sexta-feira, 17 de abril de 2009

Se o problema estivesse só na História Local...


... estaríamos nós muito bem!


E acrescentando mais uma reflexão, em que me revejo inteiramente, veja-se

sábado, 11 de abril de 2009

D. João II, Regedor e Governador da Ordem de Santiago

A pseudo-história deturpa frequentemente a nomenclatura histórica de modo a servir os seus interesses; deturpa também a terminologia da época, distorcendo-a de forma mais ou menos grosseira até que esta reflicta os fins a que se propõe desde início.
É o que se passa com o cargo de D. João II na Ordem de Santiago. A pseudo-história afirma-o sistematicamente como sendo mestre dos espatários, quando na realidade a documentação o mostra como «Regedor e Governador» da mesma.
Frequentemente, neste tipo de cargos, a títulos diferentes não correspondem funções diversas, mas mesmo assim reflectem situações, estatutos, intenções ou missões subtilmente desiguais*.
Se não passa pela cabeça de ninguém chamar governador a um vice-rei da Índia, ou vice-versa, então porquê insistir em chamar mestre de Santiago a D. João II ou dona a Filipa Moniz?



Nos o princepe e regedor e governador da hordem cavalaria de Santiaguo destes reynos de Portugal

(...)

O qual alvara de licença em cima scripto eu Ruy de Pina scripvã da camara do princepe nosso senhor e notario pubrico por sua autoridade, trelladey fielmente do proprio original; E porem asyney aquy de meu nome, em testemunho de verdade.
Rui de
Pyna



(TT, CC, 1, 1, 29.)

Como é evidente pela assinatura final, a fiabilidade deste documento é nula, pois, como tem sido afirmado até à exaustão pela pseudo-história colombina, Rui de Pina é um falsário.
Mas se dermos o documento assinado pelo escrivão da câmara do Príncipe Perfeito como autêntico podemos comparar a intitulação de D. João II com a de seu filho bastardo, D. Jorge, e tentar ver nelas as diferenças formais.
Nos o mestre e duque (...)


(TT, CC, 2, 15, 31)


* Quem quiser saber essas diferenças, faça o favor de pesquisar e não esperar que o preto lhe faça o trabalho de sapa.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Bibliografia da controvérsia (07)

  • BARRETO, Augusto Mascarenhas. A Identidade Portuguesa de Cristóvão Colombo – Comunicação, Lisboa, Academia de Marinha, 1990.
Nesta obra, onde Mascarenhas Barreto aparece identificado como professor, são referidos e remete-se para os dois primeiros artigos publicados pelo autor no jornal Correio da Manhã, os quais já foram aqui objecto de apreciação.
Como a maior parte dos escritos deste autor, trata-se dum compêndio de notas soltas, sem lógica discursiva, onde se apresentam dados parciais, deturpados ou fora de contexto para justificar os preconceitos do pretendente a historiador em relação a Cristóvão Colombo. Portanto, a este respeito, nada de novo.
Novo – tanto quanto a cronologia até agora estabelecida dos seus devaneios colombinos permite afirmar – são os epítetos com que Mascarenhas Barreto brinda Paolo Emilio Taviani a quem chama mafioso e mentiroso.
O maior impostor histórico da actualidade, senador italiano Paolo Emílio Taviani... (p. 15).
... Mas isso não passa de um pecadilho venal; pecado mortal é a despudorada fraude que comete ao citar uma frase de Fernando Colón [o que não é verdade!]: «Quis Deus, que o tinha guardado para maior coisa, dar-lhe força para que chegasse a terra»; e relacioná-lo com um extracto da carta que, em 1505, Colombo escreveu ao Rei Fernando «o Católico»: Deus nosso Senhor enviou-me aqui miraculosamente, porque acostei a Portugal (...).» E pronto. Com estas segunda citação, Taviani sugeriu o milagre do naufrágio, mas como todos os mafiosi genovistas não teve pejo em omitir o resto da missiva: «(...) digo por milagre, porque me apresentei ao Rei de Portugal, que entendia mais do que qualquer outro em matéria de descobrimentos, e Deus lhe fechou os olhos e as orelhas e cada um dos sentidos, tão bem que durante catorze anos não me escutou» (p. 15).
... Note-se que a mentira é o prato forte deste «Comissário dos Descobrimentos» (p. 16).
E não vale a pena continuar com maior levantamento de baixezas, bastando afirmar, só para terminar, que é Mascarenhas Barreto quem, neste texto, tem dificuldade em lidar com a verdade dos factos ao esquecer Rui de Pina na cronologia dos autores que dão o nome de Colombo ao Almirante das Índias de Castela (p. 19 e ss.) e que, portanto, dificilmente se trata duma invenção de italianos.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Um sapateiro judeu na realeza ibérica


Muito se tem escrito sobre a impossibilidade da mobilidade social e baseado nisto se refuta categoricamente que alguém, chamado depreciativamente de cardador de lã, possa alguma vez ascender na hierarquia social.
Ora vejamos o caso concreto dum sapateiro cujo neto é duque e o tetraneto monarca:
Isabel, a Católica é filha de Isabel de Portugal, neta de D. Isabel e do Infante D. João. Este era filho de D. João I de Portugal e de D. Filipa de Lencastre.
E quem é a esposa do infante D. João?
A esposa do infante D. João, D. Isabel, era filha do primeiro duque de Bragança, D. Afonso. Este é também filho de D. João I (é portanto, meio-irmão do infante D. João). Mas o mais curioso é ser Inês Pires Esteves, a mãe do primeiro duque de Bragança. Esta era nada mais, nada menos do que uma judia convertida, filha também de dois judeus, Pêro ou Fernão Esteves, o Barbadão sapateiro de Vila Viçosa e de sua esposa Mécia Anes.
Talvez se devesse pensar melhor as sociedades ibéricas no início da Idade Moderna.


(Clicar na imagem para ampliar)