segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Carmen M. Radulet


Faleceu no dia 27 de Dezembro de 2008 Carmen M. Radulet.
A sua morte repentina surpreendeu os seus amigos e conhecidos e deixou a historiografia portuguesa mais pobre.
Repartiu a sua vida académica entre Itália e Portugal dedicando-se ao estudo da cultura portuguesa, bem como das relações e influências mútuas havidas entre estes dois países de que tanto gostava.
Ao longo da sua carreira participou em inúmeras conferências e, só ou em co-autoria, escreveu dezenas de artigos e livros, dos quais se destacam aqui a título de exemplo os seguintes:


  • Documenti delle scoperte portoghesi. I Africa, Bari, Adriatica, 1983.
  • As viagens de Diogo Cão: um problema ainda em aberto, Lisboa, Instituto de Investigação Cientifica Tropical, 1988.
  • Os descobrimentos portugueses e a Itália: ensaios filológicos-literários e historiográficos, Lisboa, Vega, D. L. 1991.
  • Vasco da Gama: la prima circumnavigazione dell'Africa - 1497-1499, [Reggio Emilia], Diabasis, cop. 1994.
  • Terra Brasil 1500: a viagem de Pedro Álvares Cabral, testemunhos e comentários, [Lisboa], Chaves Ferreira, D. L. 1999.
  • (transcrição e apresent.) Viagens portuguesas à Índia (1497-1513): fontes italianas para a sua história – o Códice Riccardiano 1910 de Florença, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2002.

(Foto cedida pelo Sr. Cmdt. Semedo de Matos a quem se agradece a cortesia)

sábado, 13 de dezembro de 2008

Gostava de ter escrito isto...

... The Golden Age de Paulo Pinto.





(Para que conste, desisti de ver o filme ao fim de 10 ou 15 minutos).

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Oportunismo

A pseudociência tem como um dos seus atributos a recusa da crítica. O mesmo se passa com a pseudo-história, como já se mostrou nesta página. A crítica é o instrumento de verificação do conhecimento e não pode haver conhecimento sem crítica.
Qualquer discurso que procure passar por História mas que recuse a crítica passa a ser pseudo-história. Como a crítica é geralmente feita por especialistas e estes se encontram principalmente em instituições – universidades, academias e centros de investigação –, a pseudo-história passa a identificar esses organismos com os seus críticos e torna-se assim anti-institucional. Esta rejeição das instituições, confundindo-as com os seus membros, também nisso é reveladora da ignorância do processo de produção historiográfica.
Não deixa por isso de ser curioso que à recusa, por princípio, das instituições se procure sustentar nelas as suas próprias convicções quando erradamente se pensa estarem elas a dar o apoio para as ideias que se professam. É este mesmo raciocínio equivocado que faz pensar serem as instituições a validar um qualquer conhecimento e não os cientistas que na área em causa trabalham, como se a Universidade A pudesse validar, ou não, a Proposição X e a partir daí mais ninguém pudesse defender o seu contrário ou algo de diferente.
Na produção do conhecimento não há qualquer instituição certificadora de verdades e mesmo quando verdades são descobertas são-no feitas por homens, eventualmente institucionalmente enquadrados.
É por isso que, quando, por todo o lado (como aqui e aqui), vão aparecendo afirmações de que a Sorbonne apoia a ideia de ser Cristóvão Colombo português, estamos perante mais uma fraude feita por quem isso afirma. Tal como é fraudulento dizer que François Baradez é professor e é da referida universidade.
Conforme está amplamente demonstrado na página de Kristol Goulm, o jornalista François Baradez escreveu – sabe-se lá porquê – um pequeno artigo laudatório numa revista (Marins et Océans, n.º 3, 1992) de que se publicaram três números antes de fechar. O mesmo Baradez fez publicar noutros periódicos textos laudatórios do livro de Mascarenhas Barreto, facto que poderá indiciar um esforço sistemático de divulgação dos erros do autor do ... Agente Secreto de D. João II. O artigo na Marins et Océans é uma opinião que não é subscrita publicamente por nenhum professor, passado ou presente, da Sorbonne ou de qualquer outra instituição das que geralmente estão associadas à investigação histórica. Tendo cessado a publicação, essa revista foi posteriormente digitalizada e posta em linha por algum instituto ligado à Sorbonne. Quem nisto quiser ver um qualquer endosso pela universidade da opinião de Baradez sobre Colombo – ou de qualquer outro autor da revista sobre os vários temas publicados – erra tanto como aquele que vir na existência de livros numa biblioteca o apoio da mesma às ideias expressas nesses livros – pura burrice!
É, também, nestes pequenos detalhes que se manifesta toda a incoerência da pseudo-história. Esta rejeita a autoridade dos académicos e menospreza as suas instituições, mas ao mesmo tempo procura afincadamente obter o reconhecimento destes. Quando isso não acontece os seus praticantes inventam graus - usados como se de títulos se tratassem - e criam novas instituições que mimetizam as que desprezam.


Adenda de 12-12-2008.

Ver também:
CHRISTOPHE COLOMB ET LE PORTUGAL: ÉTAT DE LA QUESTION
Ouvrages de référence pour comprendre le livre de Barreto...
Les détracteurs du livre de Mascarenhas Barreto
Le professeur Mascarenhas Barreto est-il un mystificateur?

Adenda de 21-12-2008:
Fábrica de diplomas (diploma mill)
Life-experience diplomas from the Web are all the rage
Diploma mill: Bennington University
Adenda de 26-1-2009:
Qui est Mascarenhas Barreto?

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Subsídios para a História de uma polémica

O semanário O Diabo publicou em 1990 uma entrevista a Luís de Albuquerque que gerou uma forte reacção de Mascarenhas Barreto e de outros devotos da causa, reacções essas que parecem ir muito mais além do que o razoável para fazer valer uma qualquer posição académica.
Veja-se o que diz Luís de Albuquerque ao jornal O Diabo em 24 de Julho de 1990:
(Clicar na imagem para ampliar)

E agora a reacção de Mascarenhas Barreto no mesmo jornal de 7 de Agosto de 1990:
(Clicar na imagem para ampliar)

Pelo meio houve, pelo menos, uma carta ao director sobre o assunto, de que não dou mais notícia pois vale o que valem a maior parte das cartas aos directores dos jornais, e ainda mais um artigo de opinião por um José Martins, oficial da Armada reformado, em que desanca fortemente nos espanhóis, na CNCDP e até nos seus camaradas de armas que, cépticos, não paparam a historieta de Barreto quando este último a contou na Academia de Marinha.
O artigo em causa com o antetítulo de A Tese sobre a Portugalidade de Colombo e com o título muito indicativo de Estamos a Ser Alvo de uma Conspiração? foi publicado pel'O Diabo de 28 de Agosto de 1990 nas páginas 8 e 9.
Entre as muitas banalidades que o autor escreve - na linha do que já se está habituado a ver neste blogue aos defensores da Portugalidade do Almirante das Índias - está a notícia, dada pelo próprio, da carta que escreveu ao Primeiro-Ministro com altos conselhos de estado - eufemismo meu para dizer exigências - de como se deveria lidar com tão grave questão nacional. Transcreve a carta e desta convém reter a genial ideia - exigência - de - e passo a citar - mandar contratar os melhores peritos internacionais na ciência da cabala para estes confirmarem a descodificação da sigla daquele navegador ou, no caso contrário, nos dizerem o significado da mesma.
Agora compreendo como chegou ao fim a hegemonia da Marinha Portuguesa...