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sábado, 12 de julho de 2008

Cristóvão Colombo - Eça de Queirós

O Expresso apresenta um artigo de Eça de Queirós escrito por alturas do 4.º Centenário da chegada de Cristóvão Colombo ao Novo Mundo. Se não bastasse tratar-se de excelente literatura, este interessante texto vale para mostrar como as efemérides reflectem mais preocupações presentes do que real interesse pelo passado.

Os centenários têm a excelente utilidade de avivar e recolorir largos pedaços de Historia, que já se apagavam, se sumiam, conservando apenas aqui, além, algum contorno incerto e turvo...

Há anos, em Lisboa, o centenário do "Príncipe dos Poetas" levou muito homem culto (e mesmo de Letras) a comprar enfim os Lusíadas: e os divinos Sonetos, as Elegias choradas com tanta paixão e arte "sob los rios de Babilónia", foram finalmente lidas (ou folheadas) porque, no Rocio e no alto da Graça, havia luminárias em honra de Luís de Camões. Não foi tanto porém a Obra como a Vida do poeta que teve assim o seu feliz momento de ressurreição.

E como ela andou tão espalhada e repartida pelo mundo, através dela se rememorou - desde a Lisboa do século XVI, e da corte letrada da infanta D. Maria, e do soalheiro turbulento de Alhos Vedros até aos combates da Índia e às façanhas dos Mares do Oriente - toda uma soberba página da vida heróica da Renascença Portuguesa. Esse centenário foi assim, entre préstitos e charangas, uma preciosa vulgarização histórica. Portugal necessita de vez em vez absorver um largo trago da sua História - como os velhos de esvaída força necessitam beber goles de vinho generoso e forte, de Borgonha ou do Porto.

A mesma útil lição do Passado nos está sendo dada pelo centenário de Cristóvão Colombo de quem, por entre este tumulto de ideias e factos que nos solicitam andávamos tão esquecidos (nós os ignorantes), que apenas sabíamos que ele vagamente descobrira a América, e vagamente morrera em miséria. Todo o resto era uma mancha escura. Dela agora, graças ao centenário, vai surgindo (para nós os ignorantes), em um relevo certo e cada dia mais vigoroso, a imagem do herói e do seu tempo. Já começamos a saber toleravelmente o nosso Colombo - e como numa aventurosa galé arribou à Madeira onde herdou os papéis e as cartas dum velho mareante português; e como muito tempo errou por Lisboa, oferecendo um Mundo novo, desatendido do "Rei Perfeito", desdenhado pelos nossos cosmógrafos que só tinham olhos para Oeste; e como por um triste inverno atravessou a Espanha quase mendigando com o seu filhito Diego; e como bateu à porta do Mosteiro de Santa Maria da Rábida para nele encontrar, além do pão, aquele inteligente patronato de padres e fidalgos que, através de lutas, de dedicados esforços, o puseram enfim a bordo da Santa Maria, com uma bolsa de 6.000 maravedis, para ele ir buscar esse mundo de que tanto se riam os grandes doutores de Salamanca. E não é só Colombo que assim renasce, outra vez vivo e real, mas todos esses homens fortes que o amaram, com ele colaboraram no grande achado, e, de todo esquecidos, vêm hoje receber a sua parte de glorificação - o bom prior do mosteiro da Rábida, Juan Pérez de Marchena, um santo que era um cosmógrafo, Pedro González de Mendoza, grão-chanceler de Castela, que toda uma tarde defendeu o seu roteiro perante os reis católicos, no acampamento de Baeza; o velho duque de Medina-Coeli que o ajudou a equipar a Niña e a Pinta; e outros ainda até essa boa alma do infante D. Juan, que cria nele, como num predestinado e valente resgatador de almas.

Também estes devem partilhar das coroas do centenário - quando não seja senão para animar, pelo exemplo da sua fé generosa (tão em contraste com a resistência obtusa dos sábios de Salamanca, e de todos corpos constituídos da Espanha) aqueles a quem ainda hoje um grande homem possa levar a confidência de uma grande ideia.

Grande homem decerto o foi, este Colombo! Partira de Itália um simples piloto, e o ar de Espanha fez dele um herói. Melhor! Fez dele um Místico, pondo-lhe na alma essa Fé que vale mais que o Génio, porque só ela comunica ao homem a força que pertence a Deus. É, com efeito, uma ideia de misticismo que impele Colombo para os mares. O que ele pretende não é completar o mapa do mundo, em bem da ciência, mas achar essa misteriosa Índia onde há o ouro (o ouro excelentíssimo, como ele dizia) para com ele, em bem da Fé, equipar dez mil cavalos, cem mil infantes, e ir conquistar Jerusalém!

O que Colombo procurava através das névoas atlânticas, era na realidade o Santo Sepulcro.

E de que essa Índia seria descoberta, e colhido todo esse ouro, seguro estava ele - porque assim o predissera o profeta Isaías!

Parte enfim de Palos. Decerto levava roteiros e mapas. Mas que lhe importavam? O mapa único com que estudava, na incerteza dos altos mares, era o que lhe desdobravam de noite, diante da proa da Santa Maria, dois grandes anjos, e onde ele via brilhar num contorno de lua, a Índia e todo o seu ouro! Por isso quando os ventos sopravam com desusado furor, ele, indignado, mandava-os emudecer, em nome de Deus. E se as altas vagas batiam devoradoramente essas pobres caravelas, mal pregadas, frágeis como os nossos caíques de cabotagem, Colombo, indiferente à manobra, debruçado da amurada, à luz mortiça dum farol, lia às vagas, para as serenar, o Evangelho de S. João. Assim era no século XV um almirante mayor del mar oceano. E assim chegou pilotado pelo Espírito Santo. Além está a terra... A Pinta dá naquelas solidões, com uma velha colubrina o primeiro tiro, anúncio primeiro das mortandades que hão-de vir. Mas, nesse instante só se pensava em cravar depressa nel mundo novo, uma cruz, signo de infinita paz, do divino ensino trazido aos infiéis! Finalmente Colombo desembarca. Gajeiros e pilotos choram de pura alegria, aclamam o Almirante. Só Colombo está sereno. Porquê? Ele o diz - "porque nesta empresa das Índias não me aproveitou razão, nem matemática, nem mapas mundi; simplesmente se cumpriu o que disse Isaías!"

Há certamente razões para celebrar este homem - mas não sei se as há realmente para celebrar a sua descoberta. Dela datam a decadência e todas as ulteriores misérias de Portugal e de Espanha.

Até a essa fatal partida de Palos, nós éramos duas nações ditosas, compostas sumariamente de homens de espada e de homens de enxada. O homem de espada ia adiante rechaçando o Mouro, e o outro seguia atrás, com a sua enxada, granjeando a terra (que de resto o mouro já regara e preparara bem destramente!) Assim íamos edificando a prosperidade da pátria sobre a base de trabalho. E, dentro de nossa casa, éramos ricos. Todas as grossas e lentas caravelas da Europa vinham a Lisboa buscar trigo: e na Andaluzia, terra da amoreira e gado, havia dezasseis mil teares tecendo alegremente a seda e a lã. Era o tempo dos Bucolistas. E o mais ambicioso poeta, exclamava:

A mí, una pobrecilla

mesa, de amable paz bien abastada,

me baste!...

De repente, porém, uns atrás dos outros, nau após nau, Colombo descobre as Antilhas, Vasco da Gama acha o caminho da Índia, Ponce de León avista a Flórida, Balboa atravessa o Panamá, Álvares Cabral aporta ao Brasil!

E todos eles voltam perturbados, trazendo a notícia e já a posse de terras cheias de especiarias, de marfim, de ouro e de diamantes! Foi como se a estes dois homens, honestamente curvados sobre a terra, o Espanhol e o Português, tivesse saído o prémio grande da lotaria.

Houve uma brusca revolução nas suas ideias, nos seus hábitos, na sua moral. Todos, tumultuosamente, abandonam casais e teares. Para quê trabalhar? Para juntar ao fim de uma vida suada e dura, dois dobrões no fundo de uma arca? Mas só nas Molucas há um ilhéu, cujo solo é todo de ouro, de ouro bruto! Mas as Índias estão atulhadas de pimenta e cravo, e uma mão cheia de especiarias vale uma légua de centeio e milho! Mas o Samari, que é mouro, e portanto presa justa, tem no seu palácio cestas cheias de rubis e diamantes! Basta embarcar, trazer e mercadejar! E tudo embarca. Campos e teares ficam desertos. Dos sete milhões de carneiros que tinha a Andaluzia, escassamente lhe restam alguns milhares, comendo cardo pelas fráguas.

Lisboa já não tem trigo para vender - já não há pão próprio em casa. Há pimenta - com que se compra o pão alheio. Espanha e Portugal não são já duas nações, que pelo trabalho se desenvolvem normalmente, mas duas metrópoles ociosas, de braços cruzados, diante dos seus contadores, explorando ao longe, por meio de escravos, jazigos de ouro e feitorias de tráfico. E, opulentas, gozam a vida.

Mas que sucede? Que pouco a pouco se esgotam os jazigos de ouro. Que outras raças vindas do Norte, dextras nos mares, mais tenazes e mais hábeis, com aptidões de mercancia imensamente superiores se apoderam das suas feitorias, das suas naus. E aqui fica o desventuroso peninsular sem feitoria e sem ouro! Nada lhe resta. Os campos? Incultos. Os teares? Partidos. Os gados? Comidos nos tempos dos festins, com a pimenta e o cravo do Oriente. E, pior que tudo, perdido o hábito forte e salutar do trabalho! Que fará? Quando ele era rico, e para que Deus lhe perdoasse os meios sangrentos por que enriquecia, fundara e dotara muitos mosteiros, agora poderosos. É esse o seu recurso extremo. E o peninsular, lançando aos ombros a capa do Lazarilho, vai esmolar o caldo de todos os dias à portaria dos conventos.

Tem todavia ainda outro recurso. As descobertas, essas Américas e essas Índias, com o seu comércio, tinham feito desenvolver entre as raças do norte que com elas aproveitaram, uma instituição nova e estranha - o Banco. O Banco era ainda mais rico que o mosteiro - de facto ia substituindo o mosteiro. De sorte que o Peninsular (apenas adquiriu esta certeza) retomou a capa de Lazarilho e partiu a implorar a vida de cada ano aos Bancos de Inglaterra e França... E assim vive desde que os seus grandes pilotos o presentearam com um mundo. Não vejo por isso que haja uma superior razão em celebrar estas descobertas...

Nós, os Portugueses, fomos talvez mais justos, atendendo apenas, na descoberta, ao poema que ela ocasionou - esquecendo prudentemente a passagem do Cabo, e glorificando só os Lusíadas.

Enquanto à América, só ela realmente se orgulha em ter sido descoberta (vivia tão feliz, quando ignorada!) não me parece que deva especialmente celebrar Cristóvão Colombo como o homem sine qua non, a quem ela deve a sua vida de civilizada.

O genovês não lhe foi essencial, para ela emergir do segredo do Mar tenebroso!

"A América lá estava", como dizia o bom Narváez.

Ora, sempre que no século XVI se tratava de ir buscar um Mundo, quando não partia já um galeão espanhol, partia logo um galeão português. Em Cádis ou em Lisboa, havia constantemente um mareante, pronto a ir com alguns mapas incertos, e o coração posto em Deus, fundar, através dos mares, um reino novo. E se em 1492 Colombo não tivesse descoberto a América pelo norte, lá estava já Pedro Álvares Cabral que, em 1500, a descobriria pelo sul. Eram para esse continente mais oito anos de sossego e obscuridade ditosa!

João Gomes [Eça de Queirós]

sexta-feira, 2 de março de 2007

O Mistério das Conferências Revelado

Ao longo das últimas semanas têm-nos chegado aos olhos sucessivos textos, intervenções, respostas e citações sobre a problemática da naturalidade e filiação exactas do italiano Cristóvão Colombo.
Variadíssimas vezes o nome do Pseudo-História Colombina neles é referido, posto em foco. Vários comentários a nosso respeito, uns elogiosos e tomando-nos como referência, outros criticamente destrutivos do nosso trabalho, por essa Rede fora nos vão sendo feitos.
Essas discussões não as vimos mencionando, ou temos mesmo recusado tomá-las em conta por duas razões fortíssimas: a primeira, consiste na nossa política firme de apenas responder, aqui, a quem para aqui ou fora daqui se nos dirija desde que directamente. A segunda, custa-nos dizê-lo, deve-se a que muitas elucubrações "colon'ialistas" com interesse, e que lemos, virem geralmente submersas no meio de incivilidades grosseiras, havendo inclusivè escritas reveladoras de paixões primárias turvadoras da Razão, que poluem todo o debate existente fora deste espaço e nos obrigam a considerá-las como não existentes: non licet.

Entre as últimas comunicações que recebemos esta semana visionámos alguns relatos das recentes conferências proferidas na secção de História da Sociedade de Geografia de Lisboa, na passada segunda-feira, 26 de Fevereiro de 2007, às 17 horas e 30 minutos, pelo sr. Manuel Rosa e pelo Doutor Contente Domingues. Relatos que, e não o escondemos, nos deixaram atónitos, perplexos, senão mesmo estupefactos. Passados três dias, pensamos que serenados os ânimos podemos revelar que por interposta pessoa da nossa confiança, como preferirem, ou por obra da Santíssima Trindade, três Pessoas numa só Pessoa, três romãs num só pé de romã florescendo no fecundo, múltiplo e unitário reino do Símbolo Alegórico, o misterioso olho triangulado do Pseudo-História Colombina também ali esteve presente, e atento. Roma est Amor: ou ainda que por obra e graça do Divino Espírito Santo, manifestando no âmbito da Divina Providência os seus insondáveis desígnios, também nós podemos registar jornalisticamente o evento, com toda a isenção, frieza, e objectividade que nos foram possíveis. Esse mesmo relato, que muito agradecemos a quem de Direito, passamos agora a transcrever a fim de o fornecer aos leitores interessados pelo caminho que tem vindo a levar a afirmação comercial, política, social e cultural da Pseudo-História em Portugal:

Musa da História


"1ª Conferência, “A Portugalidade de Colombo”, pelo sr. Manuel Rosa (1)

(...) Iniciou-se com a exposição (...) dos factos em que assenta a sua teoria do Colombo português (...) isto acompanhado de imagens, projectadas num écrã em que se via, por exemplo, uma moçoila americana alta, loira e de olhos azuis (como deviam ser as portuguesas da época, no século seguinte é que começaram a apanhar muito sol e crestaram, qual "bolo mulato") e um robusto tecelão americano-genovês, de avental para não se sujar, em pleno namoro.

Comentou o sr. Rosa a impossibilidade de um tecelão genovês casar com uma senhora da alta nobreza portuguesa, tendo o Prof. Contente Domingues dito de imediato que não era obrigatório tal genovês (referido pelas fontes coevas) ser tecelão. Continuou depois o sr. Rosa a sua dissertação classificando como alto o estrato da nobreza portuguesa a que se unira Colombo ao casar com a tia do Marquês de Montemor (aliás, meia-tia da Marquesa sua mulher), do Conde de Penamacor (aliás, meia-tia da Condessa mulher deste), e doutros Noronhas (os tais rebentos do coito danado do Arcebispo de Lisboa D. Pedro de Noronha com a "nobilíssima" Branca Dias meia-irmã de Filipa Moniz) isto perante o atónito olhar e elevar de sobrancelhas do Prof. Contente Domingues ao ouvir assim referir as duas irmãs Perestrelo.

(...) Perante as restantes efabulações do sr. Manuel Rosa , o Prof. Contente Domingues ia encolhendo os ombros e mais ainda os encolheu quando foi referido o assunto das romãs anteriormente divulgado pelo sr. Carlos Calado (...).

2ª Conferência, “A Nacionalidade de Colombo: um Problema Relevante?” pelo sr. Professor Doutor Francisco Contente Domingues

(...) O conferencista começou por dizer que o livro de Manuel Rosa revelava um meritório esforço de trabalho de documentação, ao contrário dos de outros anteriores defensores da teoria portuguesa para a naturalidade de Colombo. Aí mudou imediatamente de assunto, e desenterrando o machado de guerra, fulminou o livro de Mascarenhas Barreto, a quem chamou de plagiador absolutamente ignorante, ao ponto de ele, conferencista, não ter sequer conseguido acabar de o ler ao topar com um erro gravíssimo a páginas tantas. (...) Explicou, seguidamente, que existem muitas teorias sobre a nacionalidade de Colombo, até uma grega, mas que Colombo é considerado (historiograficamente) como (italiano e) genovês face aos documentos existentes. Que o desconhecimento documental da naturalidade e filiação exactas de Colombo (em Itália) abre as portas ao desenvolvimento de quaisquer teorias a respeito, da da Catalunha à das Baleares e á portuguesa, entre outras.

Referiu depois a pouca importância da nacionalidade de Colombo, a pouca importância da descoberta (oficial) da América e a enorme importância que tem sim o facto de metade do continente americano falar espanhol.

Falou depois dos Descobrimentos, inelutavelmente nossos, pertença dos nossos navegadores e da gesta lusitana. Comprazeu-se com o renovar do interesse pelos Descobrimentos, e salientou que tendo nós Portugueses os descobridores oceânicos que temos não precisamos que Colombo seja português natural. Que tanto italianos como espanhóis o disputavam historiograficamente, há muito tempo, apenas porque não dispõem de qualquer outro nome célebre de navegador na Era das Descobertas, razão por que a questão da naturalidade de Colombo tem pouca importância para Portugal.


3ª parte, Debate com o público:

(...) Seguiu-se um curto debate, pois que o Doutor Contente Domingues tinha começado por falar da sua pouca disponibilidade de tempo, tinha um jantar. Interveio acaloradamente uma senhora açoriana, que defendeu a obrigatoriedade de casamentos na nobreza dos capitães-donatários quatrocentistas das ilhas portuguesas e respectivas famílias. Foi de imediato contrariada pelo Professor, que referiu nada disso ser assim, e que bem pelo contrário se estava numa época de ascensão social da burguesia, havendo mistura desta com a nobreza desde os começos da Dinastia de Aviz, paralela ao súbito enobrecimento dos descobridores daquele tempo. Esta senhora quiz continuar a debater o assunto, mas foi interrompida pelo moderador e anfitrião Rui da Costa Pinto, alegando haver mais gente para falar e o tempo ser escasso.

Seguiu-se uma intervenção de um militar (tenente-coronel) que questionou a investigação no domínio da História, tendo o Prof. Contente Domingues informado dos custos da mesma, agora vista nos nossos tempos como encontro/conflito de civilizações e não já como "descoberta".

Depois outro interveniente, creio que de sua graça Augusto, aludindo aos enigmas vários da nossa História, e depois ao recente "Mistério das Romãs", da autoria do Eng. Carlos Calado; na assistência falou-se de imediato da Maçonaria, mas... acabara-se o tempo e acabara-se a conferência. (...) Dê a este relato que assumo inteiramente o uso que entender (...) vejo a intervenção do Doutor Contente Domingues como um encolher de ombros perante teorias tontas e um ignorá-las completamente, preferindo puxar por outro tema de muito maior relevância! (3)".

A interpretação a que nos é possível chegar sobre o que realmente ocorreu durante a sessão na Secção de História da Sociedade de Geografia de Lisboa é que, ao referir o mérito do esforço do trabalho de investigação de documentação do sr. Rosa, sem proferir de seguida qualquer aprovação sua às interpretações e teorias elaboradas por este sobre o material recolhido por esse mesmo esforço, deixou o Doutor Contente Domingues à assistência um branco significativo... a bom entendedor... tanto mais que imediatamente parece ter criticado subliminarmente o livro objecto da conferência anterior estabelecendo subtil paralelismo com a dura crítica que imediatamente encadeou à obra de Mascarenhas Barreto (2), mantendo assim a educação para com os presentes, e crente de ser entendido como se entre pares académicos estivesse, sem levantar problemas de controvérsia ao anfitrião e à assistência, impossíveis aliás face ao pouco tempo disponível.

________________

1) "De Colombo", tal como oficialmente anunciada pela SGL, e não de "Colon", conferência essa que não despertaria o interesse de ninguém de língua portuguesa, mas assim é referida hoje no "mui verdadeiro blogue" Colombo-o-Novo, que não entendemos porque continua persistindo em não alterar coerentemente a sua denominação pública para Colon-el-Nuevo. Cf. http://colombo-o-novo.blogspot.com/2007/03/prova-final-2-em-1.html, e
http://seccaodehistoriadasgl.blogspot.com/.
Aproveitamos esta referência que nos fazem para indagar do novo mistério ainda por revelar: o que é um pseudo-blogue? Iremos perguntar ao blogspot.com se existem blogues tipo buraco negro, tipo anti-matéria de romã cubana pairando ciberneticamente no espaço virtual... Porque nós, ao contrário de Salvador Fernandes Henriques Palha de Colos Zarco e Coluna etc., somos reais, temos IP... Somos visíveis e documentados! Cuidado, senhores leitores, que daqui em breve irá sair nova obra, "O Mistério do Pseudo-Blogue Pseudo-História Colombina". Basta especular e confundir.
2) No discurso académico, cremos, não existem quasi coincidências que não sejam significativas. A linguagem académica leva tempo a ser aprendida, razão pela qual é ensinada paulatinamente desde os primeiros tempos de faculdade aos alunos, futuros estudiosos de uma dada área de saber, que devem aprender a dominar uma terminologia própria a essa ciência, distinta da utilizada nos restantes ramos científicos. Este antiquíssimo costume ter-se-á iniciado entre a comunidade científica, ao que tudo indica, pela necessidade de confrontação e refutação interna dos discursos empíricos em presença na Universidade, oralmente e por escrito, sem ferir susceptibilidades, e deixando registo das discordâncias coloquiais o menor que for possível.
3) As palavras entre parêntesis foram subentendidas do discurso proferido cursivamente.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Descobrir a América «não foi um grande momento»

Em notícia veiculada em 14 deste mês pelas agências France Presse, e Lusa, o presidente francês Jacques Chirac considera que a descoberta da América «não foi um grande momento da História» e, por isso, não tem de ser celebrado, atribuindo esse feito aos vikings em vez de a Cristóvão Colombo.

A frase está contida nas Memórias de Jacques Chirac, intituladas "L'inconnu de l'Elysée", livro baseado em entrevistas feitas ao presidente francês por Pierre Péan, posto à venda hoje sábado 17 de Fevereiro, e do qual alguns media franceses se fizeram eco publicando antecipadamente vários extractos.

Chirac, que assegura ter «uma visão geral do mundo» e que assinala que «cada cultura traz à Humanidade algo básico», diz da presença espanhola na América: «Não tenho admiração por essas hordas que ali foram para destruir».

Rota Viking da Descoberta da América

Afirma que as autoridades espanholas lhe pediram numa ocasião para participar na celebração deste acontecimento, embora sem especificar em que altura (que seria no entanto o 5º centenário da morte de Cristóvão Colombo o ano passado) e recorda que uma vez o rei João Carlos lhe telefonou, «surpreendido» por essa atitude.

Chirac respondeu ao rei que, na sua opinião, a chegada de Cristóvão Colombo à América «não é um grande momento da História», e afirma que os vikings chegaram a este território cinco séculos antes, teoria defendida por alguns historiadores.

Os vikings «não causaram tanto alvoroço e, além disso, tiveram a elegância de se destruírem a si próprios», salienta na obra o chefe de Estado francês.

Entretanto o jornal diário monárquico e conservador espanhol "ABC" já manifestou a sua indignação perante o que classificou de "ignorância pérfida" do presidente francês.

Ignoramos ainda quais as reacções italianas a estas desassombradas declarações.