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sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Pseudo-História e Revisionismo Histórico




"It does not require a majority to prevail, but rather an
irate, tireless minority keen to set brush fires in people's minds."

Samuel Adams


"Para uma ideia vingar não é necessária uma maioria, mas apenas uma minoria
irada e tenaz, apostada em deitar fogo às nossas mentes."

Esta citação de Samuel Adams (1722-1803) é especialmente adequada quer para o conhecimento dos perigos da Pseudo-História na actualidade, quer para a análise das Histórias Ideológicas de regime, tanto marxistas como nacionalistas, visto que todas se baseiam em crenças e não em factos pragmáticos, e não aceitam crítica ou contestação - ao contrário do verdadeiro revisionismo histórico, sendo irrelevante este ser académico ou independente, desde que feito com base científica e, portanto, empírica.

Muita da história oficial de hoje a precisar ser desmontada é fruto ou de antiquíssimos processos de formação lendária, ou de estratificadas e politizadas versões de regimes políticos triunfantes no passado, impostos por minorias revolucionárias que tomaram o poder, ainda antes de essas novas crenças serem aceites pela maioria.

Assim se compreende que tanto Samuel Adams tinha razão que, ainda hoje, são ensinadas versões diferentes, com títulos diferentes, da guerra de independência dos Estados Unidos da América em que tomou parte. Sendo considerado um dos "pais fundadores" deste país, aonde a secessão é ensinada como Guerra da Independência Americana, enquanto no Reino Unido se lhe chama ainda de Guerra Revolucionária Americana. Não existem aqui no entanto conflitos de verdades, pois ambas as versões são correctas, na medida em que a independência americana passou por uma guerra e que esta foi revolucionária para o seu tempo. E que ambos os nomes descrevem uma mesma realidade, ao contrário da Pseudo-História que primeiro procura destruir a realidade do conhecimento estabelecido factualmente para depois minoritariamente impor ou vender as suas crenças por entre o caos da Razão.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Colombo porque genovês NÃO tem que ser o Colombo tecelão

Continuamos a verificar no mundo da Pseudo-História em Portugal uma deliberada tendência para identificar a informação coeva, portuguesa e internacional, da naturalidade de Colombo como sendo italiana, e dos Estados de Génova, com aquela mais tarde produzida pela historiografia do sc. XIX, no tempo da história nacionalista, a que chamam do "Colombo tecelão". Esta última vem procurando documentá-lo desde então como tendo vivido na própria cidade de Génova. É a tese clássica oitocentista ainda ensinada em Itália, e nos EUA, a que os italianos hodiernos começam a chamar de tese purista, como referimos em artigo anterior neste blogue.

Sendo o nome Colombo comum em Itália, e existindo documentadas homonímias entre vários Colombos quatrocentistas, chamam os da Pseudo-História a este Colombo da cidade de Génova de Colombo tecelão, aferrando-se a que é a este que a historiografia portuguesa se refere...

No entanto, como já aqui tínhamos dito desde o início, são duas coisas, dois pontos inteiramente distintos. Podemos documentar que D. Afonso Henriques nasceu português, mas não temos ainda a certeza absoluta, documentada, em qual das localidades nasceu o Conquistador. Guimarães, como dizia a historiografia tradicional? Viseu (2), como tem vindo a procurar documentar o Dr. Almeida Fernandes?

A História faz-se através da análise serena dos pontos em causa, e misturá-los deliberadamente é pura demagogia, ao serviço de interesses mais de advogado hábil, embora talvez não escrupuloso, do que de historiador digno desse nome. E dado vermos persistir esta deliberada confusão em quanto vamos vendo publicar por essa Rede fora, resolvemos como adequado postar estas palavras, apesar de repetidas, a fim de pelo seu título lhes conseguir dar a necessária indexação nos motores de busca. A táctica da Pseudo-História, também nisso semelhante à dos bons advogados de barra, passa por tentar desacreditar as fontes e estudos coevos, atacando especialmente, ao que parece, Rui de Pina. E esquecendo deliberadamente que Rui de Pina conheceu pessoalmente Cristóvão Colombo, e que independentemente das circunstâncias que tenha vivido no seu tempo, como cronista-mor, o seu testemunho é ratificado por todos os outros, internacionais e contemporâneos.

Túmulo do Doutor João Afonso das Regras

Alguns exemplos de falácias passadas a sofismas deste tipo perduraram na História até hoje. Na História de Portugal, um dos mais importantes aparenta ter sido do grande Doutor João das Regras (1), que precisando apresentar às Cortes reunidas em Coimbra o trono português como vago, a fim de fazer eleger o Mestre, discorreu largamente negando a validade dos casamentos de D. Pedro I com D. Inês de Castro, e do Rei Formoso com D. Leonor Teles. Por esse facto singelo, e que na altura conveio ao interesse político do País, continua a não ser devidamente colocado na cronologia dos reinados em Portugal o de D. Beatriz, rainha legítima e efectiva entre 1383 e 1385, sob a regência de sua mãe D. Leonor Teles de Meneses.

Citamos este caso, um entre muitíssimos, tentando demonstrar até que ponto um sofisma se pode assim enraizar, e até que ponto se pode vir a tornar História Oficial. E por isso, tanto os sofismas e falácias do passado consignados ainda hoje nos compêndios escolares, como as novas propostas demagógicas que prentendam estabelecer novas teorias sem pés para andar, como a do Colombo português, devem ser firmememte combatidas.

A persistência desta confusão afigura-se-nos agora já deliberada, e como tal, um sofisma.

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1) Doutor em Leis por Bolonha, enteado do chanceler Álvaro Pais, com quem colaborou na revolução de 1383-85, Protector da Universidade de Lisboa, D. Prior da Colegiada de Guimarães, chanceler-mor do Reino, ficou famoso por ter elaborado a teoria jurídica tendente a demonstrar que a Coroa se encontrava vaga, permitindo a eleição do Mestre de Aviz, nas Cortes de Coimbra. Cf. http://atelier.hannover2000.mct.pt/~pr511/drjoaoreg.html
2) Cf. Fernandes, A. de Almeida (1994) – Viseu, Agosto de 1109 - Nasce D. Afonso Henriques, Viseu, 1993, e http://www.triplov.com/biblos/fernan.htm

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

O Mistério e o Real: Ditados e Axiomas

O Real centra o Mistério

Emil Cioran - "Se méfier des penseurs dont l'esprit ne fonctionne qu'à partir d'une citation - Desconfiemos dos pensadores cujo espírito apenas funciona a partir de uma citação".

Alain - "Rien n'est plus dangereux qu'une idée, quand on n'a qu'une idée - Nada é mais perigoso que uma ideia, quando apenas se tem uma ideia".

Yvon Belaval - "L'intelligence est un effort pour savoir de quoi l'on parle - A inteligência é um esforço para saber do que falamos".

Honoré de Balzac - "L'espoir est une mémoire qui désire - A esperança é uma memória que deseja".

Arthur Schopenhauer - "Toute évaluation est le produit de la valeur de l'estimé par la sphère d'appréciation de l'estimateur - Toda a avaliação é fruto do valor do avaliado pela esfera de valorização do avaliador".

Rudyard Kipling - "Les mots, c'est évident, sont la plus puissante drogue utilisée par l'humanité - As palavras, é evidente, são a mais potente droga utilizada pela Humanidade".

Alfred Sauvy - " Dans toute statistique, l’inexactitude du nombre est compensée par la précision des décimales - Em qualquer estatística, a inexactidão do número é compensado pela exactidão dos decimais".

Aaron Levenstein - "Les statistiques, c'est comme le bikini. Ce qu'elles révèlent est suggestif. Ce qu'elles dissimulent est essentiel - As estatísticas, é como o biquíni. O que revelam é sugestivo. O que elas dissimulam é essencial".

Jean-Paul Sartre - "Il est toujours facile d'obéir, si l'on rêve de commander - É sempre fácil obedecer, quando se sonha vir a mandar".

São Francisco de Sales - "Le bruit fait peu de bien, le bien fait peu de bruit - O barulho não faz muito bem, o bem faz pouco barulho".

Voltaire - "Aime la vérité, mais pardonne l'erreur - Ama a verdade, mas perdoa o erro".

Renan - "Toujours, le contraste de l'idéal avec la triste réalité produira dans l'humanité ces révoltes contre la froide raison, que les esprits médiocres taxent de folie - Sempre o contraste do ideal com a triste realidade produzirá, na Humanidade, essas revoltas contra a fria razão que os espíritos medíocres apelidam de loucura".

Pascal - "Dire la vérité est utile à celui à qui on la dit, mais désavantageux à ceux qui la disent - Dizer a verdade é útil a quem a dizemos, mas desvantajoso para àqueles que a dizem".

Friedrich Nietzsche - "Les convictions sont des ennemies de la vérité plus dangereuses que les mensonges - As convicções são inimigas da verdade, mais perigosas que as mentiras".

Bergson - "Toute vérité est une route tracée à travers la réalité - Toda a verdade é um caminho traçado através da realidade".

Julien Benda - "Les bons esprits ont à la fois l'esprit de finesse et l'esprit de système - Os bons espíritos têm ao mesmo tempo espírito de subtileza e espírito de sistematização".

André Gide - "Il est aussi naturel à celui qui emprunte à autrui sa pensée d'en cacher la source, qu'à celui qui retrouve en autrui sa pensée, de proclamer cette rencontre - É tão natural àquele que toma de empréstimo a outros o seu pensamento esconder as suas fontes, como àquele que descobre em outrém o seu pensamento, proclamar esse encontro".

Axioma

Francis Bacon - "Les livres doivent suivre les sciences et non le contraire - Os livros devem seguir as ciências, e não o contrário".

Edgar Allan Poe - "Peut-être le mystère est-il un peu trop clair, dit Dupin - Talvez que o mistério seja um pouco claro (evidente) demais, disse Dupin".

André Siegfried - "En politique (en histoire), il faut déjà beaucoup de culture pour se contenter d'explications simples - Em Política (na História), é já precisa muita cultura para nos contentarmos com explicações simples".

Boileau - "Avant donc que d'écrire, apprenez à penser - Portanto antes de escrever, aprendei a pensar".

Voltaire - "Il y a donc de très bons préjugés: ce sont ceux que le jugement ratifie quand on raisonne - Há portanto muito bons preconceitos: são aqueles que o julgamento ratifica quando se raciocina".

Voltaire - "On dit que je me répète, eh bien, je me répèterai jusqu'à ce qu'on se corrige - Dizem que me repito, pois bem, hei-de repetir-me até que se corrijam".

Aldous Huxley - "Les généralités sont, au point de vue intellectuel, des maux inévitables - As generalidades são, do ponto de vista intelectual, males inevitáveis".

Aristóteles - "Platon (le Portugal) m'est cher, mais la vérité me l'est encore davantage - Platão (Portugal) é-me querido, mas a verdade é-me muito mais querida ainda".

H. G. Wells - "Les pinces de notre esprit sont des pinces grossières, en saisissant la vérité, elles la déforment toujours - As pinças do nosso espírito são pinças grosseiras, ao pegarem na verdade, deformam-na sempre".

Kant - "Nous ne connaissons a priori des choses que ce que nous y mettons nous-mêmes - Nós não conhecemos a priori das coisas senão o que nelas nós próprios colocamos".

Paul-Jean Toulet - "Les arrivistes sont des gens qui arrivent. Ils ne sont jamais arrivés - Os arrivistas são pessoas que estão chegando. Nunca conseguiram chegar".

Albert Camus - "L'absurde, c'est la raison lucide qui constate ses limites - O absurdo, é a razão lúcida constatando os seus limites".

Paul Claudel - "L'ordre est le plaisir de la raison : mais le désordre est le délice de l'imagination - A ordem é o prazer da Razão: mas a desordem é a delícia da Imaginação".

Henri Poincaré - "Une accumulation de faits n'est pas plus une science qu'un tas de pierres n'est une maison - Uma acumulação de dados é tão científica como um monte de pedras é uma casa".

Ernest Renan - "Les vrais hommes de progrès sont ceux qui ont pour point de départ un respect profond du passé - Os verdadeiros homens do progresso são aqueles que têm como ponto de partida um respeito profundo do passado".

Charles Alexis Clérel de Tocqueville - "L'histoire est une galerie de tableaux où il y a peu d'originaux et beaucoup de copies - A História é uma galeria de quadros aonde há poucos originais, e muitas cópias".

Aristóteles - "les sciences, c'est l'étonnement de ce que les choses sont ce qu'elles sont - As ciências, são a surpresa das coisas serem aquilo que são".

Joseph de Maistre - "Les fausses opinions ressemblent à la fausse monnaie qui est frappée d'abord par de grands coupables, et dépensée ensuite par d'honnêtes gens qui perpétuent le crime sans savoir ce qu'ils font - As falsas opiniões parecem-se à moeda falsa que é cunhada inicialmente por grandes culpados, e gasta em seguida por gente honesta que perpetua o crime sem saber o que faz".

Francis Blanche - "La preuve que la lune est habitée, c'est qu'il y a de la lumière - A prova de que a Lua é habitada, é que tem luz".

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

A Falácia, o Sofisma, e o Discurso Invertido na Pseudo-História

Baseando-se como sabemos a Pseudo-História, ramo da Pseudo-Ciência (5), em grande parte na falácia (1), encontrámos ser interessante e exercício muito curioso o poder definir com propriedade os seus diferentes tipos, sistematizados, de que geralmente nem nos damos conta ao percorrer textos prenhes deles. É evidente que nem só a Pseudo-História utiliza a falácia, e ademais o sofisma (4), também os discursos políticos, os enunciados jurídicos, as propagandas comerciais, e até as conversas informais deles podem abusar largamente.
O que distingue a falácia do sofisma? A intenção deliberada de enganar, presente no segundo, e que se presume estar ausente da primeira. E neste mais recente formular do conceito definindo um sofisma, pode não estar envolvida a Pseudo-História, quando apresentada de boa fé. Mas está-o sem dúvida se considerarmos apenas o mais antigo significado de sofisma (4).


Alegoria ao Sofisma, por Vanko Vukeljic

Mais curiosa ainda será uma eventual associação, que deixamos ao critério dos leitores, da falácia com a teoria do discurso invertido que recentemente veio propor o australiano David John Oates. É evidente que se se considerar apenas o discurso invertido horizontalmente, ou seja, como uma segunda comunicação real veiculada subjectiva e ocultamente do emissor ao receptor da comunicação, podemos esquecer-nos que para qualquer comunicado existe sempre a sua recepção verticalizada ad adversum, ou seja, apreendida contra o sentido do informado, aceitando-se o seu oposto.
Passamos então a transcrever a sistematização proposta da falácia (2):

"FALÁCIAS INFORMAIS - são argumentos em que as premissas não sustentam a conclusão em virtude de deficiências no conteúdo, o erro provém da matéria ou conteúdo do raciocínio.

1 . Falácias da irrelevância - As premissas não são relevantes para sustentar as conclusões.

2 . Falácias da insuficiência de dados - As premissas não fornecem dados suficientes par garantir a verdade das conclusões.

3 . Falácias da ambiguidade - As premissas estão formuladas numa linguagem ambígua.

1 . Falácias da irrelevância

- Falácia ad baculum ou recurso à força - Argumento que recorrem a formas de ameaças como meio de fazer aceitar uma afirmação.

- Falácia ad hominem ou contra a pessoa - Argumento que pretende mostrar que uma afirmação é falsa, atacando e desacreditando a pessoa que a emite.

- Falácia da ignorância - Argumento que consiste em refutar um enunciado, só porque ninguém provou que é verdadeiro, ou em defendê-lo, só porque ninguém conseguiu provar que é falso.

- Falácia da Misericórdia - Argumento que consiste em pressionar psicologicamente o auditório, desencadeando sentimentos de piedade ou compaixão.

- Falácia ad populum ou falácia populista - Criação de um ambiente de entusiasmo e encantamento que propicie a adesão a uma determinada tese ou produto, cuja origem ou apresentação se devem a uma pessoa credora de popularidade.

- Falácia ex populum ou falácia demagógica - Argumento que pretende impor determinada tese, invocando que ela é aceite pela generalidade das pessoas.

- Falácia ad verecundiam ou falácia da autoridade - Argumento que pretende sustentar uma tese unicamente apelando a uma personalidade de reconhecido mérito.

2 . Falácias da insuficiência de dados

Trata-se de proceder a generalizações, partindo de observações insuficientes ou não representativas.

- Falácia da generalização precipitada - Enunciar uma lei ou regra geral a partir de dados não representativos ou insuficientes. Este tipo de falácia pode assumir duas formas: enumeração incompleta e acidente convertido.

Enumeração incompleta - Argumento que consiste em induzir ou generalizar a partir de observações insuficientes

Acidente convertido - Argumento que consiste em tomar por essencial o que é apenas acidental, por regular ou frequente o que é excepcional.

- Falácia da falsa causa - pode interpretar-se de duas maneiras: Non causa pro causa (não causa pela causa) e Post hoc, ergo propter hoc (depois de, logo por causa de)

Non causa pro causa (não causa pela causa) - falácia que consiste em atribuir a causa de um fenómeno a outro fenómeno, não existindo entre ambos qualquer relação casual.

Post hoc, ergo propter hoc (depois de, logo por causa de) - falácia que consiste em atribuir a causa de um fenómeno a outro fenómeno, pela simples razão de o preceder. Exemplo: Se um desportista tomou certa bebida antes da competição e se saiu vencedor, pode inferir que essa bebida funciona como "poção mágica" e passar a tomá-la antes de todos os jogos.

- Falácia da falsa analogia - Forma de inferência que consiste em tirar conclusões de um objecto ou de uma situação para outra semelhante, sem reparar nas diferenças significativas.

- Falácia da petição de princípio - Forma de inferência que consiste em adoptar, para premissa de um raciocínio, a própria conclusão que se quer demonstrar.

- Falácia da pergunta complexa - Consiste em adicionar duas perguntas ou fazer uma pergunta que pressupõe uma resposta previamente dada, de modo a que o interlocutor fique numa situação embaraçosa, quer responda afirmativa ou negativamente.

3 . Falácias da ambiguidade

- Falácia da equivocidade - Consiste em introduzir num argumento um termo com duplo sentido, o que conduz a conclusões erradas.

- Falácia da divisão - Argumento que atribui aos elementos isolados uma propriedade que é pertença colectiva da classe em que esses elementos se integram.

- Falácia da falsa dicotomia - Apresentação de duas alternativas como sendo as únicas existentes em dado universo, ignorando ou omitindo outras possíveis.

- Falácia do espantalho - Consiste em atribuir a outrem uma opinião fictícia ou em deturpar as suas afirmações de modo a terem outro significado.

- Falácia da derrapagem - Argumento que, introduzindo pequenas diferenças entre cada uma das premissas condicionais ou equivalentes, leva a uma conclusão despropositada.

- Falácia de anfibologia - é uma ambiguidade sintáctica. Há anfibologia quando uma frase permite duas ou mais interpretações. Há falácia por não haver estabilidade de sentido. Muitos slogans entram nesta categoria de falácias...".

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1) Segundo o dicionário em linha Priberam, falácia vem de falar; trata-se de um s. f., expressando a qualidade do que é falaz; falatório; palração; gritaria. Palavra oriunda do latim falacia significando engano, ardil, burla.
2) Um interessante artigo contendo a sistematização das várias formas usitadas de falácia, deixou infelizmente de estar acessivel na Internet. Este facto nos levou a utilizá-lo aqui como valiosa ferramenta que convem ficar disponível para análise das várias deficiências dos textos de investigação pseudo-histórica.
3) Sobre a teoria do Discurso Invertido de David John Oates, cf. http://brazil.skepdic.com/discursoinvertido.html,
http://www.reversespeech.com/home.htm, e http://en.wikipedia.org/wiki/David_John_Oates.
4) Vidé
http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx?pal=sofisma, e http://pt.wikipedia.org/wiki/Sofisma.
Na Wiki lusófona definem actualmente sofisma como sendo um "... um raciocínio aparentemente válido, mas inconclusivo, pois é contrário às suas próprias leis. Também são considerados sofismas os raciocínios que partem de premissas verdadeiras ou verosímeis, mas que são concluídos de uma forma inadmissível ou absurda. Por definição, o sofisma tem o objetivo de dissimular uma ilusão de verdade, apresentado-a sob esquemas que parecem seguir as regras da lógica. Historicamente o termo sofisma, no seu primeiro e mais comum significado, é equivalente ao paralogismo matemático, que é uma demonstração aparentemente rigorosa que, todavia, conduz a um resultado nitidamente absurdo...".
5)
Um dos principais argumentos usitados pelos pseudo-historiadores é o de não atribuir à História a sua categoria de ciência; confundindo a inexactidão passível de existir na interpretação das fontes com o rigor empírico exigido na sua definição e manuseio. Isto deve-se também em grande parte à sua ignorância ou desprezo da metodologia exigida para os trabalhos dignos da qualificação historicista poderem ser validados pela Comunidade Científica. Confundem pois a liberdade de interpretação dos factos já documentados com o trabalho empírico da sua colheita documental e exegese crítica das fontes assim organizadas, únicas passíveis de serem utilizadas pelo historiador. A utilização indevida da palavra historiador pelos leigos tem obrigado os verdadeiros historiadores a preferirem a designação de investigadores... da mesma forma que os Doutores foram obrigados a refugiar-se no eufemismo Professor Doutor. Ao considerarem impossivel atingir-se em História conclusões seguras, exactas, ficam-se os pseudo-historiadores naquilo a que no artigo anterior chamámos de filosofia da História, ou seja, tentando alcançar a História como os filósofos procuravam alcançar a Sabedoria.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

História Colombina, ou Filosofia Colombina?

A diferença entre a História, uma ciência reconhecida como tal desde o século XIX, e a Filosofia, o núcleo restante de todo o conhecimento residual depois de dela emergidas e tornadas independentes as diferentes ciências, é consabida. Uma ocupa-se do estudo do passado da Humanidade, baseando-se não só em documentos credíveis, conjugados, depois de crivados pela sua necessária exegese crítica; a outra, dispensando as fontes, procura alcançar novos caminhos cognitivos através de especulação mental diversa, apoiando-se em novas ideias que se procuram sistematizar em diferentes modelos.

Na Filosofia, ao contrário da História, não contam primacialmente os resultados do filosofar, conta acima de tudo o próprio acto de filosofar... valoriza-se o caminho, o estar indo, o ir descobrindo, sem nunca alcançar senão parcialmente conclusões, que necessariamente hão-de ser sempre meras etapas da manifestação do conhecimento abstracto em si próprio, que se deseja ir materializando em estruturas mentais compreensíveis ao Homem. Em História, muito pelo contrário, valorizam-se acima de tudo os resultados, apresentados sempre de forma provisória, sim, mas factual e organizadamente em sistema lógico e coerente.

Se nova documentação poderá surgir posteriormente sobre um dado assunto histórico, que obrigue à sua revisão, ou interpretação, esse novo ou novos conjuntos documentais terão que formar sentido com os restantes documentos anteriormente aceites como válidos, ou de maior número ou importância. Excepto se se provar que toda essa documentação anterior era falsa ou mal interpretada, claro. Ora uma coisa é a História, ou seja, a cronologia sistematizada no tempo e no espaço dos acontecimentos conformes à melhor documentação, outra a Filosofia da História, em que nos é permitido divagar com estruturas e sistemas cognitivos que nos permitam abordar de novas formas a sistematização desses mesmos conhecimentos factuais.

Muito outro é portanto o escopo da História, a quem cabe a árdua e ingrata tarefa de explicar o passado à luz das suas fontes, permitindo-nos recolher dados com valor para a explicação do presente.

É nossa convicção profunda, diante de verborreias indiscriminadas que não têm em conta a documentação validada coerente e coesa, mas apenas o amor a "estar no caminho, cada vez mais disperso e vago, caótico, mesmo, da verdade a alcançar apenas hipoteticamente num futuro mais do que entrevisto, desejado", que a Pseudo-História Colombina do presente apenas pretende baralhar os dados, confundir os espíritos, com propósitos filosóficos de permitir sempre novas e melhores especulações baseadas sobre factos já dados como irrelevantes, mal enquadrados ou compreendidos... ou pior, agir em mera propaganda, que se queira fazer passar por historicista... junto dos leigos, e daqueles que se deixem vencer pelo cansaço dos seus argumentos contumazes que não aceitam terem ficado destruidos, depois de bastamente desmontados...

Assim, a relação da Pseudo-História para com a História tem que ver, no campo restrito do estudo da realidade passada que permite explicar-nos o nosso presente, com a mesma dissonância que desde o primeiro tempo do som uno universal (2) emergindo do silêncio cósmico mostrou ter o Caos (ou Desordem) para com o Universo (ou Ordem) (1). Uns estudam e divulgam desordenamente enquanto estudam o que ainda não sabem... e desejam seja contrário ao já dado como provado; outros aguardam e publicam apenas serenamente as conclusões factualmente irrefutáveis, ou que se crêem como tais, logicamente explicáveis e compreensíveis.

Sendo assim, e como tudo na vida, à Pseudo-História deve ser reconhecida alguma utilidade, mais que não seja porque obriga a reavaliar conhecimentos, a ordená-los, e a publicá-los de forma mais sintética e útil para proveito do esclarecimento do leigo confundido nas matérias por ela abordadas. Infelizmente, com muito raras excepções, apenas profissionais do campo da História, e talvez mesmo não todos, são disso capazes e têm tempo para tal.

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1) Universo = Versus Uno > até à unidade, i. é, à unanimidade. Em termos parúsicos, a unidade tomará forma através de uma ordem dada ao caos (ou desordem). Isto coincide com o que actualmente nos ensina a Física Quântica: que no caos (ou "sopa quântica") algo se manifesta ordenadamente apenas quando nós próprios ali concentramos a nossa atenção.
2) Aceitando-se que existe uma vibração energética cósmica produzindo um som uno durante a manifestação expansiva da matéria, no processo de dilatação cíclica dos Universos com suas Galáxias.

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Pseudo-História: cá como lá - Gavin Menzies, 1421


Fenómenos como os que aqui se tratam não são novos, como já visto, nem exclusivos de Portugal. Curiosamente, pergunto-me, quantos dos defensores destas ideias em Portugal, subscreveriam ideias como as propaladas por Gavin Menzies?

Menzies, Gavin. 1421, o ano em que a China descobriu o mundo, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2004.

Também este autor tem má opinião dos historiadores:
Acho que se fosse historiador nunca teria escrito este livro. Os historiadores são, por norma, conservadores e não querem contradizer as teorias aceites pela maioria. Sobretudo, não querem parecer ridículos.

in Visão n.º 588.

sábado, 18 de novembro de 2006

No começo duma leitura do Mistério Colombo

Ainda não li o livro de Manuel da Silva Rosa e Eric J. Steele e confesso que com tantos livros para ler e comprar me custará bastante fazê-lo. Por agora, limito-me à leitura do texto que está disponível na Internet* e isso merecerá, sem dúvida, alguns comentários além deste que segue.

Para já duas pequenas observações e ambas relativas à página 24.
1. Não sei de quem é a autoria do livro. Se de Mascarenhas Barreto, donde as premissas são copiadas; se dos autores, cujo nome figura na capa; se de Silva Rosa, pois é que se escreve: «Esta viagem levou-nos, a mim e ao meu colaborador (...)». O realce é meu e a implicação parece-me óbvia.
2. Os autores não se assumem como historiadores, embora eu esteja disposto a considerá-los como tal se se verificar que estamos perante uma obra historiográfica. Referem que querem investigar como um detective «e não como os historiadores têm feito». Logo não são historiadores e por isso vão fazer melhor.

Este último ponto leva a conclusões preocupantes ainda mais porque, nas palavras dos autores, os historiadores «inventam» e «forjam», além de no caso Cristóvão Colombo serem burros, incompetentes e inúteis, e isto pelo que se deduz do que já foi lido. Tendo os historiadores todos estes defeitos, não os terão também nos outros casos que investigam, estudam e concluem? Por esta via não se mina toda a historiografia feita por historiadores, deixando assim o campo livre a todos os que pretendem negar alguma coisa bem mais séria na História que a nacionalidade de Cristóvão Colombo, como, por exemplo, o assassínio dos judeus na II Grande Guerra Mundial?

Felizmente para o bem da verdade os autores convenientemente demarcam-se deste ofício.

Actualização de 5-11-2008:

A hiperligação para a Introdução do livro deixou de funcionar.