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sábado, 22 de novembro de 2008

Um livro muito didáctico

Hoje passei numa livraria onde um livro me prendeu a atenção por ter como título O Alentejano que Descobriu a América. Obviamente que resolvi dar uma vista de olhos. Para além do título extravagante o livro é também curioso pela sua veia literária, por não ter páginas numeradas e muitas outras palermices.
A veia literária vê-se pela seguinte passagem:
(...) o rapaz prendeu-se de amores (ou de calores, não se sabe) (...) por uma rapariguinha de boas famílias (...) e zás, a moça engravida...

Logo à frente, para se dar um ar de erudição, resolve-se referir a palavra Sefarad em hebraico. Bom, os caracteres são hebraicos, mas escritos da esquerda para a direita o que dá uma palavra que não existe, pelo menos nos meus dicionários. Ou seja, דרפס em vez de ספרד. É óbvio que para quem não percebe nada, é indiferente a posição dos caracteres…

Depois envereda pela história dos judeus portugueses onde o autor revela a sua estrondosa ignorância.
Refere-se que Colombo foi baptizado com o nome Salvador Fernandes Zarco, mas no sentido de lhe ter sido dado esse nome, dizendo-se ser complicado baptizar um ilegítimo e muito mais porque o avô era sefardita.
Comecemos pelo princípio.
Se o avô era sefardita, ou seja, judeu (português ou espanhol, é indiferente) porque raio, porque carga de água, ia baptizar o neto?
Mas, imaginemos que os avós e os pais foram iluminados pelo Espírito Santo e baptizaram a criança. Porque razão tinham de ser discretos? Porque era filho bastardo e porque tinha sangue judeu?
A bastardia nunca foi impeditiva de baptismo. Mesmo as conservadoras regras estabelecidas pelo Concílio de Trento obrigavam a que as crianças fossem baptizadas nos primeiros dias de vida e isto independentemente de serem ou não legítimas.
Os judeus portugueses, que se saiba, sempre foram orgulhosos da sua religião e apesar das mais adversas condições sempre assumiram a sua identidade judaica até à implantação da Inquisição em Portugal, o que só sucedeu em 1536. Até aí, e mesmo após esta data, as pessoas eram identificadas por todos como sendo judias. Se queriam passar despercebidos, se alguma razão para isso houvesse, não conseguiam. Até houve distintivos específicos, embora com pouco uso, diga-se.
Na época em que Colombo viveu em Portugal os judeus praticavam livremente o Judaísmo e não tinham motivo para esconderem a sua religião. A expulsão e conversão forçada dos judeus ocorre em Portugal muitos anos depois de Colombo estar ao serviço dos Reis de Castela e Aragão. Até 1497 em Portugal os judeus tinham nomes judeus e não precisavam de ter outros, nem de se baptizarem, a não ser que a sua convicção religiosa o determinasse. Uma questão curiosa é: porque razão um pretenso judeu português (baptizado ou com nome dado, segundo o autor) iria dum país onde era livre de praticar a sua religião para Espanha onde havia Inquisição e perseguição aos judeus?

Mais ainda, porque razão haveria um bastardo dum infante de Portugal servir como marinheiro? É plausível que os Reis Católicos e toda a nobreza portuguesa, e até mesmo castelhana, não soubessem que Colombo fôra antes Salvador Fernandes Zarco?

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Optima Pars

Nas Cortes de Coimbra de 1472 queixavam-se os representantes dos concelhos de que muitos indivíduos, depois de cometerem, ou quando pretendiam cometer, mortes e roubos, procuravam alcançar o hábito de Santiago, para se isentarem da autoridade secular; e, se não lho concediam no reino, iam tomá-lo fora e para cá voltavam sem temer das justiças do rei, do qual diziam que não os podia julgar.
Nas Cortes de 1481-82 renovaram-se as queixas, em termos que testemunhavam o enorme descrédito a que haviam chegado as ordens militares.

«Ordens Militares ou de Cavalaria», Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol. XIX, Lisboa - Rio de Janeiro, s. d., p. 571.

sábado, 8 de dezembro de 2007

História Democrática

Se a História fosse uma democracia Cristóvão Colombo seria indubitavelmente português e isto caso a votação em que fosse eleito escapasse à impugnação por fraude.
Infelizmente a História ainda não pode ser uma democracia, por isso os valores que a fundamentam têm de continuar a ser os de há muito definidos pelas boas práticas da comunidade historiográfica.
Ainda assim, mantenhamos a ficção por mais algum tempo (até final do ano) e façamos mais uma tentativa para fazer a História Democrática.
Partindo então do resultado da votação anterior, em que Cristóvão Colombo foi dado como português, pergunta-se agora qual o seu verdadeiro nome, já que ninguém de bom gosto no Portugal de então baptizaria um filho com o nome por que o Almirante das Índias de Castela ficou conhecido neste lado da Península.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Filipa Moniz (bis)

Neste texto de há 50 anos (portanto não coevo) está escrito com todas as letras dona Filipa Moniz.


Se mais dúvidas houvesse acabavam aqui.




Mas o nome que consta deste fragmento de documento pode não ser o da mulher de Cristóvão Colombo, e assim sendo este instrumento deverá ser descartado do baralho colombófilo.


terça-feira, 20 de março de 2007

A Filha dum Mercador

Legenda: Filha dum mercadorde Antuérpia na Idade Moderna, pintura de Peter Paul Rubens.

"Apenas acrescenta factos ao teu conhecimento (...)
Assim não estarás perdido ao deixar esse paraíso,
pois possuirás um paraíso muito maior dentro de ti,
uma felicidade muito maior"
John Milton, Paraíso Perdido

Tem surgido nas diversas discussões sobre o estatuto social de Colombo a ideia de que um cardador de lã e mercador seria (passo a citar) um "zé-ninguém". A História Moderna Universal está cheia de exemplos de sapateiros, ferreiros, mercadores e outros detentores dum ofício com uma posição social elevada e com uma riqueza considerável. Vários foram os rastos e documentos deixados por tais personagens, basta ir à Net ou a um qualquer arquivo. Lá se encontram variadíssimos exemplos disso, só quem não estuda as fontes é que pode ter a ilusão do contrário, ou quem olha para a árvore e esquece a floresta.

quinta-feira, 8 de março de 2007

São Cristóvão Colombo, e o Santo Graal na Cuba do Alentejo

O Santo Graal (13)

Na esteira do sr. Manuel Rosa, o sr. Carlos Calado reafirmou recentemente (1) que nós Pseudo-História Colombina alguma vez escrevemos que o italiano Colombo tivesse sido o tão famigerado tecelão da cidade de Génova encontrado no sc. XIX pela historiografia italiana dita purista. É consabido que bem pelo contrário, desde o início das nossas intervenções neste blogue, chamámos a atenção para o facto de que o nome Cristóvão Colombo era em Itália quase tão vulgar como entre nós o do grande António Silva... e que lemos que se documentam em Itália, coevos seus, vários Cristóvãos Colombo, sendo que o condottiero corsário depois ao serviço da coroa castelhana poderia nem ser algum deles, mas outro qualquer de que não restasse, ou se desconhecesse documentação italiana, antes de ter ficado conhecido o mercenário fora da sua pátria.

Mais absurdamente ainda, em Génea Portugal, lemos o sr. Manuel Rosa queixar-se de que "agora que ele denunciou que Colombo não era o tecelão, querem roubar-lhe a descoberta e vir dizer que a tinham afirmado publicamente antes dele"... Citamos de cor este seu espantoso desabafo, pois infelizmente não marcámos a página aonde se encontra registado, algures dentro da embrenhada colombina selva dos disparates que corre naquele fórum...

O sr. Manuel Rosa, como sabemos, dizia ter estudado quinze anos a temática colombina, depois por ele próprio rectificados para quatorze nas páginas deste nosso blogue o ano passado, e, finalmente, aqui mesmo confessando em momento de franqueza expansiva terem sido apenas treze os anos consagrados a esse esforço, voltando agora no entanto a publicamente referir, impávido sempre, decerto em boa fé, os famigerados quinze anos (3) demasiado incompletos a nosso ver, talvez por serem número esotérico ao qual não queira ou não o deixem já fugir a incoerência... ou considere não ser de bom augúrio o número treze. O sr. Rosa, dizíamos, que tanto se ufana de ter lido e coligido a maior bibliografia de sempre sobre Colombo, necessita em nossa opinião de ver bem se essa bibliografia estará completa... pois que na realidade, tal como já tínhamos avançado ab initio, o sr. Rosa sempre deliberadamente ocultou, nos dois últimos anos em que o lemos quase diariamente, as várias teses anti-puristas italianas de que já em tempos nos ocupámos, e que revêm à luz documental a génese italiana de Colombo, considerada cronologicamente incompatível com a do Cristóvão Colombo tecelão... Ora esses estudos históricos italianos anti-puristas têm já vários anos, e estão amplamente divulgados, até na Rede, e não cremos portanto que o sr. Rosa saisse a terreiro na "Ibéria", (10) como gosta de dizer, sem deles ter conhecimento...

Apenas, sabendo nós como o sr. Rosa ingenuamente gosta de chamar a si as descobertas e enunciados alheios, anunciando-os ingenuamente como seus, cremos que não lhe convinha referir os estudos total ou parcialmente sérios existentes em Itálias na área colombina, a fim de poder passar melhor a sua disparatadíssima tese de um Colombo português reapresentado ademais com sobrenome castelhanizado!

Ora como a insegurança, a ignorância e a inocência seguem o publicado recente, ou na moda, vemos cada vez mais pessoas lusófonas na Rede a singularizarem-se adoptando a nóvel ridícula denominação de Colombo oficializada interesseiramente pela Câmara da Cuba diante dos seus Paços do Concelho: "Colon"... Por este facto responsabilizamos inteiramente os srs. Mascarenhas Barreto, Rosa, Calado, e sobretudo a Câmara de Cuba,na pessoa do seu presidente sr. Orelha, que é de todos a única entidade, porque oficial, que nunca se poderia permitir tamanho dislate e atentado à verdade historiográfica documentada.


Mas voltando ao Colombo frio, apesar de os seus próprios seguidores já terem chamado a atenção de Manuel Rosa que nós próprios nunca indicámos outra coisa senão essa verdade documentada, ou seja, que Cristóvão Colombo era lígure, natural dos Estados de Génova, e portanto italiano, continua a ser divulgada a mentira, que lhes seria conveniente que fosse verdadeira, de nós defendermos a tese do tecelão, o que nos pareceria tão pouco adequado como defender a tese catalã, a galega, a grega ou outra qualquer... antes de termos terminado de as estudar, e podermos pronunciar-nos com a isenção necessária, conforme prometido aos leitores do Pseudo-História Colombina. E temos até ideia de já nestas páginas termos referido que o ponto mais fraco da argumentação a favor do Colombo da cidade de Génova é a incompatibilidade cronológica aparente da documentação deste com a biografia conhecida e documentada do aventureiro genovês. Não o facto de ter nascido eventualmente burguês e plebeu... como querem os pseudo-históricos portugueses, que tanto gostam de mitificar a Nobreza de Portugal, distinta das restantes nobrezas europeias na sua idiosincrasia, e que tão mal estudada trazem.

Aproveitamos aqui para um esclarecimento que julgamos útil aos crentes fundamentalistas das teorias esotéricas portuguesas sobre Colombo: estes dois colombistas portugueses, no seu espanto de que a historiografia portuguesa coloque geralmente Colombo no seu verdadeiro papel, e importância, fora da mitificação que lhe atribuiem as historiografias castelhana, italiana, e norte-americana tradicionais, entendem por isso que todos os historiadores portugueses acharam por bem debruçar-se atentamente sobre o mero pormenor histórico que são as origens intra-italianas de Colombo. Na realidade, tal como nós já havíamos avançado, cabe sobretudo à historiografia italiana a necessidade de se interessar, reestudar, e reapresentar o primeiro periodo colombino, antes dele sair de Itália, depois de expurgados erros documentais e interpretativos criados pela história nacionalista de Oitocentos. E a historiografia portuguesa tem muitíssimo mais com que se ocupar do que entrar na guerra colombina sobre as origens familiares de Colombo, tão avidamente disputado entre Castela, a Catalunha e a Itália por não
disporem de outros navegadores oceânicos de renome mundial, como também já aqui havíamos dito.

Quanto ao sr. Carlos Calado, e à crítica que nos tece, deixa-nos estupefactos, na medida em que temos vindo a ser acusados pelos rosistas e cubanistas colon'iais de ser elitistas, e de menosprezarmos qualquer trabalho de investigação que não seja académico... Na realidade, desprezamos sim é trabalhos de investigação quando elaborados sem ponta por onde se lhes pegue, com desprezo da Razão, dos documentos válidos coligidos, e sobretudo do bom senso! E isto, ou a falta disto, pode existir e existe decerto até dentro de pessoas com graus académicos em História, e não existir em alguma investigação séria e independente, completamente louvável. O preconceito, obviamente, parece encontrar-se sim em quem nos acusa, ao escrever "...Esta tese do Colombo “não necessariamente tecelão” foi, como se esperava, iniciada por um genovês de nome Vittorio Giunciuglio, simples operário reformado que escolheu a história como hobby. Claramente um distintíssimo membro da comunidade científica tantas vezes invocada como júri da verdade. É esta tese perfilhada pelo pseudo blog..." (1).

Ora nós nunca tínhamos sequer ouvido falar em tal nome, que nos recordou o da gentil Gigliola Cinquetti dos anos sessenta pela dificuldade da sua pronunciação. Mas facilmente o encontrámos na Rede, realmente pintando Colombo cheio de teorias conspirativas neo-templárias, eventualmente romãs, mistérios indocumentados, espíritos revelados, lógicas por desvelar, e muitas outras coisas tão ao gosto sim do sr. Calado e do sr. Rosa... o que nos espanta é que alguém que tem um grau em Marketing, entre outros, e alguém que apoia a ridícula e mentirosa oficialização em bronze municipal de teses há muito desmontadas e ridiculizadas pela comunidade científica portuguesa, e por qualque pessoa de mero bom senso, atreverem-se agora a vir ridicularizar publicamente um seu colega italiano, de nacionalismo esotérico apenas comparável em Portugal à cena colon'ial perpetuada para turista ver diante da Câmara da Cuba, com a bênção socrática do punho fechado rosa actualmente no poder...

Armas de Inocêncio VIII
Faiança de Lucca della Robbia

Pois que realmente, atente-se, declarar o cruel ou implacável genovês "São Cristóvão Colombo" (4), como pretendem alguns mais fanáticos dos da Pseudo-História italiana, indignando-se por dois papas lhe terem recusado uma canonização política no sc. XIX, não é menos disparatadamente nacionalista do que defendê-lo como português natural, e filho de infantes, e Colonna de sangue, e outras patacoadas que tais. Começámos então a entender os actuais receios eventuais dos colon'iais lusitanos - o receio de que a estátua a Cristóváo "Colon", de castelhano bronze fundido em Madrid, tal como o renomeado Colombo ali representado, perdesse para alguma estátua a São Cristofero Colombo erigida em Itália... E nesta nossa divertida busca, fomos ter a Ruggero Marino (6), deixando apenas de parte a afirmação hebraica para Colombo, que já não tivemos tempo nem paciência para investigar.

Procurámos então encontrar qual a razão porque alguns escritos ligariam este referido jornalista e historiador pseudo-histórico (5) ao pouco inocente e prolífico Inocêncio VIII. Ao autor da bula "Summis desiderantes affectibus", que confirmando oficialmente em 1484 a existência da bruxaria como algo de essencialmente feminino e ligado à Heresia deu origem a nova e longa, misógina caça às bruxas na Europa, perseguição que vitimou essencialmente mulheres com sabedoria naturalista popular, por mera superstição dos seus perseguidores. Ao papa concessor do título de "Católico" ao rei de Aragão e Castela Fernando V.

Inocêncio VIII

Sobre um Inocêncio VIII eventualmente ligado a um financiamento da primeira viagem de Colombo, encontrámos uma curiosa carta (2). Ignoramos se verdadeira, está publicada numa página histórico-esotérica italiana, aonde o conceituado historiador semi-oficial nacionalista Taviani não recusa a existência de um documento referindo ou indiciando esse assunto - carta que precedeu necessariamente os extrapolamentos esotéricos que logo em seguida levaram a severas críticas da historiografia italiana sobre Marino, e parece que também sobre o desprezado operário referido depreciativamente pelo sr. Calado. Não lemos nem um, nem outro... Interessa-nos apenas o documento, sua veracidade eventual, e existência factual. Evidentemente que não duvidamos que a carta de Taviani a Marino seja apresentada isolada, e fora de contexto, para fins menos claros posteriores à sua escrita.

Repita-se agora, forçando os sorrisos, que estas teses, que correm a Internet, declaram Colombo como São Cristóvão Colombo, filho ilegítimo do Papa... Com papa tão corrupto, carecendo de dinheiro até ao ponto de criar cargos novos apenas para os vender, e um "filho" tão cruel, como ambos se documentam face à História, a santidade precisará a nosso ver estar mais com o leitor paciente, do que com os Cibos, verdadeiros e alegados...

Jazigo de Inocêncio VIII

Inocêncio VIII tomou ordens já com filhos naturais reconhecidos, tratados como tal na corte papal, sendo todos os restantes que lhe nasceram abundantemente de várias mulheres depois de sacerdote tratados, ao jeito do habitual nepotismo da época, como sobrinhos. É até costume referir que João Baptista Cibo é um dos pais biológicos de Roma. Apesar de ter crescido na corte napolitana, a sua origem genovesa parece ter-lhe sido realmente importantante, visto ter usado nas suas armas a cruz de S. Jorge genovesa em cima do brasão dos Cibo, e ter adoptado ao ser eleito o nome Inocêncio em homenagem a outro papa de Génova, Inocêncio IV.

Pareceu-nos que a principal falsa pista em que se baseia o sr. Marino para presumir missões secretas de Colombo à América, e uma sua chegada ali antes de 1492, seja a má compreensão do panegírico inscrito no túmulo de Inocêncio VIII existente em S. Pedro, túmulo realizado pelo Pollaiolo em 1498, que leu sem lhe entender o contexto, decerto. Diz este letreiro:

"D.O.M. / INNOCENTIO VIII CYBO PONT. MAX / ITALICAE PACIS PERPETVO CVSTODI / NOVI ORBIS SVO AEVO INVENTI GLORIA / REGI HISPANIARVM CATHOLICI NOMINE IMPOSITO / CRVCIS SACRO SSANCTAE(sic) REPERTO TITVLO / LANCAE QVAE CHRISTI HAVSIT LATVS / A BAIAZETE TVRCARVM IMPER (ATORE) [ldepois riscado e corrigido por] TYRANNOI DONO MISSA / AETERNVM INSIGNI / MONVMENTVM VETERE BASILICA HVC TRANSLATVM / ALBERICVS CYBO MALASPINA / PRINCEPS MASSAE / FERENTILLI DVX MARCHIO CARRARIAE ET C. / PRONEPOS / ORNATIVS AVGUSTIVSQ. POSVIT ANNO DOM. MDCXXI".

Traduzimos o início - Deus, Óptimo, Máximo/ Inocêncio VIII Cybo pontífice máximo/ custódio perpétuo da paz itálica/ glorioso inventor no seu tempo do Novo Mundo/ impositor do nome católico ao rei hispânico/&. Ora o "mistério" consiste para Ruggero em que Colombo partiu para a sua 1ª viagem de mercenário oficial em 1492, justamente quando este papa morreu, e daí atribuir-lhe Marino a encomenda e financiamento parcial da viagem, e o conhecimento anterior de outra viagem não-oficial de Colombo ao continente americano antes dessa data. Assim, Cristóvão Colombo é dito seu filho... com Anna Colonna (4), cronologicamente uma madura senhora de quem o púbere João Baptista, bem longe ainda de sonhar vir a ser papabile, o teria tido aos quatorze anos de idade. O "filho" da senhora Colonna e do Papa iria pois à América buscar o oiro necessário a seu "pai" para efeito da nova guerra de cruzada contra o turco requisitada por este à Cristandade...

Ruggero Marino, e eventualmente Vittorio Giunciuglio, ao levar em conta quanto reza este epitáfio, não souberam historiar e enquadrar a feitura do mesmo... Com efeito, ali a parte final informa-nos que o dito foi mandado escrever (parte do letreiro, inclusivamente, riscada e reescrita por cima posteriormente) pelo bisneto do Papa, Alberico Cybo Malaspina, príncipe de Massa, duque de Ferentilla e marquês de Carrara (7), no tardio ano de 1621, 123 anos depois da morte do papa Cibo, quando mandou trasladar para a nova basílica de São Pedro o túmulo de seu avô que se encontrava antes na demolida basílica medieval. Este monumento funerário é aliás o único entre os de todos os papas que gozou do privilégio de ser transferido da basílica velha para a nova, talvez em atenção a este seu bisneto, ou ao facto deste ter suportado os custos associados.

Evidentemente, e dentro da tendência de exaltar o bisavô, expoente máximo da glória da sua Casa, o velho príncipe de Massa, já no fim da sua vida, ou algum dos seus fâmulos terá feito confusão histórica, talvez por má compreensão do epíteto Católico dado ao Fernando V rei de Aragão e Castela (12), ou por vontade de ligar o antepassado à chegada castelhana à América, fonte dos proventos metalíferos que haviam permitido aos reis Habsburgos de Madrid alcançar o topo do seu poder que então apenas iniciava a decadência. Assinale-se que o túmulo do Pollaiolo é o primeiro sepulcro papal conhecido em que o morto, além de representado jazente, é figurado também sentado em trono, figurativo do seu poder temporal elevado à majestade temporalizada do sólio pontífício.

Motivados ainda pelos esotéricos dizeres do sr. Calado a respeito do genovês Inocêncio VIII, no século João Baptista Cibo, fomos investigar a etimologia do seu sobrenome - que em italiano se lê "Tchíbò" - confessando que esperávamos encontrar significado igual ou parecido para chibo, jovem cabritinho como se sabe, dada a semelhante pronúncia das duas palavras, italiana e portuguesa. Mas não: a palavra cibo parece ter sido usada em Itália passando a designar a quantidade de comida necessária para pagamento de uma jorna de trabalho agrícola avulso... Cibo - lê-se "sibo", escrevendo-se igual - é palavra que existe em português como em italiano, e na nossa língua usa-se hoje em dia para designar um bocadinho de qualquer coisa, por exemplo pequeninas doses de ração, especialmente as que são dadas às aves. Mas (vede só o perigo...) cibo é nome que chegou ao latim oriundo do grego (valha-nos Deus, lá vem membro!).

Designando inicialmente como dissemos a ração de alimento a ser fornecida a pequenos animais, passou cibo a designar depois pequenos vaso de barro aonde esta lhes era fornecida, e suspeitamos que esses vasos pudessem ser cúbicos... :) Recorrendo então ao habitual diccionário Priberam em linha, verificámos que cuba e cibo têm etimologia diversa, embora ambas designem recipientes, vindo Cuba do latim cupa, que depois dará copa (outro nome de taça) e copo. Pelo que o sr. Calado pode ficar sossegado, não terá que ligar a sua terra ao papa "templário" que trouxe à baila, a não ser que este por alguma forma tenha estado ligado ao cultivo das romãs. É pena... uma estátua de Inocêncio VIII não substituiria mal a de Colombo que recentemente colocaram em praça, visto não quererem ali colocar o alentejano Gama...

A terminar, pensávamos nós que os srs. Rosa e Calado teriam entendido, depois da conferência na Sociedade de Geografia de Lisboa do Doutor Contente Domingues, que para a historiografia portuguesa a questão das origens exactas de Colombo relevam do mero pormenor com algum interesse, e não são questão fulcral com que tenha de se ocupar prioritariamente... Mas enganámo-nos, diante deste texto... que revela ao Mundo que Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu hebreu! Quem diria...

Infante D. Fernando

Parafraseando o sr. Rosa, há que exigir provas de tamanha afirmação! Sugerimos portanto aos srs. Rosa e Calado que escrevam ao seu esotérico colega em espírito, Giunciuglio, a fim de lhe exigirem as evidências documentais de que Jesus nasceu judeu, e pelo caminho sempre podem aproveitar para lhe perguntar se saberá explicar a presença de romãs esculpidas na porta da capelinha da Cuba.

Sobre este assunto, adiantamos uma sugestão a jeito de prémio de consolação à ainda por descolon'izar Cuba do Alentejo: Já que com muita pena nossa ali não nasceu o Salvador, trazemos-lhe hoje por alvíssara a descoberta de que agora há quem afirme (8) que se guarda na dinamarquesa ilha de Bornholm o tão procurado Santo Graal... ali depositado pela extinta Ordem do Templo. Mas que pela nossa pesquisa do radical etimológico do nome da Cuba, afigura-se-nos essa crença um impossível, e que o conteudo do Cálice por todos desejado mas só acessível a Galaaz se encontrará decerto em solo cubense, ali depositado pelo Infante D. Fernando, duque de Viseu e de Beja, administrador das ordens de Cristo e de Santiago, como no-lo-prova à evidência o seu nome de Cuba, ou Taça, que sabemos único na geografia europeia.

Acresce que as próprias armas do concelho (11) ainda hoje aludem a este misterioso facto: usam basicamente as cores verde e oiro, as cores pessoais da dinastia de Aviz. Temos ainda a púrpura, pelo espírito, e o vermelho, pela matéria. São quatro as espigas, número da terra, e dois os cachos, revelando a dualidade a esta associada no seu movimento inferior receptivo e gerador de forma para o espírito manifestado; e uma única a haste de oliveira, aludindo à unicidade tríplice do Agnus Dei, ou Cordeiro da Paz, primeira pessoa da Santíssima Trindade. As espigas ali estão pelo trigo do pão ázimo de que é feita a Hóstia, e a uva tinta está pelo sangue do Redentor contido no Graal. O laço, símbolo dos Iniciados de Amor desde pelo menos os tempos de Joaquim de Flora, e já cantado pelo Dante, é encarnado, representando a libertação humana do Desejo e da prisão da Carne pela transcendência da união mística com o Cristo, na unidade do Espírito Santo. Quem sabe se os cubenses, escavando junto à Capela das Romãs, não irão encontrá-l'O, e com Ele diante, possuir finalmente o verdadeiro e único Salvador dos Homens (9) ...

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1) Estrambólica crítica do sr. Carlos Calado ao Pseudo-História Colombina, que republicámos já nos comentários ao nosso post "Alucinações".
2) Algumas das teses pseudo-históricas italianas actuais consideram Cristóvão Colombo filho ilegítimo, para variar... "misterioso" e "secreto", do corrupto papa. Não entendemos porque S.S. o teria secreto, quando assumiu e estableceu rica e poderosamente todos os seus numerosos outros filhos espúrios... Lá como cá, desejam testes de ADN a fim de poderem provar que Colombo era um Cibo...
3) Cf. Quinze anos é muito tempo.
4) Evidentemente, os defensores de "Sâo Cristóvão Colombo" filho "secreto" do papa Inocêncio VIII em missão da Igreja Católica para tomar posse oficial do Novo Mundo, também o declaram, ora não, templário, e, claro, dão ao "Kolon-membro" uma mãe Colonna, Ana Colonna, essa documentada como mulher madura quando o pai suposto, Gianbattista Cybo, teria apenas quatorze anos... Supomos terem lido sem o citar a Mascarenhas Barreto... ou nacionalizando as teses de Barreto ao sabor do seu interesse pelo mistero-spaghetti.
5) Nunca lemos, entrevimo-lo apenas em linha para efeitos deste artigo, e bastou. Trata-se de um jornalista que durante as comemorações colombinas de 92 foi severamente criticado pela historiografia italiana devido às suas teses pseudo-históricas colombinas não menos mirabolantes do que as portuguesas.
8) Em "The Templar's Secret Island" (A Ilha Secreta dos Templários), livro pseudo-histórico de 194 páginas escrito pelo dinamarquês Erling Haagensen em parceria com o inglês Henry Lincoln, é apresentada a teoria que o Santo Graal e a Arca da Aliança provavelmente foram escondidos pela Ordem dos Cavaleiros Templários na ilha de Bornholm, no Mar Báltico, há cerca de 830 anos atrás.
9) Esta nossa pseudo-história cubense está tão bonita e coerente, que até já nós acreditamos nela... Que não no-la ousem rebater! Iremos submetê-la à apreciação da Fundação Alentejo Terra-Mãe... quem sabe!
10) A Península Hispânica, mesmo depois de redenominada Ibérica, graças a Deus ainda não constitui um único mercado de informação, apesar do tradicional imperialismo cultural e económico castelhano, disfarçado sob o nome de "espanhol", com tendência a ser seguido pelas grandes multinacionais.
11) As armas da vila de Cuba sob o regime republicano são: escudo de verde com um ramo composto de quatro espigas de trigo de ouro e uma haste de oliveira de verde florida de prata, tudo atado de vermelho. O ramo acompanhado por dois cachos de uvas de púrpura e sustidos de ouro. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com os dizeres : " VILA DE CUBA ", de negro.
12) Por eventualmente associar a concessão ao rei de Aragão como fruto da descoberta oficial da América, e não, como efectivamente aconteceu, pela conquista definitiva do reino de Granada.
13) O Graal é uma lenda alegórica medieval com origem céltica, melhor estruturada depois do sc. XII e que precedeu o conceito moderno de Sagrado Coração de Jesus, podendo ser correlacionado o seu significado com o ensinamento religioso oriental relativo ao 4º chakra, assim como ao indiano Krishna e outros avatares. Procura sistematizar Sabedoria teológica.
Neste ícone ortodoxo encontramos uma mandala cristã perfeita: vemos uma Virgem Negra coroada, vestida de azul e encarnado, bordado de estrelas de oiro do Céu o pano azul, e de folhas doiradas da Terra o tecido vermelho, simbolizando estas cores a dualidade do feminino puro desdobrado e presente potencialmente no Espírito, e concretamente na Matéria, respectivamente. As mãos de Nossa Senhora, de pele negra por mero simbolismo da Morte que é a Matéria para o Espírito, porque de feições inteiramente caucasianas, encontram-se completamente abertas e receptivamente levantadas para o Alto, e ao mesmo tempo como que abraçando e abençoando quem a contemple, em gesto de Paz. O seu resplendor circular vazio de raios sugere este ser receptivo à Luz divina, e não irradiadora da mesma, como se vê no do Seu Filho. Também o campo vazio da sua auréola, mais sugerida do que pintada, não contém qualquer cruz, como a do Filho, mas apenas a coroa de quatro florões trilobados e dois aros divergentes, mostrando o quatro da matéria elevada na dualidade chamada a reinar sobre o plano físico, aqui presente na densa cor encarnada do toucado por sobre a coroa, também ele decorado com duas áureas flores espirituais. Os dois aros emergentes do diadema fechado divergem a partir de um aro único ascendendo desde a base da coroa da Senhora, e mostram-nos a separação do Uno em Dividido que permite a reprodução.
A Mãe Divina representa aqui principalmente o feminino telúrico e o inconsciente oculto, sobreposto e alinhado o seu coração ao do andrógino Menino Salvador contido dentro do Cálice do Santo Graal, que por sua vez figura a Transubstanciação redentora que Cristo veio exemplificar ao Homem. A Taça assenta em cúbico sacrário, guardião do mistério da Eucaristia, e este está assentado no trono tradicionalmente atribuido pela iconografia medieval a Deus Padre, assim presente aqui apenas invisivelmente.
O Cristo está pintado com uma auréola de energia doirada circular, símbolo da Perfeição do Amor Divino a quem se Lhe reuniu e O irradia agora conscientemente para todos os Seres. O círculo da Sua auréola contém uma cruz, símbolo da dolorosa tensão da Matéria da qual se libertou apenas pela morte da Sua condição humana inferior pela fecundação do Espírito a quem uniu a Sua vontade; e esta auréola de Luz e o Seu corpo encontram-se contidos num semi- resplendor de Luz Divina, de forma oval, chamado mandorla. A Mandorla alude aos ciclos da Manifestação do subtil Divino esférico na grosseira Matéria cúbica, movimentando-se a Vida espiraladamente pela tensão existente entre a força da inércia yin e a força actuante yang, conformes ao conceito espiralado grego do Tempo. E contido este entre o Princípio e o Fim do movimento do Espaço pluridimensional, entre o Alfa e o Ómega, a primeira e a última letras do alfabeto grego que isso mesmo simbolizam, e se encontram aqui uma de cada lado do Cristo Graal como Centro do Grande Ciclo Único Inclusivo e Exclusivo, Ascendente e Descendente, Evolutivo e Involutivo, manifestado em espiral por sucessivos subciclos repetitivamente diferentes, alinhados e reunidos pela imaginária linha recta interna reunindo os centros entre Alfa e Ómega. Linha essa que simboliza o irreal tempo linear circunscrito ao limitado plano dos cinco sentidos, e por isso mesmo representada aqui horizontalmente ao nível da cabeça do Cristo.
O Espírito Santo encontra-se presente na Pomba descendente, mostrando pelo merecimento da Graça alcançada pela Pureza a fecundação espiritual da Virgem pelo invisível Pater, ou Fonte Una do Espírito, que lhe permite conceber na sua entrega total e sem mácula ao Filho de Deus no seu coração, como no seu seio.
O coração do Filho, apenas visível depois da morte do Ego, está centrado e alinhado na composição não só com o da Mãe, visível, como também com o do Pai, invisível, simbolizando na unidade do Espírito Santo ou Luz ligando os três o exemplo da Redenção, da transubstanciada Ressurreição da Matér-ia além do desejo egoista separativo pela sua união perfeita com a vontade altruista unitária do Espírito primordial e final que contém a Matéria em que se desdobra.
Fora do campo sagrado rectangular da mandala aonde estão o Pater, a Mater, e o Filius, vemos um santo, e uma santa, a quem é permitido no entanto contactar e tocar a Divindade, pela sua proximidade desta no exercício da Caridade, ou exercício do Coração. Encarnam aqui o princípio feminino, e masculino, as duas colunas da divisão do uno que por polaridade permitem a Manifestação eternamente renovada e cíclica da Existência, polarizada sistemicamente entre o Visível e o Invisível.
A originalidade principal desta iconografia ortodoxa é representar a própria figura do Cristo como Santo ou Puro Graal, e não à côncava taça aonde José de Arimateia teria lendariamente recolhido o Seu sangue, geralmente presente na iconografia cristã ocidental. A origem da palavra Graal significou no Ocidente um prato redondo e côncavo, depois passando a designar a taça contendo o vinho simbolizando o Sangue figurativo da presença espiritual de Cristo na Eucaristia celebrada dentro da consciência individual de cada um.

domingo, 4 de março de 2007

As Armas e os Barões, trocados!?

Segue-se mais uma contribuição dos nossos leitores.



Como muito insistente e permanentemente tem sido divulgado, por mui conhecida personagem a “nossa” “estoriografia” contemporânea, com o acordo de alguma douta fiel e “acólita freguesia”, Cristóvão Colombo, perdão Colón, e os manos, Bartolomeu e Diogo, cumprindo com os reais desígnios, ter-se-ão passado a terras de Castela, para, em deliberada e premeditada espionagem, enviarem as castelhanas naus à Índia.

Para o dito efeito, parece dizer-nos aquela supra distinta individualidade, que os três Colombos, perdão Colóns, ter-se-ão vistos coagidos a trocarem os seus reais apelidos, por aqueles por que ficariam conhecidos para a posteridade, pois o “decoro moral”, e a espionagem assim o teria exigido e imposto.


Com esta “metamórfica” operação, os três reais senhores, não só terão mudado de apelido, mas, ao que parece, também, de aspecto, pois no “pátrio solo” terão deixado de poder ser reconhecidos como membros da real família, para o serem da “estirpe” Colombo, perdão Colón, com que a divina “Pomba” terá obrado prodigioso milagre.

Neste maravilhoso milagre, todavia, a famosa “ave” terá manchado a escrita, pois, o nosso distinto “estoriador”, não obstante os seus quinze anos de árdua “inquirição”, se vê confrontado, no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2007, em inusitada e circunstancial descoberta do que diz ser as verdadeiras armas de Cristóvão Colombo, perdão, Colón, que em exuberante júbilo propalou.


Assim, não obstante a miraculosa mudança, terão permanecido, como indelével marca, as verdadeiras armas do famoso descobridor, o que tudo inculca e converge, segundo a “sábia” opinião, para a dita descoberta da verdade.

Ora, não deixa de ser curioso senão estranho, que tendo sido ocultas as suas reais origens, se tenha dado a conhecer à posteridade as suas verdadeiras armas, o nome das esposas, dos cunhados...!

Ou terão estes, de igual modo, sido trocados por virtude da consequente espionagem?

E, nestes termos, os nomes, que hoje temos, terão sido todos forjados?


Eduardo Albuquerque


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Primeira imagem representando a Luxúria.
Lust, The Morgan Library, Robinet Testard, Book of Hours, France, Poitiers, ca. 1475, MS M.1001, fol. 98r.
As restantes são as bem conhecidas armas do Almirante das Índias de Castela.



quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

A prova final!

Apresentamos aqui mais uma contribuição dos nossos leitores.

A expectativa não podia ser maior, toda mui sabiamente gerada à volta da grande revelação da portugalidade dos três Reais Colombos, Bartolomeu, Cristóvão e Diogo, ditos, “Lacus Parvi Columbi”[1], como infatigáveis e mui prolixos arautos atempadamente anunciavam.

Como o momento não desmerecia, com pompa e circunstância, à ilustre e distinta “assembleia” da lusitana Cuba, se fez prova claríssima da mais lusa naturalidade das três ditas personalidades.

Obviamente todos ligados à mais alta nobreza, à casa de Viseu / Beja, menos não se poderia esperar, pois a prova era iniludível, absoluta e concludente.

Não estava gravada no mais antigo portal da Cuba lusitana?;

Não estava pintada, como registo indelével, no manto do Real Colombo?; [2]

Não era símbolo consabido da Real Casa Portuguesa?;

Que mais se poderia almejar?

E o ilustre “investigador”, à ávida e ansiosa assistência, por fim revela essa incontornável e demolidora prova.

Dela fala, com todo o mais profundo saber;

Dela dá a final imagem.

E a grande surpresa, rebenta com toda a douta oposição!

Entrando nos estupefactos olhos, e nas sedentas mentes, três apetitosas romãs eram apresentadas como a mais concludente revelação.

E, assim, como o Poeta canta:

«Abre a romã, mostrando a rubicunda
Cor, com que tu, rubi, teu preço perdes;»[3]

Estava apresentada a cabal prova da naturalidade dos Colombos!

Eram todos portugueses e da Família Real!

Eduardo Albuquerque

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A imagem reproduz a Senhora da Romã, c. 1487, por Botticelli (Madonna della Melagrana), Florença, Uffizi.

[1] Tradução: “Os Pombinhos de Cuba”.
[2] “La Virgen de los Navegantes”, «óleo sobre tabla realizado por Alejo Fernández entre 1531 y 1536».
[3] Luís de Camões, Os Lusíadas, canto IX.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Colombo: o ajoelhar do mito

Seguimos uma sugestão do virtual sr. "A. de Carvalho", que muito agradecemos, alvitre hoje publicado (3) dirigindo-se a quantos não se deixaram convencer pelas teorias pseudo-históricas tendentes à desitalianização de Colombo: "...podem escolher uma pena alternativa: ajoelhar perante a estátua de Cristóvão Colon, em Cuba e fazer penitência. A foto desse momento será depois publicada onde todos a possam ver..." (sic).

Por nós, será de aguardar que a Câmara da Cuba mande construir uma passadeira marmoreada ao redor da estátua colon'ial que colocou em praça, a fim de os penitentes ali idos de todo o mundo melhor poderem massacrar os joelhos, como as mentes, ajoelhados por sobre o labiríntico solo vermelho daquela boa terra alentejana.

Até lá, na imagem, podemos ir admirando ao portuguesíssimo folião "Salvador Cristóbal Fernández Enríquez de Colos Nasao Zarco Paja y Columna" (Olé!), descido do seu pedestal público colocado junto ao edifício do ajuntamento da Cuba del Allatajo. Encontra-se o alegado portador do Espírito Santo aos seus bem-amados ameríndios de Cipango aqui representado já despido da sua máscara de "Cólon", ajoelhado e pedindo perdão aos Portugueses por os ter entrudado.

A explicação oferecida para a inocente mistificação teria sido o medo de seu pai ao rolo da massa da sua "madrasta" Condestavelessa (2), a sereníssima Infanta D. Brites, senhora da Bacalhoa. Por esse facto teria o bastardo real e seus dois irmãos inteiros sido feitos passar por filhos do pai adoptivo de seu pai, e tio de seu pai e madrasta, o Infante D. Henrique, porém como o cronista Zurara preferiu afirmar-nos que morreu virgem e em limpa castidade este suposto avô ou pai biológico putativo, veio a descobrir-se a marosca, e daí ter fugido o desorientado fruto dos amores proibidos para Castela.

Quanto aos "poderes" e "máscaras" de Cristofero Colombo, entre nós Cristofo Colombo>Cristophom Colom>Cristóvão Colombo, depois redenominado em Castela como Cristóval Colombo>Cristóbal Colomo>Cristóbal Colón (1), preferimos não nos pronunciar por já ter passado o tempo de Carnaval. Mas sugerimos daqui aos autores das novelas portuguesas que com tanto sucesso passam actualmente no pequeno ecrã que não deixem de aproveitar este riquíssimo enredo para uma futura produção.

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1) Salientemos já agora que este, antes de passar a assinar-se "El Almirante", preferiu sempre a expressão latina mais próxima do seu nome em língua materna, rubricando-se simplesmente Cristoferens por Cristofero, Cristóvão em italiano.
2) Cf. Joaquim Rasteiro em linha sobre a história da Quinta da Bacalhoa, antes denominada Quinta da Condestavelessa: "...No tempo de D. João I o seu monteiro-mor, João Vicente, tinha emprazado em três pessoas a «Quinta de Azeitão em Ribatejo». Uma parte da propriedade era foreira à Coroa e a restante a Diogo Fêo. Em virtude de João Vicente estar velho, cego e pobre, o rei comprou o domínio directo da quinta a Diogo Fêo e permitiu que se emprazasse, em 1427, a seu filho D. João, mestre da Ordem de Sant'Iago e Condestável do Reino, a quem, mais tarde, seu irmão, o rei D. Duarte, (dela) fez doação. Por sua morte, em 1442, sucedeu-lhe na posse sua filha (a infanta) D. Brites, que veio a casar em 1447 com (seu primo) o infante D. Fernando, irmão de D. Afonso V. A quinta, lembrança da nova possuidora - que a usufruiu 64 anos, desde 1442 até à sua morte, em 1506 - tornou-se conhecida por «Quinta da Condestablessa» e passou a dispôr, desde essa data, de uma edificação notável, que, segundo se crê, constava de uma cerca torreada e de um revestimento de azulejo do modelo levantino, de que existem ainda numa das dependências da edificação alguns exemplares, pertencentes aos tipos rajolas que se fabricaram em Valência na segunda metade do século XV. Deve recordar-se ainda que «D. Brites por si (própria), pela casa de seu pai, pelos bens do seu marido, pela generosidade do seu cunhado D. Afonso V e de seu genro D. João II, viveu com um fausto e uma grandeza só excedidas pelas prodigalidades do próprio marido cujos hábitos imitou». O filho de ambos, D. Manuel, depois rei, mostrou bem que a «semente frutificara e encheu o reino com as maravilhas da arte e os esplendores das indústrias decorativas». Este monarca não esqueceu também a Quinta de Azeitão, propriedade de sua mãe, conferindo-lhe, em 20 de Julho de 1490, uma carta de privilégios que compreendia os caseiros, lavradores, arrendadores dos bens, lagareiro, mordomo e escrivão que estivessem na quinta, a qual dirigiu aos juizes e justiças da comarca de Azeitão e ao ouvidor..." (apud http://www.azeitao.net/quintas/bacalhoa.htm).

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Cristóvão Colombo - uma história (in)verosímil

Com a devida vénia e por tornar evidente a incoerência de teses apregoadas, reproduz-se excerto do comentário crítico de Eduardo Albuquerque no forum Genea Portugal.

(...) Parece que o Infante D. Henrique, em idade mais adequada para pôr em ordem a “alma” pegando no terço, se deu a outras inclinações... de que teria resultado alguém que, passados cerca de trinta anos, viria a adoptar o apelido Colombo, e digo Colombo, pois foi este, segundo alguns pretendem, o mandado registar pelo nosso monarca D. Manuel I, a Rui de Pina.

Do que resulta a natural perplexidade e paradoxo de o Rei mandar registar Colombo e este adoptar Colón. Que grande ingrato...!

Mas o Infante, ter-se-á revelado muito prolífero, pois, antes do “Cristóvão” já tinha dado ao mundo um “Bartolomeu” e, depois do Cristóvão, ainda houve lugar para um “Diogo”.

Ah! grande Infante, que melhor demonstração poderia haver de um dos mais genuínos produtos da rija “cepa” portuguesa.

E, tudo consertado com os Reais Senhores, todos optaram por uma segunda profissão, a da espionagem, e todos eles se passaram a chamar Colombos, perdão, Colóns!

Dos tenros anos, da nobre prole, o nosso clero, com muito medo da terrível fogueira, nada registara... pois diziam as profecias que estavam votados à ignóbil arte da espionagem...

Mas valendo-se de científica metodologia, logo se prova que eram de sangue Real e muito possivelmente filhos do notável Infante, pois, por um lado as feições não o desmentiriam, e por outro, tal como o Infante não se interessaram pelas coisas do mar?
Logo, a conclusão surge cristalina, e a prova concludente!

Assim, depois de ter casado, como muito bem referiu o estimado confrade, com senhora de diferente “status”, como filho de príncipe que se orgulhava de ser, vai o “nosso” “Cristóvão”, depois de andar a “chatear” a família toda com o “eu quero ir à Índia”, para Castela em tríplice missão, a saber: de missionário da “Pomba”, de navegador desempregado e de régio espião. Grande “Cristóvão”! E aí, renasce como Colombo, perdão, Colón, obviamente ocultando as suas Reais origens que muito o prejudicariam.

Já em Castela, volta à sua teimosa petição “eu quero ir à Índia”, eu sou o missionário da “Pomba”, pois eu quero lá construir um pombal, para enviar mensagens secretas ao meu amo e senhor...

Tanto “chateou”, tanto “chateou”, pois a técnica comercial tinha-a aprendido no “The Sagres’s College”, muito necessária às futuras trocas comerciais, que os Reais Senhores Castelhanos, para se verem livre dele, não o mandaram dar uma “volta ao bilhar”, mas para o “ultramar”. Vai com Deus... e o Senhor te acompanhe...!

Regressou tão ufano à original pátria, publicitando tão gloriosa empresa, que com o deslumbramento, ninguém reconheceu tão ilustre e Real senhor, mas apenas viu o novo Cristóvão Colombo, perdão Colón!

E os Reais manos, em mui nobre aprendizagem, lá foram desenhando uns portulanos, pois o futuro é incerto, e o ser de condição Real, não é garantia que baste. Não houve já um Imperador que acabou em jardineiro...?

Estes manos, um pouco ingénuos, renegaram a sua Real condição, em benefício da sua nova actividade, quer de espiões de Sua Majestade, quer de criados do mano mais “furão”, o Cristóvão das Pombinhas, e mudaram de nome para Colombo, perdão, Colón, o que tudo inculca o ingresso na Ordem dos Espiões... Ordem que se tornaria famosa pela continuação deste apelido em terras de Castela “ad saecula saeculorum”...

E lá partiram para Castela, França, Inglaterra, no propósito de desviar as atenções dos Castelhanos da nossa empresa, pois os ingleses e os franceses eram muito ladinos... e convinha desviá-los para a Índia...

Infelizmente, um dos filhos do notável espião Cristóvão, dito Fernando, “o Nandinho das Escrituras”, era atrasado mental, enfim, coisas da natureza, e por isso não ingressou na Ordem, pelo que nunca soube que o pai tinha sido espião.

Vai daí, quando este morre, aquele que de suas origens nada sabia, procura testemunhos vivos, rebusca sofregamente toda a documentação deixada, lê num apêndice a um Codicilo os nomes de alguns herdeiros de certo genovês, e parte para Itália em busca de suas naturais e mui nobres origens.

E o infeliz incapaz não é que só lhe dá para procurar Colombos, nem Colóns pesquisou!

E, como incapaz que era, nada encontra de seus avós, pelo que concluiu:

Pois, se o meu pai era enviado da “Pomba”, os meus avós e todos os meus ascendentes voaram...
(...)

Eduardo Albuquerque

domingo, 21 de janeiro de 2007

As Pseudo-Histórias Castelhana e Catalã - e a simétrica des-colon'ização de Colombo


Portuguesas, Portugueses

Continuamos a navegar ao arrasto do invés da História... e da Península Europeia já ufana ainda em seus andaimes de construção. Enquanto entre nós se trava mesmamente a batalha do "Colon or not Colon, that is the question" (1), dentro da guerra da "Unbearable Lightness of Being Columbus" (2), os nossos vizinhos latinos do Meio Dia Europeu lutam de há muito exactamente em sentido onomástico contrário...

Tal como agora em Portugal o amor ao "retrô" voltou a pôr na moda o processo colon'ial cubano (4) que acreditáramos esgotado, depois da sua inútil propugnação com sucessivo escândalo na década de oitenta, têm vindo também Catalães e Castelhanos a procurar retrovirar cegamente a habitual designação nos seus respectivos países e culturas e idiomas do nome do condottiero marítimo genovês viso-rei almirantado:

Pseudo-História Portuguesa: Colombo > Colom > Colombo > Colón > Colombo > Colón-Zarco > Colon (> Colombo = Colom).
Pseudo-História Castelhana: Colombo > Colomo > Colón > Colom (> Colón = Colombo).
Pseudo-História Catalã: Colombo > Colom > Colón > Colom (> Colom = Colombo).
Pseudo-História Italiana (3): Colombo < > Colombo (> Colombo = Colombo).

Curiosamente, parece que enquanto em Portugal tanta tinta corre de novo a fim de castelhanizarem com êxito definitivo o nome do navegador mercenário italiano para contraproducentemente o declararem de naturalidade portuguesa, as fantasiosas e românticas invenções pseudo-históricas em Castela, em processo absolutamente inverso e simultâneo, como sempre, ao nosso, lutam agora para denominar o ex-Colón de Colom...

A pseudo-história castelhana (6), não menos farta e rica de imaginação e de deficiente manipulação anti-historicista das fontes coevas do que a portuguesa, defende uma naturalidade "maiorquina" para Colombo, enquanto que a pseudo-história catalã lhe defende, naturalmente, a catalã, ou aragonesa lato senso. Pois que enquanto a pseudo-história em Barcelona é nacionalista, vendo como uma só nação os territórios das antigas coroas feudais de língua catalã do Reino de Aragão: Valência, Baleares (incluindo a ilha de Maiorca) e Catalunha, a pseudo-história castelhana actual, aferrada à sua mentalidade imperial de sempre, herdada do hispânico césar imperator Afonso VI de Leão e Castela e Galiza e Portugal, e habituada a dividir as franjas culturais da malha do Reino de Espanha a fim de melhor reinar sobre elas e as castelhanizar pelo centro, a declara "maiorquina", convindo-lhe declarar o falar maiorquino, dialecto do catalão, não como catalão em si mesmo, mas como "língua" pequena, e isolada.

Temos pois que desta vez, embora com mentalidade centrípeta uns, e centrífuga outros, catalães e castelhanos estão unidos, coisa rara, na Pseudo-História, a fim de provarem que Colombo era COLOM, ou seja, "espanhol" (5) e não italiano, ou genovês. Ó Suprema ironia! Haverá quem veja nisto um sinal do "atraso português"... eu diria, pelo contrário, que é sinal do atraso coxo da nebulosa Pseudo-História em todas as culturas e países. Cegas ao quererem chamar à brasa o seu Colom(bo), perdão, a sua sardinha, muito divertidissimamente utilizam os mesmíssimos argumentos baseados em fontes mal analisadas, e interpretadas, manipuladoramente desviadas do contexto, para teoricamente provar com essas mesmíssissimas mesmas fontes ligeiramente perpassadas pelo olhar, o oposto uma das outras!

P. R.

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1) "Colo(n)m_bo ou não Colo(n)m_bo, eis a questão", célebre frase ontológica de Shakespeare no "Hamlet", ou se quisermos, conhecida tirada de Hamlet em Shakespeare; pneuma aplicável a Colombo segundo a Pseudo-História.
2) Segundo a Wikipédia anglófona, a conhecida obra do checo Milan Kundera "A Insustentável Leveza do Ser", ou "The Unbearable Lightness of Beeing", em inglês, descreve "...the fragile nature of the fate of the individual and how a life lived once may as well have never been lived at all, as there is no possibility for repetition, experiment, and trial and error...". Ora, "...a natureza frágil do fado, ou destino que se crê do indivíduo, e o como uma vida apenas vivida uma vez pode perfeitamente até nunca ter chegado a ser vivida, por não haver possibilidade de repetição,experimentação, tentativa e erro...", afigura-se-nos exactamente ser o caso dos Colombo pseudo-históricos, todos tentando obviar a esta deficiência ingénita da Mãe Natureza...
3) A Pseudo-História Italiana também existe... Pode até ser que, no caso de Colombo, tenha sido no sc. XIX a mãe de todas as outras suas filhas, netas, bisnetas, e até já trisnetas, que lhe sucederam e connosco convivem ainda hoje, frescas, robustas, e viçosas moçoilas. Uma prole internacionalizada nobilíssima, de arrogante capa e espada geralmente, sucedeu ao simpático e humilde tecelão que serviu para apadrinhar o lobby italiano na era das comemorações do 1º Centenário da Independência dos EUA, prosápia essa que adquiriu já nacionalidades as mais diversas... Afigura-se-nos que o efeito da tese oitocentista ou purista, em Itália, por alguns dita extrapoladamente genovesa, tenha sido contra-producente à escala global, e ao largar a confusão, tenha aberto a caixa de Pandora da Pseudo-História Universal, com maçadores e intermináveis efeitos repetitivos à vista. Relembremos que o principal motor que alimentou a pseudo-história italiana colombina, essa em grande parte oficializada depois, servindo de principal exemplo talvez dos vastos perigos da Pseudo-História, foi a inadmissível intromissão de nacionalismos deslocados, que cegam necessariamente o zoom correcto, isento. Porque historicista no tangível amor à verdade pura documentável, que deve presidir a qualquer estudo histórico devidamente investigável e fundamentado. Fora de quaisquer ideologias, crenças, ou misticismos deslocados.
4) Lemos divertidamente hoje, em Genea Portugal, que na Idade Média teria havido outra localidade alentejana, perto de Odemira, também chamada Cuba, e que seria essa a verdadeira Cuba de Colombo! Talvez que a defunta Cuba rival, qual fénix renascida, possa ainda vir a suplantar no futuro a nossa Cuba restante, a sobrevivente, universalmente agora conhecida pelo fulgor da sua nova estátua colon'ial, cujo local de implantação, ainda fresco e inseguro, é já contestado, com absoluta falta de patriotismo, aliás, dentro das nossas próprias fronteiras...
5) A designação "Ibéria" dada às Espanhas, ou Península Hispânica, aparenta ser um pretensiosismo fruto da Renascença, sendo essa a palavra que em grego designava apenas a zona costeira oriental da Península Hispânica aonde colonos e mercadores gregos se haviam estabelecido - zona, grosso modo, correspondendo à língua catalã. A palavra comum era a latina Hispânia, que deu Espanha, e abarcava senão toda a Península, pelo menos a sua maioria, a sua maior extensão que fora romanizada. Durante a vida de Colombo, não havia qualquer Espanha, como reino ou como Estado. Ele serviu apenas a coroa castelhana. De facto, só em 1729 o príncipe francês Filipe V ordenou que se pusesse fim às leis castelhanas que oficialmente consideravam estrangeiros no Reino de Castela os naturais de todos os seus outros domínios e coroas autónomas, incluindo portanto todos os catalães e aragoneses, etc. O estatuto de estrangeiro de que gozavam em Castela os súbditos das suas outras coroas impedia-os de ali se habilitarem a quaisquer cargos ou regalias, reservados apenas aos naturais castelhanos.
6) Vd. En Busca de la Verdad, El Verdadero Orígen de Cristóbal Colón: http://www.yoescribo.com/publica/especiales/buscaverdad.aspx?cod=1

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

A Questão Colon'ial reavivada em Cuba, ou os EUA e o Edipiano Drama da sua Questão Cubana

O Pseudo-História Colombina recorda aos leitores, em imagens que falam mais do que muitas palavras, o cerne da questão colon'ial cubana em Portugal na actualidade. Para quem não tenha paciência de clicar na fotografia da estátua acima para aumentá-la, aqui lhe damos quanto lá vem escrito em redor do pedestal, em legenda municipal oficialíssima, serenamente instalada na Praça da Câmara, diante dos Paços do Concelho. Nada mais nem nada menos do que a

VERDADE HISTÓRICA

O descobridor das Américas sempre escondeu as suas origens e verdadeira identidade.

O mistério e as especulações perduraram mais de 500 anos. A História aceitou uma incerteza.

Recentemente, notáveis historiadoes e pesquisad
ores concluiram que "Cristóvão Colon" era português.

Filho do Infante D. Fernando - Duque de Beja e de Dª Isabel Gonçalves Zarco, o seu nome era Salvador Fernandes Zarco e nasceu no Alentejo, em Cuba.

Mas enganou-se a Câmara de Cuba, e até a oficialmente ateia Embaixada de Cuba, que ali se deslocou a conferir unção oficial ao acto religioso da bênção pseudo-histórica da estátua! Quem tem a verdade, muito muito bem escondida, somos nós! E hoje vamos dá-la em primeiríssima mão não só à Cuba e a Cuba, mas a todo o Baixo e Alto Alentejos, à alentejana Olivença ocupada, a todo o Portugal desde Melgaço às Selvagens, a toda a Lusofonia desde o Pico ao Ramelau. Diremos a veracidade a todos os nossos irmãos latinos, a todos os nossos aliados anglo-saxónicos de sempre, a todos os outros europeus, a todo o Mundo, enfim.


A Verdade Verdadinha sobre Cristóvão Vírgula

O Pseudo-História Colombina, curvado respeitosamente diante da sra. Verdade Oficial enfim alcançada e para ali prantada, pergunta à sabedoria da D. Câmara neste letreiro: mas quem documentou sem margem de erro a sra. D. Verdade Histórica?! No discurso autárquico da inauguração do monumento a “COLON” (sic) é o nome de Mascarenhas Barreto apenas quem é invocado concretamente como factor de gratidão municipal. Não o de Manuel Rosa e outros congéneres. Mascarenhas Barreto, porém, escreveu sempre Colombo como Colón, e como Colón-Zarco...

O que leva então a Câmara de Cuba, oficialmente, a preferir uma língua estrangeira com seu erro de ortografia, em solo português, embora com a desculpa de vinte anos de Pseudo-História a lavar-lhe o cérebro? Porque não Praça Zarco? Largo Colom? Rotunda, à moda actual, Rotunda Zarco-Colom? Rotunda Colom-bo resolvia logo o assunto... se fazem questão.

"Largo Colon"? Alguma osmose com a paupérrima ilha homónima aonde lentamente agoniza o ditador Fidel de Castillo? Inspiraram-se talvez no Banco Millenium e no seu ridículo novo “Cartão Prestige” (sic) mas esse tem desculpa, pois todos sabemos que a palavra Prestígio não existe em português, e que o banco é estrangeiro... E o sr. Belmiro de Azevedo, que teve o mau gosto de em plenas comemorações do 5º Centenário do Gama inaugurar um centro comercial que quiz iberista, chamando-lhe Colombo como uma nódoa tripeira persistente atirada a Lisboa, Colombo, para exigir que fosse maior o kitsch desse nome estrangeiro que o do lindíssimo centro comercial sobre o Tejo consagrado ao grande Gama português, não passa de um ignorante! Deve estar arrependido que o "Maior Centro Comercial da Península Ibérica" não se chame adequadamente COLÓN! Mas nessa altura, o iberismo economicista pseudo-europeu ainda dava tímidos passos entre nós... O letreiro da recente Praça Colombo, em Cuba, tem pois um erro que sugerimos seja corrigido, no espírito dos iberistas painéis bilingues em castelhano correcto e mau português a que a TV Colón, desculpai, a TV Cabo, já nos habituou incomodativamente há alguns anos: deveria dizer "Plaza don Cristóbal Colón", como também gosta de utilizar o sr. Manuel Rosa.

Deixe-nos agora jogar consigo um bocadinho ao "Quem é Dono da Verdade”, sra. D. Câmara da Cuba y Colón! Também queremos brincar aos colon's e colombos, e prometemos que não lhe fazemos mal se o dono for bonzinho e nos emprestar um bocado só o brinquedo. Nós sim sabemo-la toda! Deixem-nos enfim dizer... que abafamos! Sufocamos! Cristophom era um PONTO por parte de pai, e um VÍRGULA por parte de mãe! Diante do grave conflito familiar entre os pontos negros, e as vírgulas judias, de que descendia, optou por se assinar ao meio RETICÊNCIAS, enquanto esteve em Portugal, que o era sem dúvida por parte da avó paterna. Passado a Castela, como ali lhes custava a dizer-lhe o nome, passou a assinar-se apenas com a vírgula materna, ou colon, aliás todos sabemos que o colon separa os pontos... E é por isso mesmo que hoje em dia ninguém lhe conhece qualquer outra assinatura que não seja apenas "o Almirante.", ou "Cristóvão,". Traduzimos: "o Almirante Ponto", e, antes, "Cristóvão Vírgula". Isto é tão simples, tão genial, que levámos 500 anos para conseguir descobrir o OVO DE COLOMBO! Desculpai, cubanos, olé, hola! Descubierto está el huevo de Colón! Caramba!

Mas receamos outra cousa... depois de provado que Colombo era português, depois de ficar o Pombo renomeado Colon nacionalizado nosso, com novo nome castelhano à moda da deslusitanização dos tristes dias envergonhados que correm, COLON significando em grego membro, e em hebraico ZARCO querendo dizer VÍRGULA, para um alegado descendente dos COLUNA italianos, o mínimo que se espera é que os EUA subsidiem o país que real mas ignotamente lhes deu o ser... Que o amparem na sua cruel velhice abastardada...

Os Estados Unidos da América, crendo recta e cegamente num italiano que nunca lá pôs o pé como seu pai biológico, descobrirão agora que devem o ser... a Cuba! Da Itália viera apenas um pai legal, de Castela um vizinho do pai, da França um amante da mãe, da Inglaterra um padrasto opressor... da Cuba de Portugal veio verdadeiramente o seu único e adeénico pai biológico! E não eram o mesmo! Pater putativus est.… Cruel revelação! E meio príncipe, meio judeu! Explicada fica a fascinação nos EUA pela realeza, e o poder do seu lobby judaico! Um nobre bastardo envergonhado! Explicada fica a proibição da Nobreza logo desde a Declaração da Independência! Vontade de policiar o Mundo? Sangue Português, universal, sangue de Pombal, sangue de Salazar! Não é de espantar que a Embaixada norte-americana em Lisboa não se tenha feito representar na inauguração da estátua a Columbus na Cuba! Agora sim, entendemos que a Guerra Hispano-Americana que em 1898 levou os EUA a anexar a ilha de Cuba, e por arrasto as Filipinas e outras pequenas colónias então ainda espanholas, fossem mero reflexo automático do complexo de Édipo no Tio Sam adolescente! Não era a Cuba ilha que queria controlar! Era, inconscientemente, projectadamente, a nossa Cuba do Alentejo...

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P. R.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Resposta aos Amigos da Cuba sobre a estátua a Cristóvão Colombo inaugurada na sua terra

No ex-blog "Colombo-o-Novo" ontem rebaptizado de "Mistério Colombo Revelado" escreve o sr. Carlos Calado, dos "Amigos de Cuba", parecendo falar em nome desta associação, o seguinte pequeno artigo intitulado "A Estátua da Polémica", que transcrevemos na íntegra:

"No dia 28 de Outubro de 2006 foi inaugurado na Cuba, Alentejo, Portugal, o único monumento dedicado a Cristóvão Colon em todo o mundo. Que ninguém se surpreenda.
Todos os outros monumentos são dedicados ao tecelão genovês Cristoforo Colombo (sonhando que este se transformou no Almirante) ou ao Almirante de Castela Cristobal Colón (sem saber bem quais foram as suas origens).
A inauguração do monumento, numa iniciativa conjunta da Fundação Alentejo-TerraMãe (cujo Presidente, Dr. José Flamínio Roza, ofereceu a estátua de bronze), da Câmara Municipal de Cuba e do Núcleo de Amigos da Cuba (associação que desde há alguns anos tem vindo a divulgar e dinamizar a questão sobre a nacionalidade e naturalidade do Descobridor das Américas)
Porquê COLON? Porque foi assim que escreveu o Rei D. João II e foi assim que escreveu o Papa Alexandre VI em documentos absolutamente incontestáveis.
Mas isto faz irritar muita gente.
Amigos da Cuba - Carlos Calado"


O Pseudo-História Colombina responde:

"...foi inaugurado na Cuba, Alentejo, Portugal, o único monumento dedicado a Cristóvão Colon em todo o mundo. Que ninguém se surpreenda."

1. Pensamos que ao cidadão comummente esclarecido não seja tanto motivo de surpresa, antes de comiseração.

"Todos os outros monumentos são dedicados ao tecelão genovês Cristoforo Colombo (sonhando que este se transformou no Almirante) ou ao Almirante de Castela Cristobal Colón (sem saber bem quais foram as suas origens)".

2. O PHC crê que os Amigos e a Câmara de Cuba pecam por soberba injustificada. Todos os monumentos erguidos no mundo a Cristóvão Colombo foram-no, sem qualquer dúvida, ao italiano documentado natural dos Estados de Génova (não necessariamente tecelão, e decerto não nascido Colon...) mercenário passado de Portugal ao serviço da coroa de Castela, independentemente de esta figura ter sido rebaptizada em Castela como Colón, e como tal designado apenas no mundo de fala castelhana. Pois que o mercenário italiano e o almirante "castelhano" sempre se soube que são a mesmíssima pessoa.
Ignoramos se existe na Galiza algum monumento ao "Colombo galego", se existe na Catalunha algum em honra do "Colombo catalão", se existe na Córsega algum em honra do "Colombo corso". Mas nesta ilha, que era então em parte genovesa, existe uma antiga marca de vinho com rótulo em homenagem ao "Colombo corso". É muito diferente no entanto uma homenagem individual a uma hipótese não aceite cientificamente, do que uma mesma homenagem feita com carácter oficial. Uma coisa é existir em Verona uma falsa casa quatrocentista dita de Romeu e Julieta, atracção turística gerando fartos lucros. Outra coisa seria o município de Verona tombar essa casa como de interesse municipal, por exemplo, por ser a "verdadeira" casa dos amantes de Shakespeare.

"A inauguração do monumento, numa iniciativa conjunta da Fundação Alentejo-TerraMãe (cujo Presidente, Dr. José Flamínio Roza, ofereceu a estátua de bronze), da Câmara Municipal de Cuba e do Núcleo de Amigos da Cuba (associação que desde há alguns anos tem vindo a divulgar e dinamizar a questão sobre a nacionalidade e naturalidade do Descobridor das Américas)."

3. É uma pena que as aludidas individualidades, antes de se prestarem a cobrir publicamente teses de pseudo-história, há muito desmontadas, não tenham antes preferido subsidiar com o muito dinheiro gasto uma investigação séria. Que permitisse estabelecer com certeza em que ponto dos Estados da República de Génova nasceu esta figura, recuperada interesseiramente para a atenção mundial apenas no sc. XIX.
Evidentemente que a descoberta exacta da terra da naturalidade de Colombo, em Itália necessariamente, em nada contribui para a afirmação no mundo nem para o progresso económico do Alentejo... Que pena não terem preferido investir em Sines, na naturalidade do grande alentejano D. Vasco da Gama, dos Gamas oriundos da alentejana Olivença. O Conde da Vidigueira é verdadeiramente o maior nauta da sua era, em termos simbólicos... Embora em termos reais talvez antes o tenha sido Bartolomeu Dias. Mas isso já são outros quinhentos. Uma certeza temos: quando como cidadãos escrevemos firme mas educadamente a protestar pela filosofia que presidiu à inauguração da estátua, no blog da Cuba, fomos imediatamente censurados... o resultado da censura, está aqui.

"...Porquê COLON? Porque foi assim que escreveu o Rei D. João II e foi assim que escreveu o Papa Alexandre VI em documentos absolutamente incontestáveis...."

Tal como bastas vezes já aqui referido, existe apenas um único documento, não estudado cientificamente, aonde consta em sobrescrito o nome Colon, aparentemente por mão diferente da que escreveu a carta. A carta pode até não ser verdadeira, total ou parcialmente. Não lhe foi ainda estudado nem o estilo, nem o suporte, nem a tinta, nem as várias caligrafias que evidencia. E mesmo que verdadeira, há mais hipóteses de ser do escrivão que do Rei. E mesmo que fosse do Rei, era dirigida a um estrangeiro já em Castela, conforme o nome em castelhano já lhe vinha. Nada mais. O sr. Carlos Calado ignora que Alexandre VI era castelhano... não leu bem o nosso artigo. Naturalmente também crê que o ex-Cardeal Borja, escrito sempre Borgia em Itália, escreveria pela sua própria mão as bulas...

"Mas isto faz irritar muita gente."

Acredito. A nós não. Antes nos faria chorar. A Câmara e os Amigos de Cuba preferem oficializar teses não sustentáveis, sem rigor científico nem metodológico, teses manipuladoras aliás, pois que ignoram deliberadamente as restantes e numerosas teses. Algumas dessas teses já centenárias, de outras nacionalidades, também elas sempre por comprovar até hoje. A Câmara e os Amigos de Cuba e a Fundação Alentejo Terra-Mãe, em vez de confiar na historiografia séria, nacional e estrangeira, preferem perseguir um desígnio. A nós não nos importa e menos nos irrita que esse desígnio não seja a dignidade da verdade. Um dia, a História esclarecerá se os estranhos actos praticados no concelho de Cuba em 2006, a respeito de Colombo, foram feitos por mero bairrismo ou regionalismo, circunstância atenuante, ou por outro tipo de interesses quaisquer.