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quinta-feira, 2 de julho de 2009

Antes de querer correr é preciso saber andar...

Já várias vezes aqui afirmámos que aos autores de pseudo-histórias faltam conhecimentos básicos do ofício de historiador.
Se a Diplomática é um dos seus calcanhares de Aquiles (vejam-se as asneiras que têm sido escritas a propósito do morgadio de Cristóvão Colombo) a Paleografia é o outro - muito temos rido com o que se tem escrito a respeito das assinaturas de Colombo e das grafias com que outros escrivães grafam o nome do primeiro almirante das Índias de Castela.
Veja-se o exemplo do nome que consta nas bulas alexandrinas:

Cristoforum Colon


Crhistoforum Colon


É espantoso como com estes simples nomes se é capaz de produzir os discursos mais alucinados!
E querem eles fazer história assim...

Adenda:
Christoforum Colon
(Nome do Almirante numa cópia de bula alexandrina
in Livro dos Privilégios de Cristóvão Colombo)


sábado, 13 de dezembro de 2008

Gostava de ter escrito isto...

... The Golden Age de Paulo Pinto.





(Para que conste, desisti de ver o filme ao fim de 10 ou 15 minutos).

domingo, 2 de novembro de 2008

Pondo as coisas em contexto...

Um comentário publicado no post anterior citando Luís de Albuquerque, além de provocação gratuita, é desonesto pois coloca fora de contexto as palavras do historiador, deixando no ar a ideia de que é esse o seu discurso historiográfico quando na realidade se está perante uma resposta sarcástica aos insultos de Luciano da Silva.
Aos pseudo-historiadores, esgotados os seus iniciais quinze minutos de fama - o tempo que leva a demonstrar os seus erros -, só resta o remeterem-se ao esquecimento, ou, em alternativa, tentarem manter-se sob a atenção dos media recorrendo a fantasias ainda mais elaboradas. Como é difícil complexificar uma pseudo-história para a tornar coerente com a História, e com isso manter a atenção do público, escala-se a polémica com recurso ao insulto soez, o que é infinitamente mais fácil. É o que fez Luciano da Silva e é o que fazem muitos dos comentadores deste blogue.

(...) O Dr. Manuel Luciano da Silva também quis dar nas vistas: concedeu uma entrevista ao Jornal de Coimbra. Não vale a pena perder muito tempo com este médico luso-americano, porque já dele falámos mais do que é devido, quanto ao seu hobby, como ele diz, de historiador (mas também sei que na sua profissão de clínico tem excelente e penso que merecida reputação). Volta com a pedra de Dighton e à carta de 1424. Ficamos a saber que, na opinião do médico: 1.° o Senhor Ministro da Educação é «analfabeto» (sic), porque não deu resposta a cartas que lhe dirigiu e em que, provavelmente, o massacrava com as suas «grandes descobertas»; 2.° «Luís de Albuquerque, Vasco Graça Moura, os homens da Comissão, estão a bloquear todas as minhas pesquisas em desperdício da verdade e honra que pertence a Portugal» (o itálico é meu). E depois: «os indivíduos que estão à frente da Comissão Nacional dos Descobrimentos preocupam-se mais com as suas personalidades e só eles é que sabem... Põem o seu penacho acima da verdade e da documentação»; 3.° eu tenho «uma inveja extraordinária das minhas [suas] investigações porque trabalhou [trabalhei] com Armando Cortesão, viu [vi] o mapa muitas vezes mas não descobriu [descobri] nada»; 4.° escrevi «centenas de trabalhos sem uma única ideia original»; 5.° «na pág. 155 [de um livro meu] há uma fotografia da pedra de Dighton que foi roubada pelo Albuquerque [sou eu]. Essa foto foi feita por mim [Manuel Luciano da Silva] em 2 de Novembro de 1959 e está coberta por copyrights para língua portuguesa e inglesa até ao ano de 1990. Ele [sou eu] publica a minha fotografia, sabendo muito bem que é minha, sem mencionar de onde a tirou».
Resposta a estes quatro pontos: 1.° não se apercebeu o Dr. Manuel Luciano da Silva ao fazer a primeira afirmação que devia desconfiar do estado do seu cérebro ou, alternativamente, de que estava a ser tolo?; 2.° Confesso: «os homens da Comissão» reúnem-se diariamente para estudar meios de «bloquear» o médico luso-americano; fico espantado, como estas coisas se sabem!; 3.° tenho, de facto, uma grande inveja das sensacionais descobertas de Manuel Luciano da Silva. Se lhe pudesse roubar uma... deitava-a no caixote do lixo!; 4.° aqui deu no vinte: nunca tive uma ideia original e isso acabrunha-me! contudo, agora, pensando nisso, concluo que antes assim, apesar de tudo, porque ainda não dei qualquer prova de insanidade mental com originalidades excêntricas; 5.° nova prova de incomensurável perspicácia: roubei ao Dr. Manuel Luciano da Silva, ou fiz roubar a fotografia da pedra de Dighton; não dos folhetos que vai publicando e onde a tem reproduzido com os retoques e riscos que lhe apetece; esses folhetos de cordel são de péssima qualidade e as fotos tão más como os folhetos. E foi então que estabeleci um minucioso plano para me apoderar do negativo de uma das fotos: aliciei um neto de Al Capone, que anda lá pelas Américas na penúria (até onde podem chegar os familiares de homens de renome!) e ele prontificou-se a assaltar a casa do médico luso-americano. Fê-lo exactamente «no dia 7 de Novembro de 1986, sexta-feira, quase à meia-noite»; o Dr. Manuel Luciano da Silva tinha acabado de descobrir na carta de Zuarte Pizzigano a prova irrefutável de os Portugueses terem chegado à América antes de 1424, usando nisso «os métodos da medicina», e entrara em transe; Al Capone bi-Jr. quando penetrou sub-repticiamente em sua casa e o viu, apanhou um grande susto; mas depois recompôs-se por notar que o nosso invejável «descobridor» passava por uma fase de total alheamento, normalíssimo em seguida à assombrosa conclusão indesmentível a que chegara; e o jovem ladrão subalterno surripiou-lhe o negativo, nas barbas dele! Usei-o, pois, fraudulentamente!

*

Até onde podíamos ir nesta conversa? Mas se eu pudesse dar um conselho ao Dr. Manuel Luciano da Silva e ele me ouvisse, dizia-lhe que procurasse outro hobby; e se desconfiar da minha opinião, desinteressada e amiga, recomendava que confirmasse a validade do que sugiro, dirigindo-se a um colega da sua Clínica, onde os deve haver bons como ele é, para uma urgente consulta psicanalítica, com a promessa de contar «tudo direitinho pra ele» (como se diz no Brasil). Aposto singelo contra dobrado que, nesse caso, lhe vai ser prescrito consumir as energias excedentes do seu metabolismo a jogar o «golf», a pescar, a pintar, a caçar gambozinos ou em outra qualquer actividade assim inofensiva.
Dr. Manuel Luciano da Silva, mascarado de Infante D. Henrique na procissão do Senhor Santo Cristo, em Bristol, em 13 de Maio de 1990. Prova de que o conselho dado ao protagonista é mesmo a sério.

(Luís de Albuquerque, Dúvidas e Certezas na História dos Descobrimentos Portugueses, vol. I, Lisboa, Círculo de Leitores, imp. 1991, pp. 158-161.)

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Cristóvão Colombo: O Enigma – Manoel de Oliveira

O realizador de cinema Manoel de Oliveira vai estrear o seu novo filme no festival de Veneza.
A última obra do decano do cinema mundial chama-se Cristóvão Colombo – O Enigma e baseia-se no livro de Luciano da Silva e de Sílvia Jorge, Cristóvão Cólon era Português; a sua exibição será extraconcurso.
Normalmente um romance ou um filme histórico não me merece qualquer comentário público, já que ninguém minimamente bem formado toma isso por História tal como noutras obras de ficção ninguém no seu perfeito juízo questiona a existência de fadas, elfos ou orcs.
O próprio realizador diz que «Não se trata de um filme científico ou histórico, nem de carácter propriamente biográfico, mas sim de uma ficção de teor romanesco, evocativa da grandiosa gesta dos Descobrimentos Marítimos».
Assim vejo-me forçado a concordar com a primeira parte do que Manoel de Oliveira diz, mas sinto-me triste pela escolha da figura para invocar a «grandiosa gesta dos Descobrimentos Marítimos». Cristóvão Colombo só é grande porque se enganou redondamente e pelo caminho encontrou um continente onde por um acaso da História se localiza hoje a maior potência económica do mundo e como tal é um bom mercado para o seu filme, mesmo que ele não venha a ser um blockbuster.
Querendo evocar a épica dos descobrimentos poderia escolher inúmeros outros navegadores desde o mais famoso Vasco da Gama até aos menos vistosos Gil Eanes, Bartolomeu Dias ou até uma ficção em torno de Duarte Pacheco Pereira (ou uma figura inventada) e a exploração das correntes e ventos do Atlântico Sul, um feito de génio como nunca até aí levado a cabo pela humanidade.
Mas se quisesse ser politicamente incorrecto – o que também é uma boa fórmula para o sucesso de bilheteira – poderia pegar em figuras como D. Francisco de Almeida, Afonso de Albuquerque ou até, de novo, Duarte Pacheco Pereira a sustentar o cerco de Cochim.
Agora uma coisa garanto, não sou eu que vou gastar do meu bolso para ver um filme baseado numa tese fraudulenta sobre uma figura menor inventada para satisfazer egos mal alinhavados.

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Alentejo Terra Mãe

No número 6 da revista Alentejo Terra Mãe, Maria Antónia Goes assina um artigo intitulado “Cristóvão Colombo, aliás, Colon, era de Cuba!” Surge logo como primeira preocupação deste artigo o facto de Colombo não poder ser um cardador de lã pois casou com Filipa Moniz, uma nobre portuguesa filha dum Perestrelo.
São enunciados alguns autores que preconizaram a nacionalidade portuguesa de Colombo e contam-se entre eles Patrocínio Ribeiro, Mascarenhas Barreto, Manuel Luciano da Silva, José Rodrigues dos Santos, Manuel Rosa e Eric Steele. Nesta listagem constam portanto trabalhos de ficção como é o caso do Codex 632 e trabalhos de pseudo-história em que se podem incluir todos os outros.
A autora cita ainda Lopes de Oliveira que numa obra de 1949 se fundamentou em Baltazar Teles (1595-1675), Gaspar Frutuoso (1522-1591) e o Padre Cordeiro (que não se conseguiu apurar quando viveu) para afirmar que Colombo teve conhecimento de terras no Atlântico Ocidental por marinheiros que morreram todos, não se percebe se duma assentada ou gradualmente, depois de recolhidos na casa do dito Colombo na sequência dum naufrágio.
Segundo o artigo, Lopes de Oliveira justifica que o verdadeiro nome de Colon era Salvador Fernandes Zarco baseado em autores que viveram dezenas de anos (um século no que se refere a Baltazar Teles) depois de Colombo ter estado na Madeira e ter passado por Portugal. Chega a afirmar que era filho de D. Fernando e de Isabel Sciarra da Câmara baseado numa citação em latim onde alguém refere que estes eram os seus pais, mas - talvez para agradar ao público e influenciado por Alexandre Dumas - refere ainda que Colombo ou Salvador Fernandes Zarco era o filho ilegítimo do dito duque que fez com que a mãe fosse para Génova ter o filho entregando-o então a Susana casada com o cardador de lã.
Portanto, conclui-se para justificar que Colombo sabia de terras a Ocidente, que era nobre e não um cardador de lã, há que confiar em Lopes de Oliveira socorrendo-se de autores que não conheceram Colombo e que viveram um século depois. Todos os autores coevos que não se referem a Colombo nestes termos são omitidos.
Refere-se ainda que Cristóvão era tido por Patrocínio Ribeiro como um predestinado cujo objectivo era descobrir o Novo Mundo baseado num livro de Profecias inédito que provavelmente só o dito Patrocínio teve a honra de ver.
Passa-se de seguida a analisar a firma, que em português corrente se pode designar de assinatura de Cristóvão Colombo, e que no artigo é designada também por hieróglifo. Contudo, não se trata dum hieróglifo pois não se consegue ver qualquer representação que designe um pictograma da escrita egípcia, distinguindo-se perfeitamente caracteres latinos e, no caso da palavra Cristóvão a utilização de caracteres gregos (xpo).
De acordo com Patrocínio Ribeiro que inverteu os caracteres ou letras da sigla que acompanhava sempre a assinatura de Colombo chega-se à conclusão que afinal Colombo era de Colos uma povoação alentejana. Até este momento Colombo é de duas localidades do Alentejo: Colos e Cuba se contarmos com a referida no título. E os leitores mais incautos poderão pensar Colombo é definitivamente alentejano! Neste aspecto ainda estamos atrás dos italianos, são necessárias mais terras a reivindicar a naturalidade de Colombo.
Mas, continuando a leitura do artigo: passa-se de seguida para a origem judaica de Colombo que apenas se justifica com o facto de Colombo querer esconder a sua verdadeira identidade. A teoria explicativa elaborada por Marcarenhas Barreto com base na Cabala surge neste contexto. Colombo é judeu por isso usa a Cabala ou se usa a Cabala é judeu. No entanto ficou por referir a Cabala e o estudo cabalístico da assinatura foi uma apropriação de Mascarenhas Barreto de outros autores anteriores, como Barbosa Soeiro ou Pestana Júnior.
Refere-se ainda que Colombo não pode ser italiano porque não dominava o italiano, na medida em que não há documentação nesta língua. Contudo, esta mesma argumentação não é aceite para o português, pois não há nada escrito neste idioma com excepção de algumas palavras que se podem explicar como sendo influência da sua presença em Portugal e em alguns casos dirigidas ao seu filho, esse sim português de nascimento.
A nacionalidade portuguesa de Colombo também é justificada pela proibição decretada por D. João II dos estrangeiros embarcarem em navios portugueses. Mas, esquecem-se Vespúcio, Noli, Cadamosto e todos os genoveses que desde D. Dinis serviam a marinha portuguesa (vinte pelo menos). Para não falar do elevado número de bombardeiros alemães e flamengos que serviam as armadas da Carreira da Índia e do Estado da Índia assim como criados e aventureiros como Linschoten que com os seus escritos incentivou os Países Baixos à expansão ultramarina.
Para reforçar que Colombo não era estrangeiro argumenta-se com a proibição destes navegarem para a Guiné nem que fosse em navios portugueses. Ora, o que está demonstrado é que apesar dessa proibição os estrangeiros nunca deixaram de navegar para a Guiné ou outras partes em navios próprios ou não. Para além disso, o atlas de Henricus Martelus (c. 1489) nega a política de sigilo portuguesa, ou pelo menos manifesta a sua grande permeabilidade, pois cerca dum ano depois da viagem de Bartolomeu Dias consta nele toda a informação geográfica dessa viagem (ver cópia exposta na Sociedade de Geografia de Lisboa).
Colombo também era português porque “fazia os seus cálculos usando a criptografia náutica portuguesa”, seja isso o que for!
As alusões ao tratado de 1479-1480 estão erradas pelo que se recomenda a revisão da matéria. As alusões ao papel de Salvador Fernandes Zarco (assimilado a Cristóvão Colombo) decorrentes deste erro são, portanto, de todo descabidas.

Em nenhum lado se mencionam os trabalhos historiográficos que rebatem tais ideias e muito menos se faz a referência a informações contrárias às difundidas. Trata-se claramente de manipulação da História com fins propagandísticos venha-se lá a saber do quê?

quinta-feira, 30 de novembro de 2006

A (suposta) benção hebraica de Cristóvão Colombo

Segundo Luciano da Silva em Colombo era 100% Português Cristóvão Colombo tinha conhecimentos de hebraico, tal como Mascarenhas Barreto tinha avançado anteriormente, e por isso colocava as letras Beth e Hê ב ה (aqui postas à maneira hebraica ou seja da direita para a esquerda) como abreviatura de Baruch Hashem (Bendito seja Deus ou Bendito seja o Nome, na tradução literal).


Mas, olhando atentamente para o documento que é apresentado, não se vêem as alegadas letras hebraicas, quer seja em letra de imprensa ou quadrada (tal como registado acima) quer na sua forma cursiva ou manuscrita, em que o beth é sensivelmente semelhante à forma de imprensa e o hê se pode descrever grosseiramente como dois semi-círculos.

O hebraico é escrito da direita para a esquerda, por isso não seria de esperar que a referida benção estivesse escrita no lado direito da página?

Esta ideia de caracteres misteriosos surge também no Mistério de Colombo Revelado na p. 510, fig. 16.14.