbus, whose true identity is hidden behind a Greek-Latin cabalistical sigla, is no solitary case. Molyart, a.k.a. Bernardo de Vasconcelos, the owner of the Alvarenga entail, is just such an instance. One fraud is thus explained, or rather, justified, with another fraud. If there is one, then there must be two, or better, if there are two, then necessarily there is also one. A piece of incontrovertible evidence, a historical document, who cares? Serendipity and that, I’m afraid, is that.
Another conclusion which, if not then arrived at, will later be taken to extremes, arises from the linking of hasty conclusions which become premises that lead to new and more awe-inspiring conclusions, in a cycle with no foreseeable end in sight.
Miguel Molyart is John II’s agent – and an agent becomes a secret agent.
Miguel Molyart is someone’s alias; so must Christopher Columbus be.
One is an (secret) agent, therefore the other must necessarily be one as well.
And thus is History written.


domingo, 28 de janeiro de 2007

Pestana Júnior - Cristóvão Colombo, aliás Simão Palha

(Manuel Gregório Pestana Júnior)

PESTANA Jr., D. Cristóbal Colom ou Symam Palha na História e na Cabala, Lisboa, Imprensa Lucas, imp. 1928.

Pestana Júnior começa a sua tese com uma breve crítica a Patrocínio Ribeiro, depois do curto elogio que a praxe impõe. Dá-lhe algum mérito principalmente por ter descoberto a inversão que lhe possibilitou ler Colos – não o fazer até cairia mal – mas aponta-o como fraco latinista e acaba por descartar a sua conclusão principal e que fora obtida pelo tal método meritório.
Contudo Patrocínio Ribeiro terá exercido outras influências sobre Pestana Júnior sem que este tenha tomado consciência disso – ou pelo menos não o admitiu peremptoriamente – pois tal como Ribeiro, Pestana Jr. também perdeu noites de volta da sigla de Cristóvão Colombo.

Desconfiou da genovesidade do Almirante pela leitura da documentação coeva – como todos os outros, diga-se – e ficou convencido que o mistério – sempre o mistério – estava na assinatura – claro! Como é que todos vão lá parar?
A reflexão e a crítica levam-no a recusar XPO FERENS como Christoferens, pois é uma forma desconhecida de grafar o nome Cristóvão. Bom no latim, ao contrário de Ribeiro, falha na paleografia – como muitos outros – e assim recusa XPO como Cristo, mas acaba por convir na mistura greco-latina para no fim acabar por ler Cristo – confuso? Não é para menos!
Questiona a função do traço sobre XPO e o «“bastão” a conter o FERENS» – as aspas são do Autor – e já não é Cólon, vírgula. A paleografia de Pestana Júnior que já dera mostras de ser fracota aqui afunda-se irremediavelmente.
O complicado método do espelho criado por Ribeiro e por si desenvolvido leva-o à seguinte salada de letras gregas, que se passa a citar:

ΧWΛΑS.WΛΧΑS.ΛΑΧΑS.WΧΧΑSW.ΜΥΑ.SWΛYS
XPO FERENS

O que vertido em caracteres latinos – se é que em cima já não os há – dá:

colas, olcas, lacas, occaso, mya, solis,
christo ferens

«Ferens» continua a causar ruído nesta tese já que segundo os autores citados não é grego mas sim latim, o que dá a tal mistura greco-latina que permitirá chegar à identidade de Cristóvão Colombo. Mais tarde, como já se viu e mais se verá, e para iluminar toda a obscuridade que rodeia o Almirante, ainda se vão juntar os elementos hebraicos.
Voltando ao texto grego, este traduz-se do seguinte modo:
«Eu sou, qual Mya aquele que traz à Cristandade as pérolas, as esmeraldas e as gomas preciosas pelo longínquo ocaso do sol».
Fim de citação, p. XCIV. Infelizmente não posso aferir da correcção da tradução já que para mim é... grego!
Ao latino FERENS no fim da salada grega junta-se agora um X que fica de fora. Este último facto irá continuar a perturbar o Autor mas lá voltará mais tarde.
Surge então um rasgo de inspiração. Ou tratou-se de uma revelação?
Diz o Autor, pp. XCV-XCVI: «Apareceu-nos então a possibilidade de aparentar Colombo com Miguel Molyart, que no estudo geral nos surgira como agente do Príncipe Perfeito e que mais não era que o morgado de Alvarenga, Bernardo de Vasconcelos, casado com Violante de Almeida, casa dos Palhas de Évora.
Num momento ocorre a metátese: Colom é simplesmente Colmo = Palha!!»
Note-se que, segundo Pestana Jr., Miguel Molyart é um anagrama de Bernardo (Byrnaldo, na grafia antiga do nome) de Vasconcelos, aparecendo o Miguel dum outro anagrama bem mais rebuscado e não é aqui relevante para o caso.
Tornando curta uma história longa, após mais uns contorcionismos cabalísticos pentagonais, chega-se à decifração final: «A mim Simão Moniz chamais assim».
E para compor o ramalhete faz deslizar o traço sobreposto em XPO até cruzar o «bastão» – e não cólon – e obtém «XPO FERENS †», lendo: «Christo ferens crucem». O que leva a cruz a Cristo, o Cireneu: Simão (pp. C-CI).
Chega-se então ao nome de Cristóvão Colombo, que é, nada mais nada menos: Simão Palha!

Está cá tudo.
O Colombo, com um nome falso, cuja verdadeira identidade se oculta atrás duma sigla cabalística greco-latina, não é caso único. Molyart, aliás Bernardo de Vasconcelos, morgado de Alvarenga, é exemplo disso. Fundamenta-se, ou melhor, justifica-se assim uma fraude com outra fraude. Se há uma também há duas, ou melhor, se há duas, então e necessariamente há uma. A prova irrefutável, o documento histórico, o que é isso? Serendipismo e já está.
Outra conclusão, à qual se se não chega então, será mais tarde levada ao paroxismo, resulta dum encadeamento de conclusões precipitadas que se transformam em premissas que levam a novas e mais extasiantes conclusões, num ciclo sem fim previsível à vista.
Miguel Molyart é agente de D. João II – agente dá em agente secreto.
Miguel Molyart é pseudónimo de alguém; Cristóvão Colombo também.
Um é agente (secreto) o outro necessariamente também o é.
E assim se faz a História.


terça-feira, 16 de janeiro de 2007

A Questão Colon'ial reavivada em Cuba, ou os EUA e o Edipiano Drama da sua Questão Cubana

O Pseudo-História Colombina recorda aos leitores, em imagens que falam mais do que muitas palavras, o cerne da questão colon'ial cubana em Portugal na actualidade. Para quem não tenha paciência de clicar na fotografia da estátua acima para aumentá-la, aqui lhe damos quanto lá vem escrito em redor do pedestal, em legenda municipal oficialíssima, serenamente instalada na Praça da Câmara, diante dos Paços do Concelho. Nada mais nem nada menos do que a

VERDADE HISTÓRICA

O descobridor das Américas sempre escondeu as suas origens e verdadeira identidade.

O mistério e as especulações perduraram mais de 500 anos. A História aceitou uma incerteza.

Recentemente, notáveis historiadoes e pesquisad
ores concluiram que "Cristóvão Colon" era português.

Filho do Infante D. Fernando - Duque de Beja e de Dª Isabel Gonçalves Zarco, o seu nome era Salvador Fernandes Zarco e nasceu no Alentejo, em Cuba.

Mas enganou-se a Câmara de Cuba, e até a oficialmente ateia Embaixada de Cuba, que ali se deslocou a conferir unção oficial ao acto religioso da bênção pseudo-histórica da estátua! Quem tem a verdade, muito muito bem escondida, somos nós! E hoje vamos dá-la em primeiríssima mão não só à Cuba e a Cuba, mas a todo o Baixo e Alto Alentejos, à alentejana Olivença ocupada, a todo o Portugal desde Melgaço às Selvagens, a toda a Lusofonia desde o Pico ao Ramelau. Diremos a veracidade a todos os nossos irmãos latinos, a todos os nossos aliados anglo-saxónicos de sempre, a todos os outros europeus, a todo o Mundo, enfim.


A Verdade Verdadinha sobre Cristóvão Vírgula

O Pseudo-História Colombina, curvado respeitosamente diante da sra. Verdade Oficial enfim alcançada e para ali prantada, pergunta à sabedoria da D. Câmara neste letreiro: mas quem documentou sem margem de erro a sra. D. Verdade Histórica?! No discurso autárquico da inauguração do monumento a “COLON” (sic) é o nome de Mascarenhas Barreto apenas quem é invocado concretamente como factor de gratidão municipal. Não o de Manuel Rosa e outros congéneres. Mascarenhas Barreto, porém, escreveu sempre Colombo como Colón, e como Colón-Zarco...

O que leva então a Câmara de Cuba, oficialmente, a preferir uma língua estrangeira com seu erro de ortografia, em solo português, embora com a desculpa de vinte anos de Pseudo-História a lavar-lhe o cérebro? Porque não Praça Zarco? Largo Colom? Rotunda, à moda actual, Rotunda Zarco-Colom? Rotunda Colom-bo resolvia logo o assunto... se fazem questão.

"Largo Colon"? Alguma osmose com a paupérrima ilha homónima aonde lentamente agoniza o ditador Fidel de Castillo? Inspiraram-se talvez no Banco Millenium e no seu ridículo novo “Cartão Prestige” (sic) mas esse tem desculpa, pois todos sabemos que a palavra Prestígio não existe em português, e que o banco é estrangeiro... E o sr. Belmiro de Azevedo, que teve o mau gosto de em plenas comemorações do 5º Centenário do Gama inaugurar um centro comercial que quiz iberista, chamando-lhe Colombo como uma nódoa tripeira persistente atirada a Lisboa, Colombo, para exigir que fosse maior o kitsch desse nome estrangeiro que o do lindíssimo centro comercial sobre o Tejo consagrado ao grande Gama português, não passa de um ignorante! Deve estar arrependido que o "Maior Centro Comercial da Península Ibérica" não se chame adequadamente COLÓN! Mas nessa altura, o iberismo economicista pseudo-europeu ainda dava tímidos passos entre nós... O letreiro da recente Praça Colombo, em Cuba, tem pois um erro que sugerimos seja corrigido, no espírito dos iberistas painéis bilingues em castelhano correcto e mau português a que a TV Colón, desculpai, a TV Cabo, já nos habituou incomodativamente há alguns anos: deveria dizer "Plaza don Cristóbal Colón", como também gosta de utilizar o sr. Manuel Rosa.

Deixe-nos agora jogar consigo um bocadinho ao "Quem é Dono da Verdade”, sra. D. Câmara da Cuba y Colón! Também queremos brincar aos colon's e colombos, e prometemos que não lhe fazemos mal se o dono for bonzinho e nos emprestar um bocado só o brinquedo. Nós sim sabemo-la toda! Deixem-nos enfim dizer... que abafamos! Sufocamos! Cristophom era um PONTO por parte de pai, e um VÍRGULA por parte de mãe! Diante do grave conflito familiar entre os pontos negros, e as vírgulas judias, de que descendia, optou por se assinar ao meio RETICÊNCIAS, enquanto esteve em Portugal, que o era sem dúvida por parte da avó paterna. Passado a Castela, como ali lhes custava a dizer-lhe o nome, passou a assinar-se apenas com a vírgula materna, ou colon, aliás todos sabemos que o colon separa os pontos... E é por isso mesmo que hoje em dia ninguém lhe conhece qualquer outra assinatura que não seja apenas "o Almirante.", ou "Cristóvão,". Traduzimos: "o Almirante Ponto", e, antes, "Cristóvão Vírgula". Isto é tão simples, tão genial, que levámos 500 anos para conseguir descobrir o OVO DE COLOMBO! Desculpai, cubanos, olé, hola! Descubierto está el huevo de Colón! Caramba!

Mas receamos outra cousa... depois de provado que Colombo era português, depois de ficar o Pombo renomeado Colon nacionalizado nosso, com novo nome castelhano à moda da deslusitanização dos tristes dias envergonhados que correm, COLON significando em grego membro, e em hebraico ZARCO querendo dizer VÍRGULA, para um alegado descendente dos COLUNA italianos, o mínimo que se espera é que os EUA subsidiem o país que real mas ignotamente lhes deu o ser... Que o amparem na sua cruel velhice abastardada...

Os Estados Unidos da América, crendo recta e cegamente num italiano que nunca lá pôs o pé como seu pai biológico, descobrirão agora que devem o ser... a Cuba! Da Itália viera apenas um pai legal, de Castela um vizinho do pai, da França um amante da mãe, da Inglaterra um padrasto opressor... da Cuba de Portugal veio verdadeiramente o seu único e adeénico pai biológico! E não eram o mesmo! Pater putativus est.… Cruel revelação! E meio príncipe, meio judeu! Explicada fica a fascinação nos EUA pela realeza, e o poder do seu lobby judaico! Um nobre bastardo envergonhado! Explicada fica a proibição da Nobreza logo desde a Declaração da Independência! Vontade de policiar o Mundo? Sangue Português, universal, sangue de Pombal, sangue de Salazar! Não é de espantar que a Embaixada norte-americana em Lisboa não se tenha feito representar na inauguração da estátua a Columbus na Cuba! Agora sim, entendemos que a Guerra Hispano-Americana que em 1898 levou os EUA a anexar a ilha de Cuba, e por arrasto as Filipinas e outras pequenas colónias então ainda espanholas, fossem mero reflexo automático do complexo de Édipo no Tio Sam adolescente! Não era a Cuba ilha que queria controlar! Era, inconscientemente, projectadamente, a nossa Cuba do Alentejo...

By appointment to the USA's official best shrink

P. R.

sábado, 16 de dezembro de 2006

Patrocínio Ribeiro - Assinatura de Cristóvão Colombo

Patrocínio Ribeiro, A nacionalidade portuguesa de Cristovam Colombo. Solução do debatidissimo problema da sua verdadeira naturalidade, pela decifração definitiva da firma hieroglífica (...), Lisboa, Liv. Renascença, [1927], Cap. IV, pp. 55-73.

Texto Integral

IV

DECIFRAÇÃO DEFINITIVA DA FIRMA HIEROGLIFICA


Cheguei, finalmente, ao ponta mais interessante deste meu estudo histórico — determinativo da verdadeira nacionalidade do celebrado descobridor da America: — a análise do curioso hieroglifo com que autenticava os documentas oficiais e todos os seus escritos de maior importância, hieroglifo singular que é a chave do complexo e tão discutido enigma da sua naturalidade.
Documentalmente, históricamente, nada se sabe de positivo dos antepassadas de Cristovam Colombo, das seus progenitores, da data certa do seu nascimento, dos episódios da sua infância, do objectivo da sua educação, dos primeiros anos da sua vida, etc., etc. Êle, que escreveu tanto, que deixou tantos manuscritos da seu proprio punho, nada quiz revelar, porém, sôbre a sua familia nem a respeito da sua propria personalidade! Sabe-se todavia, que teve dois irmãos — um chamava-se Diogo e foi clerigo, e o outro Bartolomeu, que Antonio Galla, auctor coevo genovês, afirma ter nascido em Portugal. Sabe-se, tambem, que viveu alguns anos em Lisboa de onde escreveu ao sábio florentino Toscanelli, e onde casou com D. Filipa Moniz de Melo, filha de Bartolomeu Perestrelo, donatário da ilha do Porto Santo, tendo nascido dêste consórcio um filho chamado Diogo. Foi acompanhado por esta criança que o futuro descobridor do Novo Mundo saíu de Portugal afim de se dirigir a Huelva, onde residia sua cunhada D. Violante Moniz, casada com Michelle Moliarte. Viveu, então, em casa do duque de Medinaceli algum tempo, até que, após várias peripécias, conseguiu ser apresentado à rainha Izabel, a católica, que se interessou por êle e o autorizou, ao cabo de alguns anos, a efectuar a sua viagem maravilhosa, que iniciou a 3 de Agosto de 1492. E, em consequência dêste feito famoso, esse português obscuro, mas denodado nauta e marinheiro intrépido, conquistou a imortalidade gloriosa, firmando, definitivamente, o seu lugar na História sob um nome castelhano: Cristobal de Colón.
É interessante, porém, que sendo conhecido no seu tempo por êste nome, nunca assim se tivesse assinado mas, únicamente, desta maneira inconfundivel.

XPOFERENS
(Christoferens)

Por disposição testamentária, ele até deixou muito recomendado, aos seus descendentes, que autenticassem, sempre, todos os documentos com a firma de que tinha feito uso:

«... firme de mi firma la cual agora acostumbro, que és una X com una S em cima y una M com una A romana en cima, y en cima dela una S y despues una Y griega con una S en cima con sus rayos y virgulas, como yo agora fajo; y se parecerá por mis firmas de las cuales se hallaram muchas y por esta parecerá. Y no escrebirá sino el almirante puesto que outros titulos el Rey le desse o ganasse; esto se entiende en la firma y no en su ditado que poderá escribir todos sus titulos como lo pluquire; solamente en la firma escribirá el Almirante.»


A assinatura de Colombo
(1) e (2) — Antes de 1492: Christoferens
(3) — Depois da descoberta da America: El Almirante

Esta recomendação singular aos seus descendentes — certamente para que a firma-hieroglifica se perpectuasse atravez dos tempos — não deixa de ser significativa num homem tão misterioso, dum caracter tão reservado e tão enigmatico, que, conforme via o seu nome tornar-se mais e mais célebre «tanto menos conocido y cierto quiso que fuese su origen y patria».
Ora a assinatura habitual do grande nauta, antes de embarcar para a primeira viagem ao Ocidente, era esta:

.S.
.S. A. S.
X M Y
XPOFERENS


Depois da descoberta — quando entrou na posse de todos os direitos e honras que pelo seu feito épico ganhara — passou a assinar-se assim :

.S.
.S. A .S.
X M Y
EL ALMIRANTE


Como se vê, esta firma exótica é uma verdadeira charada, charada extranha que diferentes históriografos modernos teem procurado decifrar debalde. Apos algumas tentativas falhadas, coube-me a sorte, porém, de ter conseguido descobrir a complexa chave do tenebroso enigma onomatográfico, como em seguida vou expor.
Todos os escritos que o descobridor do Novo Continente deixou á posteridade, como já vimos, são em latim ou castelhano. É singular que, dizendo-se natural de Genova — de onde yo sali y donde yo nasci — nada deixasse escrito na lingua materna! E é singularíssimo, também, que tendo vivido tanto tempo em Portugal — segundo o que históricamente se conhece dêle — nada deixasse escrito em português puro. Mas se é aceitavel supôr que o denodado nauta não sabia italiano, não tem aceitação alguma possível o seu desconhecimento total da língua portuguesa... tanto mais que as palavras que os investigadores espanhoes teem tomado por termos galegos são, genuinamente lusitanas.
Ha aqui, pois, um mistério.
Analisando a firma que Colombo usava em Castela — pois não se conhece escrito algum seu, durante a sua permanência em Portugal — apenas se lê, claramente, XPOFERENS (Christoferens) duas palavras latinas — Christo e Ferens equivalentes á expressão: — o que conduz Cristo, o que vai com Cristo, o que leva Cristo.
Ora porque não escreveu êle, correntemente, em latim, Christophorus, que tem a mesma significação?
A razão explica-se:.— é porque a firma está escrita em grego e os vocábulos Christo e Ferens equivalem ao Christoforos da referida língua, que escrito com caracteres próprios seria de dificil leitura, e escrito em caracteres latinos estabeleceria confusão com a fórma gráfica italiana: Christóforo.
Intencionalmente, premeditadamente, pretendendo assim ocultar ainda a sua nacionalidade, êle imprime á sua própria assinatura um carácter hieroglífico, evitando assinar-se com o nome castelhano porque era conhecido — Cristobal de Colon — e com o italiano Cristoforo Columbo — que realmente lhe pertenceria se fôsse genovês, como pretendera fazer acreditar ao apresentar-se nos domínios de Izabel a católica. Espirito culto, homem de vistas largas, com uma pr [espaço em branco] literária e erudita, que poucos dos seus contemporâneos possuíam, Colombo, extremamente inteligente, descobriu a fórma gráfica de universalizar o seu nome sem todavia o revelar duma maneira clara, terminante, certa, pois o Xpoferens que êle inventou, equivalerá, perpectuamente, ao Christopher dos inglezes, ao Christophe dos franceses, ao Cristobal dos espanhoes, e ao Xpovão ou Christovam dos portugueses.
No apelido, porém, é que esta o inigma. Êsse apelido — Colon — por que era conhecido, jamais êle o escreveu junto ao seu nome próprio. Misteriosamente, recomenda aos seus descendentes que façam sempre uso da firma que usar, essa firma-hieroglífica que era o seu segrêdo e que ele, meticulôso em extremo, queria que se perpetuasse através dos séculos. Nenhum biografo ligára importancia a esta recomendação de Colombo, ninguem reparára no cuidado intimo com que formulara esta disposição testamentária. A firma era enigmática, tenebrosa, indecifrável, diziam os investigadores, encolhendo os hombros com indiferença. Alguns, porém, mais pertinazes, tentavam matar a charada. E todos iam bater ao mesmo ponto: as letras soltas eram apenas, as iniciais de nomes de santos! Eu nunca me convenci d'isto. Tinha a certeza moral de que só par êsse facto, Colombo não tomaria tanto interesse para que o mistério da sua assinatura passasse á posteridade. Uma razão mais poderosa devia haver, pensava eu, registando as opiniões da firma-invocatória. E puz-me a estudá-la com afinco, com pertinácia, procurando a decifração integral, buscando uma solução mais coerente, mais lógica.
Durante longos meses, a firma hieroglífica de Colombo constituiu toda a minha preocupação e, coisa curiosa, quanto mais impenetrável me parecia, mais e mais crescia em mim o desejo intenso de decifrá-la.
Uma noite, casualmente, reparei que o desenho dos três primeiros caractéres gregos da palavra Colon se assemelhava, notávelmente, ao do X, M, e Y sobrepostos ao Xpoferens, se bem que estas três letras estivessem invertidas... Estava encontrada a chave do enigma, estava morta a charada. Emocionado com a minha descoberta, tratei logo de a verificar, de a analisar, e a palavra que a constitui, então, encheu-me de surpreza, deixou-me, positivamente, assombrado!
Ora a firma-hieroglífica, apesar da declaração de Colombo no seu testamento, — ...que és una X con una S en cima, y una M com una A romana en cima, y en cima dela una S y despues una Y griega com una S en cima com sus rayos y virgulas, como yo agora fajo...» — é composta, apenas aparentemente, por cinco caracteres latinos diferentes, repetindo-se duas vezes o S, por mera disposição estética, talvez.
E assim esses caracteres aparentemente latinos — que uma simples casualidade, como já expliquei, me fez descobrir invertidos — são rigorosamente helénicos e equivalentes ás seguintes letras do alfabeto grego:— o X ao Khi o M ao ómega, o Y ao lambda, o S ao sigma, entrando tambem o alpha A, que ocupa o centro da firma e que ás vessas — V — dá um V ou um U.
Afirmar é muito, mas comprovar é tudo. Vamos pois, fazer a confirmação rigorosa desta afirmativa verídica.
Ora a firma misteriosa de Colombo, como já vimos, era esta:

.S.
.S. A .S.
X M Y
XPOFERENS


Supondo as letras, que estão sobrepostas ao XPOFERENS, como numa projecção, teremos:


Eliminada agora a parte superior, por ínutil, fica-nos:


Está agora a firma na sua ordem racional, isto é: o nome próprio antes do apelido como é de uso, como é vulgar. Foi evidentemente, sob esta primitiva forma que Colombo a concebeu, porque os caracteres são rigorosamente gregos, excepto o do centro que dá um V romano decerto para não se repetir o ómega. Vejamos pois:


Revelado o caracter oculto da firma, encontrados por esta forma os caracteres que a compõem, basta juntá-los — o Khi, o ómega, o lambda, o V, e qualquer dos sigmas, para se poder ter a palavra grega que resulta dessa combinação;


A palavra grega é Cholus; portanto, a firma escrita em grego rigoroso, daria Xptophoros Cholos (Christophoros Cholos) e, traduzindo-a em latim teremos:

XPOFERENS
COL
V
S


Encontramos assim Xpoferens Colus ou, com mais rigor, Christophorus Colus.
Portanto, a decifração integral da curiosa charada da assinatura do imortal descobridor da América é esta, muito simplesmente:

CHRISTOFERENS COLVS


que se pode traduzir em português corrente, em português. do nosso tempo, desta maneira:

CRISTOVAM DE COLOS


Ora a povoação de Colos só existe em Portugal, na provincia do Alentejo. ([1]) É uma vila antiquissima, de


Decifração integral da firma
(I) A assinatura, mais vulgar, do grande navegador.
(II) A firma isolada parece escrita cm caracteres, aparentemente, latinos.
(III) Na firma invertida esses caracteres são gregos, correspondentes aos do n.º IV, como o confronto demonstra claramente.
(V) As letras gregas que entram na composição da firma.
(VI) A assinatura em grego: Christoforos Cholus.
(VII) A assinatura em latim: Christoferens Colus.


fundação romana, edificada na raiz dum pequeno monte, entre duas ribeiras afluentes do Sado, — a ribeira da ferraria e a de S. Romão — perto de Messejana, pertencente ao distrito e bispado de Beja, no concelho e comarca de Odemira.
Nasceria então o denodado nauta Cristovam de Colos na vila de Colos? Será esta, de facto, a sua naturalidade que sempre e tão obstinadamente, ocultou? Será esta modestíssima povoação alentejana a sua verdadeira terra natal? Tudo o parece indicar, como veremos.
De resto, no seu tempo, era vulgaríssimo em Portugal, empregar-se, logo em seguida ao nome próprio, a designação local da naturalidade. Assim temos, entre outras personalidades históricas de destaque, os navegadores: Diogo de Azambuja, João de Santarém, Gonçalo de Sintra, Pedro de Sintra, João de Mafra, Pero de Alemquer, João Afonso de Aveiro, e os viajantes: Pero da Covilhã, Ayres de Almada, Pero de Évora, Abraão de Beja, José de Lamego e Fernão Martins de Santarém.
Mas Colos — como berço natal de Colombo — tem ainda outros argumentos a seu favor. Quando o sol é muito forte, muito quente, muito intenso, os habitantes de Colos referindo-se á penetração molestante dos raios sobres sobre a pele, costumam dizer:—Está um grande espeto!
Ora este termo — espeto — que eu nunca tinha ouvido empregado nesta acepção e que, percorrendo o Baixo-Alemtejo, o ouvi unicamente em Colos, foi usado por Colombo, com o mesmo significativo sentido, numa passagem da carta que, em 4 de Março de 1493, escreveu a Luiz de Santangel, comunicando-lhe a descoberta que vinha de efectuar:

«En estas islas fasta aqui no he hallado hombres monstrudos, como muchos pensavan, mas antes és toda gente de muy lindo acatamiento, ni son negros como en Guinea, salvo con sus cabellos corredios, y no se crian adonde ay espeto demasiado de los rayos solares; és verdade qu'el sol tiene ali gran fuerça, puesto que és distante de la linea equinoccial veinte é seis grados».

Esta passagem da carta — «espeto demasiado de los rayos solares» — empregada nesta acepção exclusiva, puramente regionalista, tem o seu quê de significativa e reveladora.
Presentemente, existe ainda nas proximidades da vila de Colos, uma herdade chamada Colombais.
Era conhecida sob a mesma designação nos princípios século XVIII — segundo se lê numa escriptura de compra de 1709 — e não será arriscado supor-se que já existiria com o mesmo nome em pleno século XV, no século em que nasceu Cristovam Colombo.
Ora o vocábulo Colombais parece derivar-se das palavras portuguesas Colombar, ave congénere ao pombo, ou de Colombário, que significa pombal.
Mas pode tambem ter uma origem latina, por exemplo: de Columbarius, ou Colombaris (re), respeitanta a pombo, ou de Columba, (ae) a pomba, e Columbus (i) o pombo. Nasceria Colombo nesta herdade? Eis um ponto histórico que convem estudar com a maior atenção, quando se encontrarem os necessários documentos para se poder fazê-lo com criterio e segurança.
Colos, de resto, resolve tambem o problema tenebroso do apelido castelhano do grande nauta, porque o nome portuguesíssimo de Cristovam de Colos — segundo uma regra etimológica — transportado à língua de Cervantes, traduzido em espanhol, dá, muito simplesmente, Cristobal Colon.
E aqui está um apelido deturpado, improvisado, que serviu depois, explendidamente, ao seu possuidor.
Cristovam de Colos passou a ser, então, para os castelhanos, o estrangeiro Cristobal de Colon, apenas, que se dizia genovês e descendente dos Almirantes Colombos.
E conquanto houvesse por êsse tempo o apelido Colon na Península, pois existiam famílias Colons em Pontevedra, Tarragona e em Plazencia — originárias, decerto, do ramo francês Cullam — nenhum dos cronistas contemporâneos do ousado navegador se lembrou de lhe atribuir parentesco com quaesquer destas famílias. Para êstes, Cristovam de Colon era, muito simplesmente, um Colombo italiano.
Dá-se, porêm, a circunstancia singular de que, por êsse tempo, vivia em Génova um tecelão chamado Cristoforo Columba, filho de Dominico Columbo e de sua mulher Suzana de Fontanarubia, personagem completamente obscura que os historiógrafos italianos modernos tem procurado identificar, de balde, com o próprio Cristobal de Colon, descobridor da America, mas nada de comum existe entre êles, a não ser... a analogia do nome próprio: Cristovam.
Apesar de tudo, Colombo declarou-se natural de Génova, ocultando, todavia, o nome de seu pai e de sua mãe, que se não sabe quem foram.
Mas mentiu, e mentiu com um fim reservado muito pessoal e muito intimo.
Ora essa mentira intencional, dizendo-se nascido numa cidade onde nunca pôs os pés, trouxe-lhe, de certo, a vantagem de o impôr na côrte de Izabel a católica, como homem do mar, como marinheiro de longo curso, como marítimo experimentado em navegações ousadas, pois por êsse tempo os genoveses eram os rivais dos portugueses na arte de marear.
E assim, sob este aspecto, sob esta máscara recomendativa, imaginou ser-lhe muito mais facil conseguir os seus fins, como de facto depois se viu, se bem que a luta fôsse obstinada, tenaz, durante uma série de anos, de solicitações e vexames, segundo reza a História, e como ele próprio, por varias vezes, amarguradamente, acentuou nos seus escritos.
Mas, alguns auctores modernos pretendem ver nessa mentira de Colombo a maneira prudente de ocultar a sua origem israelita, que seria, evidentemente, um grande obstáculo ás suas aspirações e um grande estôrvo aos seus desígnios.
Podem ter razão, também, esses biógrafos, tanto mais que as enfadonhas dificuldades que Colombo encontrou para lhe aceitarem o oferecimento dos seus serviços nauticos, em Castela, os cristãos-novos — Luís de Santangel, Luís de Torres, Rodrigo Triana e outros, — que levou por companheiros nessa primeira viagem ao Ocidente, onde não quiz ir um único padre, as profusas citações bíblicas dos seus escritos, os legados do seu testamento a judeus residentes em Lisboa, a forma entusiástica como exalta as sublimidades do Ouro, com todo o calor dum verdadeiro hebreu ganancioso, e outros, e vários outros pontos sintomáticos, tudo parece provar uma possível origem israelita.
Por esse tempo, os sábios semitas viviam livremente na côrte portuguesa, cercados pela estima e consideração dos próprios monarcas.
D. Afonso V — que teve no hebreu Isaac Abrabanel, o seu verdadeiro ministro das finanças — foi um acérrimo defensor dos judeus, dando-lhes, até, a mais ampla liberdade dentro do reino.
Seu filho e sucessor — o impávido D. João II — tambem os estimava muitíssimo, especialmente os que ele conhecia como homens de comprovado mérito e competencia.
Foi perante a sua insistente solicitação que o grande estralico judeu Abraham Zacuto, distinto matemático autor do famoso «Almanach perpetuus», veiu para Portugal exercer o elevado cargo de astrónomo real.
Mestre Josepo Judeu, ou José Vizinho, era astrónomo e médico da Junta dos Matemáticos, tendo efectuado várias viagens á Guiné para determinar com rigor algumas latitudes.
Abraham de Beja e José de Lamego — que desempenharam missões diplomáticas do maior segredo e da mais alta importancia para a vida política da nação — eram ambos hebreus, como o era, também, Mestre Rodrigo, físico-mor da côrte.
Garcia de Rezende — no capítulo XCI da sua Chrónica — refere que Mestre Antonio, cirurgião-mor do reino, era judeu e, ao tornar-se cristão-novo, foi seu padrinho de baptismo o próprio D. João II.
Muitos e muitos dos nossos navegadores de maior destaque, da época das descobertas, eram antigos judeus conversos, cristãos-novos.
Colombo seria judeu português convertido? Seria cristão-novo, tambem?
É muito possível que o fôsse, conforme vimos.
Mas, cristão-novo ou cristão-velho, o que não resta a menor dúvida é que êste homem genial nasceu na província do Alentejo e que, pelo seu feito épico, comprovou possuir íntegras todas as qualidades heroicas da raça portuguesa, que Camões brilhantemente, enalteceu nos versos candentes dos Lusíadas!
Mais uma grande gloria cabe, a Portugal par ter dado ao mundo Cristovam de Colos, êsse seu filho eminente, navegador ousado, denodado nauta, descobridor imortal, «que cuando fué su persona a proposito y adornada de todo aquello que convenia para tan gran hecho tanto menos coñocido y cierto quiso que fuese su origen y patria...»

[1] Colos — Vila de Portugal, no Alentejo. El-Rey D. Manuel I, a fez Vila dando-lhe foral; antigamente era lugar do Termo da Vila de Sines.