segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

História Colombina, ou Filosofia Colombina?

A diferença entre a História, uma ciência reconhecida como tal desde o século XIX, e a Filosofia, o núcleo restante de todo o conhecimento residual depois de dela emergidas e tornadas independentes as diferentes ciências, é consabida. Uma ocupa-se do estudo do passado da Humanidade, baseando-se não só em documentos credíveis, conjugados, depois de crivados pela sua necessária exegese crítica; a outra, dispensando as fontes, procura alcançar novos caminhos cognitivos através de especulação mental diversa, apoiando-se em novas ideias que se procuram sistematizar em diferentes modelos.

Na Filosofia, ao contrário da História, não contam primacialmente os resultados do filosofar, conta acima de tudo o próprio acto de filosofar... valoriza-se o caminho, o estar indo, o ir descobrindo, sem nunca alcançar senão parcialmente conclusões, que necessariamente hão-de ser sempre meras etapas da manifestação do conhecimento abstracto em si próprio, que se deseja ir materializando em estruturas mentais compreensíveis ao Homem. Em História, muito pelo contrário, valorizam-se acima de tudo os resultados, apresentados sempre de forma provisória, sim, mas factual e organizadamente em sistema lógico e coerente.

Se nova documentação poderá surgir posteriormente sobre um dado assunto histórico, que obrigue à sua revisão, ou interpretação, esse novo ou novos conjuntos documentais terão que formar sentido com os restantes documentos anteriormente aceites como válidos, ou de maior número ou importância. Excepto se se provar que toda essa documentação anterior era falsa ou mal interpretada, claro. Ora uma coisa é a História, ou seja, a cronologia sistematizada no tempo e no espaço dos acontecimentos conformes à melhor documentação, outra a Filosofia da História, em que nos é permitido divagar com estruturas e sistemas cognitivos que nos permitam abordar de novas formas a sistematização desses mesmos conhecimentos factuais.

Muito outro é portanto o escopo da História, a quem cabe a árdua e ingrata tarefa de explicar o passado à luz das suas fontes, permitindo-nos recolher dados com valor para a explicação do presente.

É nossa convicção profunda, diante de verborreias indiscriminadas que não têm em conta a documentação validada coerente e coesa, mas apenas o amor a "estar no caminho, cada vez mais disperso e vago, caótico, mesmo, da verdade a alcançar apenas hipoteticamente num futuro mais do que entrevisto, desejado", que a Pseudo-História Colombina do presente apenas pretende baralhar os dados, confundir os espíritos, com propósitos filosóficos de permitir sempre novas e melhores especulações baseadas sobre factos já dados como irrelevantes, mal enquadrados ou compreendidos... ou pior, agir em mera propaganda, que se queira fazer passar por historicista... junto dos leigos, e daqueles que se deixem vencer pelo cansaço dos seus argumentos contumazes que não aceitam terem ficado destruidos, depois de bastamente desmontados...

Assim, a relação da Pseudo-História para com a História tem que ver, no campo restrito do estudo da realidade passada que permite explicar-nos o nosso presente, com a mesma dissonância que desde o primeiro tempo do som uno universal (2) emergindo do silêncio cósmico mostrou ter o Caos (ou Desordem) para com o Universo (ou Ordem) (1). Uns estudam e divulgam desordenamente enquanto estudam o que ainda não sabem... e desejam seja contrário ao já dado como provado; outros aguardam e publicam apenas serenamente as conclusões factualmente irrefutáveis, ou que se crêem como tais, logicamente explicáveis e compreensíveis.

Sendo assim, e como tudo na vida, à Pseudo-História deve ser reconhecida alguma utilidade, mais que não seja porque obriga a reavaliar conhecimentos, a ordená-los, e a publicá-los de forma mais sintética e útil para proveito do esclarecimento do leigo confundido nas matérias por ela abordadas. Infelizmente, com muito raras excepções, apenas profissionais do campo da História, e talvez mesmo não todos, são disso capazes e têm tempo para tal.

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1) Universo = Versus Uno > até à unidade, i. é, à unanimidade. Em termos parúsicos, a unidade tomará forma através de uma ordem dada ao caos (ou desordem). Isto coincide com o que actualmente nos ensina a Física Quântica: que no caos (ou "sopa quântica") algo se manifesta ordenadamente apenas quando nós próprios ali concentramos a nossa atenção.
2) Aceitando-se que existe uma vibração energética cósmica produzindo um som uno durante a manifestação expansiva da matéria, no processo de dilatação cíclica dos Universos com suas Galáxias.

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