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quinta-feira, 8 de março de 2012

História, Pseudo-História e Romance Histórico


A popularidade relativa que goza actualmente na literatura o romance histórico só deverá encontrar paralelo na prolixidade de escritos pseudocientíficos. Tratam-se de constatações resultantes duma observação não sistemática e que se não correspondem à realidade devem andar por perto, quanto mais não seja pela exposição privilegiada que obtêm nos escaparates e nos media, enquanto a historiografia passa quase despercebida.
O romance histórico está na moda e a razão de tal acontecer deverá radicar tanto na apetência do público, como no retorno financeiro para as editoras e autores.
Presentemente não há grande disponibilidade para a leitura, limitando-se esta, dum modo geral e para além da leitura profissional, a obras cuja fórmula de base se conhece e agrada ou então ao que é anunciado como sucesso editorial pela crítica e comentadores, através da publicidade e comunicação social. Também dificilmente as pessoas têm hoje o tempo ou a predisposição para lerem descrições de algo parecido a viagens entre Lisboa e o Carregado ou histórias inanes como a da Joaninha. Numa época em que tudo é superficial e na qual tudo o que se faz tem de ter uma utilidade prática, incluindo o lazer, não se pode perder tempo com ficção pura e dura. Com este sentido utilitário e superficial do «dois em um», o grande público consumidor de romances históricos junta ao consumo de literatura de ficção a pretensão do saber histórico, apaziguando o sentimento de inutilidade do primeiro exercício com a satisfação do conhecimento do real, mesmo quando sabe que não se trata inteiramente duma coisa ou de outra.
Havendo da parte do público grande apetência para este subgénero literário, as editoras não hesitam em publicar, pois sabem que o investimento é seguro e de rápido retorno, parecendo que a condição mínima para a publicação é os autores terem esboçado um enredo relativamente novo e umas linhas mais ou menos bem redigidas (e quando assim não é os departamentos editoriais poderão encarregar-se de dar um jeito). Nesta conjuntura de mercado, os autores podem tirar os escritos das gavetas e até, com um pouco de sorte, deixar as suas anteriores actividades para passarem a viver exclusivamente da escrita.
De estranhar seria que o passado humano não fosse fonte inspiradora de inúmeros autores e de deleite de ainda mais leitores, pois na História encontram-se factos, situações e cenários que podem ultrapassar qualquer ficção. A ficção tradicional já quebrou todos os dogmas formais e todos os tabus políticos, sociais, religiosos e morais, tornando-se-lhe cada vez mais difícil encontrar temáticas novas que mexam com as emoções das pessoas. Por outro lado a História, por ser real, ainda vai conseguindo mexer com essas emoções; dramatizando situações históricas facilita-se a identificação do leitor com a narrativa, cativando-o com enredos que, muito provavelmente, não resultariam se se tratasse de ficção pura.
Independentemente das razões que levam ao sucesso do romance histórico este pode cumprir todas as funções úteis (e inúteis) da literatura tradicional. Aliás, as gradações existentes entre os dois tipos são tantas e tão subtis que se torna cada vez mais difícil proceder à classificação em géneros ou em subgéneros. Mas tal também é irrelevante, devendo bastar, sem preconceitos, a avaliação subjectiva de boa ou má literatura e a classificação objectiva entre História e ficção.
Não deve haver historiador que na sua juventude não tenha lido Walter Scott, Alexandre Dumas ou Emilio Salgari, assim como não deverá haver físico que não tenha lido Ray Bradbury, Robert A. Heinlein ou Arthur C. Clark. Provavelmente tanto o historiador como o físico leram-nos a todos e, dum qualquer modo, acabaram por ser marcados por essas leituras. Alexandre Herculano ou de Isaac Asimov, como muitos outros ficcionistas, até eram respeitáveis cientistas e, por ventura, atingiram mais público no exercício da primeira função do que no da segunda. Assim sendo, ao involuntariamente estimular jovens a tornarem-se cientistas, a ficção terá contribuído para o progresso da Ciência, da mesma maneira que poderá contribuir para que o grande público possa interessar-se por ela.
O romance histórico é muito mais popular que a historiografia porque enquanto ao primeiro género é legítimo o recurso a todos os artifícios literários, ao segundo esses são-lhe vedados por ser fortemente condicionado pela metodologia convencionada pela comunidade científica que o irá validar ou não (e não vale a pena entrar aqui na discussão de ser a História uma ciência ou uma arte). Enquanto o escritor tem toda a liberdade para preencher as lacunas que existam nos dados históricos fazendo uso da sua imaginação criadora, o historiador, perante o mesmo problema, fica limitado a conjecturas e hipóteses que têm de se enquadrar num quadro de possibilidades epocais, além de ter de as assinalar devidamente como tal. Assim, as peripécias colombinas secamente narradas por Garcia de Resende e Rui Pina – mesmo que contadas por outrem que os use como base conjuntamente com as outras fontes conhecidas – não têm qualquer possibilidade de competir no mercado editorial de massas com a pseudo-história do mesmo almirante escrita por Mascarenhas Barreto ou o romance de Rodrigues dos Santos e muito menos com as intrigas, de outra ordem, integralmente ficcionadas por John le Carré ou Michael Crichton.
Enquanto que o trabalho do historiador é o resultado de 90% de transpiração e 10% de inspiração, o trabalho do escritor deverá obedecer à relação inversa. Também o reconhecimento do mérito pelo grande público é repartido de forma desigual e em benefício do escritor, já que a necessidade de rigor que o texto historiográfico deve ter retira-lhe todo o brilho artístico, o que aliado ao facto de a maioria dos historiadores não ficar a dever muito às musas da escrita torna pouco apetecível e pouco comerciável os seus escritos.


A estas duas literaturas juntou-se uma outra, a pseudo-história. Esta é um género bastardo – misto de história e ficção – que se quer fazer passar por História e recusa terminantemente que se lhe chame ficção.
Não sendo um género novo, pois sempre existiu vindo a público em edições de autor ou dados à estampa em pequenas casas da especialidade marginais ao sistema editorial dominante, ganhou nos últimos anos grande pujança ao encontrar na Internet um meio de divulgação barato e de grande alcance. O sucesso no mundo virtual, medido pela quantidade e reacções das assistências, acabou por atrair a atenção das editoras tradicionais que viram nesse género mais uma possibilidade de fazer dinheiro desde que se disponibilizassem a investir na produção de campanhas de publicidade de boa envergadura – conferências, entrevistas em todos os media e, claro, anúncios.
Obviamente, como referido, quem produz pseudo-história não admite estar a fazer algo de pseudo, de falso. Quando muito admitirá estar a fazer história alternativa. Mas isso é o mesmo que dizer ser possível fazer ciência alternativa – como se a maçã que, neste Universo, cai da árvore pudesse em alternativa subir da árvore.
Quem produz este tipo de escrita invocará que em História os mesmos factos são passíveis de interpretações diversas dependendo de quem as faz e que isso, à luz dos métodos historiográficos, não retira mérito ao historiador nem desacredita as conclusões – outros poderão até ver nisso a impossibilidade de a História se constituir como uma ciência.
No entanto a pseudo-história – mais difícil de definir que a pseudociência já que o método da segunda é mais exigente do que o da primeira – é assim definida não porque perante os mesmos dados chega a conclusões diferentes, mas porque falsifica, deturpa e omite factos relevantes para servirem interesses, por vezes tenebrosos, de pessoas ou de grupos que nada têm a ver com a História enquanto tentativa honesta de conhecimento do passado humano.
A pseudo-história baseia-se em teorias da conspiração; parte de pressupostos falsos – a que nem se podem chamar de hipóteses – e estes pressupostos acabam por ser as conclusões; assenta em documentos únicos, descontextualizados, secundários, falsos; é dogmática; não é autocrítica nem se submete à crítica, tomando-a como detractora despeitada. A lista de características é longa e poderia continuar mas em tudo seria diferente daquilo que deve ser a História.
Aos indivíduos de hoje exige-se no dia-a-dia profissional uma racionalidade e competência técnica extremas. Os indivíduos especializam-se de tal maneira que muito pouca disponibilidade lhes fica para poderem dominar outras matérias para além da superfície e da banalidade. Vivem numa sociedade onde existem breves momentos ou curtos espaços informativos, nos quais confiam, entremeados entre grossas fatias de entretenimento mentalmente debilitante, quando não boçal. Quase como um contraponto às exigências profissionais, alguns desses mesmos indivíduos, tendem a afrouxar a racionalidade que possuem – como que se o baixar dessas guardas constituísse uma forma de descanso – e passam a confiar na informação que assim embrulhada lhes é fornecida.


O erro de quem confia acriticamente na informação que lhe é dada reside no facto de pressupor que quem a produz está a agir com a competência técnica e a racionalidade que é exigida a quem a recebe quando está no exercício da sua actividade profissional. Mas nem sempre é assim. Quem fornece informação pode errar, de boa ou de má-fé, pelas razões mais diversas, sendo uma delas o interesse económico, se outro ainda mais obscuro não houver. Ora, é precisamente por não se querer cair neste tipo de erro de credulidade que se cai no oposto, que se cai na pseudociência, na pseudo-história. A popularidade da pseudociência e da pseudo-história passa então a dever-se ao inconformismo, à recusa da normalização e da massificação ou, mais grave ainda, da vontade de negação da realidade tal como ela é entendida ou explicada.
Quando produtores de informação ou entidades respeitáveis, e como tais tidos por credíveis, por lapso ou não, veiculam, acabando por publicitar, teses pseudo-históricas sem as devidas ressalvas, estão a contribuir para a sua difusão, legitimação e perpetuação das mesmas. Não se trata de censura nem de cercear a liberdade de expressão. Trata-se tão só de advertir os menos informados de que se trata de matéria contestada ou contestável pela comunidade científica por ir ao arrepio da prática estabelecida e tida como boa. Afinal, sem limitar a liberdade de expressão, já existem mecanismos de advertência prévia do eventual público de espectáculos e actividades que podem ferir susceptibilidades.
Ao abrigo da liberdade de expressão a pseudo-história tem todo o direito de existir mesmo apresentando os maiores dislates como o da negação do Shoah, que Colombo era agente secreto ou que os chineses descobriram os Açores. Contudo, também ao abrigo da liberdade de expressão, tem que estar disponível para a crítica, o que pode ser um exercício quase inútil já que os seus produtores, dogmáticos, nunca a reconhecem e os incautos que tomaram esses disparates como certos ou não têm acesso à crítica – porque nunca recebe a mesma atenção dos media – ou então tornam-se eles mesmos coniventes com a fraude.
À referida quase inutilidade da crítica juntam-se as dificuldades em fazê-la bem feita. É que nem sempre há tempo, paciência ou o incentivo para a fazer. O primeiro obstáculo a passar é a verborreia pseudo-histórica destinada a cobrir com uma cortina de fumo o pequeno conjunto de ideias em que consiste a tese. Depois há que procurar na enxurrada de factos que sempre se apresentam os que realmente contribuem (ou poderiam contribuir) para a tese, separando-os daqueles que são meramente decorativos e que pretendem demonstrar a profundidade e vastidão do trabalho. Neste processo pode-se logo ir assinalando os falsos, os deturpados e os descontextualizados para no fim acrescentar os que aí faltam e não deveriam faltar. Estando-se perante pseudo-história o processo poderia acabar aqui, pois as falhas já encontradas seriam suficientes para o parar, no entanto, se o crítico for persistente ou se estiver a cumprir alguma penitência poderá continuar e ver se os factos que sobram (e os que faltam) permitem sustentar a tese. Por ventura, os factos apresentados são tão díspares entre si ou as conclusões parcelares tão (pseudo)técnicas que o crítico tem de recorrer a especialistas dessas áreas (se os houver) para obter um parecer competente, quando não é a totalidade dos factos e conclusões apresentados no trabalho a precisar críticas especializadas. Ao contrário da pseudo-história que é vendida ao grande público, o trabalho dos críticos não é remunerado, pelo que não pode ser feito como poderia ser, mas também – muitos dirão – não deverá valer a pena fazê-la.

A História, é por definição séria. Trata-se dum inquérito metódico e sujeito a crítica constante que pode prolongar-se por séculos. Nela o erro é sempre passível de correcção. O erro é admissível e até mesmo aceitável se for resultado de boa-fé ou de limitações intelectuais (há historiadores mais inteligentes que outros) ou materiais (impossibilidade de aceder a uma fonte determinante). A História é um conhecimento que se vai construindo geração após geração, sem pretensões à verdade absoluta e com disponibilidade para aceitar a novidade fundamentada que eventualmente vá aparecendo. Todo o historiador sonha em dar um contributo notável para o avanço significativo da História. A maior parte deles ficará sem satisfazer esse desejo, não porque tema o ridículo de expor uma nova teoria que vá contra a norma existente e que lhe garantiria um lugar na História da Historiografia, mas porque é honesto e as hipóteses revolucionárias ou situacionistas que vai formulando acabam por não ter fundamentação, não saindo por isso donde nunca deveriam sair – da gaveta.
Dan Brown (O Código Da Vinci), Miguel Sousa Tavares (Equador) ou José Rodrigues dos Santos (Codex 632) escrevem literatura (romances históricos) e, aparentemente, não a pretendem vender como História – não querem vender gato por lebre – se bem que para muitos dos seus leitores as realidades que romanceiam passem a ser a realidade histórica. Como tudo e como todos, alguns destes autores ou as suas obras poder-se-ão tornar históricos, algo que só a própria História poderá vir a determinar e não a vontade presente de algum publicitário ou bajulador. As polémicas em que se possam ver envolvidos ou em que voluntariamente se envolvam poder-se-ão, ou não, tornar históricas ou objectos da História. Seja como for, o valor histórico será determinado pelos historiadores futuros.
Gavin Menzies (1421: o ano em que a China descobriu o mundo), Mascarenhas Barreto (O Português Cristóvão Colombo Agente Secreto do Rei D. João II) ou Luciano da Silva – não confundir com Luciano Pereira da Silva, 1864-1926 – [Cristóvão Colon (Colombo) era Português], fazem pseudo-história, pois pretendem vender as suas ideias (e as alheias, no que não ficam sozinhos) como sendo História; fazem maus romances históricos já que lhes falta a dinâmica narrativa que os anteriores têm. No entanto têm o desplante de querem passar um atestado de incompetência a toda a comunidade científica, passada e presente. E nisto as editoras são cúmplices, senão mesmo co-responsáveis por um logro – tal como o talhante que vende gato em vez de lebre.



Este texto foi escrito no Verão de 2006 e publicado em Setembro do mesmo ano na página da Internet da APH. Foi redigido a pedido de um dos responsáveis da associação, numa altura em que desconhecia a polémica que já existia há muito tempo no fórum do Geneall e antes de tomar conhecimento das adulterações que ocorriam na Wikipédia que originaram o aparecimento desta página. Por a página da APH ter sido reformada e os artigos de opinião estarem agora indisponíveis e por este artigo manter toda a actualidade, republica-se aqui o texto acima.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Liberdade de Expressão

Liberdade de Expressão e Comentários de Desidério Murcho


Galileu na Inquisição.
Mesmo depois de censurado e condenado encontrou maneira de exprimir o seu pensamento.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Ponto de ordem


  1. Correm por blogs e fóruns meias verdades ou meias mentiras, quando não inteiras imposturas, acerca dos autores desta página.
  2. Para que não restem dúvidas nos espíritos mais distraídos, nós só nos pronunciamos nos assuntos das pseudo-histórias de Cristóvão Colombo através desta página. Qualquer comentário que apareça noutros sítios só nos poderá ser imputado se for devidamente assinado com o nosso registo no Blogger – o mesmo que usamos para assinar esta página.
  3. Alerta-se para que ninguém tome por verdadeiro o que for dito acerca dos autores desta página sem comprovação prévia e documental, já que os processos usados na deturpação da história são os mesmos que são utilizados para difundir falsa informação sobre tudo o resto.
  4. A título pessoal não posso deixar de agradecer a preocupação algures revelada com o possível uso abusivo da minha imagem, se é que o fez de boa-fé e não como estratagema para outros fins. Assim só quero lembrar que, desviando a atenção do debate de ideias para as pessoas envolvidas nele, o que sai a perder são as ideias – trata-se, pois, de atirar poeira para os olhos e da ostentação de chamarizes para atrair os incautos para polémicas estéreis.
  5. No tempo em que a caixa de comentários desta página estava aberta a qualquer um, houve entre os inúmeros insultos e baboseiras quem se interrogasse mais de uma vez se direitos de autor não estariam aqui a ser violados. Não respondi pois, tratando-se de legislação, todos têm fácil acesso a ela em qualquer biblioteca pública, mas aproveito agora para responder e dizer que uma coisa é usar o que é do domínio público por caducidade de direitos de autor, outra é a utilização de excertos de obras protegidas por direito de autor para fins de crítica - algo que também está legalmente previsto.
  6. Completamente diferente de tudo o que está no ponto acima – e que parece haver muita gente a esquecer – é o direito do indivíduo ao bom nome ou, no caso, o direito à sua própria imagem e o poder dispor dela.

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Novas Regras

O espaço reservado aos comentários dos leitores está a ser usado com fins insultuosos e difamatórios. Se tais comportamentos ilustram o mau carácter de quem assim age por outro lado em nada dignificam este sítio.
Por isso decidiu-se pôr fim à possibilidade de comentar directamente o que aqui é posto.
No entanto entre os comentários feitos até agora, há muitos que trazem contributos importantes e alguns até contra-argumentos sérios às posições dos autores desta página. Assim quem tiver algo de relevante a dizer poderá fazê-lo para o endereço electrónico desta página (pseudo.historia.colombina@gmail.com) e à medida que nos for possível pô-los-emos com o devido destaque.
Lamentamos ter de chegar a este ponto. Só se traduzirá em mais trabalho para nós, pelo que pedimos desde já desculpa se houver atrasos no cumprimento desta promessa.
Sabemos que se trata duma severa limitação à liberdade de expressão dos nossos leitores e que por essa razão até dissuadirá muitos de darem um contributo valioso, mas temos de reconhecer a nossa ingenuidade ao crermos na bondade humana.
Temos também a plena consciência de que, no mínimo, iremos ser acusados de tentar calar as ideias que nos são adversas, mas é mais um risco que assumimos.
Os comentários feitos até agora, mesmo alguns que mereceriam ser removidos, continuarão disponíveis como prova da razão por que fomos forçados a agir assim.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Resposta à pessoa que assina como Manuel Rosa

A presente página tal foi dito no Ponto de Situação foi feita para criticar escritos que manifestamente estão errados, como é o caso das obras incluídas na lista da bibliografia da barafunda e agora renomeada de bibliografia da controvérsia.
Por se constatar que, de há muitos anos para cá, ideias erradas sobre a vida e, principalmente, as origens de Cristóvão Colombo têm tido receptividade junto do grande público e como também se tem a consciência de que o trabalho dos historiadores acaba frequentemente por não sair dos círculos científicos, muito por causa de limitações financeiras que relegam a divulgação para um plano secundário, criou-se esta página.
Quando em 1916 Patrocínio Ribeiro tece algumas considerações sobre a vida de Colombo estava longe de imaginar o que se seguiria. De então para cá muito se escreveu dentro da mesma linha, repisando as mesmas ideias, inclusivamente copiando-as sem o devido crédito, e frequentemente com pouco siso. O aproveitamento político de então deu lugar a outros interesses e aproveitamentos de que é única vítima o público que confia no que é impresso, pressupondo haver por detrás um juízo científico rigoroso e avalizado.
No entanto, e quanto à crítica prévia, as coisas não funcionam assim e ainda bem, já que deste modo ninguém poderá acusar alguém de censura e de coarctar ideias porventura inovadoras. Agora, não se pode esperar que depois da divulgação pública de ideias estas sejam acolhidas sem crítica. A crítica é essencial à validação do conhecimento, caso contrário têm-se dogmas.


O anonimato dos autores desta página é propositado por várias razões:
1. Evitam-se ataques pessoais e/ou institucionais.
2. A formação ou ausência dela não devem ser tidos como causa de crédito ou descrédito.
3. A objectividade da crítica não se mede pelo estatuto de quem critica.
4. Cada um avaliará se as críticas têm ou não razão de ser e independentemente do nome que estiver por detrás delas.
5. Tal como referiu não sabe quem somos, portanto não pode avaliar quem não conhece.
6. O que interessam são as ideias, os argumentos, as justificações, as provas.

Acerca da nacionalidade de Colombo, o problema só surgiu em finais do século XIX no quadro dos nacionalismos. Isso deverá querer dizer qualquer coisa, não?

Como já foi referido, o nome Cristóvão Colombo designa a pessoa que chegou ao Novo Mundo em 1492. Podem fazer-se as opções gráficas que se quiserem mas a pessoa é a mesma. D. Taraja ou Tareja não é conhecida como tal mas como D. Teresa pois é essa a grafia actual do nome. O mesmo se passa com a personagem bíblica Isaac que se pode escrever Yshaac, Ysaac, Isac, Isaque... O que interessa é o homem ou a mulher; o nome não é a coisa em si, ou seja não é a essência, a realidade ou a verdade, pois essas são inatingíveis ao Homem.

A crítica, tal como Descartes e Kant a descrevem, serve para verificar se existe um método e, existindo, a sua consistência. A crítica não pretende substituir-se à tese, apenas a quer validar ou não. Quem critica pode não saber tanto como o criticado, pois também, pondo em linguagem simples, um treinador ou um crítico desportivo não é obrigado a ser melhor desportista que os desportistas que treina ou critica.

Acerca do livro, temos opiniões diferentes.

No que diz respeito à história de Colombo muito foi e será escrito. Contudo, no que diz respeito à comunidade científica o assunto está resolvido até que surjam melhores provas, pois até agora não foram apresentadas e o que é agora apresentado como tal já foi rebatido a seu tempo. O mais recente livro vai sendo criticado – em História há sempre tempo.

O grande problema consiste na dificuldade em fazer transparecer para o grande público o que circula pela comunidade científica e pelos meios académicos. Esta página, nesta matéria, tenta ajudar a combater a situação pretendendo fazer a ponte entre a comunidade científica e o grande público.

Como nota de carácter meramente pessoal, para a minha participação na presente página muito contribuiu que me tivessem censurado na Wikipédia. A censura, tal como tive oportunidade de dizer na altura, é a arma dos que não têm argumentos. Ou seja, a censura da minha liberdade de expressão levou-me a reagir, pois considero que ninguém tem o direito de me calar. Mas mais importante do que isso é a possibilidade de retribuir à comunidade aquilo que ela investiu em mim.

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Ponto da Situação

  1. O objecto desta página é a Pseudo-História Colombina. Ou seja, quer-se criticar escritos que se pretendem passar por obras historiográficas sérias, mas que não passam de construções mais ou menos complexas sobre erros básicos de leitura de documentação ou de interpretação mais ou menos manipulada para corresponder a teorias preconcebidas.
  2. O protagonista desta página é Cristóvão Colombo, nome em português do navegador que chegou ao Novo Mundo em 1492, independentemente das grafias usadas ao longo dos tempos, dos nomes adoptados pelos diversos autores que escreveram sobre o assunto, das traduções do nome para diversas línguas e suas divergências, ou de invenções puras de heterónimos que lhe queiram imputar.
  3. Neste sítio não se criticam pessoas e muito menos se insultam. Apenas se criticam ideias e construções teóricas feitas por alguns autores sem terem qualquer base documental ou factual e tendo-a não a interpretam correctamente ou deturpam-na.
  4. A História faz-se essencialmente com documentos e factos, mas também aceita indícios e construções teóricas se tiverem uma base bem fundada e uma boa argumentação resultante dum método que há milhares de anos tem vindo a ser definido pelos historiadores. Esse método pressupõe a crítica do autor sobre as suas fontes, mas também deve ser avalizado pelos outros historiadores e pela sociedade em geral que cada dia é mais global.
  5. As ideias têm de sobreviver à crítica, pois sem ela não há História, há propaganda, há manipulação, há gato a ser vendido por lebre. Qualquer teoria que não resista à crítica mais superficial, que não resista a um sofisma que seja, não tem viabilidade enquanto proposta de explicação do real.
  6. A sociedade em geral deve estar consciente desta diferença, por isso se fez esta página pois o assunto está resolvido há muito tempo para a comunidade científica, pelo menos até que surjam boas provas em contrário.

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

A Intolerância e a Pacatez

No que diz respeito às teorias de Colombo ser português não tenho nada a opor, contudo as teorias têm de ser provadas e devem ainda ser sujeitas à crítica. Se não há provas ou indícios e se estes não sobrevivem à crítica quem propõe tais teorias tem de ter a humildade de dizer que não sabe.
Chocam-me as pessoas que acusam a comunidade científica de intolerância, corporativismo e de elitismo e logo a seguir sejam os primeiros a ter tais comportamentos. Senão veja-se:
Recentemente consultei a Wikipédia e resolvi ver edições do mesmo artigo em línguas diferentes. Qual não foi o meu espanto ao ver dois excelentes artigos sobre a biografia e percurso de Cristóvão Colombo em inglês e espanhol e por contraponto em português estava um pequeno e mal amanhado conjunto de confusões. Resolvi então perguntar pelo rigor científico e fazer várias propostas. Resultado: apagaram as minhas críticas sistematicamente, mesmo depois de eu voltar a colocá-las em discussão.
Ou seja, quem acusa de intolerância é o primeiro a apagar os contributos dos outros, quando são vários a fazê-lo há corporativismo e revela ainda um elitismo e mania de superioridade que enoja. Quem detém a Verdade são os iluminados defensores do Colombo português, os outros são todos tão estúpidos que não percebem nada, nem nunca perceberam.
Também me choca que as pessoas que podem dar um contributo e que sabem do assunto fiquem caladas permitindo que vinguem as ideias e as propagandas construídas à volta do Colombo português.
A resposta é que não vale a pena e que é muito cansativo. Bom, e assim fica o artigo da Wikipédia escrito por maus escritores de ficção por demissão dos que percebem do assunto.
Quem fizer como eu e verificar as versões em diferentes línguas pode concluir que os portugueses estão a dormir na forma ou que não são bons profissionais. A ideia que fica é de que os portugueses inventam histórias e não sabem fazer um trabalho científico. Por causa disso é que a maior parte da historiografia estrangeira tem credibilidade e a portuguesa nem sequer é mencionada!
A pacatez paga-se e se não forem os estudiosos a defenderem o seu trabalho concerteza que não são os ficcionistas a fazê-lo!