domingo, 28 de janeiro de 2007

Pestana Júnior - Cristóvão Colombo, aliás Simão Palha

(Manuel Gregório Pestana Júnior)

PESTANA Jr., D. Cristóbal Colom ou Symam Palha na História e na Cabala, Lisboa, Imprensa Lucas, imp. 1928.

Pestana Júnior começa a sua tese com uma breve crítica a Patrocínio Ribeiro, depois do curto elogio que a praxe impõe. Dá-lhe algum mérito principalmente por ter descoberto a inversão que lhe possibilitou ler Colos – não o fazer até cairia mal – mas aponta-o como fraco latinista e acaba por descartar a sua conclusão principal e que fora obtida pelo tal método meritório.
Contudo Patrocínio Ribeiro terá exercido outras influências sobre Pestana Júnior sem que este tenha tomado consciência disso – ou pelo menos não o admitiu peremptoriamente – pois tal como Ribeiro, Pestana Jr. também perdeu noites de volta da sigla de Cristóvão Colombo.

Desconfiou da genovesidade do Almirante pela leitura da documentação coeva – como todos os outros, diga-se – e ficou convencido que o mistério – sempre o mistério – estava na assinatura – claro! Como é que todos vão lá parar?
A reflexão e a crítica levam-no a recusar XPO FERENS como Christoferens, pois é uma forma desconhecida de grafar o nome Cristóvão. Bom no latim, ao contrário de Ribeiro, falha na paleografia – como muitos outros – e assim recusa XPO como Cristo, mas acaba por convir na mistura greco-latina para no fim acabar por ler Cristo – confuso? Não é para menos!
Questiona a função do traço sobre XPO e o «“bastão” a conter o FERENS» – as aspas são do Autor – e já não é Cólon, vírgula. A paleografia de Pestana Júnior que já dera mostras de ser fracota aqui afunda-se irremediavelmente.
O complicado método do espelho criado por Ribeiro e por si desenvolvido leva-o à seguinte salada de letras gregas, que se passa a citar:

ΧWΛΑS.WΛΧΑS.ΛΑΧΑS.WΧΧΑSW.ΜΥΑ.SWΛYS
XPO FERENS

O que vertido em caracteres latinos – se é que em cima já não os há – dá:

colas, olcas, lacas, occaso, mya, solis,
christo ferens

«Ferens» continua a causar ruído nesta tese já que segundo os autores citados não é grego mas sim latim, o que dá a tal mistura greco-latina que permitirá chegar à identidade de Cristóvão Colombo. Mais tarde, como já se viu e mais se verá, e para iluminar toda a obscuridade que rodeia o Almirante, ainda se vão juntar os elementos hebraicos.
Voltando ao texto grego, este traduz-se do seguinte modo:
«Eu sou, qual Mya aquele que traz à Cristandade as pérolas, as esmeraldas e as gomas preciosas pelo longínquo ocaso do sol».
Fim de citação, p. XCIV. Infelizmente não posso aferir da correcção da tradução já que para mim é... grego!
Ao latino FERENS no fim da salada grega junta-se agora um X que fica de fora. Este último facto irá continuar a perturbar o Autor mas lá voltará mais tarde.
Surge então um rasgo de inspiração. Ou tratou-se de uma revelação?
Diz o Autor, pp. XCV-XCVI: «Apareceu-nos então a possibilidade de aparentar Colombo com Miguel Molyart, que no estudo geral nos surgira como agente do Príncipe Perfeito e que mais não era que o morgado de Alvarenga, Bernardo de Vasconcelos, casado com Violante de Almeida, casa dos Palhas de Évora.
Num momento ocorre a metátese: Colom é simplesmente Colmo = Palha!!»
Note-se que, segundo Pestana Jr., Miguel Molyart é um anagrama de Bernardo (Byrnaldo, na grafia antiga do nome) de Vasconcelos, aparecendo o Miguel dum outro anagrama bem mais rebuscado e não é aqui relevante para o caso.
Tornando curta uma história longa, após mais uns contorcionismos cabalísticos pentagonais, chega-se à decifração final: «A mim Simão Moniz chamais assim».
E para compor o ramalhete faz deslizar o traço sobreposto em XPO até cruzar o «bastão» – e não cólon – e obtém «XPO FERENS †», lendo: «Christo ferens crucem». O que leva a cruz a Cristo, o Cireneu: Simão (pp. C-CI).
Chega-se então ao nome de Cristóvão Colombo, que é, nada mais nada menos: Simão Palha!

Está cá tudo.
O Colombo, com um nome falso, cuja verdadeira identidade se oculta atrás duma sigla cabalística greco-latina, não é caso único. Molyart, aliás Bernardo de Vasconcelos, morgado de Alvarenga, é exemplo disso. Fundamenta-se, ou melhor, justifica-se assim uma fraude com outra fraude. Se há uma também há duas, ou melhor, se há duas, então e necessariamente há uma. A prova irrefutável, o documento histórico, o que é isso? Serendipismo e já está.
Outra conclusão, à qual se se não chega então, será mais tarde levada ao paroxismo, resulta dum encadeamento de conclusões precipitadas que se transformam em premissas que levam a novas e mais extasiantes conclusões, num ciclo sem fim previsível à vista.
Miguel Molyart é agente de D. João II – agente dá em agente secreto.
Miguel Molyart é pseudónimo de alguém; Cristóvão Colombo também.
Um é agente (secreto) o outro necessariamente também o é.
E assim se faz a História.


3 comentários:

Anónimo disse...

Meu Caro Sr. JCSJ,

Gostaria de lhe dizer que apreciei a leviandade do seu comentário. Criticar uma obra de um autor que faleceu a 19 de Agosto de 1969 e que já cá não está para poder defender a sua tese diz muito de si. A sobranceria intelectual fica-lhe mal, e deveria ter demonstrado preocupação em tentar saber quem foi Manuel Gregório Pestana Júnior. Em que altura surgiu o livro, quantos exemplares vendeu, etc. Cumprimentos, YXK

J. C. S. J. disse...

Quando alguém escreve o que seja, e ainda mais se o publica, sabe que fez algo com potencial para lhe sobreviver e, quiçá, para ficar para toda a eternidade.

Aires B. Henriques disse...

Apenas quero dizer que acaba de ser editado um livro intitulado PESTANA JÚNIOR, PROFETA REPUBLICANO onde se pode ver que o mais importante da vida desse portosantense não foi o livro que escreveu sobre Colombo.
Pestana Júnior à data estava deportado nos Açores e logo por essa altura (Julho de 1928) dá-se a Revolta do Castelo (Lisboa) com a qual ele estaria mais preocupado...
Em 1931 participa na Revolta da Madeira...
O livro que acaba de ser editado, em edição de autores, conta com 200páginas e cerca de 110 fotos, muitas das quais inéditas, relativas à sua vida política e às deportações para os Açores e Cabo Verde...
Pode ser adquirido pedindo-o para VILLA ISAURA / Troviscais / 3270-154 Pedrógão Grande.
EStá muito longe de ter abordado toda a sua vida. Abre as portas apenas para uma investigação muito mais profunda, a desenvolver nomeadamente mos arquivos da Madeira, dos Açores, Cabo Verde e da Torre do Tombo...
Haja quem tenha corragem para isso!
Saudações cordiais, e mãos ao trabalho, que o cidadão PESTANA JÚNIOR merece isso e muito mais!...
Que haja quem tenha a coragem de estudar a sério o que verdadeiramente importante: as suas lutas pela liberdade, pela equidade e pela justiça!
Saudações amigas.

Aires B. Henriques