quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Rui de Pina - Cristóvão Colombo

PINA, Rui de. Crónica del-rei D. João II, Porto, Lello & Irmão, 1977.

Texto Integral

CAPITULO LXVI

Descubrimento das Ilhas de Castella per Collombo.


No anno seguinte de mil quatrocentos, e noventa e tres, estando ElRey no lugar do Val do Paraiso, que he acima do Moesteiro de Sancta Maria das Vertudes, por causa das grandes pestenenças, que nos lugares principaes daquella Comarca avia, a seis dias de Março arribou arrestello em Lixboa Christovam Colombo Italiano, que vynha do descobrimento das Ilhas de Cipango, e d’Antilia, que per mandado dos Reys de Castella tynha fecto, da qual terra trazia comsigo as primeiras mostras da gente, o ouro, e algüas outras cousas que nellas avia; e foy dellas intitolado Almirante. E seendo ElRey logo disso avisado, ho mandou hir ante si, e mostrou por isso receber nojo, e sentimento, assy por creer que o dicto descobrimento era fecto dentro dos mares, e termos de seu Senhorio de Guinee, em que se oferecia disensam, como porque o dicto Almirante, por ser de sua condiçam hü pouco alevantado, e no recontamento de suas cousas, excedia sempre os termos da verdade, fez esta cousa, em ouro, prata, e riquezas muito maior do que era. Especialmente acusavase ElRey de negrigente, por se escusar delle por mingoa de credito, e autoridade, acerca deste descobrimento pera que primeiro o viera requerer. E com quanto ElRey foy cometido, que ouvese por bem d’ho ali matarem; porque com sua morte o proseguimento desta empresa, acerca dos Reys de Castella, por falecimento de descobridor cessaria; e que se poderia fazer, sem sospeita, de seu consentimento, e mandado; por quanto por elle seer descortes, e alvoraçado, podiam co elle travar per maneira, que cada hü destes seus defectos, parecesse a verdadeira causa de sua morte. Mas ElRey como era Princepe muy temente a Deos, nom soomente o defendeo, mas antes lhe fez honra, e muita mercee, e co ella o despedio. E porem perseguido ElRey em sua memoria deste cuidado, e teendo sobr’isso primeiro conselho junto com Aldea-Gavinha, se foy a Torres Vedras, onde despois de Pascoa teve sobre o caso outros conselhos, em que foy detriminado que armasse contra aquellas partes, como logo armou, e grossamente: e da Armada fez Capitam Moor Dom Francisco d’Almeida, que seendo ja prestes, chegou a ElRey hü chamado Ferreira, Messegeiro dos Reys de Castella, que por serem certeficados do fundamento da dicta Armada, que em contra outra sua, que logo avia de tornar, lhe requereo que nolla sobresevesse atee se ver per dereito, em cujos mares, e conquista, o dicto descobrimenta cabia. Pera o qual enviasse a elles seus Embaixadores, e Procuradores com todalas cousas que fezessem por seu titolo, e justiça, segundo a qual elles se justificariam, desistindo, ou se concordando como razam, e dereito lhes parecesse. Polo qual ElRey desistio do enviar da dicta armada; e sobr’isso ordenou logo por seus Embaixadores, e Procuradores ao Doctor Pero Diiz, e Ruy de Pyna, que da verdade bem avisados, e instrutos foram aos dictos Reys que eram em Barcelona ao tempo que por ElRey de França Carlos se fez a segunda concordia, e verdadeira entrega de Perpinham, e do Condado de Rossolham em Catalonha. E os dictos Procuradores nom tomaram desta vez com os dictos Reys assento algü; e a causa foy por socederem assi prosperamcnte suas cousas com França; e principalmente porque ante de finalmente sobre a dicta Conquista, e Ilhas, e Terras se concordarem quiseram segundariamente ser certeficados da inteira verdade das dictas Ilhas, e Terras que ja eram descubertas, e das cousas que nellas avia, pera que tinham ja enviados seus Navios, que ainda nom eram tornados: porque segundo fosse a estima dellas, assi se concordariam, insistindo, ou desistindo. E porem pera dilatarem o negocio sem conclusam atee este tempo, tomaram por achaque d’enviar, como enviaram, a ElRey a reposta de sua embaixada per Dom Pedro d’AyalIa, e per Garcia Lopez de Carvajal seus Embaixadores, e Procuradores pera o caso. Os quaes acharam ElRey em Lixboa, e taaes meos e apontamentos fezeram, e tam imygos de razam, que a teençam que os dictos Reys teveram pera dilatar, pareceo bem crara, e manifesta. Aos quaaes Reys de Castella, despois de serem da sustancia, e posiçam das dictas Ilhas, e Terras, e cousas dellas, per os segundos seus navios bem avisados, e certeficados, ElRey tornou a enviar por seus Embaixadores e Procuradores, sobre a concordia da dicta Conquista, Ruy de Sousa, e ho Licenciado Aires d’Almadaã, e Estevam Vaaz por Escripvam, pessoas no Reyno de bõo saber, grande fiança, e muita autoridade. Os quaaes em nome d’ElRey se concordaram com os dictos Reys sobre a demarcaçam, e partiçam dos dictos mares, per certos rumos, e linhas de pollo a pollo, perque as dictas Ilhas, e terras descubertas ficaram com os dictos Reys com outra muita parte do mar, e da terra, sem prejuizo da Costa, e Ilhas da Conquista de Guinee. De que se fezeram Contratos firmados, e jurados pelos dictos Reys, de que todos mostraram receber descanso, e contentamento, por se escusarem antr’elles debates, e discordias que ja se revolviam contrairas a sua paz, e amizade. E com este assento concordado tornaram os dictos Embaixadores a Setuvel no mes de Julho do anno que vinha, onde ElRey estava sem algü melhoramento de sua doença, antes com acrecentamento de inchaços, e acidentes mortaaes, que sua vida cada dia ameaçavam.

Nota: Destaques meus para assinalar os traços de carácter de Cristóvão Colombo.

3 comentários:

J. C. S. J. disse...

De Manuel da Silva Rosa recebemos os seguintes comentários que por falta de tempo só agora aqui as colocamos.

1.
«...
Se vai acreditar tudo o diz Rui de Pina vai fazer uma história falsa. Ou não crê que os cronistas erravam?

Não sabe que Rui de Pina errou?

Sim aqui está um seu erro:
...a seis dias de Março arribou arrestello em Lixboa Christovam Colombo Italiano...

Cristoval Colon arribou ao Restelo a 4 de Março não a 6 de Março.

Mas como os Senhores não conhecem ou não prestam atenção aos detalhes da história de Colon aceitam que qualquer crónica está correcta somente por ter o nome de Rui de Pina. Mas Rui de Pina não estava correcto em tudo. Pois se ele não estava correcto na data da arribada que é uma coisa definitiva como podemos acreditar nas outras coisas como a nacionalidade e nome que como vimos nos outros escritos daqueles tempos tornaram-se em duas coisas subjectivas?

Temos que ter mais cuidado em aceitar que a história que nos disseram foi a verdade porque houve erros tal como censuras.
(...)»

2.
«(...)
Outra vez lhe escrevo para lhe alertar dos erros de Rui de Pina e por você escrever agora o texto de Garcia de Resende não deixa de provar a sua cega attitude de que o que Rui de Pina escreveru é a verdade.
Não vê que o texto tanto de Rui de Pina como de Gracia de Resende são igualitos?
Não vê que isto faz parte de uma "história official" que era requerido que se escrevesse "tal e tal" como foi?
Não parece que o senhor está a tentar resolver o problema da verdade mas simplesmente a forçar outros a acreditar numa história passada para duas crónicas que têm falhas da verdade.
Quem copiou quem incluindo os memso erros?
Rui de Pina copiou Garcia de Resende ou Garcia de Resende copiou Rui de Pina?

RESENDE:
No anno seguinte de mil e quatrocentos e nouenta e tres, estando el Rey no lugar de Val de paraiso, que he acima do mosteiro das virtudes, por causa das grandes pestes que nos lugares principaes daquella comarca auia, a seis dias de Março veyo ter a Restello em Lisboa Christouão Colombo, Italiano, que vinha do descubrimento das ilhas de Cipango, e Antilhas, que per mandado del Rey e da Raynha de Castella tinha descuberto. Das quaes trazia consigo as mostras das gentes, e ouro, e outras cousas que nellas auia, e foy dellas feyto Almirante.

PINA:
No anno seguinte de mil quatrocentos, e noventa e tres, estando ElRey no lugar do Val do Paraiso, que he acima do Moesteiro de Sancta Maria das Vertudes, por causa das grandes pestenenças, que nos lugares principaes daquella Comarca avia, a seis dias de Março arribou arrestello em Lixboa Christovam Colombo Italiano, que vynha do descobrimento das Ilhas de Cipango, e d’Antilia, que per mandado dos Reys de Castella tynha fecto, da qual terra trazia comsigo as primeiras mostras da gente, o ouro, e algüas outras cousas que nellas avia; e foy dellas intitolado Almirante.

Já que não posso inserir comentários no seu blog espero que os meus emails sejam inseridos como uma resposta á sua cega tarefa de copiar com "Destaques" para tentar forçar uma falsa verdade do caracter e da pessoa de Colon.
(...)»

Andre disse...

eféctivamente não podemos considerar tudo o que diz rui de pina porque, teremos tambem que conciderar que este escrevia as cronicas de D.joao II mas estas poderiam estar a ser controladas pelo monarca, que como Colon quria manter a identidade deste escondida para que nimguem fize-se a minima ideia que seria português.
Tambem nao sei se podemos conciderar que seria de Origem Judaica, mas vendo a sua acinatura, podemos ler "que o meu nome seja apagado" deveras interessante.

J. C. S. J. disse...

Efectivamente não pode considerar a crónica de Rui de Pina que é corroborada por fontes independentes, mas acredita em leituras fantasistas da assinatura de Cristóvão Colombo.

O seu português também é deveras interessante e um caso a considerar.