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quinta-feira, 2 de julho de 2009

Antes de querer correr é preciso saber andar...

Já várias vezes aqui afirmámos que aos autores de pseudo-histórias faltam conhecimentos básicos do ofício de historiador.
Se a Diplomática é um dos seus calcanhares de Aquiles (vejam-se as asneiras que têm sido escritas a propósito do morgadio de Cristóvão Colombo) a Paleografia é o outro - muito temos rido com o que se tem escrito a respeito das assinaturas de Colombo e das grafias com que outros escrivães grafam o nome do primeiro almirante das Índias de Castela.
Veja-se o exemplo do nome que consta nas bulas alexandrinas:

Cristoforum Colon


Crhistoforum Colon


É espantoso como com estes simples nomes se é capaz de produzir os discursos mais alucinados!
E querem eles fazer história assim...

Adenda:
Christoforum Colon
(Nome do Almirante numa cópia de bula alexandrina
in Livro dos Privilégios de Cristóvão Colombo)


quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

A suprema pseudo-prova

Nas linhas que se seguem publicamos um excelente artigo de Coelho onde se desmontam de forma muito clara os erros que no livro O Mistério Colombo Revelado são apresentados como a prova definitiva da total falsidade do testamento de Cristóvão Colombo de 1497-1498.


Tendo-me deixado envolver, quase sem querer, nas discussões sobre a origem e nacionalidade do navegador Cristóvão Colombo, em curso no Forum Geneall, e tendo lido diversas fontes coevas, senti‑me, a dada altura com confiança suficiente para enunciar as seguintes crenças:

«1 - Cristophoro Colombo / Cristóvão Colombo / Cristóbal Colomo / Colón nasceu em Génova em ~1451.

2 - Os seus pais trabalhavam na área dos lanifícios. Não seriam nobres nem aristocratas, mas eram dinâmicos. A actividade da família próxima de CC aparece documentada em cerca de 100 diplomas notariais.

3 - Além desses diplomas notariais, a actividade da família (lanifícios) está documentada através do Julgamento de Bobadilla (1500) e dos cronistas António Gallo (1499), Senarega (1514) e Giustiniani (1516; 1537).

4 - Afastando-se da actividade da família, desde cedo CC se envolveu nas actividades marítimas.

5 - Acabou por se estabelecer em Portugal em meados da década de 1470, vindo a casar com Filipa Moniz que, embora podendo pertencer a um estrato social elevado, não era "dona"; foram pais de Diego, nascido por volta de 1480.

6 - Em Portugal, ficou conhecido predominantemente como "Cristóvão Colombo", como se documenta a partir de Rui de Pina.

7 - Passou a Castela entre 1484 e 1486, alegadamente por o rei português, Dom João II, não apoiar a sua ideia de chegar à Índia por ocidente.

9 - Na maior parte dos documentos castelhanos de 1486 até 1493, o seu nome fica registado como "Cristobal Colomo"

10 - Na carta de Dom João II de 1488, documenta-se pela primeira vez o resultado de limar ou renovar (verbos usados pelo filho Fernando para se referir a essa alteração) o nome: o rei chama-lhe “Cólon”. Só a partir de 1493 essa grafia prevalecerá em documentos castelhanos.

11 - CC punia severamente quem se referisse às suas origens humildes.

12 - A crença na sua origem italiana e mais concretamente ligure/genovesa era generalizada entre os seus contemporâneos.

a) tem pelo menos as seguintes cartas ou crónicas coevas (escritas em vida de CC por autores de várias nacionalidades) que afirmam que ele foi italiano, ou mais concretamente ligure, ou ainda mais concretamente genovês.

1493, Pietro Martire d’Anghiera (2 cartas) – lígure
1494, Pietro Martire d’Anghiera – lígure
1497, Pietro Martire d’Anghiera – lígure1493-1497, Anghiera –Ligure
1498, Pedro de Ayala –genovês
1498-1504, Rui de Pina –italiano
1500-1501, Pedro Martir d’Anghiera – ligur
1501, Nicolo Oderico – genovês
1501, Angelo Trevisan –genovês
1499, António Gallo – genovês

b) tem pelos menos 22 cartas ou crónicas de autores coevos (adultos em vida de CC) de várias nacionalidades que afirmam o mesmo, ou seja, as anteriores a ainda mais estas:

1513, Andrés Bernaldez –de Milão
1513, Piri Reìs Ibn Hājjī Mehmet - Génova
1514, Bartolomeo Senarega – genovês
1516, Agostini Giustiniani – genovês
1516, H.A. de Herrera –ginoves
1519, Jorge Reinel –genuensem
1523-1566, Las Casas –ginovés
1523-1566, Las Casas – sobre Juan António Colombo - genovês
1530-33, Garcia de Resende –italiano
1535-1557, Gonzalo Fernandez de Oviedo y Valdés – Ligúria
1537, Agostini Giustiniani – genovês
1539 – Hernando Colon –genovês

c) Não tem um único documento coevo ou de autor coevo que afirme que ele fosse outra coisas que não italiano (ou ligure ou genovês)

d) Até ao século XIX, não houve quaisquer teorias propondo um Colombo não italiano.

13 - A identificação entre o CC de Génova e o CC de Castela é feita por vários documentos de Génova, entre os quais, o doc. Assereto, que o Sr. Manuel Rosa já reconheceu que ainda não conseguiu provar que é falso.

14 – CC no apêndice ao codicilo de 1506 deixou vários legados, quase todos a genoveses (a única excepção é um judeu de Lisboa)

15 - Até ao século XX, nunca em Portugal se levantou a mínima dúvida sobre a origem genovesa de CC, como também não há o mínimo indício de alguma vez terem existido suspeitas de uma origem portuguesa anteriores ao século XX

15 – Por volta de 1537, Fernando Colón viajou por vários pontos de Itália procurando parentes ilustres.

16 - Fernando Colón não procurou ascendentes em Portugal nem em qualquer outra região fora de Itália.

17 - Fernando Colón afirmou, no seu testamento de 1539, que seu pai era de Génova.

18 - Fernando Colon afirmou, nas Historie publicadas em 1571, que seu pai era Colombo, renovou/limou para Colon, e que era de Génova.»

Passado quase um ano sobre esta declaração, pouco ou nada tenho a corrigir.

Naturalmente toda esta discussão é desencadeada por alguns defensores da origem portuguesa (e nobre) de Cristóvão Colombo. Essa tese, em si, nada tem de criticável. É um tema de investigação como qualquer outro. O método para chegar à demonstração da tese é que pode suscitar críticas. O principal defensor do Colombo português no Forum Geneall é o Sr. Manuel da Silva Rosa, co-autor de um livro em que defende essa tese [1].

O livro pouco tem de original, embora não cite a maior parte das obras anteriores em que teses similares foram defendidas. O livro é, em termos de crítica, uma colecção dos dislates que ao longo dos anos foram sendo ditos contra a teoria geralmente aceite e/ou a favor da tese do Colombo português. Quanto às originalidades, vale a pena passar a palavra a um dos mais empenhados participantes do Forum Geneall:

«Esta era a verdade que tínhamos até há pouco mas, recentemente, houve duas modificações de vulto. Primeiro - por conveniência minha pois a ordem foi inversa - Manuel Rosa revelou um estudo de cariz económico e que em nada se referia a Colombo, sobre o Banco de S. Jorge, em que se evidencia a falsidade do testamento de 1498 pois não só o Banco estava fechado ao público nesse período como a taxa de juros referida no testamento, 6% apenas ocorreu em 1570 e em 1498 andava por 2 e qualquer coisa, não tendo atingido os 3% antes de 1550. Não só documento apócrifo mas documento datado e obviamente apresentado para o julgamento que decidiu a sucessão Colón.» (feraguiar98, 4/01/2007). E noutra ocasião: «até à questão dos juros e do Banco de S. Jorge, haviam críticas exegéticas ao testamento mas estas não eram definitivas. Definitiva sim, a prova pela primeira vez apresentada por Manuel Rosa» (idem, 20/06/2007)

A história estaria portanto errada, tendo que ser revista, porque o testamento de Colombo de 1497-1498 seria falso. Se este testamento é o único em que Colombo afirma ser de Génova, então passou a estar tudo em aberto. É que nenhum dos muitos outros documentos alegados serve de prova para os adeptos do Colombo português. Os documentos são meras crónicas, ou então são falsificações, ou então são mentiras deliberadas.

Passemos à análise da prova da falsidade do testamento, tal como enunciada no citado livro, a p. 154-167. Começa por apresentar um conjunto de 12 provas de falsidade (MCR, p. 164-162) que já estão mais que batidas na literatura, havendo justificações plausíveis para cada ponto. É melhor portanto ignorar essa parte, até porque o autor ignora por completo tudo o que os autores anteriores escreveram.

Passemos portanto à prova que tem sido anunciada como decisiva. No supostamente falso testamento de 1497-1498, Colombo diz:

«Item que el dicho Don Diego, o quien heredare el dicho Mayorazgo, enbíe por vía de cambios o por cualquiera manera que él pudiere todo el dinero de la renta que él ahorrare del dicho Mayorazgo, e haga comprar d´ellas en su nombre e de su heredero unas compras que dicen logos, que tiene el oficio de San Jorge, las cuales agora rentan seis por ciento y son dineros muy seguros, y esto sea por lo que yo diré aquí.»

Sobre isto, encontramos no MCR, p. 165-167, o seguinte:

«Por conseguinte, fomos novamente tentar encontrar alguma pista que os falsificadores pudessem ter inserido no texto e que pudesse ser utilizada para os desmascarar - tivemos sorte e encontrámos mais provas. A prova encontra-se numa expressão da frase que pede aos descendentes para comprarem Logos ao banco genovês de São Jorge: las cuales agora rentan seis por ciento {as quais têm agora um rendimento de seis por cento}.

Acontece que a única altura em que este banco pagou um juro de 6% foi no ano de 1573, sim, um ano depois de o posto de Almirante ficar vago. No ano seguinte, foi necessário que os candidatos à herança apresentassem documentos. Assim, podemos atribuir uma data à falsificação: só pode ter sido feita após 1573, um ano após a morte de Don Luis Colon e o único ano em que o juro subiu até 6%.

Os professores Michele Fratianni e Franco Spinelli encontraram sem o saber mais provas concretas da fraude num estudo ao Banco genovês de São Jorge. Eles escrevem: “as transacções bancárias ao público foram fechadas em 1445 e foram retomadas novamente em 1530”, fazendo assim com que as acções estivessem indisponíveis para compra no ano de 1498, data deste falso testamento.»

Para maior rigor, deveria ter sido transcrita a afirmação completa de Fratianni e Spinelli, que é a seguinte:

«Banking transactions to the public were closed in 1445 and were resumed again in 1530; during this time interval, banking activities were restricted to the state, shareholders, tax collectors and suppliers. (Felloni 1990b, pp. 77-82).» [2]

Ou seja, embora o banco estivesse oficialmente fechado ao público, havia várias excepções. Não haveria uma excepçãozinha para o genovês Almirante das Índias?

Voltemos ao MCR:

«O estudo [de Fratianni e Spinelli] prova ainda que as taxas de juro do banco em termos médios «rendiam de 1524 a 1573 3.83%, de 1574 a 1602 2.59%» e mostram uma tabela em que as taxas de juro só subiram para os 6% no ano de 1573.»

Só há uma tabela no citado artigo. Essa tabela não tem qualquer valor para o ano de 1573, muito menos 6% [3]. Veio entretanto o autor, Sr. Manuel da Silva Rosa, esclarecer que os juros de 6% estavam numa versão anterior do artigo de Fratianni/Spinelli. Mas, na verdade, não se trata de uma versão anterior do texto de 2005. É antes a versão final de um artigo submetido à Review of Finance em 2004 e publicado em 2006. É um artigo com título e conteúdo diferentes e de um só autor [4].

O que o Sr. Manuel da Silva Rosa veio recentemente explicar é que citou o texto de Fratianni e Spinelli de Setembro de 2005 e lhe atribuiu dados que lá não estão sem ler o artigo! O Sr. Rosa na verdade até leu o dito artigo, tanto é que cita várias passagens! Não pode portanto alegar que não viu a tabela na qual diz que está, mas não está, um juro de 6%.

À parte estes “detalhes”, vem o Sr. Manuel da Silva Rosa explicar que os 6% alegadamente registados em 1573 aparecem numa outra tabela de um artigo da Review of Finance (Tabela 1, p. 36). Trata-se, na verdade, de uma tabela de valores médios da taxa anual de retorno em sucessivos períodos. O que lá aparece é um valor médio de 5.9% relativo a todo o período compreendido entre 1571 e 1622. De um valor médio calculado sobre valores de 51 anos, é impossível inferir qual foi o valor registado em 1573. Quem inferir um valor concreto a partir de uma média de 51 valores está, obviamente, a cometer grave falha de raciocínio.

Mas o artigo da Review of Finance até tem um gráfico (Figura 2) pelo qual se vê que, na vizinhança de 1573, as taxas anuais de retorno oscilaram entre valores negativos e valores próximos de 30%. Registavam-se oscilações dessas de um ano para o outro. No ano de 1572 registou-se um valor próximo de 0% e em 1573 registou-se um valor próximo de 12%. A média entre 1570 e 1575 está em torno de 12%! A ideia de que o estúpido Baltazar Colombo colocou no testamento falsificado a taxa observável no ano, ou na época, em que fez a falsificação não tem portanto o mínimo fundamento.

Continuando com o MCR:

«Já como Carlo Cuneo demonstrou em 1842, as taxas eram de apenas 2.8% em 1498.» E numa legenda de uma figura, acrescenta: «Figura 5.5. Neste quadro do livro Memorie sopra l’antico debito pubblico, mutui, compere e Banca di S. Giorgio in Genova, publicado em 1842, em Genova, pelo autor Cuneo Carlo, podemos ver que as taxas de juro de 1497 e 1498 não estavam a 6%, mas sim a 2.8%. Também podemos ver que nunca chegaram aos 6% em nenhum ano entre 1461 e 1555.»

Pois é, mas também podemos ver que os valores dessa tabela não coincidem com os valores das tabelas de Fratianni/Spinelli (2005) e de Fratianni (Review of Finance, 2006).

Aliás, os dados da tabela de Cuneo não são o que o Sr. Manuel da Silva Rosa julga. Essa tabela tem as seguintes quatro colunas:

- data (=ano),
- prezzo dei luoghi,
- provento e
- valuta delle paghe.

O significado de prezzo, provento e paghe é claramente identificado nesta explicação de Fratianni/Spinelli: «Statistical information on yearly market prices (P), declared dividends (D), and discounted dividends (Da) was published by Carlo Cuneo (1842, 307-311). The three series have different starting and ending points, with the D series covering the longest period (1409-1800). Carlo Cipolla (1952, Appendix) expanded the Cuneo series recovering data for P and Da all the way back to 1522. All series are expressed in lire, soldi, and denari (1 lira = 20 soldi = 240 denari) up to 1739 and in scudi after this date. The P series is a yearly average; for more details see Fratianni (2004).»

Para o século XVI, a tabela de Cuneo apenas apresenta valores para provento, ou seja, declared dividends, em liras, soldos e dinheiros [5]. Não é uma percentagem, como pensou o Sr. Manuel da Silva Rosa.

A taxa anual de retorno (observável no artigo da Review of Finance) é definido da seguinte forma:

«Annual rates of return are defined as R[t] = (Da[t] + P[t+1] - P[t])/ P[t], where Da[t] = discounted cash dividend and P = the price of the luoghi; dividend contribution is Da[t] / P[t]; price appreciation contribution is (P[t+1] - P[t])/ Pt; all multiplied by 100.»

O que se encontra em Cuneo (1842) não é nenhuma destas variáveis (R[t], Da[t], P[t+1], P[t]) mas sim D[t], ou seja, o undiscounted cash dividend no ano t.

Repito: O que está na obra de Cuneo não é uma taxa de espécie nenhuma, mas sim um valor absoluto. Onde leram 2.8%, deve provavelmente ler-se 2 liras, 0 soldos, 8 dinheiros. Não temos portanto qualquer indicação de qual fosse o rendimento anual percentual em 1497-1498.

Analisemos agora as coisas numa perspectiva não anual, voltando para isso à tabela de Fratianni/Spinelli:

«Figure 1, line RL, shows current yields on San Giorgio’s luoghi, computed as (Da/P)*100 for the period 1522-1739. Yields start at about 5 per cent and quickly decline to an approximate average of 4 per cent all the way to 1573. After that year, they decline again until 1603 and then settle at about 1.5 per cent.»

Ou seja, ao longo de todo o século XVI, os rendimentos dos loghi seguiram uma tendência descendente começando em 5% e terminando em 1.5%. Os valores que temos para o período entre 1382 e 1407 estão em torno de 8%. Neste contexto, será assim tão implausível que no final do século XV estivesse em 6%?

O autor Sr. Manuel da Silva Rosa apresenta os dados que lhe dão jeito. Ignora em primeiro lugar que as várias tabelas não têm dados da mesma natureza. Para um pseudo-cientista, esses detalhes são obviamente secundários. Vê uma taxa anual de retorno de 5.9% calculada como média de 51 anos e isso serve-lhe como prova cabal. Mas porque não mostrou a tabelinha de Cuneo para o mesmo ano de 1573? Certamente, porque não batia certo com os tais 5.9%. Nem podia bater certo, dado que não é uma percentagem!


Sumário das falhas da prova

1) Inferir, com base num yearly rate of return de 5.9%, calculada como média de 51 anos, que em 1573 o juro era de 6%.

2) Interpretar os proventos da tabela de Cuneo, que são undiscounted cash dividends em liras, soldos e dinheiros, como sendo percentagens.

3) Com base no erro anterior, interpretar um provento de 2 liras e 8 dinheiros, em 1498, como sendo um juro anual de 2.8% nesse ano.

O Sr. Manuel da Silva Rosa, neste como em muitos outros aspectos da sua investigação, revela não perceber os detalhes dos assuntos que aborda. Surpreende, portanto, que percebendo tão pouco, pretenda alterar de forma tão radical o estado dos nossos conhecimentos e se arrogue o direito de criticar de forma tão contundente a comunidade científica.


Conclusão

Em face do apresentado, o MCR conclui:

«Desta forma, colocamos a data da execução do documento fraudulento após 1573, estando de acordo com a data da chegada a Espanha do homem que apresentou este documento falso no tribunal, Baltazar Colombo.»

E eu, considerando que:

- Havia muitas excepções que permitiam o acesso ao Banco de São Jorge no período em que esteve fechado;
- Não existe nenhum juro nem taxa anual de retorno de 6% em 1573,
- Não se conhece o juro nem a taxa anual de retorno em 1498;
- O Sr. Manuel da Silva Rosa manifesta, como habitualmente, não perceber os detalhes dos assuntos que aborda;

Concluo que não foi provada a falsidade do testamento de 1497-1498.



Notas


[1] Manuel da Silva Rosa e Eric Steele, O Mistério de Colombo Revelado, 2006. (= MCR)

[2] Michele Fratianni e Franco Spinelli, Did Genoa and Venice kick a Financial Revolution in the Quattrocento?, Second draft, September, 2005 (na web)

[3] Tem um valor para 1560 (3.66%) e outro para 1574 (3.86%). Tem finalmente um valor médio para 1549-1576 (3.76%). O mais próximo de 6% que se encontra é um valor de 6.25% para o ano de 1560 na última coluna, mas diz respeito à Holanda! Há uma figura (Figura 1), mas os valores que aí aparecem no período de 1570 a 1576 estão todos abaixo de 4%!

[4] Michele Fratianni, “Government Debt, Reputation and Creditor's Protections: The Tale of San Giorgio”, Review of Finance, Volume 10, Number 4 / December, 2006, Pages 487-506. (ver na web o Final draft for publication)

[5] Aquilo que o Sr. Manuel da Silva Rosa interpretou como casas decimais, é apenas o número de soldos e dinheiros. Precisamente por serem soldos e dinheiros, temos para o ano de 1477 a cifra "3.2.6", que significa 3 liras, 2 soldos, 6 dinheiros. Em outros casos, aquilo que pareceu ao Sr. Rosa a parte decimal de uma percentagem, tem sempre um valor inferior a 20. Porquê? Porque quando chega a 20 dinheiros, volta a 0 e incrementa os soldos. E quando chega a 20 soldos, volta a 0 e incrementa o número de liras. Por isso, não aparece, nem podia aparecer qualquer coisa como 2.25 ou 3.85.

Coelho, 9/01/2008

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Quinze Anos é muito tempo


  • Mascarenhas Barreto investigou 15 anos (Cristóvão Colombo, Agente Secreto de D. João II, 2ª ed., Lisboa, Referendo, 1988, p. 10).
  • Ruggero Marino investigou 15 anos [Página eliminada ou mudada de endereço].
  • Manuel Rosa investigou 15 anos.
  1. O que têm em comum estes autores além da obsessão pelo n.º 15?
  2. Já agora, será que o n.º 15 tem um significado cabalístico incompreensível aos não iniciados?
  3. Ou trata-se duma mera reprodução comportamental?
  4. Sabe-se, lendo as páginas antigas deste blogue, aonde Manuel Rosa intervinha pessoalmente, que aqui disse pessoalmente que efectivamente investigou, não quinze, nem quatorze anos como de outra vez dissera, mas apenas treze, e nesse caso o significado numérico será o que reproduzimos ao lado...
  5. A interpretação a dar ao número XIII em tarot, à carta da Morte que nele simboliza um fim de ciclo permitindo novos começos, é portanto o maçadoríssimo mas inevitável começar de novo: Pelo menos, em tudo o que toque a interpretações, e diremos mesmo mais, designações, diante do documentado...


(Última actualização: 18-10-2008)

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Cristóvão Colombo - Salvador Fernandes Zarco ou Salvador Henriques Zarco?

Acredito que Cristóval Cólon era filho do Infante D. Henrique...
«TESE DE MANUEL ROSA [Picoense]: “Colombo, espião e português”», entrevistado por Rui Messias, Diário Insular, Angra do Heroísmo, 11 Fev. 2007.


Houve um autor que desejou que Cristóvão Colombo tivesse origens nobres e por isso atribuiu-lhe como progenitor o infante D. Fernando, baptizando-o – ou circuncidando-o – com o nome de Salvador Fernandes Zarco.
Nesta tese existe pouca coisa de coerente e racional, mas se há algo de lógico, por retorcido que seja, é o patronímico Fernandes, que significa filho de Fernando.
Manuel Rosa apoia firmemente esta posição, achando ser a melhor hipótese para o verdadeiro nome de Cristóvão Colombo português. No entanto, vem agora dizer crer que o Almirante era filho (necessariamente tardio) do infante D. Henrique, pondo de lado o pouco que de lógico havia na certeza do primeiro autor acima referido: o Fernandes.
Assim, seguindo esta linha de raciocínio – que se sabe ser muito fraco –, a hipótese mais provável para o nome secreto português do descobridor do Novo Mundo deverá ser Salvador Henriques Zarco, já que Henriques é o patronímico de... Henrique.
Este novo nome deita por terra o esforço de decifração cabalística que levou ao Fernandes, tal como também já tinham caído por terra todos os outros nomes anteriores originados pelo mesmo processo irracional. Uma outra alternativa é voltar à lúdica Cabala e tentar sacar dela novos designativos, caso em que teremos certamente um patronímico Henriques, embora ainda não se consiga imaginar que outros nomes e apelidos o poderão acompanhar.

Esta é a minha contribuição para o aumento da confusão da onomástica colombina, a qual regista já – e enunciando rapidamente de memória – os seguintes nomes: Cristóvão de Colos (e estranhamente não de Cuba), Simão Palha, Salvador Gonçalves Zarco, Salvador Fernandes Zarco e Salvador Henriques Zarco, este último condicionado às considerações feitas no parágrafo anterior.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Corpo Coeso de Fontes e Estudos Sobre a Naturalidade Italiana de Colombo

Curiosamente, em relação àqueles que contestam a naturalidade italiana, ou dão como não conhecida a Colombo a sua naturalidade, a única tese sobre o nascimento exacto do condottiero marítimo não aceitável é, justamente, a "tese portuguesa". Além da unanimidade das fontes e estudos de época,existem boas razões para isso. Uma das que não costumam ser referidas, é que jamais apareceu família sua portuguesa a reclamar qualquer direito aos seus bens no sc. XVI, enquanto que castelhanos e italianos, uns falsos, outros verdadeiros, foram inúmeros, dado o montante e o relevo desses bens. Também o testemunho de Rui de Pina, que o conheceu pessoalmente, não deixa muitas margens para dúvida, não tendo sido no entanto o único português do seu tempo que o conheceu pessoalmente... Defendem no entanto incansavelmente os da "tese portuguesa" e do "mistério" que apenas existiu em Portugal o mesmo testemunho de Rui de Pina, e que os restantes estudos coevos são mera cópia do cronista-mor. As crónicas eram manuscritas, no entanto, não estavam impressas, e muito menos acessíveis a qualquer um... só por especial privilégio alguém poude ter licença, na época, de aceder aos cartapácios e poder lê-las. Em segundo lugar, tal afirmação é rotundamente FALSA.

Ao ser reapresentado em linha o sempiterno argumento de insuficiência documental quanto à identificação de Colombo na referida crónica de Rui de Pina, que teria sido copiado nos escritos portugueses de Quinhentos que se lhe seguiram, e reafirmando-se ainda com contumácia que o aventureiro Colom em Castela não era o mesmo Colombo que residira anteriormente em Portugal, reiterando-se outrossim que o nome Colombo não deu em Castela por apócope as palavras Colomo, e Colón, como toda a historiografia castelhana sempre reconheceu aliás, víamo-nos aqui obrigados ao trabalho escusado de recensear uma boa maioria de fontes e estudos coevos de Colombo, a fim de salvaguardar leitores incautos e menos informados de cairem em dúvida quanto a este argumento incorrecto, e demagógico.


Este trabalho de recenseamento estava no entanto já suficientemente feito pelo sr. Coelho,
esclarecido interveniente no fórum Génea Sapo, a quem pedimos escusa para aqui, com melhor
evidência e acessibilidade na net, o reproduzir, reunindo-o dos vários posts dispersos em que se
encontrava colocado.

1. Quanto a apenas existir o testemunho de Rui de Pina sobre o uso em Portugal do nome Colombo, depois disso sempre copiado pelos estudos quinhentistas portugueses seguintes, e quanto ao facto evidente e indiscutível de que Colombo, Colomo, Colom e Colón são diferentes formas porque no seu tempo foi denominado indiferentemente, consoante os países, o futuro almirante "descobridor do caminho marítimo para a Índia... de Castela", refere o Sr. Coelho (1) uma apesar de tudo não exaustiva, mas suficientíssima na demonstração do ponto.

Lista de 22 referências documentais escritas por contemporâneos de Colombo

1486, Alonso de Quintanilla – Colomo
1487 (Agosto), Francisco González, de Sevilla – Colomo
1487 (Maio), Francisco González, de Sevilla – Colomo
1487 (Outubro), Francisco González, de Sevilla – Colomo
1488, Dom João II – Collon, Colon (esta, aduzimos nós, PHC, por estudar e comprovar no único documento conhecido).
1489, Isabel a Católica – Colomo
1492, Capitulações - Colon (estas, sitas no Arquivo da Coroa de Aragão, terão sido traduzidas
segundo segundo alguns pensam do catalão para o castelhano, sendo que na primeira língua, texto desaparecido, deveria estar, coerentemente, também Colom ou Colomo).
1493, Duque de Medinaceli - Colomo
1493, R.L. de Corbaria – Columbo
1498, Pedro de Ayala – Colón
1498-1504, Rui de Pina – Collombo, Colombo
1500-1501: Pedro Martir d’Anghiera – Colonus
1501, Angelo Trevisan – Columbo, Colombo
1502, O anónimo do planisfério de Cantino – Colonbo
1513, Andrés Bernaldez – Colon
1516, Hernando Alonso de Herrera – Colon
1519, Jorge Reinel – Colombum
1523-1566, Bartolomé de las Casas – Columbo de Terrarubia, Colon (PHC: obra segundo a qual também existe a tese, ainda por comprovar, de ter sido inicialmente escrita em catalão, com subsequente tradução para castelhano, alterando se assim for decerto a denominação escrita do almirante).
1525, Gaspare Contarini – Colombo
1530-33, Garcia de Resende – Colombo
1535-1557, Gonzalo Fernandez de Oviedo y Valdés – Colom
1539, Fernando Colombo – Colon (aqui o sr. Coelho não teve em conta que a obra do filho, em manuscrito, desapareceu, conhecendo-se dele a 1ª impressão em italiano, de 1571, que refere Colombo e não Colón)."

2. Quanto aos inúmeros testemunhos nas fontes, independentes entre si, de coevos do aventureiro, sobre a sua naturalidade italiana, refere ainda ali o sr. Coelho, a quem de novo gratamente brindamos pelo trabalho que assim nos evitou:


Anteriores ao testemunho de Rui de Pina, pelo menos estas fontes estrangeiras

1493, Pietro Martire d’Anghiera – lígure
1494, Pietro Martire d’Anghiera – lígure
1497, Pietro Martire d’Anghiera – lígure
1498, Pedro de Ayala – genovês
1500-1501: Pedro Martir d’Anghiera – ligure
1501, Nicoló Odereco – cidadão de Génova
1486, Alonso de Quintanilha – estrangeiro
1487 (Maio), Francisco González de Sevilla – estrangeiro
1498-1504, Rui de Pina – italiano
1500-1501: Pedro Martir d’Anghiera – ligure
1501, Nicoló Odereco – cidadão de Génova


e contemporâneas de Rui de Pina, e de Colombo, as fontes

1519, Jorge Reinel – genuensem
1530-33, Garcia de Resende – italiano
1513, Andrés Bernaldez – de Milão
1516, Hernando Alonso de Herrera – genovês
1523-1566, Bartolomé de las Casas – genovês
1525, Gaspare Contarini – genovês
1535-1557, Gonzalo Fernandez de Oviedo y Valdés – Ligúria, concretamente Cogoleto, ou então Savona ou Nervi.
1539, Fernando Colombo, seu filho e biógrafo – genovês.

"...E, volto a dizer, não tem um único autor contemporâneo que tenha afirmado que Colombo era natural de outra qualquer região que não da moderna Itália. Alguns dos autores citados conheciam Colombo pessoalmente. No mínimo, a maior parte deles conhecia gente que conhecia Cristóvão Colombo pessoalmente...".

Mas ainda antes de sair do tema, que desejamos definitiva e completamente esgotado, aditemos ainda outra versão mais desenvolvida das mesmas fontes em conjunto compacto e coeso, acrescida já das necessárias referências bibliográficas, que o inestimável sr. Coelho teve a bondade de coligir a favor da clareza mental dos crentes na "tese portuguesa":

Fontes Portuguesas coevas sobre a italianidade de Colombo

1498-1504, Rui de Pina, cronista desde 1490, integrou a comitiva portuguesa que se deslocou a Castela para negociações resultantes da primeira viagem de Cristovão Colombo: “Descubrimento das ilhas de Castella por Collombo: … Christovam Colombo, italiano, …” (Chronica del Rey D. João II, cap. 66) (Graça Moura, p. 91-92; Taviani, 1991).
1502, anónimo, no planisfério dito de Cantino: “As Antilhas del Rey de Castella descobertas por Colonbo almirante” (PMC, estampa 5) (apud Graça Moura, p. 93).
1519, Jorge Reinel, mapa: “Xpoforum colombum genuensem” (PMC, estampa 12) (Graça Moura, p. 93).
1530-33, Garcia de Resende, moço de câmara, confidente e biógrafo de Dom João II: “De como se descubriram per Colombo as Antilhas de Castella: Christouao Colombo, italiano.” (Chronica dos valerosos e insignes feitos del Rey D. João II) (Moura, p. 91-92).
1552: João de Barros: “Segundo todos afirmam, Christouão Colom era genoes de naçam” (Décadas da Ásia, Primeira, Liv. III, cap. XI) (Graça Moura, p. 93). “How into this reign came Christopher Columbus of Genoa, who came from his discovery of the western islands that are now called the Antilles” (Taviani, 1991).
1540, Damião de Góis: “Em sua vida [de Dom João II], o genovês Colombo ofereceu-lhe seus serviços» (Fides, Religio, Moresque Aethiopum) (Graça Moura, p. 94).
1550 (publ. 1561), Gaspar Barreiros: “duce Christophoro Colono ligure” (Commentarios de ophyra regione …) (Graça Moura, p. 94).
1557 (anterior a), António Galvão: «No anno de 1492 … despachou Christouam Colom, italiano, com três nauios ao descobrimento da noua Espanha …» (Tratado dos Descobrimentos) (Graça Moura, p. 95). Galvão usa indiferentemente as formas: Colom, Colõ e Columbo.
1574, Damião de Góis: “Columbus of Genoa, a man expert in the nautical arts” (De Rebus Aethiopicis in De Rebus Oceanicis et Novo Orbe, Cologne, 1574, p. 455). No índice: “Columbi genuensis, alias Coloni commendatio” (Taviani, 1991).
1580, João Matalio Metelo Sequano: “Christophorus ergo Columbus prouincia Ligur vrbe vt aiunt, genuensis, qui Maderam inhabitabit” (Graça Moura, p. 95).
1580: Fernão Vaz Dourado: “terrae antipodvum regis castele inven[t ]a Xtoforo Colvumbo ianvensi” (Atlas, fol. 8) (PMC, estampa 249) (Graça Moura, p. 96).
1591 (anterior a): Gaspar Frutuoso: “italiano, genoês, chamado Christovam Colon, natural de Cugureo, ou Narvi, aldeia de Génova, de poucas casas, avisado e prático na arte da navegação, vindo de sua terra à ilha da Madeira, se casou nela, vivendo ali de fazer cartas de marear” (Livro Primeiro das Saudades da Terra) (apud Graça Moura, p. 96).


Fontes coevas castelhanas sobre a italianidade de Colombo

1486, Pedro Díaz de Toledo, segundo Manuel Rosa em fórum GP, chamou "Português" a Colombo - (comentário de PHC: tendo acabado de chegar de Portugal, sendo desconhecido em Castela, súbdito do rei de Portugal, é possível que esta única fonte inicial o tenha designado esta primeira vez, na sua real insignificância, como português, erro imediatamente corrigido logo depois. Mas como Toledo foi aditado à lista do sr. Coelho pelo sr. Manuel Rosa, é de não nos fiarmos muito... e confirmar esta desconstextualizada fonte quem tenha paciência para isso).
1487, Francisco González, de Sevilha:
1. “5 Mayo, di a Cristobal Colomo, extranjero, tres mil maravedis, que está aqui faciendo algunas cosas complideras el servicio de sus Altezas, por cedula a Alonso de Quintanilla, con mandamiento del obispo” (de Palencia). (Libro de Cuentas Francisco González de Sevilla, Tesorero de la R.C. (na web)).
2. “27 Agosto. En 27 de dicho mes di a Cristobal Colomo cuatro mil maravedis para ir al Real, por mandado de sus Altezas por cedula de Obispo. Son siete mil maravedis con tres mil que se le mandaron dar para ayuda de su costa por otra partida de 3 de julio.” (Libro de Cuentas Francisco González de Sevilla, Tesorero de la R.C. (na web)).
1489, Isabel a Católica - «Cristóbal Colomo ha de venir a esta nuestra corte e a otras partes e logares destos nuestros Reinos... por ende Nos vos mandamos que cuando por esas dichas cibdades, e villas e logares se acaesciere, le aposentedes e dedes buenas posadas en que pose él e los suyos sin dineros, que non sean mesones; e los mantenimientos a los precios que entre vosotros valieren por sus dineros. E non revolvades (no inquietéis) ni con él, ni con los que llevase consigo, ni con algunos dellos roídos (¿pobres?)». (Cédula de 12 de mayo de 1489, firmada en Córdoba, in Navarrete, doc. dipl. número IV – www cervantesvirtual com).
1493, Duque de Medinaceli - «No sé si sabe vuestra Señoría como yo tuve en mi casa mucho tiempo a Cristóbal Colomo, que se venía de Portogal, y se quería ir al Rey de Francia, para que emprendiere de ir a buscar las Indias con su favor y ayuda, …» (Carta ao Arcebispo de Toledo, 19 de Março de 1493 – www cervantesvirtual com).
1498, Pedro de Ayala, embaixador espanhol em Londres: “El descubridor [Caboto, hoje conhecido como John Cabot] es otro genovés, como Colón” (carta aos reis católicos Fernando e Isabel sobre as descobertas de John Cabot) (Taviani, 1985).
Bartolomé de Las Casas:
1. “...Fue, pues, este varón escogido de nación ginovés, de algún lugar de la provincia de Génova; cuál fuese donde nació o qué nombre tuvo el tal lugar, no consta la verdad dello más de que se solía llamar antes que llegase al estado que llegó Cristóbal Columbo de Terrarrubia, y lo mismo su hermano Bartolomé Colón, de quien después se hará no poca mención...” (Historia de las Indias, Liv. I, cap. II, publ 1875 – www cervantesvirtual com) - Nota: Quinto, em Génova, foi conhecido como Terrarossa, que castelhanizado deu Terrarubia (Taviani, 199).
2. Giovanni Antonio Colombo: trata-se de um parente italiano de Colombo que foi capitão de um dos navios da terceira viagem às Antilhas, em 1498. Diz dele Las Casas: «era genovés, deudo (=criado) del Almirante, hombre muy capaz y pudiente, y de autoridad, y con quien yo tuve frecuente conversación» (Historia de las Indias, lib. I, cap. CXXX).
1533, Francisco Lopez de Gomara: “Quién era Cristóbal Colón: Era Cristóbal Colón natural de Cugureo, o como algunos quieren, de Nervi, aldea de Génova, ciudad de Italia muy nombrada. Descendía, a lo que algunos dicen, de los Pelestreles de Placencia de Lombardía.” (Historia general de las Indias).
1535-1557, Gonzalo Fernandez de Oviedo y Valdés: “Viviendo Domínico Colom, su padre, este su hijo, seyendo mancebo, e bien doctrinado, e ya salido de la edad adolescente, se partío de aquels sua patria” (Historia general y natural de las Indias) (Graça Moura, p. 22). Outra passagem em versão inglesa: “Christopher Columbus, according to what I have learned from men of his nation, was originally from the province of Liguria, which is in italy, where the city and the Seignory of Genoa stands: some say that he was from savona, others that he was from a small place or village called Nervi, which is on the eastern seashore two leagues from the selfsame city of Genoa; but it is held to be more certain that he may have been originally from Cugurreo (Cogoleto) near the city of Genoa.” (Historia general y natural de las Indias, livr. 3, cap. 2) (apud Taviani, 1991).


Fontes coevas italianas sobre a italianidade de Colombo

1493-1497, Pedro Martir d’Anghiera, humanista milanês, capelão de Isabel a Católica, vivo até 1526, diz que Colombo era lígure em quatro cartas dirigidas ao Conde de Tendilla (1493), ao cardeal Ascanio Sforza Visconti (1493), Giovanni Borromeo (1494) e Pomponio Leto (1497).
1500-1501, Pedro Martir d’Anghiera, após contacto pessoal e directo com Colombo: “Christophorus Colonus, quidam ligur vir …” (Decades de Orbe Novo, publicada em 1511) (Graça Moura, 1991; Taviani, 1991).
1501, Nicolo Oderico, embaixador da República de Génova em Castela: “our fellow citizen, illustrious cosmographer and steadfast leader” (carta aos Reis Católicos) (Taviani, 1985).
1501, Angelo Trevisan, secretário de Domenico Pisano, enviado veneziano a Castela: “io ho tenuto tanto mezo che ho preso partica et grandissima amicitia cum el Columbo, … Christoforo Colombo zenovese, homo de alta et procera statur, rossa, de grands ingegno et faza longa” (carta a Domenico Malipiero, membro do conselho da cidade de Veneza) (Taviani, 1985).
1525, Gaspare Contarini, embaixador de Veneza em Castela e Portugal: “This admiral (Diego) is son of the genoese Columbus” (carta ao senado da cidade de Veneza).

A terminar, consideremos a confusão que entre os leigos e amadores da História, cegos partidários da tese portuguesa pela sua incapacidade demonstrada de gerir e integrar as fontes e estudos que não podem ser desprezados, se instalou pela má leitura de quanto o filho Fernando Colombo relata claramente na sua biografia do pai quanto ao seu sobrenome e origens em Itália; como também ainda o simplicissimo facto de uns designarem ao Colombo por genovês, e outros por milanês, que foi já objecto de outro nosso artigo aqui no PHC. Sobre este assunto, aliás, uma simples consulta a uma enciclopédia, quaisquer simples noções gerais de história italiana da época que pretendem estudar, teriam chegado para o deslindar facilmente.

Pois diante de factos, não há argumentos: apenas a mistificação aplicada deliberadamente consegue explicar a teimosia de se insistir rocambolescamente num Colombo de naturalidade portuguesa. Aparenta isto já ser uma doença do foro obsessivo com reflexos nas misteriosas e irracionais crenças dos pacientes por ela atingidos. Pelo que saindo do nosso foro de competência
profissional, não voltaremos sequer a este assunto, que consideramos pura perda de tempo, já que acreditamos necessário continuar a investigar serenamente os problemas da naturalidade e família de origem italianas de Colombo, segundo as várias teses fundamentadas disponíveis, o que não é decerto o caso da auto-chamada tese portuguesa.

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1) http://www.cristobal-colon.net/Colon/Colon_portugais.htm
2) Documentos sobre Cristóvão Colombo

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

"O Mistério Colombo Revelado" e os nomes conferidos a Cristóvão Colombo por seu filho Fernando Colom, à luz da etimologia

O Mistério Colombo Revelado”, obra recentemente editada em Lisboa pela Ésquilo, tem o seu título em português correcto. Existe uma razão para isso. Na realidade, quem comprará nas livrarias da Lusofonia um livro sobre um desconhecido “Colon” ou “Colón”, palavra ignorada entre nós e sugerindo imediatamente o cólon, algo que o diccionario ainda define como a “parte do intestino grosso situada entre o cego e o recto”? “O Mistério Colon Revelado” é título que imediatamente nos sugere maçadora propaganda médica, ou incompreensível tratado patológico, perigo que se conseguiu evitar à partida.

Ao abrigo de sobressaltos na intitulação, porém, o livro “coloniano”, depois de cirurgicamente nos ser revelado o seu corpo de texto interior, evidencia misteriosamente nóveis conclusões onomásticas, e não só, sobre a personagem histórica de que se ocupa. Sobre as suas origens e percurso que pretende aclarar. Assim, e por isso mesmo em consonância rectificando cegamente, altera sem pudor o nome usado desde há quinhentos anos, em português, para o biografado. Um biografado tornado mito desde os idos de oitocentos nas nações castelhana, italiana, norte-americana, e reclamado para si desde há muito por alguns galegos, portugueses, corsos, e catalães.

Nele se escolhe como supostamente adequada a designação castelhana encurtada do nome do almirante das “Índias”, melhor dito almirante das Índias Ocidentais, Colon. Colon, por apócope documentadamente ocorrida em castelhano quando ele passou de Portugal a Castela, de Colombo>Colomo>Colón. Mesmo “Cristóbal Colón” permitirá decerto dar ao herói de que se ocupa uma aparência mais “ibérica”, ou seja, castelhana latu senso, visto o seu autor se apresentar algures como “historiador da Ibéria nos EUA” (sic). O livro diz desenrolar uma nova tese que irá, citamos da capa, “arrasar a historiografia oficial” com “15 anos de investigação científica rigorosa” (sic). “Iberizada” a obra, procurará dessa forma quiçá alargar o futuro mercado interessado na venda do seu trabalho da “Anglo-Saxónico-Hispânico-Franco-América” do Norte até à Íbero-Anglo-Franco-Neerlandesa-América” do Sul. Esquece-se infelizmente apenas do mercado lusófono. Ignoramos se os autores, parceria de um português há muito residente nos EUA com um estadunidense, são iberistas à última moda, segundo recente revelação pública no estrangeiro de um dos nossos ministros mais distintos. Supomos no entanto que sejam entendidos os srs. Rosa e Steele na história das nações basca, galega e castelhana, e sobretudo na da nação catalã, sita à roda do rio Ebro, a única nação das Espanhas realmente ibérica com propriedade do termo utilizável, mais ainda no tempo de Colombo. Coisas que infelizmente também os Governos portugueses desconhecem, afectando gravemente a nossa identidade perante a Comunidade Internacional. Não sendo assim muito de se arguir quem se limite a seguir tão altos exemplos históricos e culturais, de patriotismo sem mácula.

Revertendo ao ponto: não acreditando os autores que Colombo fosse italiano de nascença, e querendo defende-lo contraproducentemente como português natural, talvez por visionarem demasiadamente os necessários e úteis painéis bilingues, em castelhano e português, da ainda portuguesa TV Cabo, alteram-lhe o nome para a versão castelhanizada do mesmo! Baseia-se esta surpreendente alteração à historiografia tradicional lusófona, segundo o autor Manuel Rosa, no facto de “ele assim ter sido tratado por D. João II”, o que não se comprova; pelo papa castelhano Alexandre VI, em bulas oficialmente enviadas de Roma à corte castelhana através da respectiva chancelaria, o que não releva ao caso, além de que o próprio Borja em Itália ficou Bórgia; e “pelo seu filho natural e biógrafo”, Fernando Colombo. Fernando Colombo, filho esse aliás um castelhano nascido já em Castela de mãe castelhana, ao contrário do outro filho, legítimo, Diogo Colombo, nascido português de Filipa Moniz, senhora portuguesa.

Mais surpreendente ainda é esta preferência inusitada para o nome em castelhano quando se entende que, contra todo o corpo documental de estudos coevos existente, os autores procuram recriar a tese de alguns outros pseudo-historiadores indicados neste blog, defendendo a atribuição de uma futuramente documentável naturalidade portuguesa a Colombo. Mas, embora sem nada disto evidentemente poderem provar depois dos 12 ou 15 anos de estudo que motivaram este livro, indicia-se nele segundo parece que poderia “Cristóbal Colon” ou seja, o Colombo de novo tentativamente retirado à Itália, descender, através da família Câmara, de uma senhora que sabemos criada, ou aceite, pelos genealogistas tardios, a partir do sc. XVI. Essa senhora virtual alegadamente teria concebido em Roma (7), de Rodrigo Anes de Sá, alcaide-mor de Gaia, ao famigerado Sá das Galés (8). Infelizmente para o sentido deste enunciado, “Cecilia, ou Giulia Colonna” é uma existência cuja impossibilidade se documentou há já suficiente tempo (4), embora ainda aceite e indevidamente reproduzida em alguns lugares genealógicos de divulgação generalista mais conhecidos do grande público, como Genea Portugal, que sabemos que por largo tempo tem frequentado o sr. Rosa.

Assim, “Colon” seria abreviatura do nome da ilustríssima família principesca italiana Colonna, cujo sobrenome é oriundo do latim Columna (2), como mostram à evidência as armas parlantes desta linhagem, muito simples e com uma única coluna ao alto; enquanto que Colon nos é dito surgir do grego kolon, significando membro (1). E sabe-se que colombo vem do latim, significando pombo. Usando entre outros argumentos estes três radicais distintos de palavras, duas etimologias do latim e uma do grego, mal embrulhadas, se defende a naturalidade portuguesa de Colombo, “ocultado” sob “nome de guerra” que o próprio teria escolhido para se tornar anónimo como “agente secreto português em Castela”, ou seja (sic) o tal “Colon” inspirado no grego significando membro, devido à ascendência ilusória na linhagística senhora Colonna, ou seja, coluna.

Não se atentou também como seria estranho alguém querendo passar-se por italiano ou português, em Castela, dizer-se chamar Colón, nome grego ou de ressonância castelhana pura... mas a documentação aí está, e até à sua primeira viagem, sempre Colombo está designado como Colomo nas fontes castelhanas. E não Colon... A explicação para esta incongruência do enredo estaria em que muita gente, aquém e além Caia, incluindo as famílias reais portuguesa e castelhana, saberiam da “verdadeira identidade” de Colombo. Só que assim já se não entende porque precisaria ele mudar de nome ao ir trabalhar como agente secreto na corte dos Católicos, mas sigamos...

Voltámos então a nossa atenção para o filho natural biógrafo, que o sr. Manuel Rosa nos diz ter revelado que o nome do pai fora sempre Colon, ou Colón, ou Kolon, enfim, membro. Achavámos de facto extraordinário que uma obra tão conhecida, e traduzida em tantas línguas, não tivesse já levado os autores colombinos, em todas as outras línguas ocidentais, a ter abandonado nesse caso o uso do nome tradicional que nelas se faz, Colombus, Colomb, e até Colón, por Colon, que tanto prefere o sr. Rosa, apesar de que Colonna, em apócope portuguesa, daria Colom (Colõ), ou Colo (Cólu), jamais Colon... mas adiante.

Tendo este Fernando Colombo morrido em 1537 (6), terá deixado inédito um manuscrito em língua castelhana, de que se conhece uma primeira edição traduzida para italiano e publicada em Veneza em 1571. O original castelhano é-nos hoje desconhecido, tendo sido esta obra retraduzida do italiano para castelhano posteriormente, razão pela qual preferimos ir saber na versão italiana primeiramente impressa o que nos diz esta biografia, tão importante e sempre usada pelos biógrafos de Colombo, quanto aos vários nomes por que ficou conhecido o achador oficial das Antilhas nas diferentes nações. Tentando entender, enfim, a razão para esta de facto misteriosa, embora pouco revelada, nacionalização castelhana da designação portuguesa Colombo, opção que preferimos entender como não tendo subjacente motivos de política cultural ou comercial da actualidade, ou seja, como não motivada pelo “mercado ibérico da História” que me tenho apercebido nos últimos anos que se tem infelizmente vindo a pretender criar...

Utilizámos para o efeito o 1º capítulo, e fizemos fé na edição electrónica da obra “Historie del S. D. Fernando Colombo&...”, que se encontra integralmente em linha no sítio www.libromania.it (3).

Nela Fernando Colombo literata ao explicar floridamente o nome do pai, e suas diversas versões utilizadas, jogando habilmente entre os significados das raízes etimológicas de Colombo (pombo), Colonus (Colono) e Colon (membro) a fim de ornar estilística e simbolicamente a sua obra que quer apologética. Mas para que não nos reste dúvida, neste jogo literário encadernado livremente a misticismo ao sabor do tempo, sobre qual é o real nome da família da sua varonia, o filho biógrafo inclui a palavra “verdadeiramente” antes do sobrenome correcto da dita em Itália, antes de começar a divagar esotericamente, à moda dos humanistas, sobre ele. Atrevamo-nos corajosamente a tentar traduzir do italiano, submetendo-nos às críticas de quem melhor o dominar:
“...se abbiamo riguardo al cognome comune dei suoi maggiori, diremo che veramente fu colombo, in quanto portò la grazia dello Spirito Santo a quel nuovo mondo che egli scoprì, mostrando, secondo che nel battesimo di San Giovanni Battista lo Spirito Santo in figura di colomba mostrò, qual era il figliuolo diletto di Dio...”...

Ou seja “...tendo em conta o sobrenome habitual dos seus (do pai do autor) maiores (antepassados), diremos que VERDADEIRAMENTE foi COLOMBO, porquanto levou (ou transportou) a graça do Espírito Santo àquele Novo Mundo que ele descobriu, mostrando, tal como no baptismo de S. João Baptista o Espirito Santo, em figura de pomba, mostrou quem era o Filho dileto de Deus...”...

... “e perché sopra le acque dell’Oceano medesimamente portò, come la colomba di Noè, l’olivo e l’olio del battesimo per l’unione e pace che quelle genti con la chiesa dovevano avere...”...

Isto é, “e porque sobre as águas do Oceano, medeando-as, levou, como a pomba de Noé, o ramo de oliveira e o óleo do baptismo para a união e a paz que aquela gente com a igreja deveria ter...”...

E sobre a apócope do nome Colombo ocorrida na pronúncia e nos documentos grafando o nome Colombo em Castela, reino onde pela primeira vez o pai se tornara conhecido, informa romantizando, e sugerindo leitura esotérica sincrónica e embelezada para factos simples:

“...poiché erano rinchiuse nell’arca delle tenebre e confusione. E per conseguenza gli venne a proposito il cognome di Colón, che ritornò a rinnovare, poiché in greco vuol dire membro, acciò che, essendo il suo proprio nome Cristoforo, si sapesse di chi era membro, cioè di Cristo, per cui a salute di quelle genti egli aveva ad esser mandato. Ed appresso, se cotal suo nome noi vogliamo ridurre alla pronuncia latina, ch’è Christophorus Colonus, diremo che, siccome si dice che San Cristoforo ebbe quel nome perché passava Cristo per le profondità delle acque con tanto pericolo, onde fu detto Cristoforo, e siccome portava e conduceva le genti, le quali alcun altro non sarebbe bastato a passare, così l’Ammiraglio, che fu Christophorus Colonus, chiedendo a Cristo il suo aiuto, e che l’aiutasse in quel pericolo del suo passaggio, passò lui e i suoi ministri acciò che facessero quelle genti indiane coloni, e abitatori della chiesa trionfante dei cieli, poiché egli è da credere che molte anime, le quali Satanasso sperava di godere, non essendovi chi le passasse per quell’acqua del battesimo, da lui siano state fatte coloni e abitatrici della eterna gloria del Paradiso.”

O que dá isto “...pois que estavam (os ameríndios) ainda prisioneiros na arca (no seio) das trevas e da confusão (religiosa). E por conseguinte veio-lhe (a Cristóvão Colombo, e não aos castelhanos, diz o filho, ignorando que a História registaria a forma intermédia Colomo...) como apropriado o sobrenome Colom, que foi o primeiro a voltar a por em uso, pois que em grego quer dizer membro (kolon), até que, sendo o seu nome próprio Cristóvão, se soubesse de quem era membro, isto é, de Cristo, por quem à salvação daquela gente ele teria de ser mandado. E se aproximadamente tal nome quisermos reduzir à pronúncia latina, que é Christoforus Colonus (sic, latiniza uma palavra que diz grega e significa membro... alcançando a palavra latina não para Colu(m)na, coluna, mas para Colonos, calembour aludindo aos colonos em que a seguir dirá que seu pai transformou os ameríndios - desvio de que devia estar consciente o autor, que o precede da palavra “aproximadamente” por isso mesmo, querendo talvez salvaguardar perante o leitor a sua imagem de latinista) diremos que, assim como se diz que São Cristóvão teve esse nome porque transportava Cristo por sobre a profundeza das águas com tanto perigo, pelo que lhe chamaram Cristóvão, e assim como levava e conduzia a gente, a qual nenhum outro seria bastante para transportar, assim o Almirante, que foi Cristophorus Colonus, pedindo a Cristo a sua ajuda, e que o ajudasse naquele perigo da sua passagem (viagem), passou (viajou) ele e os seus ministros até que fizessem daquela gente indiana (sic) colonos, e habitantes da Igreja triunfal dos Céus... pois que ele teria crido que muitas almas, que Satanás esperava colher, se acontecesse que as não passasse por aquela água do baptismo, por ele foram transformadas em colonos e moradores da eterna glória do Paraíso.”

Vemos portanto que de tudo isto, basta atenção e bom senso para concluir, por entre o rebuscado quase barroco do texto, aonde está a verdade: Cristóvão Colombo era verdadeiramente Colombo, pombo, como os seus antepassados; era dito alegadamente Colom, membro, a fim de se lhe dar falsamente a glória de ter escolhido ele próprio a forma Colon com que o acolitaram em Castela; e ainda metaforicamente Colonna, coluna, radical que poderia também ser usado como alusão espiritual enaltecedora, na medida em que igualmente muito ligado a Cristo e à sua tortura. Acontece que a imensa importância dos Príncipes Colonna, seja no tempo do manuscrito, seja em 1571, altura da primeira impressão traduzida italiana, terá impedido maiores alusões ou identificações com estes, rejeitadas logo ab initio no texto (que julgamos irrelevante traduzir mais) como falsas e pretensiosas, mas ditas como possíveis para alguns na época, em que eram escritas as palavras do livro - a simples menção dessa crença, que alguém pudesse julgar os Colombo oriundos dos Colonna (2) italianos, já em si mesma era por demais gratificante ao escritor.

Termine-se com este excerto:

“...e ancora quelli che più salgono sopra il vento, lo fanno di Piacenza, nella qual città sono alcune onorate persone della sua famiglia, e sepolture con armi, e lettere di Colombo, perché in effetto questo era già l’usato cognome dei suoi maggiori ancorché egli, conforme alla patria dove andò ad abitare e a cominciar nuovo stato, limò il vocabolo acciò che avesse conformità con l’antico, e distinse quelli che da esso discendessero da tutti gli altri che erano collaterali, e così si chiamò Colón.”“...(depois de referir outras alegadas terras, ou “pátrias” de Colombo, junto a Génova, revela a mais corrente e acreditada naturalidade dele) e ainda aqueles que mais saiam sobre o vento, o fazem de Placência, na qual cidade há algumas honradas pessoas da sua família, e sepulturas armoriadas, e cartas de Colombo, pois que com efeito este era já o sobrenome (apelido) usado dos seus antepassados ainda que, em conformidade com a pátria (terra, país) para aonde foi morar e a começar novo estado, limou o vocábulo até que ficasse conforme à Antiguidade (Greco-Latina), e distinguisse aqueles que dele descendessem de todos os outros (da família Colombo) que (lhes) eram colaterais, e assim se chamou (ou aceitou chamar-se...) Colón”.

Colon, em italiano, só o vemos usado com acento: Colón. Pois se sabe em Itália decerto que é a castelhanização de Colombo. Por muito doirada e disfarçada em membro (1) que se tenha querido apresentar a apócope ocorrida em Castela, apócope que fica provada não ter nascido, de maneira nenhuma, de um gesto isolado decidido pelo Almirante Colombo, como gostaria de nos iludir o seu filho Fernando Colom.
Sugerimos portanto e em definitivo que numa eventual segunda edição deste estranho livro, ou noutras obras que venham a escrever-se sobre o mesmo personagem, se lhe guarde o uso consuetidinário, na Língua Portuguesa, do seu nome original italiano COLOMBO, tal como é descrito pelos estudos de todos os coevos em Portugal, ou quando muito, COLOM, que um ou dois deles parece também terem utilizado, e é possível que tenha sido conhecido como tal aqui, antes de passar a Castela para a sua aventura.

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1) Kolon aliás, em grego, como já vimos, significa também intestino, ou seja, algo direito e soltamente independente. É outro nome ainda hoje para intestino grosso na língua portuguesa.
2) O DIZIONARIO ETIMOLOGICO ONLINE, diccionario etimológico italiano em linha, informa, clareando-nos esta alegada suposição honrosa que queria tornar os Colombo em alegados descendentes dos Colonna, segundo Fernando, que o radical de Colombo (pombo) teria sido transmitido pelos antigos italianos através da forma intermédia Cólum-en, chaminé (em forma de coluna, supõe-se) por os pombos em cima delas nidificarem, tomando-lhes o nome.
3) Cf. Colombo.
4) Cf. Monteiro, Fernando M. Moreira de Sá, 2000, Sás - as origens e a ascensão de uma linhagem, Genealogia & Heráldica, n.º 3, p. 73, (vd. p. 102 et al.), Janeiro/Junho, Centro de Estudos de Genealogia, Heráldica, e História da Família da Universidade Moderna do Porto.
5) Nascimento da linhagem Câmara: houve genealogias tardias que indicavam como mulher do achador oficial da Madeira, o 1º capitão-donatário João Gonçalves Zarco (depois João Gonçalves Zarco da Câmara de Lobos, mas apenas sete anos antes de morrer, com cerca de 72 anos) a "Constança Rodrigues de Sá", ou até "Constança Rodrigues de Almeida".
Depois que el-Rei D. Afonso V atribuiu o sobrenome Câmara de Lobos à família, ao conceder ao velho cavaleiro da Casa de seu tio, João Gonçalves, uma cota de armas novas, os então recentes fidalgos abandonaram o uso do sobrenome ou apelido Zarco, assinando-se apenas Gonçalves da Câmara, e depois ainda mais simplesmente, apenas da Câmara. Foi só no sc. XVIII que retomaram o Zarco, instituindo a dupla Zarco da Câmara, e até a tripla onomástica Gonçalves Zarco da Câmara, pelo menos, na linha dos condes e marqueses da Ribeira Grande, oriunda da dos condes de Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel.
A importante "capitoa Constança Rodrigues", sempre documentada nas fontes sem título de dona, não se crê nem se prova que pudesse pertencer à linhagem dos Sá, ou dos Almeida, bem antes pelo contrário; da mesma forma que como atrás se disse não se documenta qualquer terceiro casamento entre Rodrigo Anes de Sá e a alegada Cecília, ou Júlia, ou Maria Ana Colonna, de quem a Capitoa, caso tivesse sido mesmo uma Sá, pudesse ser oriunda.
Muito haveria a dizer ainda a este respeito, mas firmemo-nos no ponto, aqui crucial, de que Constança Rodrigues, genearca dos Câmara , era decerto de origens bem mais modestas. Como aliás seu marido João Gonçalves (* Leça da Palmeira, em 1394, + Funchal, em 1467) de quem não se sabe se foi Zarco de apelido, ou alcunha, como querem alguns, ou se pertenceu a uns seus contemporâneos do sobrenome Zarco, documentados em Lisboa. Zarco nasceu com efeito aparentemente em família ligada ao mar, tendo tido um percurso nobiliárquico muito lento, através do serviço na Casa do infante D. Henrique, com quem fez a guerra; sendo marinheiro além de guerreiro, só ascende à nobreza passada a meia idade, com todos os filhos já crescidos (cavaleiro em 1437, no cerco de Tânger; pai legítimo com Constança Rodrigues a partir de c. de 1420; finalmente elevado a fidalgo de cota de armas, porta de entrada inferior no estatuto de nobreza ou fidalguia de linhagem, apenas em 1460).
É completamente impossível crer, além de contrário às fontes existentes, que pudesse ter casado, tantos anos antes sequer de ser armado cavaleiro, com uma Sá, e menos, se esta fosse Colonna de sangue...
As pretensões dos Sás a descenderem dos Colonna afiguram aliás enquadrar-se na plétora nobiliárquica de ascensões da corte de D. Manuel I, como paralelas a outras mistificações de genealogias ilustres adoptadas ao subir bruscamente na hierarquia de corte uma família, e já estudadas documentalmente por investigadores como Braamcamp Freire, Manuel Lamas de Mendonça, e Manuel Abranches de Soveral: caso da dos Furtados minhotos, que acrescentam o Mendoça dos srs. de Mendoza; caso dos Manoéis, que se dizem descender del-Rei D. Duarte. No sc. XVI os Sás, com poucos costados de primeira plana aristocrática, ocupavam já cargos dos mais altos na corte, como o de camareiro-mor, e é justamente de quinhentos que datam as primeiras genealogias dizendo-os descendentes da indocumentada senhora Colonna, que aliás não é referida nas genealogias italianas de tempo algum, nem nas portuguesas antes da Renascença, o que se afigura indício bastante conclusivo para senhora de tão alta linhagem como ela teria que ser, uma Colonna feudal, sobrinha de Cardeal, da corte dos Papas em Roma e Avinhão. Nem se compreende aliás que, tendo tido descendência em Portugal, ninguém se reclamasse dela, nem lhe usasse o sobrenome, mormente descendência feminina, como era o hábito, matrilinear, por longas gerações sempre transmitindo o sobrenome mais prestigioso disponível inicial, quando indicava origem real bastarda, ou alta hierarquia da primeira senhora da linha.
6) Ou em 1539, consoante.
7) Ou em Lisboa, que no final do sc. XIV teve um arcebispo da família Colonna, pelo breve espaço de um ano, quando nomeado cardeal voltou a Itália; cronologia porém incompatível com o nascimento de João Rodrigues de Sá; ou em Avinhão, aonde teria ido em embaixada Rodrigo Anes de Sá, e havia um cardeal Colonna, mas se documenta que Rodrigo Anes era casado com outrém.
8) Mãe entretanto identificada, segundo a melhor documentação, como tendo sido Mécia Pires (de Avelar?) primeira mulher do pai do "Sá das Galés" (apud. op. cit. nota 4).

sábado, 6 de janeiro de 2007

A oferta de D. João II a Castela

[D. João II viu] que Castela estava mais interessada em reconquistar Granada aos mouros do que em navegar até à Índia (...).

O Mistério Colombo Revelado, p. 223.

Castela não queria um império ultramarino mas D. João II, altruisticamente, insistia em oferecer-lho e tanto insistiu que os castelhanos a contragosto lá acabaram por aceitar.
Buscar a Índia não passava pela cabeça de Castela, como bem se mostra no Colombo Revelado. D. João II dá-lhe essa ideia e, não satisfeito, vai insistir para que se faça aquilo que os Reis Católicos não desejam?

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Agentes secretos e conspiradores ao serviço de D. João II

Três podem guardar um segredo, se dois estiverem mortos
Benjamin Franklin

(1ª de cinco epígrafes ao Cap. VI de O Mistério Colombo Revelado)


Para a execução da sua missão enganadora Cristóvão Colombo conta com ajudas de imensos outros agentes secretos e conspiradores:
Pêro da Covilhã
Fr. António de Lisboa
Pedro de Montarroio
Afonso de Paiva
José de Lamego
Rabi Abrãao de Beja
Fr. António de Mascarenhas a.k.a Juan Perez (?)
Rui de Pina
Pedro de Alcáçova
D. Diogo Ortiz de Calçadilha
Mestre Rodrigo
Mestre Moisés = José Vizinho
Fr. Gaspar Gorrício
D. João II
D. Isabel, a Católica
D. Fernando Colombo
Fr. Jorge de Sousa
Martim da Boémia / Behaim
Maximiliano I
Jerónimo Munzer
Bernardo Boil / Bnyl / Buil / Bonil
Toscanelli (eventualmente)
Bartolomeu Dias
Garcia de Resende
Juanoto Berardi
Vespúcio
etc.


(Exemplos retirados unicamente do capítulo VI de O Mistério Colombo Revelado)

Adenda de 7-1-2007

Luís de Oria / Lodisio d’Oria
Lorenzo di Berardo e irmão(s)?
Bartolomé Marchioni
Francisco de Bardi
Simón Verde
Gerardo Verde
Andrés Colombo
Francesco Carduchi
Diego de Ocaña
Jerónimo Rufaldi
Violante ou Briolanja Moniz a.k.a.(?) Beatriz Hidalgo
D. Isabel da Silva, marquesa de Montemor
irmãos de Filipa Moniz
Diego Mendez de Segura
Cristobál Muñiz / Cristóvão Moniz
Juan de la Cosa

Há muitos mais nomes, mas no texto em género de rol torna-se difícil, ou mesmo impossível, compreender qual o papel atribuído a cada personagem enumerada.

Nota: atenção que Calcutá é diferente de Calecute, p. 227.

sábado, 30 de dezembro de 2006

Cristóvão Colombo, especial amigo de D. João II

Se havia uma conspiração e Cristóvão Colombo foi uma «toupeira» introduzida por D. João II em Castela para desviar as atenções de D. Isabel e D. Fernando da Índia para o Novo Mundo como se explica a carta de 20 de Março de 1488?
  • Porque razão D. João II escreve ao seu principal agente secreto, tratando-o por especial amigo?
  • Porque razão escreve D. João II a este espião oferecendo-lhe contentamento (que se pode entender por recompensas)?
  • Estava, por ventura, a querer queimá-lo?
  • Cristóvão Colombo recebe tão comprometedora carta e guarda-a. É suicida?
  • Se o agente estava em acção porquê chamá-lo a Portugal (como alguns querem entender)?
  • Chamá-lo-ia para forçar os Reis Católicos a agir e aceitar a proposta com receio de mais uma vez serem ultrapassados pelos portugueses?
  • Estaria Cristóvão Colombo a tentar o financiamento do seu projecto pelos Reis Católicos e ao mesmo tempo continuava a tentar que D. João II o financiasse?
  • O seu irmão não andou também a tentar que os reis de França e de Inglaterra financiassem o projecto?
  • Sabendo das expedições de Bartolomeu Dias e de Pêro da Covilhã e Afonso de Paiva, não terá achado oportuno inserir-se nessa busca da Índia e oferecer-se novamente para a procurar?
  • Ou, não tendo ainda regressado a expedição de Bartolomeu Dias – e temendo-se, eventualmente, a sua perda – não teria achado Cristóvão Colombo ser uma boa altura para voltar a propor o seu plano a D. João II?

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

A Carta de 1488 de D. João II a Cristóvão Colombo


1488 – 3 – 20, Avis
Carta de D. João II a Cristóvão Colombo em Sevilha agradecendo o que lhe foi escrito e a boa vontade e afeição mostrada ao seu serviço. Declara que terá prazer nos serviços propostos e que deles dará boa satisfação. Esta carta constituirá segurança contra a Justiça Real por algumas coisas por que seja procurado.
Assinatura autógrafa de D. João II.
Suporte em papel; caligrafia gótica semicursiva.
Contém na parte inferior tradução em língua castelhana escrita com caligrafia de tipo humanista do século XVI.
Archivo General de las Indias, Sevilha, (...)
(Transcrição e edição a partir de imagem do documento em O Mistério Colombo Revelado, p. 231, confrontada com a edição de Patrocínio Ribeiro, A nacionalidade portuguesa de Cristovam Colombo (...), pp. 35-36, e com a cópia da mesma transcrição em O Mistério (...), p. 230, onde se corrige uma gralha na versão anterior).

+
A Christovam Collon noso espicial amigo em Sevilha.//


Christoval Colon nos Dom Joham per graça de Deos Rey de Portugal e dos Algarves daaquem e daallem mar em Africa Senhor de Guinee vos envyamos muyto saudar; Vymos a carta que nos scrivestes e a booa vontade e afeiçom que por ella mostraaes teerdes a nosso serviço vos agardeçemos muito / E quanto a vossa vynda ca certo assy pollo que apontaaes como por outros respeitos pera que vossa industria. e bõo engenho nos sera necessareo nos a desejamos e prazer-nos-ha muyto de virdes porque em o que a vos toca se dará tal forma de que vos devaaes seer contente ./ E porque por ventura teerees alguum reçeo de nossas justiças por razam dalguumas cousas a que sejaaes obligado, nos per esta nossa carta vos seguramos polla vynda stada e tornada que nom sejaaes preso reteudo acusado çitado nem demandado por nehuuma cousa ora seja civil ora crime de qualquer qualidade ./ E per ella meesma mandamos a todas nossas justiças que ho cumpram asy ./ E portanto vos rogamos e encomendamos que vossa vynda. seja loguo e pera ysso nom tenhãaes pejo alguum ./ e agardecer-vo-lo-emos e teeremos muyto em serviço scripta em Avis a xx dias de Março de 1488 ¶


El-Rey ·:· —


Notas:


O melhor copista engana-se pelo menos duas vezes por página, logo...


Por causa da pouca qualidade da imagem há partes cuja leitura ofereceu algumas dúvidas, pelo que é muito provável mudar-se de opinião perante o original ou melhor cópia.


Por qualquer razão Cristóvão Colombo escreve ao rei propondo-lhe qualquer coisa que o rei acha boa, convidando-o a deslocar-se a Portugal prometendo-lhe ao mesmo tempo uma satisfação, embora se não refira o tipo nem o porquê.
Por este documento não se deduz que Cristóvão Colombo servisse ou tivesse servido D. João II ou a Coroa. A carta revela a «boa vontade e a afeição» que Colombo tem por esse serviço – o que poderá querer dizer que quer começar a servir D. João II.
Não se pode deduzir que está ao serviço de D. João II porque o rei português, por esta carta, parece disposto a recebê-lo na sequência da missiva que Colombo lhe enviara. O rei admite que para o convite contribuiu o que Colombo lhe escrevera na carta cujo conteúdo presentemente se desconhece, além de outras razões também não especificadas e que no que a Colombo diz respeito sairá satisfeito. Esse serviço a acontecer terá um carácter temporário já que na carta se prevê o regresso do destinatário ao seu local de origem.
Cristóvão Colombo por ventura teme a Justiça e nessa eventualidade recebe um salvo conduto limitado, assinado pelo rei para poder entrar, deslocar-se e sair de Portugal sem incómodo. Não se trata duma carta de perdão, pois não cumpre as mais elementares regras diplomatísticas para o efeito, nem por aqui se pode inferir ser Colombo suspeito de qualquer crime grave ou menos grave, já que o rei, a saber do que se tratava, parece não querer dar-lhe grande relevância[1].
No geral, até parece haver um certo tom de condescendência em toda a carta.
Este documento revela alguma cautela, não se comprometendo com algo de concreto, para além de assegurar a Cristóvão Colombo que não será accionado pela justiça régia pelas razões que eventualmente existam contra ele – repare-se que não se refere haver causa contra Colombo, simplesmente que Colombo por ventura terá algum receio da Justiça. Não se firma nesta carta qualquer compromisso além do referido, o resto são promessas vagas e vazias de conteúdo.
A carta é cautelosa sem ser conspirativa; é espectante e nunca assertiva.


No endereço da carta aparece a menção de «especial amigo», o que é tido por muito relevante pelos autores que querem ver nela algo mais do que lá há. Considerando todas as interpretações abusivas, descontextualizadas e estapafúrdias que aparecem neste tipo de escritos, o relevo dado a este caso parece-me à partida suspeito.
Já alguém procurou outras cartas cujo endereço contenha igual fórmula?
Já alguém estudou as fórmulas de endereçamento na parte que se destina ao correio ou carteiro?
A referência a «especial amigo» no destinatário é, sem dúvida, interessante. No entanto, e incompreensivelmente, a mesma expressão não é repetida no conteúdo da carta. É, pois, bem mais significativo o facto de não constar qualquer menção de familiaridade no interior dessa carta, limitando-se a um seco «Cristóvão Colombo, nós D. João...», não havendo, tampouco, a expressão muito frequente para com funcionários, oficiais ou dignitários que é «Fulano amigo, nós D. João/El-Rei vos enviamos muito saudar», preferindo-se a fórmula mais distante onde entra o título régio e sem qualquer outra expressão de afecto.
Outro facto que talvez possa ter alguma relevância, é as cartas serem endereçadas depois de assinadas e fechadas, ou seja depois do rei as ter assinado e muito pouco provavelmente na sua presença. Também relevante para as hipóteses que se formulem em torno desta carta, e que as obras que a apresentam não indicam, é a indicação do nome do remetente para além do do destinatário.
Pelas imagens apresentadas não dá para determinar se a pena e tinta usadas, ou mesmo a mão, são as mesmas. Mas do endereço para a carta ressalta claramente a diferença na grafia do nome de Cristóvão Colombo: Cristovam Collon no endereço e Cristoval Colon no texto principal. Também é notável o facto de no endereço aparecer noso e no texto da carta aparecer uma vez nosso e três vezes nossa(s) e em nenhum caso aparecer este pronome possessivo com um só S.


Só isto não basta para declarar a oração «noso espicial amigo» apócrifa, já que é muito frequente a oscilação ortográfica, mas estes factos tornam-na bastante suspeita. Para já vai dar-se crédito a Patrocínio Ribeiro[2] quando diz que o documento foi declarado verdadeiro por José Pessanha, conservador da Torre do Tombo, se bem que me pareça possível que para isso não tenha sido dada atenção a este detalhe.


Tomando o documento por aquilo que se tem dito que é algumas perguntas se podem fazer. Mas essas ficarão para outra vez.


[1] Patrocínio Ribeiro, A Nacionalidade Portuguesa de Cristovam Colombo, 1927, p. 36, transcrevendo a carta não a analisa com grande detalhe; comedido como outros depois dele o não foram, cita a interpretação de Teixeira de Aragão, via Luciano Cordeiro, de não se tratar esta carta dum convite [na medida em que não decorre duma iniciativa do rei] mas sim da aceitação dum pedido condicionado feito por Cristóvão Colombo.
[2] Id., Ib., p. 36.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

Paolo di Pozzo Toscanelli e Cristóvão Colombo

Patrocínio Ribeiro apresenta um excerto da carta de Paolo di Pozzo Toscanelli a Cristóvão Colombo onde o humanista florentino trata o futuro Almirante das Índias por Colombo.
Em O Mistério Colombo Revelado, p. 625, publica-se a versão de Las Casas da mesma carta, onde o nome do navegador aparece grafado Columbo.
Tendo fé no mesmo livro, p. 623, numa versão latina dum anexo à carta, o humanista toscano dirige-se a Cristóvão Colombo usando a grafia: Chistofaro Colonbo.
De notar que Toscanelli se refere a Colombo como Colombo e não com um qualquer outro nome. Portanto, Toscanelli é mais um, dos coevos, que não trata Cristóvão Colombo por Cristoval Colón como recentes obras querem fazer passar.

Mas esta carta também tem servido para fundamentar os devaneios oníricos dum Colombo português, por se ver nela a afirmação da nacionalidade do futuro almirante. Estes excertos da carta de Toscanelli têm sido usados como uma das provas da nacionalidade portuguesa de Colombo.
que tu, que és dotado duma tão grande alma, e a mui nobre Nação Portuguesa, que em todos os tempos tem sido sempre enobrecida pelos mais heroicos feitos de tantos homens ilustres, tenhaes tão grande interesse em que essa viagem se realise[1].
Ou na versão castelhana:
tu que eres de grande corazon, y toda la nacion de portugueses, que han seido, siempre hombres generosos en todas grandes empresas, te vea con el corazon encendido y gran deseo de poner en obra el dicho viaje[2].
A interpretação possível é no mínimo ambígua. Trata-se duma enumeração. Até parece haver uma dicotomia: de um lado tu e do outro a nação portuguesa e em lado algum está a associação dos dois elementos, do tu à nação portuguesa.
A bem da verdade, é mais fácil ver neste documento a negação da nacionalidade portuguesa de Colombo do que a sua confirmação.

[1] Apud. Patrocínio Ribeiro, A Nacionalidade Portuguesa de Cristovam Colombo, Lisboa, 1927, p. 50.
[2] Apud. Manuel Rosa & Eric J. Steele, O Mistério Colombo Revelado, Lisboa, 2006, p. 625.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Censura aqui não há

Já no passado os debates sobre a nacionalidade portuguesa de Cristóvão Colombo descambaram no insulto, veja-se o que se passou quando Mascarenhas Barreto ainda conseguia fazer correr a tinta na imprensa.
Uma das características da pseudociência, logo também da pseudo-história, é a incapacidade de aceitar a crítica sem tomar isso como algo de pessoal, o que leva os partidários destas correntes de argumentação a cair no insulto por incapacidade de demonstração com base na experiência, no documento, na análise e no raciocínio lógico, ou seja, por falhas insanáveis dos métodos (ou falta deles). A não aceitação da crítica, reputando-a sempre e no mínimo de incompetente, é a demonstração final do que é a pseudociência, pois recusa que a única forma de validação do conhecimento é a crítica. Para mais informação sobre este tema veja-se este excelente artigo (se ainda não foi adulterado).

Tudo isto para enquadrar um comentário posto hoje (Quarta-feira, Dezembro 20, 2006 8:45:00 AM) por um anónimo:

Pessoal nao vale a pena gastarem o vosso tempo com esses preguiçosos da leitura... Se eles nem leram as criticas a barreto nem barreto, como é que teriam lido o livro de Manuel Rosa?!
Como ja se sabe eles nao repondem à critica das suas pseudo criticas..
Tambem devo lembrar que fui aqui varias vezes censurado mas mesmo assim nao me tornei paranoico ao ponto de pensar que MR tem 20 heteronimos e q censura tudo no seu forum.
E sim, o ultimo anonimo ta certo, quando ja nao se tem nada para dizer faz-se ataques pessoias...com a juda da paranoia...


Ignorando por irrelevantes os dois primeiros parágrafos, quer-se aqui desmentir peremptoriamente o terceiro. É absolutamente falso que se tenha censurado qualquer comentário nesta página. Até agora, removeram-se unicamente dois comentários por conterem linguagem obscena, torpe. Se mais como tais houver, seguirão o mesmo caminho. Se alguém acha que expressões obscenas são aceitáveis como argumentos duma discussão, então deverá procurar outras paragens, pois aqui não será tolerado.
Quanto aos insultos que diariamente têm sido dirigidos aos autores, mais do que afectar os destinatários, revelam muito de quem os profere.