sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Garcia de Resende - Cristóvão Colombo

RESENDE, Garcia de. Crónica de D. João II e Miscelânea, Reimpressão fac-similada da nova edição conforme a de 1798, Lisboa, INCM, imp. 1991.

Texto Integral

CAPITULO CLXV.


De como se descubriram per Colombo as Antilhas de Castella.


No anno seguinte de mil e quatrocentos e nouenta e tres, estando el Rey no lugar de Val de paraiso, que he acima do mosteiro das virtudes, por causa das grandes pestes que nos lugares principaes daquella comarca auia, a seis dias de Março veyo ter a Restello em Lisboa Christouão Colombo, Italiano, que vinha do descubrimento das ilhas de Cipango, e Antilhas, que per mandado del Rey e da Raynha de Castella tinha descuberto. Das quaes trazia consigo as mostras das gentes, e ouro, e outras cousas que nellas auia, e foy dellas feyto Almirante. E fendo el Rey disso auisado o mandou chamar, e mostrou por isso receber nojo, e sentimento, assi por crer que o dito descubrimento era feyto dentro dos mares e termos de seus senhorios de Guine, como porque o dito Colombo por ser de sua condição aleuantado, e no modo do contar das cousas fazia isto em ouro, e prata, e riquezas muyto mayor do que era, e acusaua el Rey por se escusar deste descubrimento, e não no querer mandar a isso, pois primeiro se lhe viera offerecer que aos Reys de Castella, e que fora por lhe não dar credito. E el Rey foy cometido que ouuesse por bem de lho matarem ahy, parque com rua morte o descubrimento não yria mais auante de Castella. E que dando Sua Alteza a isso consentimento se poderia fazer sem sospeita, porque por elle ser descortes, e aluoraçado, podião com elle trauar de maneira que cada hum deftes feus defeitos parecesse a causa de sua morte. Mas el Rey como era muy temente a Deos não somente o defendeo, mas ainda lhe fez honra, e merce, e com ella o despedio.
E cuidando el Rey bem o negocio, e peso deste caso, se foy logo a Torres Vedras, onde logo sobre isso teue conselhos, em que foy determinado, que armasse contra aquellas partes hüa grande armada, que logo mandou fazer com grande diligencia, e fez capitão mor della dom Francisco Dalmeyda, que depois foy o primeiro Visorey da India, homem de de muyta confiança, e muyto bom caualleiro, e sendo ja a armada prestes chegou a el Rey hum mensageyro del Rey e da Raynha de Castella, os quaes por serem certificados que a dita armada hia contra outra sua que logo la auia de tornar, mandarão requerer a el Rey que a não mandasse , ate se ver per direyto, em cujos mares e conquistas o dito descubrimento cabia. Pera o qual mandasse a elles seus embaixadores e procuradores com todalas cousas que fizessem por seu titulo, e segundo razão e justiça elles se justificarião, e concertarião como fosse direyto. Pollo qual el Rey deixou de mandar a dita armada, e sobre isso mandou logo aos ditos Reys o doutor Pero Diaz, e Ruy de Pina, que da verdade bem enformados forão a elles, que estauão em Barcelona, ao tempo que per el Rey Carlos de França se fez a segunda concordia, e entrega de Perpinhãa, e do Condado de Roselhãa em Catalunha. E os ditos procuradores não tomarão com os ditos Reys concrusão algüa, e a causa foy por lhe socederem assi prosperamente suas cousas com França, e principalmente porque antes de tomarem concerto sobre a dita conquista, ilhas, e terras, quiserão outra vez ser certificados de toda a verdade dellas, e de tudo o que nellas auia, pera que ja tinhão enuiado seus nauios, que ainda não erão tornados, porque segundo fosse a estima das ditas terras assi se concertarião, e pera dilatarem esse negocio, que não parecesse que o fazião por esperar a dita armada, e passar este tempo sem se tomar concrusão, ordenarão de enuiar a reposta a el Rey por seus embaixadores, e assi lho mandarão dizer.

Nota: Destaques meus para assinalar os traços de carácter de Cristóvão Colombo.

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