quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

A prova final!

Apresentamos aqui mais uma contribuição dos nossos leitores.

A expectativa não podia ser maior, toda mui sabiamente gerada à volta da grande revelação da portugalidade dos três Reais Colombos, Bartolomeu, Cristóvão e Diogo, ditos, “Lacus Parvi Columbi”[1], como infatigáveis e mui prolixos arautos atempadamente anunciavam.

Como o momento não desmerecia, com pompa e circunstância, à ilustre e distinta “assembleia” da lusitana Cuba, se fez prova claríssima da mais lusa naturalidade das três ditas personalidades.

Obviamente todos ligados à mais alta nobreza, à casa de Viseu / Beja, menos não se poderia esperar, pois a prova era iniludível, absoluta e concludente.

Não estava gravada no mais antigo portal da Cuba lusitana?;

Não estava pintada, como registo indelével, no manto do Real Colombo?; [2]

Não era símbolo consabido da Real Casa Portuguesa?;

Que mais se poderia almejar?

E o ilustre “investigador”, à ávida e ansiosa assistência, por fim revela essa incontornável e demolidora prova.

Dela fala, com todo o mais profundo saber;

Dela dá a final imagem.

E a grande surpresa, rebenta com toda a douta oposição!

Entrando nos estupefactos olhos, e nas sedentas mentes, três apetitosas romãs eram apresentadas como a mais concludente revelação.

E, assim, como o Poeta canta:

«Abre a romã, mostrando a rubicunda
Cor, com que tu, rubi, teu preço perdes;»[3]

Estava apresentada a cabal prova da naturalidade dos Colombos!

Eram todos portugueses e da Família Real!

Eduardo Albuquerque

___________________

A imagem reproduz a Senhora da Romã, c. 1487, por Botticelli (Madonna della Melagrana), Florença, Uffizi.

[1] Tradução: “Os Pombinhos de Cuba”.
[2] “La Virgen de los Navegantes”, «óleo sobre tabla realizado por Alejo Fernández entre 1531 y 1536».
[3] Luís de Camões, Os Lusíadas, canto IX.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Ponto de ordem


  1. Correm por blogs e fóruns meias verdades ou meias mentiras, quando não inteiras imposturas, acerca dos autores desta página.
  2. Para que não restem dúvidas nos espíritos mais distraídos, nós só nos pronunciamos nos assuntos das pseudo-histórias de Cristóvão Colombo através desta página. Qualquer comentário que apareça noutros sítios só nos poderá ser imputado se for devidamente assinado com o nosso registo no Blogger – o mesmo que usamos para assinar esta página.
  3. Alerta-se para que ninguém tome por verdadeiro o que for dito acerca dos autores desta página sem comprovação prévia e documental, já que os processos usados na deturpação da história são os mesmos que são utilizados para difundir falsa informação sobre tudo o resto.
  4. A título pessoal não posso deixar de agradecer a preocupação algures revelada com o possível uso abusivo da minha imagem, se é que o fez de boa-fé e não como estratagema para outros fins. Assim só quero lembrar que, desviando a atenção do debate de ideias para as pessoas envolvidas nele, o que sai a perder são as ideias – trata-se, pois, de atirar poeira para os olhos e da ostentação de chamarizes para atrair os incautos para polémicas estéreis.
  5. No tempo em que a caixa de comentários desta página estava aberta a qualquer um, houve entre os inúmeros insultos e baboseiras quem se interrogasse mais de uma vez se direitos de autor não estariam aqui a ser violados. Não respondi pois, tratando-se de legislação, todos têm fácil acesso a ela em qualquer biblioteca pública, mas aproveito agora para responder e dizer que uma coisa é usar o que é do domínio público por caducidade de direitos de autor, outra é a utilização de excertos de obras protegidas por direito de autor para fins de crítica - algo que também está legalmente previsto.
  6. Completamente diferente de tudo o que está no ponto acima – e que parece haver muita gente a esquecer – é o direito do indivíduo ao bom nome ou, no caso, o direito à sua própria imagem e o poder dispor dela.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Presentation of Pseudo-História Colombina

The year that marks the fifth centenary of the death of Christopher Columbus is yet another opportunity to cast over the origins and life of the Admiral of the Indies of Castile old theories that, even though previously amply refuted, always seem able to gain a new lease of life, therefore requiring the constant repetition of the same works and arguments for the rebuttal of those errors, if not frauds.

With seriousness, and whenever necessary with humour, we shall compile those errors and frauds, adding to them the suitable corrections, when possible and whenever we have the time (for here one does not work for wages).

(November, 15 , 2006)

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Cristóvão Colombo – de volta ao positivismo

Chegou a altura de se pôr de lado as picardias e começar a analisar seriamente a ideia de ser Cristóvão Colombo português. Por isso tem de se começar pelo princípio e ver o que dizem as fontes.

1.º Qual é o documento que diz ser Cristóvão Colombo natural de Colos?
2.º Qual é o documento que diz ser Cristóvão Colombo natural de Cuba?
3.º Qual é o documento que diz ter Cristóvão Colombo a naturalidade portuguesa?
4.º Qual é o documento que diz o nome dos pais de Cristóvão Colombo?
5.º Qual é o documento que diz ter Cristóvão Colombo casado com Filipa Moniz?
6.º Qual é o documento que diz ser Cristóvão Colombo parente da família real portuguesa?
7.º Qual é o documento que diz que Cristóvão Colombo não é Cristóvão Colombo?
8.º Qual é o documento que dá a chave de decifração da putativa assinatura críptica de Cristóvão Colombo?
9.º Qual é o documento que diz ter estado Cristóvão Colombo ao serviço do Rei de Portugal?
10.º Qual é o documento que diz ser Cristóvão Colombo um agente secreto?

Auguste Comte (1798-1857)

Mais perguntas ficam para já por fazer e outras far-se-ão posteriormente na sequência e decorrentes das presentes.
Faz-se notar que a ausência de resposta a estas perguntas deitam por terra qualquer possibilidade de se afirmar ser Cristóvão Colombo português, parente da família real e agente secreto.
Chama-se, também, a atenção que por documento se quer designar o que os historiadores denominam de fonte primária.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Pseudo-História e Revisionismo Histórico




"It does not require a majority to prevail, but rather an
irate, tireless minority keen to set brush fires in people's minds."

Samuel Adams


"Para uma ideia vingar não é necessária uma maioria, mas apenas uma minoria
irada e tenaz, apostada em deitar fogo às nossas mentes."

Esta citação de Samuel Adams (1722-1803) é especialmente adequada quer para o conhecimento dos perigos da Pseudo-História na actualidade, quer para a análise das Histórias Ideológicas de regime, tanto marxistas como nacionalistas, visto que todas se baseiam em crenças e não em factos pragmáticos, e não aceitam crítica ou contestação - ao contrário do verdadeiro revisionismo histórico, sendo irrelevante este ser académico ou independente, desde que feito com base científica e, portanto, empírica.

Muita da história oficial de hoje a precisar ser desmontada é fruto ou de antiquíssimos processos de formação lendária, ou de estratificadas e politizadas versões de regimes políticos triunfantes no passado, impostos por minorias revolucionárias que tomaram o poder, ainda antes de essas novas crenças serem aceites pela maioria.

Assim se compreende que tanto Samuel Adams tinha razão que, ainda hoje, são ensinadas versões diferentes, com títulos diferentes, da guerra de independência dos Estados Unidos da América em que tomou parte. Sendo considerado um dos "pais fundadores" deste país, aonde a secessão é ensinada como Guerra da Independência Americana, enquanto no Reino Unido se lhe chama ainda de Guerra Revolucionária Americana. Não existem aqui no entanto conflitos de verdades, pois ambas as versões são correctas, na medida em que a independência americana passou por uma guerra e que esta foi revolucionária para o seu tempo. E que ambos os nomes descrevem uma mesma realidade, ao contrário da Pseudo-História que primeiro procura destruir a realidade do conhecimento estabelecido factualmente para depois minoritariamente impor ou vender as suas crenças por entre o caos da Razão.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Colombo: o ajoelhar do mito

Seguimos uma sugestão do virtual sr. "A. de Carvalho", que muito agradecemos, alvitre hoje publicado (3) dirigindo-se a quantos não se deixaram convencer pelas teorias pseudo-históricas tendentes à desitalianização de Colombo: "...podem escolher uma pena alternativa: ajoelhar perante a estátua de Cristóvão Colon, em Cuba e fazer penitência. A foto desse momento será depois publicada onde todos a possam ver..." (sic).

Por nós, será de aguardar que a Câmara da Cuba mande construir uma passadeira marmoreada ao redor da estátua colon'ial que colocou em praça, a fim de os penitentes ali idos de todo o mundo melhor poderem massacrar os joelhos, como as mentes, ajoelhados por sobre o labiríntico solo vermelho daquela boa terra alentejana.

Até lá, na imagem, podemos ir admirando ao portuguesíssimo folião "Salvador Cristóbal Fernández Enríquez de Colos Nasao Zarco Paja y Columna" (Olé!), descido do seu pedestal público colocado junto ao edifício do ajuntamento da Cuba del Allatajo. Encontra-se o alegado portador do Espírito Santo aos seus bem-amados ameríndios de Cipango aqui representado já despido da sua máscara de "Cólon", ajoelhado e pedindo perdão aos Portugueses por os ter entrudado.

A explicação oferecida para a inocente mistificação teria sido o medo de seu pai ao rolo da massa da sua "madrasta" Condestavelessa (2), a sereníssima Infanta D. Brites, senhora da Bacalhoa. Por esse facto teria o bastardo real e seus dois irmãos inteiros sido feitos passar por filhos do pai adoptivo de seu pai, e tio de seu pai e madrasta, o Infante D. Henrique, porém como o cronista Zurara preferiu afirmar-nos que morreu virgem e em limpa castidade este suposto avô ou pai biológico putativo, veio a descobrir-se a marosca, e daí ter fugido o desorientado fruto dos amores proibidos para Castela.

Quanto aos "poderes" e "máscaras" de Cristofero Colombo, entre nós Cristofo Colombo>Cristophom Colom>Cristóvão Colombo, depois redenominado em Castela como Cristóval Colombo>Cristóbal Colomo>Cristóbal Colón (1), preferimos não nos pronunciar por já ter passado o tempo de Carnaval. Mas sugerimos daqui aos autores das novelas portuguesas que com tanto sucesso passam actualmente no pequeno ecrã que não deixem de aproveitar este riquíssimo enredo para uma futura produção.

_______________________________

1) Salientemos já agora que este, antes de passar a assinar-se "El Almirante", preferiu sempre a expressão latina mais próxima do seu nome em língua materna, rubricando-se simplesmente Cristoferens por Cristofero, Cristóvão em italiano.
2) Cf. Joaquim Rasteiro em linha sobre a história da Quinta da Bacalhoa, antes denominada Quinta da Condestavelessa: "...No tempo de D. João I o seu monteiro-mor, João Vicente, tinha emprazado em três pessoas a «Quinta de Azeitão em Ribatejo». Uma parte da propriedade era foreira à Coroa e a restante a Diogo Fêo. Em virtude de João Vicente estar velho, cego e pobre, o rei comprou o domínio directo da quinta a Diogo Fêo e permitiu que se emprazasse, em 1427, a seu filho D. João, mestre da Ordem de Sant'Iago e Condestável do Reino, a quem, mais tarde, seu irmão, o rei D. Duarte, (dela) fez doação. Por sua morte, em 1442, sucedeu-lhe na posse sua filha (a infanta) D. Brites, que veio a casar em 1447 com (seu primo) o infante D. Fernando, irmão de D. Afonso V. A quinta, lembrança da nova possuidora - que a usufruiu 64 anos, desde 1442 até à sua morte, em 1506 - tornou-se conhecida por «Quinta da Condestablessa» e passou a dispôr, desde essa data, de uma edificação notável, que, segundo se crê, constava de uma cerca torreada e de um revestimento de azulejo do modelo levantino, de que existem ainda numa das dependências da edificação alguns exemplares, pertencentes aos tipos rajolas que se fabricaram em Valência na segunda metade do século XV. Deve recordar-se ainda que «D. Brites por si (própria), pela casa de seu pai, pelos bens do seu marido, pela generosidade do seu cunhado D. Afonso V e de seu genro D. João II, viveu com um fausto e uma grandeza só excedidas pelas prodigalidades do próprio marido cujos hábitos imitou». O filho de ambos, D. Manuel, depois rei, mostrou bem que a «semente frutificara e encheu o reino com as maravilhas da arte e os esplendores das indústrias decorativas». Este monarca não esqueceu também a Quinta de Azeitão, propriedade de sua mãe, conferindo-lhe, em 20 de Julho de 1490, uma carta de privilégios que compreendia os caseiros, lavradores, arrendadores dos bens, lagareiro, mordomo e escrivão que estivessem na quinta, a qual dirigiu aos juizes e justiças da comarca de Azeitão e ao ouvidor..." (apud http://www.azeitao.net/quintas/bacalhoa.htm).

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Cristóvão Colombo - uma história (in)verosímil

Com a devida vénia e por tornar evidente a incoerência de teses apregoadas, reproduz-se excerto do comentário crítico de Eduardo Albuquerque no forum Genea Portugal.

(...) Parece que o Infante D. Henrique, em idade mais adequada para pôr em ordem a “alma” pegando no terço, se deu a outras inclinações... de que teria resultado alguém que, passados cerca de trinta anos, viria a adoptar o apelido Colombo, e digo Colombo, pois foi este, segundo alguns pretendem, o mandado registar pelo nosso monarca D. Manuel I, a Rui de Pina.

Do que resulta a natural perplexidade e paradoxo de o Rei mandar registar Colombo e este adoptar Colón. Que grande ingrato...!

Mas o Infante, ter-se-á revelado muito prolífero, pois, antes do “Cristóvão” já tinha dado ao mundo um “Bartolomeu” e, depois do Cristóvão, ainda houve lugar para um “Diogo”.

Ah! grande Infante, que melhor demonstração poderia haver de um dos mais genuínos produtos da rija “cepa” portuguesa.

E, tudo consertado com os Reais Senhores, todos optaram por uma segunda profissão, a da espionagem, e todos eles se passaram a chamar Colombos, perdão, Colóns!

Dos tenros anos, da nobre prole, o nosso clero, com muito medo da terrível fogueira, nada registara... pois diziam as profecias que estavam votados à ignóbil arte da espionagem...

Mas valendo-se de científica metodologia, logo se prova que eram de sangue Real e muito possivelmente filhos do notável Infante, pois, por um lado as feições não o desmentiriam, e por outro, tal como o Infante não se interessaram pelas coisas do mar?
Logo, a conclusão surge cristalina, e a prova concludente!

Assim, depois de ter casado, como muito bem referiu o estimado confrade, com senhora de diferente “status”, como filho de príncipe que se orgulhava de ser, vai o “nosso” “Cristóvão”, depois de andar a “chatear” a família toda com o “eu quero ir à Índia”, para Castela em tríplice missão, a saber: de missionário da “Pomba”, de navegador desempregado e de régio espião. Grande “Cristóvão”! E aí, renasce como Colombo, perdão, Colón, obviamente ocultando as suas Reais origens que muito o prejudicariam.

Já em Castela, volta à sua teimosa petição “eu quero ir à Índia”, eu sou o missionário da “Pomba”, pois eu quero lá construir um pombal, para enviar mensagens secretas ao meu amo e senhor...

Tanto “chateou”, tanto “chateou”, pois a técnica comercial tinha-a aprendido no “The Sagres’s College”, muito necessária às futuras trocas comerciais, que os Reais Senhores Castelhanos, para se verem livre dele, não o mandaram dar uma “volta ao bilhar”, mas para o “ultramar”. Vai com Deus... e o Senhor te acompanhe...!

Regressou tão ufano à original pátria, publicitando tão gloriosa empresa, que com o deslumbramento, ninguém reconheceu tão ilustre e Real senhor, mas apenas viu o novo Cristóvão Colombo, perdão Colón!

E os Reais manos, em mui nobre aprendizagem, lá foram desenhando uns portulanos, pois o futuro é incerto, e o ser de condição Real, não é garantia que baste. Não houve já um Imperador que acabou em jardineiro...?

Estes manos, um pouco ingénuos, renegaram a sua Real condição, em benefício da sua nova actividade, quer de espiões de Sua Majestade, quer de criados do mano mais “furão”, o Cristóvão das Pombinhas, e mudaram de nome para Colombo, perdão, Colón, o que tudo inculca o ingresso na Ordem dos Espiões... Ordem que se tornaria famosa pela continuação deste apelido em terras de Castela “ad saecula saeculorum”...

E lá partiram para Castela, França, Inglaterra, no propósito de desviar as atenções dos Castelhanos da nossa empresa, pois os ingleses e os franceses eram muito ladinos... e convinha desviá-los para a Índia...

Infelizmente, um dos filhos do notável espião Cristóvão, dito Fernando, “o Nandinho das Escrituras”, era atrasado mental, enfim, coisas da natureza, e por isso não ingressou na Ordem, pelo que nunca soube que o pai tinha sido espião.

Vai daí, quando este morre, aquele que de suas origens nada sabia, procura testemunhos vivos, rebusca sofregamente toda a documentação deixada, lê num apêndice a um Codicilo os nomes de alguns herdeiros de certo genovês, e parte para Itália em busca de suas naturais e mui nobres origens.

E o infeliz incapaz não é que só lhe dá para procurar Colombos, nem Colóns pesquisou!

E, como incapaz que era, nada encontra de seus avós, pelo que concluiu:

Pois, se o meu pai era enviado da “Pomba”, os meus avós e todos os meus ascendentes voaram...
(...)

Eduardo Albuquerque

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Quinze Anos é muito tempo


  • Mascarenhas Barreto investigou 15 anos (Cristóvão Colombo, Agente Secreto de D. João II, 2ª ed., Lisboa, Referendo, 1988, p. 10).
  • Ruggero Marino investigou 15 anos [Página eliminada ou mudada de endereço].
  • Manuel Rosa investigou 15 anos.
  1. O que têm em comum estes autores além da obsessão pelo n.º 15?
  2. Já agora, será que o n.º 15 tem um significado cabalístico incompreensível aos não iniciados?
  3. Ou trata-se duma mera reprodução comportamental?
  4. Sabe-se, lendo as páginas antigas deste blogue, aonde Manuel Rosa intervinha pessoalmente, que aqui disse pessoalmente que efectivamente investigou, não quinze, nem quatorze anos como de outra vez dissera, mas apenas treze, e nesse caso o significado numérico será o que reproduzimos ao lado...
  5. A interpretação a dar ao número XIII em tarot, à carta da Morte que nele simboliza um fim de ciclo permitindo novos começos, é portanto o maçadoríssimo mas inevitável começar de novo: Pelo menos, em tudo o que toque a interpretações, e diremos mesmo mais, designações, diante do documentado...


(Última actualização: 18-10-2008)

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Descobrir a América «não foi um grande momento»

Em notícia veiculada em 14 deste mês pelas agências France Presse, e Lusa, o presidente francês Jacques Chirac considera que a descoberta da América «não foi um grande momento da História» e, por isso, não tem de ser celebrado, atribuindo esse feito aos vikings em vez de a Cristóvão Colombo.

A frase está contida nas Memórias de Jacques Chirac, intituladas "L'inconnu de l'Elysée", livro baseado em entrevistas feitas ao presidente francês por Pierre Péan, posto à venda hoje sábado 17 de Fevereiro, e do qual alguns media franceses se fizeram eco publicando antecipadamente vários extractos.

Chirac, que assegura ter «uma visão geral do mundo» e que assinala que «cada cultura traz à Humanidade algo básico», diz da presença espanhola na América: «Não tenho admiração por essas hordas que ali foram para destruir».

Rota Viking da Descoberta da América

Afirma que as autoridades espanholas lhe pediram numa ocasião para participar na celebração deste acontecimento, embora sem especificar em que altura (que seria no entanto o 5º centenário da morte de Cristóvão Colombo o ano passado) e recorda que uma vez o rei João Carlos lhe telefonou, «surpreendido» por essa atitude.

Chirac respondeu ao rei que, na sua opinião, a chegada de Cristóvão Colombo à América «não é um grande momento da História», e afirma que os vikings chegaram a este território cinco séculos antes, teoria defendida por alguns historiadores.

Os vikings «não causaram tanto alvoroço e, além disso, tiveram a elegância de se destruírem a si próprios», salienta na obra o chefe de Estado francês.

Entretanto o jornal diário monárquico e conservador espanhol "ABC" já manifestou a sua indignação perante o que classificou de "ignorância pérfida" do presidente francês.

Ignoramos ainda quais as reacções italianas a estas desassombradas declarações.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Cristóvão Colombo - Salvador Fernandes Zarco ou Salvador Henriques Zarco?

Acredito que Cristóval Cólon era filho do Infante D. Henrique...
«TESE DE MANUEL ROSA [Picoense]: “Colombo, espião e português”», entrevistado por Rui Messias, Diário Insular, Angra do Heroísmo, 11 Fev. 2007.


Houve um autor que desejou que Cristóvão Colombo tivesse origens nobres e por isso atribuiu-lhe como progenitor o infante D. Fernando, baptizando-o – ou circuncidando-o – com o nome de Salvador Fernandes Zarco.
Nesta tese existe pouca coisa de coerente e racional, mas se há algo de lógico, por retorcido que seja, é o patronímico Fernandes, que significa filho de Fernando.
Manuel Rosa apoia firmemente esta posição, achando ser a melhor hipótese para o verdadeiro nome de Cristóvão Colombo português. No entanto, vem agora dizer crer que o Almirante era filho (necessariamente tardio) do infante D. Henrique, pondo de lado o pouco que de lógico havia na certeza do primeiro autor acima referido: o Fernandes.
Assim, seguindo esta linha de raciocínio – que se sabe ser muito fraco –, a hipótese mais provável para o nome secreto português do descobridor do Novo Mundo deverá ser Salvador Henriques Zarco, já que Henriques é o patronímico de... Henrique.
Este novo nome deita por terra o esforço de decifração cabalística que levou ao Fernandes, tal como também já tinham caído por terra todos os outros nomes anteriores originados pelo mesmo processo irracional. Uma outra alternativa é voltar à lúdica Cabala e tentar sacar dela novos designativos, caso em que teremos certamente um patronímico Henriques, embora ainda não se consiga imaginar que outros nomes e apelidos o poderão acompanhar.

Esta é a minha contribuição para o aumento da confusão da onomástica colombina, a qual regista já – e enunciando rapidamente de memória – os seguintes nomes: Cristóvão de Colos (e estranhamente não de Cuba), Simão Palha, Salvador Gonçalves Zarco, Salvador Fernandes Zarco e Salvador Henriques Zarco, este último condicionado às considerações feitas no parágrafo anterior.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Cristóvão Colombo inexplicável


Alguém, cujo nome se desconhece, casa com Filipa Moniz, nascendo dessa união Diogo Colombo.
Diogo Colombo é levado para Castela por Alguém que é seu pai.
Alguém em Castela torna-se Cristóvão Colombo.
Cristóvão Colombo por várias vezes vem a Portugal onde ninguém o identifica como o marido de Filipa Moniz.



E qual o papel de Diogo no meio de tudo isto?


Corolário em forma de aditamento (15-2-2007 1:52):

1. Filipa Moniz é tão importante que ninguém na época se lembra de fazer essa associação.
2. Cristóvão Colombo de alta estirpe da nobreza, digo, da realeza portuguesa é irreconhecível por todos os que o avistam e dele dão notícia.



Continua-se a perguntar qual o papel de Diogo no meio de tudo isto?

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Patrocínio Ribeiro - O carácter misterioso de Colombo (3)

RIBEIRO, Patrocínio. O Carácter Misterioso de Colombo e o Problema da sua Nacionalidade, Coimbra, Imp. da Universidade, 1916, Sep. Academia de Sciencias de Portugal, 1 série, t. 5.

Texto Integral


Mas a nacionalidade portuguesa de Cristóvam Colombo – afirmada pela carta de Toscanelli e confirmada pela de D. João II – é esclarecida, ainda, por outras pontos comprovativos, por factos históricos que vou enunciar transcrevendo, primeiramente, para elucidação preambular das minhas deduções o que diz o ilustre escritor J. A. Coelho, eruditíssimo autor da «Evolução geral das sociedades ibéricas», que Teófilo Braga cita na sua «Historia da Literatura Portuguesa»:

«... é lusa e bem lusa a ideia, levada definitivamente à pratica, de uma navegação atlântica, científica, sistematicamente realizada, e tendo por objectivo – numa primeira fase devassar os mistérios do Oceano, e numa segunda, relacionar o Levante e o Ocidente, e portanto, substituir por uma nova, linha de comunicabilidade de carácter atlântico a simples artéria de carácter mediterrâneo que se alargava, passando pelos desertos, desde o Indo às Colunas de Hércules. Esta concepção, verdadeiramente nova, de carácter aventuroso e essencialmente marítimo, nunca poderia sair do cérebro dum castelhano, pois estava isolado na cerrada continentalidade do seu planalto... Na Península, só a podia criar o Lusitano, porque ocupava uma situação verdadeiramente insular... franca e largamente atlântica... Por isso, apesar da América ter sido descoberta por um homem de génio ao serviço de Castela, não foi do cérebro do Castelhano que despontou essa ideia; ... criada sob La influencia da alma lusa, levaram-lha de fora, encontrou mesmo por parte do génio castelhano dura e intransigente aposição e, francamente aceita, só o foi por uma mulher superior – a grande Isabel, a qual bisneta do grande Mestre de Avis, era de alguma maneira a nobre e digna representante do génio luso em terras de Castela» ([1]).

Posto isto, vejamos pois.

O maior amigo de Colombo, o seu grande amigo íntimo, foi um frade português que, se estava de posse do segredo confidencial da descoberta, havia de estar, evidentemente, bem informado também sobre a verdadeira personalidade do descobridor do Novo Mundo.

É pena que nada deixasse escrito sobre o assunto esse modesto franciscano, que os historiógrafos têm confundido com outro religioso chamado frei João Perez, quando afinal as suas entidades são perfeitamente distintas.

Colombo – numa carta endereçada aos monarcas de Castela – referiu-se a este seu dilecto amigo duma forma que, de futuro, destruirá todas as dúvidas que ainda prevaleçam no espírito indeciso dos investigadores:

«Ya saben Vuestras Altezas que anduve siete años en su côrte importunandoles por esto; nunca en todo este tiempo se halló piloto ni marinero, ni filosofo, ni de otra ciencia que todos no dijesen que mi empreza era falsa; que nunca yo hallé ayuda de nadie, salvo de Fray António de Marchena, después de aquella de Dios eterno» ([2]).

A oposição singular que o navegador encontrou na côrte de Isabel, a católica, – especialmente dum cortesão de grande influência e muito devotado ao soberano português, Hernando de Talavera, – afim de lhe ser concedida autorização para o seu empreendimento, é bem sintomática; D. João II sabia, tudo quanto se passava em Castela, dentro e fora da côrte; refere Resende que a espionagem diplomática; paga pelo ouro, português, era exercida até pelos próprios castelhanos de destaque em cargos oficiais do paço, «de quem recebia muitos avisos bem necessários a seu serviço e estado e ao bem de seus reinos» e «todolos conselhos e segredos lhe eram descobertos primeiro que nenhuma coisa se fizesse». Desta forma se explica que, tendo sabido que um piloto e dois marinheiros se haviam ausentado do reino afim de irem oferecer os seus serviços a Castela, mandasse, pelos seus espias, apunhalar os marinheiros no caminho e trazer preso a Portugal o piloto que foi enforcado em Évora, para exemplo de futuros traidores à pátria. Mas a despeito da oposição tenaz aos projectos de Colombo, oposição que durou anos seguidos, como se sabe, sempre e sempre mais cheia de embaraços de toda a ordem, a viagem foi autorizada, por fim, e o descobridor fez-se ao mar sob o patrocínio de Isabel, a católica. Ora o ousado nauta pôde, afinal, partir da Península para efectuar a descoberta a que se tinha proposto, porquê?

«... porque nesse tempo – é o cronista Garcia de Resende que esclarece, – entre os Reys de Portugal e Castela houve causas e cousas que pareciam de quebra; El Rey alem das lianças que com França mostrava mandou no reino e fora delle fazer grandes e dissimulados apercebimentos que para se segurar da guerra que desejava escusar, por causa da sua doença, muita lhe aproveitaram» ([3]).

No entanto, dias antes do embarque em Palos, os reis de Castela tinham mandado apregoar pelos seus estados que as caravelas que iam enviar-se às Índias não podiam tocar em portos portugueses, aviso este que tanto poderia ser para salvaguarda dos nossos interesses de povo vizinho e evitar complicações previstas como para obstar a uma deslealdade de Colombo de que, de resto, não se livrou da fama, como as suas cartas posteriores o demonstram, suficientemente, muito em especial aquela que dirigiu a Dona Juana, ama do príncipe D. Juan e irmã de Pedro de Torres, secretário da rainha Isabel, a católica:

«Yo creo que se acordará vuestra merced quando la tormenta sin velas me echó en Lisbona, que fui acusado falsamente qué habia ido ya alla al Rey para darle las Indias. Despues supieron sus Altezas al contrario, y todo fue con malicia. Bien, que yo sepa poco: no sé quien me tenga por tan torpe que yo no conozca que aunque las Indias fuesen mias, que yo no me pudiera sustener sin ayuda de Príncipe».

Mas, apesar da recomendação proibitiva dos soberanos Colombo – no regresso – aportou, intencionalmente, a terras portuguesas. Em 18 de Fevereiro de 1493 fundeou nos Açores, no porto de S. Lourenço da ilha de Santa Maria, onde foi pagar uma promessa que fizera à Virgem durante a viagem, a uma capelinha rústica, edificada sobre a rocha, sobranceira ao Oceano vasto que a sua caravela vinha de sulcar pela segunda vez. Depois, aproando novamente à terra portuguesa, entrou a barra de Lisboa, a 4 de Março, subiu o Tejo; fundeou em frente do Restelo, e foi visitar D. João II – que se achava em Vale de Paraíso – que o hospedou, durante três dias, presenteando-o, à despedida, com uma mula como sinal de distinção. E só a 13 de Março é que levantou ferro para se ir a Sevilha levar, aos castelhanos, a notícia estrondosa do seu feito épico.

Não foram apenas os súbditos de Isabel, a católica, que tiveram a honra insigne de ir descobrir o Novo Mundo, nas caravelas, capitaneadas pelo glorioso nauta. Colombo quis levar portugueses consigo, também. Ao certo, não se sabe quantos teriam ido mas numa relação incompleta da equipagem, que chegou até nossos dias, figuram os nomes de dois grumetes, compatriotas nossos, que a imortalidade bafeje:

JOAO ARIAS

filho de Lopo Arias – de Tavira –

e

BERNALDIM

criado de Afonso, marinheiro de João de Mafra.

Relatando uma transacção comercial com os naturais, quando da sua chegada a S. Salvador, escreveu Colombo aos soberanos de Castela: «Vi dar 16 ovillos de algodon por tres ceotis de Portugal, que és una blanca de Castilla...». O ceotil (nome derivado de Ceuta), foi mandado cunhar por D. João I, exclusivamente, em comemoração da primeira empresa marítima dos portugueses à Africa em 1415, de que resultou a conquista daquela praça mourisca para o nosso domínio. O facto de Colombo consignar este episódio da sua primeira viagem – em que figura a pequena moeda comemorativa portuguesa, tem o seu quê de significativo...

Realmente, Colombo só deixou ficar à posteridade escritos seus em latim e em castelhano; mas, nos escritos castelhanos que dele nos restam, a mais superficial análise revela logo que a ortografia de muitos termos é aportuguesada, que bastantes vocábulos são, a rigor, da nossa língua, e que a construção sintáxica – como da era então por esse tempo – é, positivamente, lusitana.

Colombo, que possuía a crença sincera e fervorosa do português do tempo das descobertas, tinha uma devoção especial com o Espírito Santo. Tendo-se em vista o quanto as impressões subjectivas dos primeiros anos actuam na alma plástica, no espírito dúctil, das crianças isto parece até que vincula, etogéniamente, a sua naturalidade insulana. A festividade dos Açores – a mais antiga, a mais tradicional, – é a do «Divino Espírito Santo», que teve a sua origem primitiva na ilha de Santa Maria onde a divinizada pomba, tinha uma capela sob a sua invocação e festejos anuais de grande pompa, já ao tempo da descoberta da América. Se foi, efectivamente; à ermida do Espírito Santo que Colombo foi orar, quando veio do Novo Mundo; e se a ilha de Santa Maria é de facto, a que figura por «insula de Colombi» (ilha dos Pombos) na carta catalã e no atlas inédito italiano da biblioteca Pinelli, a que já fiz referência, talvez se possa esclarecer um pouco o tenebroso mistério colombino, pois as epistolas latinas de Toscanelli, de 1474, chamam-lhe «Christophorus Columbus» (Cristovam Pombo) e o apelido Pombo ainda hoje existe em Portugal...

No descritivo das suas viagens ao Continente Novo ele extasia-se perante as belezas emocionantes da Natureza, exaltando a frescura convidativa: das sombras dos arvoredos, o pitoresco das encostas alcantiladas, a elevação soberba das montanhas colossais, a fragrância penetrante das flores e o canto melodioso dos passarinhos. Isto- caracteriza, profundamente, a alma lírica do lusitano, o espírito contemplativo do português, navegador e poeta.

Quando a má fé dos espanhóis o intrigava com mais bravio furor e maior hostilidade, não lhe permitiram desembarcar na ilha Espaniola nem sequer fazer consertos nos seus navios avariados pelas tormentosas rotas dos mares ocidentais que ele, pelo seu génio luminoso, lhes dera. Naufragou na Jamaica e após ter pedido, com ansiada insistência, varias e repetidas vezes socorros à colónia daquela outra ilha, o governador resolveu-se, afinal, a atendê-lo e enviou-lhe, como viveres, um porco pequeno e um barril de vinho que mandou pôr no meio da praia, recomendando muito que ninguém da sua gente comunicasse com os companheiros do desventurado nauta e, em especial, com ele. Este gesto infame dos castelhanos demonstra um ultraje feito a um compatriota nosso pois é sabido que já por esse tempo portugueses e espanhóis se assacavam, mutuamente, o epíteto depreciativo de marranos (judeus). E por isso, escarnicadores, lhe enviaram a cuba de vinho e o animal excomungado em que o israelita não pode tocar.

Daí a razão de Colombo consignar, no seu «Diario», esta frase dolorida referindo-se a si próprio: – «O que te esta sucedendo agora é a recompensa dos serviços que prestas-te a outros amos». Outros amos São os reis de Castela, porque o seu verdadeiro amo era o rei de Portugal.

E, por essa ocasião, escreveu também: – «Quem, depois de Job, não morreria de desespero ao ver que, apesar do perigo que corria a minha vida, a de meu filho, a de meu irmão, a dos meus amigos, nos vedavam a terra e os portos descobertos a preço do meu sangue? A preço do seu sangue?!... Sim, a preço do seu sangue, porque tendo-se insurgido contra a autoridade do seu legitimo rei, D. João II; tivera necessidade de se mascarar de genovês para salvar a vida e evitar a vingança do monarca mas vendo sempre ameaçadoramente, na alucinação remordente da sua deslealdade, o punhal homicida dos espias.

No entanto, reconforta-o a esperança da justiça póstuma, a certeza da futura imortalidade: – «Quando chegaste a uma idade conveniente Deus encheu maravilhosamente toda a terra com a fama do teu nome, e o teu nome tornou-se célebre entre os cristãos». Nada receies, tem confiança. Todas estas tribulações estão escritas no mármore e não são sem motivo».

Era a submissão heróica da raça portuguesa que palpitava nele, essa heróica submissão ao fatalismo do lusitano verdadeiro, essa resignação piedosa perante a fatalidade vendo, unicamente, no que lhe acontecia a interferência súbita de Deus omnisciente, o dedo justo da Providência impondo um desígnio, inexorável. No seu brado vibra a força máscula, o belo estremecimento nervoso que ainda anima o português de hoje, quando pretende arrojar-se a um lance perigoso de que possa sobrevir o fim da vida: – Morra o homem e fique fama!

Por disposição testamentaria, o descobridor do Continente Novo, legou várias quantias a mercadores genoveses e a judeus, residentes em Lisboa, recomendando, porém, que «... hasele de dar en tal forma que no sepan quien se las manda dar». Colombo parece pretender pagar, assim, uma dívida antiga de gratidão – aos genoveses, de quem recebeu, talvez, auxílios monetários ou outros quaisquer, e aos judeus que lhe deram a ilustração, a preparação intelectual, como os seus escritos, todos cheios de citações bíblicas, comprovam. A colónia de mercadores genoveses era então muito vasta e acreditada no nosso país, e os sábios semitas viviam livremente na côrte, apadrinhados pelo rei ([4]). Todavia, Colombo recomenda, misteriosamente, que se não diga quem mandou entregar as quantias legadas. Recearia ele que os contemplados – criaturas honestas, decerto – se recusassem a receber o dinheiro do homem que, por egoísmo, privara a sua própria pátria da glória duma descoberta épica?

Cheguei, finalmente, ao ponto mais importante deste meu estudo histórico-determinativo da personalidade misteriosa do descobridor da América: – a análise do curioso hieroglífico com que autenticava os documentos oficiais, e todos os seus escritos em Castelhano, hieroglífico singular que é a chave do enigma colombino. Colombo não era «Colombo», nem «Colomo», nem «de Colon», pois nunca assim se assinou mas, unicamente, desta maneira inconfundível:

XPOFERENS (Chrispoferens).

Ele deixou muito recomendado, aos seus descendentes, que firmassem sempre com a firma de que tinha feito uso:

«... firme de mi firma la cual agora acostumbro, que és una X com una S en cima, y una M com una A romana, en cima, y en cima dela una S y despues una y griega con una S en cima com sus rayos y virgulas, como yo agora fajo; y se parecerá por mis firmas de las cuales se hallaran muchas y por esta parecera. Y no escrebira sino el Almirante puesto que otros titulos el Rey le desse o gafiasse: esto se entiende en la firma y no en su ditado que podra escribir todos sus titulos como la pluquire; solamente en la firma escrebirá el Almirante» ([5]).

Esta recomendação aos descendentes – certamente para que a firma-hieroglífica se perpetuasse através dos tempos – não deixa de ser significativa num homem tão misterioso, dum carácter tão reservado e tão enigmático, que conforme via o seu nome tornar-se mais e mais célebre «... tanto menos Conocido y cierto quiso que fuese su origen y patria». Ora a assinatura do grande nauta, antes de embarcar para a primeira viagem ao Ocidente, era esta:

.S.

.S. A .S.

XMY

XPOFERENS.

Depois da descoberta – quando entrou na posse de todos os direitos e honras que pelo seu feito ganhara – passou a assinar-se assim:

.S.

.S. A .S.

XMY

EL ALMIRANTE.

Varias escritores de diversas nacionalidades – excepto portugueses, que eu saiba, – têm tentado decifrar o enigma da firma. Entre algumas interpretações que existem impressas, apontarei as duas que conheço, não podendo, porém, precisar os seus autores:

Suplex

Servus Altissimi Salvatoris

Christi Maria Yosephus

Christoforo.

Servus

Sum Altissimi Salvatoris

Xriste Maria Jesus

Xriste Ferens.

O Sr. Dr. Arribas y Turull ao tratar da firma «de Cólon», no seu livro, passou sobre ela como gato por brasas... pois diz, textualmente, isto: «Dejando aparte los multiples significados que se han dada a esta geroglifica firma, segundo mr. Lambert de Saint Bris la traduccion del autografo és la siguiente:

Salva me

Sanctos Altissimi Spiritu

Xristos Maria Josephus

Cristobal.

«Mucho menos laberintico el autografo de su hijo y biografo D. Fernando, podeis contemplarlo en esta nueva proyeccion», etc., etc. E segue divagando, largamente, sobre judeus, voltando a afirmar que «el idioma de Cristobal Colon, no ha sido otro que el castellano», acrescentando ainda que «nada hay escrito en italiano ni en português». Pois vai sofrer a decepção de saber que ele deixou um escrito em português puro – a sua firma hieroglífica!

Ora na firma-hieroglífica do descobridor da América – conquanto pese aos eruditos não há latim; há, muito lusitanamente, isto apenas: X (chris) M () Y (y); juntando depois, de novo, o M com o A central e com o S superior, ligando-se-lhes o S lateral, para qualquer dos lados, se poderá ler: – «Me assy», porque a letra chris (X) tem também, neste caso, o duplo valor de i grego, segundo o seu desenho caligráfico em alguns autógrafos, cujos fac-similes analisei para estudar a minha interpretação. Portanto a firma diz isto, escrito em português – português antigo, português do século XV, mas português autêntico, português de lei, –

«Chrismey me assy»

crismei-me assim, alcunhei-me, denominei-me, adoptei o apelido porque me conhecem, evidentemente.

Mas, se alguma hesitação restar, basta o nome, logo por baixo da firma, para diluir a incerteza e destruir a dúvida.

A palavra XPOFERENS (Chrispoferens) escrita metade em grego XPO (Chrispo) e metade em latim FERENS (o que leva) foi inventada pelo misterioso nauta para achar equivalente próprio ao seu nome de baptismo «Chrispouam» ou «Xpouão» (Cristóvam), segundo a ortografia da época; ora o vocábulo Cristóvam é de origem portuguesa, e a sua significação literal diz: – o que conduz Cristo, o que vai com Cristo, o que leva Cristo. Logo se quisesse assinar-se em latim, escreveria Christophorus, em italiano Christoforo, em castelhano Christobal, e em galego Christobo. Porém, – como era português e não podia assinar o seu nome correctamente (Xpouão ou Chrispouam), que seria revelar a sua verdadeira pátria, – inventou então uma palavra onde entram duas línguas clássicas querendo assim simbolizar nela, talvez, a sua linguagem natal – a nossa bela língua, a língua de Nuno Álvares Pereira, de Gonçalo Velho Cabral, de Fernão Lopes, derivada em grande parte do grego e do latim!



[1] V. Historia da Literatura Portuguesa – Segunda Época: Renascença, pág. 20-21, Porto, 1914, por Teófilo Braga.

[2] «Todo esto engendró nueva ansia y golosina en Cristobal Cólon (que de suyo era, aunque pobre, de anima alentado para emprender este descubrimiento, pero no tenia el con que executarlo. Aviendo se aconsejado cõ su hermano Bartolomé Colon, y con uno Relegioso llamaao Fray Juan Perez de Marchena, del Monasterio de la Rabida del Orden de San Francisco, Portugués de nacion, que sabia algo de Cosmografia y con parecer y acuerdo suyo fué a valerse del favor del Rey don Juan de Portugal, que no lo oyó como el quiera...», etc. V. Historia general de la Orden de Nuestra Señora de la Merced, vol. 2.º, cap. VI. pág.89, por Frei Alonso Remon, mercenário.

Neste cronista monástico o nome do frade Marchena não condiz com o dos seguintes documentos, mais antigos, que ,confirmam o da carta de Colombo, com todo o rigor:

«Nos parece que seria bien llevasedes con vos un buen estrologo y nos parescio que seria bueno para esto Fray António de Marchena, porque és buen estrologo, y siempre nos paresció que se conformaba con vuestro parecer».

V. «Carta mensajera», dirigida pelos reis católicos ao Almirante, em 25 de Setembro de 1493, dando-lhe várias instruções para a sua segunda viagem ao Novo Mundo, publicada, nos «Documentos Diplomáticos», por Navarrete.

Las Casas – na sua «Historia general de las Índias», parte 1.ª, cap. XXXII, – diz também:

«Segundo parece por algunas cartas de Cristobal Colon escritas por su mano (que yo he tenido en las mias) á los Reys desde esta isla Espaniola, un relegioso que habia por nombre Fray Antonio de Marchena, fué el que mucho le ayudó, á que la Reyna se persuadiese y aceptase la peticion. Nunca pude hallar de qué Orden fuese, aunque creo que fuese de San Francisco, por cognoscer que Cristobal Colon después de Almirante siempre fué devoto de aquella Orden. Tampoco pude saber cuando, ni en qué, ni como le favoreciese ó que entrada tuviera con los Reys el ya dicho Padre Fray Antonio de Marchena».

[3] V. «Chronica de D. João II», respectivamente, cap. CLXVIII, CLXIX e CLXIV.

[4] Mestre António, cirurgião-mor do reino, era judeu, e ao tornar-se cristão-novo foi seu padrinho de baptismo o próprio monarca, segundo refere Resende no cap. XCI da «Chronica de D. João II».

O físico-mor de D. João II era um judeu, mestre Rodrigo, que tinha grande ascendente sobre o soberano.

O grande «estrolico judeu» Abraham-ben-Samuel Zacuto, professor de astronomia e matemática e autor do «Almanach perpetuus», veio para Portugal a convite de D. João II, que o nomeou astrónomo real.

Mestre Josepo Judeu ou José Vizinho era astrónomo de D. João II e médico da Junta dos Matemáticos; em 11 de Março de 1485 achava-se próximo da Serra Leoa, pois fôra à Guiné de propósito para determinar algumas latitudes, segundo uma nota marginal de Bartolomeu Colombo, irmão do descobridor, no livro «Historia Papae Pii» (Veneza, 1477) que se achava presente quando foi recebido o relatório. Convêm notar aqui, de passagem, que este irmão de Cristovam, parece que tinha algum emprego oficial, e que ainda o desempenhava em 1485.

[5] V. o testamento do imortal navegador, publicado por Navarrete na «Coleccion de los viajes», etc. vol. 2.º

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Novidade editorial – Cristóvão Colombo



QUENTAL, Roiz do. Cristovam Colom / Cristóbal Colon – esse (des)conhecido?, Dezembro de 2006.

Do advogado albicastrense, mais um livro a defender a nacionalidade portuguesa de Cristóvão Colombo (via e via).

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Patrocínio Ribeiro - O carácter misterioso de Colombo (2)

RIBEIRO, Patrocínio. O Carácter Misterioso de Colombo e o Problema da sua Nacionalidade, Coimbra, Imp. da Universidade, 1916, Sep. Academia de Sciencias de Portugal, 1 série, t. 5.


Texto Integral


*
* *

A personalidade íntima de Cristóvam Colombo é muito tenebrosa mas a sua individualidade heróica é fulgurantíssima.
Este homem superior – que era um persistente, um obstinado, um tenaz, – oferece o fenómeno pouco trivial do génio inato.
A sua decisão inabalável em levar a efeito a descoberta, teve todos os característicos mórbidos dum grande caso de impulsivismo místico.
A sua viagem reveladora foi uma alucinação maravilhosa.
Nenhum homem célebre teve, como ele, a previsão do seu destino; nenhum outro se submeteu, com ar mais resignado, aos desígnios imperiosos do fatalismo.
Foi sobretudo a Fé, a sua singular fé ardente, o grande motivo moral que o impeliu através do Oceano para as regiões ignotas porque Colombo julgava-se um predestinado, um iluminado do Espírito Santo ([1]).
Mas não foi este o primeiro caso de tenacidade heróica que surgiu no mundo, em fins do século XV. Na segunda metade do século anterior aparecera Nuno Álvares Pereira.
Ora entre o génio de Colombo, o herói do Novo Mundo, e o génio de Nuno Alvares, o herói de Aljubarrota, – cada um no seu campo de acção – as manifestações impulsivas de concepcionismo e maneira de executar são análogas.
Fisicamente pareciam-se, e moralmente são duma semelhança flagrante.
Ambos eram rudes de carácter, pouco amáveis na conversa, sendo no entanto afáveis quando queriam e exaltados quando se irritavam.
Ambos tinham uma confiança ilimitada na protecção de Deus e nos desígnios do Céu.
Ambos possuíam a crença cega, a abrasada fé, e essa loucura épica que gera os actos de heroísmo.
Ambos fizeram a preparação metódica do seu génio pela leitura antecipada: – Nuno Álvares bebeu a sua iniciação de guerreiro no livro famoso «História de Galaás», Colombo a de descobridor no famoso livro de Marco Polo, «Viagens».
Apesar do meio ambiente pretender sufocá-los, o lema de ambos foi este – Efectuo!
E se apenas um homem – D. João I, – compreendeu Nuno Álvares, apenas um outro homem – frei António de Marchena – compreendeu Colombo.
E se um ouviu objecções dos tímidos, pelo seu piano, o outro também as ouviu dos incrédulos, pelo seu.
Nuno Álvares insurge-se contra os que condenavam a batalha; Colombo irrita-se contra os que condenavam a empresa.
Nuno Álvares volta as costas ao rei e sai de Abrantes para pôr em prática a sua ideia, Colombo teve de voltar as costas aos portugueses para poder executar a sua.
Nuno Álvares escreve, de Abrançalha, a D. João I convidando-o a deixar à Posteridade um nome glorificado, imorredoiro; Colombo, fazendo o mesmo convite escreve, de Sevilha, a D. João II.
Nuno Álvares chegou a um entendimento com o seu rei, mas o rei de Portugal não chegou a um acordo com Colombo, porque Colombo exigia muito para si e Nuno Álvares, desinteressadamente, só solicitara a adesão do monarca.
Colombo foi considerado louco pela sua proposta, também Nuno Álvares o fôra pela sua temeridade.
Ambos foram combatidos pelas pessoas sensatas, e eles ambos tinham razão como, a final, se viu.
E se Nuno Álvares, tenaz, empunhando a espada se defrontou com a Vitoria, Colombo, tenaz, manejando o leme defrontou-se com a Glória.
Ambos se imortalizaram pelo seu feito, ambos são gloriosos, ambos enaltecem a sua raça, pois ambos tinham esse supremo espírito guiador que faz conduzir os povos ao fatalismo dos seus grandes destinos, e essa mão poderosa que inscreve a História heróica da Humanidade através dos tempos.
Foi, exclusivamente, o fervor da crença que incitou estes dois homens superiores; por isso ambos, reverentes, agradeceram à Virgem a graça excelsa dos seus feitos épicos joelhando – cousa curiosa! – sobre o mesmo solo bendito – o solo do nosso país, o solo da terra portuguesa.
Após a batalha ganha, Nuno Álvares orou em Aljubarrota; Colombo, com a descoberta efectuada, veio orar numa ilha dos Açores.
Mas o descobridor do Novo Mundo apesar de ter sido um espírito abertamente crente foi, também, uma criatura excessivamente misteriosa, pois ocultou sempre os seus antecedentes, não revelando nunca a sua pátria verdadeira nem a sua verdadeira família durante a sua permanência em Castela, parecendo até que quanto mais subia em dignidades «tanto menos conocido y cierto quiso que fuese su origen y pátria», como o declara seu filho Fernando.
Ora é pela análise sintética do carácter misterioso de Colombo – servindo-me, é claro, dos documentos históricos, que eu vou tentar resolver o problema da sua nacionalidade.
Em Portugal, que me conste, não há em cronistas nem em documentos inéditos referência alguma aos Colombos, italianos, ou aos Colons, espanhóis.
Rui de Pina alude, apenas, a um famoso corsário francês, chamado Cullam, que tendo feito reverência a D. Afonso V, em Lagos, o ajudou depois na defesa de Ceuta; contra os mouros ([2])
Segundo o visconde de Santarém, na carta catalã da biblioteca de Paris e no atlas inédito da biblioteca Pinelli, do século XIV, encontram-se as ilhas dos Açores designadas com nomes italianos, e entre elas uma chamada – Li Colombi ([3]).
Rui de Pina e João de Barros só se referem a Cristóvam Colombo pelo feito que o celebrizou, mas duma forma muito breve e vaga, acentuando, porém, este último historiador, depois de lhe enaltecer os méritos de homem do mar, – que «ele era muito esperto».
Historicamente sabe-se que o descobridor da América casou com uma dama da aristocracia portuguesa de quem teve um filho e que, acompanhado deste abandonou Portugal dirigindo-se a Sevilha, parece que de maneira oculta, como um fugitivo, mas desconhecem-se os motivos verdadeiros porque assim procedeu.
Pela primeira vez, eu vou procurar explicar, pelo lado mais racional, essa saída misteriosa de Colombo do nosso país baseando-me, exclusivamente, na teoria das hipóteses onde, de resto, se tem baseado, também, toda a enorme bibliografia colombina, como é notório.
Consta que o denodado nauta – irritado contra D. João II – saiu de Portugal, às escondidas, pobremente vestido, e como mercador de livros, de estampas ou de atlas de mapas geográficos, dirigindo-se a Sevilha; mas a data deste facto não é determinada, com precisão, pelos historiógrafos indicando uns um ano e outros outro, hipoteticamente.
Vejamos se se poderá fazer luz sobre este obscurecido ponto.
Segundo Fray Bartolomeu de Las Casas, o descobridor do Novo Mundo, encontrando-se na ilha Espaniola, escreveu uma carta aos reis de Castela – carta que reproduz na sua «Historia general de las Indias» – onde, entre outras cousas, diz o seguinte, referindo-se à descoberta:

«Ya saben vuestras Altezas que anduve siete años en su côrte importunandoles por esto».

Ora Colombo embarcou para a sua prime ira viagem em 3 de Agosto de 1492, no porto de Palos; retrocedendo sete anos, desde 1492, da a data 1485 ano em que, evidentemente, foi apresentado na côrte de Isabel, a católica.
O historiador Bernaldez chega mesmo a indicar o dia: 20 de Janeiro, do referido ano ([4]).
Navarrete, nos «Documentos Diplomaticos», publica uma carta do Duque de Medinaceli, escrita em 19 de Março de 1493 dirigida ao grã cardeal de Espanha para que este peça à rainha autorização para ele poder enviar cada ano, duas caravelas suas às novas terras descobertas por Cristobal Colomo, como lhe chama, «que se vénia de Portugal y que se queria ir al Rey de Francia para que se empreendiesese de ir a buscar las Índias».
Alega o duque, para justificar a pretensão, os seus serviços anteriores à coroa, nesta passagem interessante da carta:

«... a mi cabesa y por yo determinarle em mi casa dos años, y haberle enderezado a su servicio, se ha hallado tan gran cosa como esta».

Por conseguinte, os sete anos de solicitações a que alude Colombo, pela sua parte, com os dois anos que viveu em casa de Medinaceli, antes de ser apresentado na côrte, perfazem a soma de nove anos de permanência em Castela; retrocedendo, pois, desde que embarcou para a sua primeira viagem temos 1483, ano em que saiu de Portugal e entrou em Espanha, segundo os meus cálculos.
Referem os historiadores que D. João II rejeitara as propostas de Colombo, depois de ter mandado analisá-las pela junta dos cosmógrafos do reino, que se pronunciou contra a empresa, mas parece mais crível que o monarca se não conformasse com o que o navegador exigia para si pela descoberta, descoberta de que – segundo diz Las Casas – estava tão seguro como se a tivesse já na mão.
Ora no dia 3 de Março de 1483, Ferdinand van Olm, capitão da ilha Terceira (Açores), foi autorizado por D. João II a tentar a descoberta das fantásticas «ilhas das sete cidades e terra firme», que se imaginava que ficassem para o poente, no rumo ocidental do Atlântico ([5]).
É natural que esta autorização do rei descontentasse Colombo ao ter conhecimento do facto, e daí se tornasse inimigo figadal do monarca, colocando-se ao lado dos partidários do duque de Bragança D. Fernando, – que conspirava então contra a soberania real – isto motivado pelo despeito de ter sido preterido em benefício de outro ou por promessas de antemão feitas de poder realizar a planeada descoberta logo que este fidalgo conseguisse os seus fins.
Mas a conspiração foi descoberta a tempo, por uma casualidade, e o rei informado dela por denúncia.
Os conjurados trataram de salvar a vida passando a fronteira, fugindo para Castela, França e Inglaterra; e o Bragança, descoberto, foi imediatamente preso, julgado num processo sumário, e executado no cadafalso de Évora, a 21 de Junho de 1483.
Colombo, comprometido também, – mas como «era muito esperto», no dizer do cronista, – muito provável que se disfarçasse em vendedor de livros de estampas ou álbuns de mapas geográficos e fazendo-se passar por genovês, auxiliado um tanto pelo seu físico de homem de tez rosada e cabelo louro, conseguisse chegar até casa do duque de Medinaceli, na Andaluzia, sem ser apanhado na fuga e onde se conservou oculto durante dois anos, enquanto os ares andaram turvos para os que haviam conseguido escapar-se de Portugal a salvo.
Foi na mesma casa protectora de Medinaceli que se acolheu o refugiado político português D. Afonso, conde de Faro, irmão do Bragança executado em Évora, para escapar à vingança que D. João II jurara à nobreza conspiradora, pois uma filha sua era casada com o duque.
E, assim, comeram ambos o pão amargo do exílio sob o mesmo tecto andaluz: o fidalgo português de ascendência nobre – irmão dum duque e sogro doutro duque – e o mísero plebeu foragido que, mais tarde, havia de dar um Novo Mundo ao mundo!
Entretanto fôra descoberta uma outra conspiração na nobreza. Em 23 de Agosto de 1484, D. João II apunhala, em Setúbal, o duque de Viseu, tido como chefe. Novas prisões, nova revoada de fugitivos para além-fronteiras. Mas desta vez o ouro do soberano paga, largamente, o punhal dos sicários, o veneno dos facínoras. Ai! dos que fossem indigitados pelos espiões do rei! Nem o próprio país estranho valia de refugio, nem a própria terra estrangeira evitava a morte violenta! Como uma maldição, seguia os fugitivos, cheios de pavor, galopando à morte esta praga condenatória do monarca: Quiseste matar-me?! Morrerás... E o Príncipe perfeito executava na perfeição, pela Europa fora, a caça ao homem...
Afim de evitar o ódio vingativo do rei, que os perseguia por toda a parte, muitos dos exilados tiveram de usar o velho estratagema de mudar de nome, o que nem sempre surtia efeito como sucedeu a um fidalgo dos da conjura que tendo conseguido passar os Pirinéus, sob um suposto nome francês, mesmo assim foi reconhecido e apunhalado em Ruen.
É muito natural, pois, que o futuro descobridor da América houvesse de usar do mesmo estratagema, para segurança pessoal, dizendo-se de Génova e fazendo constar que se apelidava Colomo, pois é com esta ortografia que figura na primeira verba da pensão que recebeu na côrte de Isabel, a católica, ortografia que, de resto, é do próprio escrivão.
Pelo que deixo exposto não é arriscado concluir-se que Colombo era cúmplice na conspiração contra D. João II, e tanto assim parece que a seguinte carta, conservada preciosamente por ele entre os seus papéis, é bem significativa porque tem todo o teor dum salvo-conduto, concedido a quem tinha culpas muito graves no cartório régio:

«A Christovam Colomo, noso especial amigo em Sevilha.
«Cristobal Colon.
«Nos Dom Joham per grasa de Deos Rey de Portugall e dos Algarbes; daquem e dallem mar em Africa, Senhor de Guinee vos enviamos muito saudar. Vimos a carta que nos escrebestes e a boa vontade e afeizaon que por ella mostraaes teerdes a noso. serviso. Vos agradecemos muito, Emquanto a vosa vinda cá, certa, assy pollo que apontaaes como por outros respeitos para que vossa industria e bõo engenho nos será necessario, nós a desejamos e prazer-nos-ha muyto de que viesedes, porque em o que vos toca se dará tal forma de que vos devaaes ser contente. E porque por ventura terees algum rezeo de nossas justizas por razaon dalgumas cousas a que sejaaes obligado, Nós por esta nossa Carta vos seguramos polla vinda, estada, e tornada, que não sejaaes preso, reteudo, acusado, citado, nem demandado por nenhuma cousa ora seja civil ora criminal, de qualquer cualidade. E por ella mesmo mandamos a todas nosas justizas que o cumpram assy. E portanto vos rogamos e encommendamos que vossa vinda seja loguo e para isso non tenhaaes pejo algum e o tereemos muito em servizo. Scripta em Avis a vinte de Marzo de 1488.

El Rey» ([6]).

Por esta carta de D. João II em resposta à de Colombo, que não se encontrou, pode ver-se que o monarca não se dirigia a um genovês e sim a um vassalo seu que residia no estrangeiro por «rezeo de nossas justizas».
É muita para lastimar que a carta de Colombo se tivesse perdido nos nossos arquivos, pois talvez ela esclarecesse o receio a que o rei se refere...
Assim, esta carta do rei de Portugal – confrontada com a de Paulo Toscanelli, de 1474, – explica, duma maneira bem clara, o motivo porque o célebre cosmógrafo florentino chamou português a Colombo, tendo-lhe sido feita a apresentação deste pelo italiano Giraldi; Giraldi, que, evidentemente, devia conhecer a verdadeira nacionalidade do indivíduo de quem fazia a apresentação indicou-a, decerto, a Toscanelli pois só assim se explica a razão dos elogiosos termos da carta do sábio, enaltecendo a nação portuguesa e os seus homens ilustres entre os quais já inclui Colombo o qual – se bem que já manifestasse disposições de navegar para o Ocidente – vivia ainda em Lisboa, muito modesto e obscuro ([7]).
Logo o nauta imortal que descobriu a América era um português ao serviço da Espanha – como Fernão de Magalhães e outros – para honra e glória da nossa pátria, para maior celebridade da nossa terra de heróis do mar, de descobridores intrépidos, de navegantes arrojados, que, – sulcando os Oceanos em todos os rumos – foram levar aos confins do mundo a emissão sonora da sua linguagem fortemente nasalada, o fervor rútilo da sua grande fé cristã, e a rútila corroboração do seu génio ousado!


[1] Cristóvam Colombo escreveu uma obra muito curiosa, que deixou inédita, intitulada – «Libro de las Profecias» – onde se jactava de ter sido escolhido do Céu para descobrir o Novo Mundo; nesse livro de pseudorevelação divina há períodos interessantíssimos como, por exemplo, estes dois:
«Quien dubida que esta lumbre no fue del Espirito Santo, asi como de mi, el cual con rayos de claridad maravillosa consola con su santa y sacra Escritura a voz muito alta y clara con 44 libros del Viego testamento, y 4 Evangelios con 23 epistolas daquellos bienaventurados Apostolos avivando-me que yo proseguiese, y de contino sin cesar un momento me avivan com gran priesa?»
«... e digo que no solamente el Espirito Santo revela las cosas de por venir a las criaturas raionales mas nos las amuestra por señales del cielo, del aire y de las bestias cuando le aplaz».
Como se sabe a prioridade da descoberta da América foi-lhe contestada pelos seus próprios contemporâneos que a atribuíam a um piloto náufrago que lhe fornecera elementos a ponto de ele poder efectuá-la, mais tarde, como ideia exclusivamente sua. Essa insinuação absurda, que tinha em vista obscurecer o mérito do grande navegador, criou raízes no seu tempo tanto que ele escreveu o «Livro das Profecias» para se justificar e fazer emudecer os seus detractores, procurando demonstrar que a previsão da descoberta lhe fôra sugerida pelo próprio Espírito Santo. Ainda hoje, em Portugal, quando alguém efectua alguma cousa imprevista cuja decisão súbita é posta em dúvida, parecendo ter sido anteriormente segredada por outrem, se diz por ironia: – «Parece que teve Espírito Santo... de orelha!» Remontará a origem desta frase ao tempo de Colombo?
[2] V. «Chronica del Rey Dom Affonso V», cap. CLXIV.
[3] V. «Saudades da Terra», de Gaspar Frutuoso, edição anotada por A. Azevedo.
[4] V. «Cristobal Colon, natural de Potevedra», por Arribas y Turull, 1913, pág. 41.
[5] Foi algures, parece-me que, salvo erro, dum artigo sobre Martim de Boémia, publicado na «Revista Portuguesa Colonial e Marítima», que copiei a seguinte nota: «Em 3 de Março de 1483 foi Fernão Dulmo (Ferdinand van Olm) capitão da ilha Terceira, autorizado por D. João II a tentar a descoberta das fantásticas «ilhas das sete cidades e terra firme». Posteriormente associou-se este com João Afonso Estreito, sendo em Lisboa sancionado o seu contracto, para este fim, pelo rei em 24 de Julho de 1486. Deviam ser equipadas duas caravelas para largarem da ilha Terceira em 1 de Março de 1487. Parece que nunca se levou a efeito porque desta tentativa nada se sabe».
Virá daqui a origem dessa lenda – que alguns historiógrafos referem – de que D. João II, tendo simulado rejeitar a proposta de Colombo por inexequível, mandara, secretamente, caravelas suas em busca das terras ocidentais?
[6] V. o texto desta carta em Navarrete, «Coleccion de los viajes y descubrimientos», etc. e em Teixeira de Aragão, «Memoria acerca do descobrimento da América», 1892. Luciano Cordeiro, que a transcreveu a pág. 17 do seu opúsculo «De la découverte de l’Amérique», 1876, anota-a nestes termos: «Cette lettre n’est pas une invitation comme l’ont dit toutes les biographes de Colomb. C’est, au contraire, une aceptation». Anteriormente assim o notara, também, Pinilla designando-a por «aceptation obligeante».
[7] V. o texto da carta de Toscanelli na obra de Hernan Colon, «Vida del Almirante» e nas notas da «Historia Universal», de Cesar Cantu. Como a autenticidade da correspondência havida entre o descobridor do Novo Mundo e o cosmógrafo italiano fosse posta em dúvida por Mr. Enrique Vignaud no seu livro «La carta y el mapa de Toscanelli sobre la ruta de las Indias por el Oeste, enviadas en 1474 al portugués Fernán Martins, y trasladados más tarde a Cristobal Colon», D. Celso García de la Riega defende-a, calorosamente, num interessante artigo «Colon y Toscanelli», publicado em 15 de Agosto de 1903, em «La Ilustration Española e Americana».

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Colombo porque genovês NÃO tem que ser o Colombo tecelão

Continuamos a verificar no mundo da Pseudo-História em Portugal uma deliberada tendência para identificar a informação coeva, portuguesa e internacional, da naturalidade de Colombo como sendo italiana, e dos Estados de Génova, com aquela mais tarde produzida pela historiografia do sc. XIX, no tempo da história nacionalista, a que chamam do "Colombo tecelão". Esta última vem procurando documentá-lo desde então como tendo vivido na própria cidade de Génova. É a tese clássica oitocentista ainda ensinada em Itália, e nos EUA, a que os italianos hodiernos começam a chamar de tese purista, como referimos em artigo anterior neste blogue.

Sendo o nome Colombo comum em Itália, e existindo documentadas homonímias entre vários Colombos quatrocentistas, chamam os da Pseudo-História a este Colombo da cidade de Génova de Colombo tecelão, aferrando-se a que é a este que a historiografia portuguesa se refere...

No entanto, como já aqui tínhamos dito desde o início, são duas coisas, dois pontos inteiramente distintos. Podemos documentar que D. Afonso Henriques nasceu português, mas não temos ainda a certeza absoluta, documentada, em qual das localidades nasceu o Conquistador. Guimarães, como dizia a historiografia tradicional? Viseu (2), como tem vindo a procurar documentar o Dr. Almeida Fernandes?

A História faz-se através da análise serena dos pontos em causa, e misturá-los deliberadamente é pura demagogia, ao serviço de interesses mais de advogado hábil, embora talvez não escrupuloso, do que de historiador digno desse nome. E dado vermos persistir esta deliberada confusão em quanto vamos vendo publicar por essa Rede fora, resolvemos como adequado postar estas palavras, apesar de repetidas, a fim de pelo seu título lhes conseguir dar a necessária indexação nos motores de busca. A táctica da Pseudo-História, também nisso semelhante à dos bons advogados de barra, passa por tentar desacreditar as fontes e estudos coevos, atacando especialmente, ao que parece, Rui de Pina. E esquecendo deliberadamente que Rui de Pina conheceu pessoalmente Cristóvão Colombo, e que independentemente das circunstâncias que tenha vivido no seu tempo, como cronista-mor, o seu testemunho é ratificado por todos os outros, internacionais e contemporâneos.

Túmulo do Doutor João Afonso das Regras

Alguns exemplos de falácias passadas a sofismas deste tipo perduraram na História até hoje. Na História de Portugal, um dos mais importantes aparenta ter sido do grande Doutor João das Regras (1), que precisando apresentar às Cortes reunidas em Coimbra o trono português como vago, a fim de fazer eleger o Mestre, discorreu largamente negando a validade dos casamentos de D. Pedro I com D. Inês de Castro, e do Rei Formoso com D. Leonor Teles. Por esse facto singelo, e que na altura conveio ao interesse político do País, continua a não ser devidamente colocado na cronologia dos reinados em Portugal o de D. Beatriz, rainha legítima e efectiva entre 1383 e 1385, sob a regência de sua mãe D. Leonor Teles de Meneses.

Citamos este caso, um entre muitíssimos, tentando demonstrar até que ponto um sofisma se pode assim enraizar, e até que ponto se pode vir a tornar História Oficial. E por isso, tanto os sofismas e falácias do passado consignados ainda hoje nos compêndios escolares, como as novas propostas demagógicas que prentendam estabelecer novas teorias sem pés para andar, como a do Colombo português, devem ser firmememte combatidas.

A persistência desta confusão afigura-se-nos agora já deliberada, e como tal, um sofisma.

----------------
1) Doutor em Leis por Bolonha, enteado do chanceler Álvaro Pais, com quem colaborou na revolução de 1383-85, Protector da Universidade de Lisboa, D. Prior da Colegiada de Guimarães, chanceler-mor do Reino, ficou famoso por ter elaborado a teoria jurídica tendente a demonstrar que a Coroa se encontrava vaga, permitindo a eleição do Mestre de Aviz, nas Cortes de Coimbra. Cf. http://atelier.hannover2000.mct.pt/~pr511/drjoaoreg.html
2) Cf. Fernandes, A. de Almeida (1994) – Viseu, Agosto de 1109 - Nasce D. Afonso Henriques, Viseu, 1993, e http://www.triplov.com/biblos/fernan.htm

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Pestana Júnior: Christopher Columbus, a.k.a. Simão Palha

PESTANA Jr. D. Cristóbal Colom ou Symam Palha na História e na Cabala, Lisboa, Imprensa Lucas, imp. 1928.


Pestana Júnior starts his thesis with a brief critique of Patrocínio Ribeiro, after the short praise required by convention. He allows for some merit on Ribeiro’s part, essentially for having discovered the inversion that enabled him to read Colos – not to have done it would not have gone down very well – but points him out as a poor Latinist and eventually casts aside his main conclusion, one that had been obtained through the use of the supposedly praiseworthy method.
However, Patrocínio Ribeiro will have influenced Pestana Júnior in ways of which the latter was not conscious – or at least did not explicitly admit – in that, such as Ribeiro, Pestana Jr. also lost a few nights around Cristopher Columbus’ sigla.
He doubted the Admiral’s Genoese origin through the reading of contemporary documentation – as did all the others, it should be noted – and was convinced that the mystery – always the mystery – was in his signature – obviously! How do they all get there?
Reflection and critique make him reject XPO FERENS as Christoferens, as this is an unknown way of writing the name Cristóvão. Good at Latin, unlike Ribeiro, palaeography lets him down – as it does many others – and he thus rejects XPO as Cristo, but ends up by embracing the Greek-Latin mixture and reading Cristo – confusing? So it should be!
He questions the function of the cross over XPO and the «“baton” that contains FERENS» - his quotation marks – and it is not anymore Cólon, comma. Pestana Júnior’s palaeography, which had already showed itself to be on the weak side, here sinks irretrievably.
The elaborate method of the mirror set up and developed by Ribeiro leads him to the following salad of Greek characters:

ΧWΛΑS.WΛΧΑS.ΛΑΧΑS.WΧΧΑSW.ΜΥΑ.SWΛYS
XPO FERENS

which, converted into Latin characters – if some of them are not already present above – results in:

colas, olcas, lacas, occaso, mya, solis,
christo ferens


«Ferens» still causes noise in this thesis, since according to the authors mentioned it is not Greek but Latin, which results in the above-mentioned Greek-Latin mixture that will make it possible to arrive at Christopher Columbus’ identity. Later, as has been seen and will further be seen, and in order to lighten up all the darkness surrounding the Admiral, Hebrew elements will also be added.
To return to the Greek text, it translates as follows:
«I am, such as Mya, the one that brings Christendom the precious pearls, the emeralds and the gems through the distant sunset».
Unquote, p. XCIV. I cannot unfortunately ascertain the correction of the translation as it does sound like Greek to me!
To the Latin FERENS at the end of the Greek salad an outlying X is now added. This fact will go on disturbing the author, but he will return to it.
A sudden inspiration emerges. Or was it a revelation?
Says the author, pp. XCV-XCVI: «The possibility then arose of relating Columbus with Miguel Molyart, who in the general study had appeared as an agent for the Perfect Prince (King John II, TN) and who was no other than the owner of the Alvarenga entail, Bernardo de Vasconcelos, married to Violante de Almeida of the Palha family from Évora. At a given moment the metathesis takes place: Colom is simply Colmo = Palha (Straw TN)»
It should be noted that, according to Pestana Jr., Miguel Molyart is an anagram of Bernardo (Brynaldo, in the name’s old form) de Vasconcelos, the Miguel element arising out of another, more far-fetched, anagram which is not relevant here.

To cut a long story short, after a few more pentagonal cabalistical contortions, the final deciphering is arrived at: «That is what you call me, Simão Moniz». And, to add a nice touch, he makes the trace over XPO slide until it crosses the «baton» - and not colon – and obtains «XPO FERENS †» which he reads thus: «Christo ferens crucem». The one that brings the cross to Christ; the Cyrenaic; Simon (pp. C-CI).
One then arrives at Christopher Columbus’ name which is none other than: Simão Palha!


It is all in here.
The falsely-named Columbus, whose true identity is hidden behind a Greek-Latin cabalistical sigla, is no solitary case. Molyart, a.k.a. Bernardo de Vasconcelos, the owner of the Alvarenga entail, is just such an instance. One fraud is thus explained, or rather, justified, with another fraud. If there is one, then there must be two, or better, if there are two, then necessarily there is also one. A piece of incontrovertible evidence, a historical document, who cares? Serendipity and that, I’m afraid, is that.
Another conclusion which, if not then arrived at, will later be taken to extremes, arises from the linking of hasty conclusions which become premises that lead to new and more awe-inspiring conclusions, in a cycle with no foreseeable end in sight.
Miguel Molyart is John II’s agent – and an agent becomes a secret agent.
Miguel Molyart is someone’s alias; so must Christopher Columbus be.
One is an (secret) agent, therefore the other must necessarily be one as well.
And thus is History written.