1488 – 3 – 20, Avis
Carta de D. João II a Cristóvão Colombo em Sevilha agradecendo o que lhe foi escrito e a boa vontade e afeição mostrada ao seu serviço. Declara que terá prazer nos serviços propostos e que deles dará boa satisfação. Esta carta constituirá segurança contra a Justiça Real por algumas coisas por que seja procurado.
Assinatura autógrafa de D. João II.
Suporte em papel; caligrafia gótica semicursiva.
Contém na parte inferior tradução em língua castelhana escrita com caligrafia de tipo humanista do século XVI.
Archivo General de las Indias, Sevilha, (...)
(Transcrição e edição a partir de imagem do documento em O Mistério Colombo Revelado, p. 231, confrontada com a edição de Patrocínio Ribeiro, A nacionalidade portuguesa de Cristovam Colombo (...), pp. 35-36, e com a cópia da mesma transcrição em O Mistério (...), p. 230, onde se corrige uma gralha na versão anterior).
Carta de D. João II a Cristóvão Colombo em Sevilha agradecendo o que lhe foi escrito e a boa vontade e afeição mostrada ao seu serviço. Declara que terá prazer nos serviços propostos e que deles dará boa satisfação. Esta carta constituirá segurança contra a Justiça Real por algumas coisas por que seja procurado.
Assinatura autógrafa de D. João II.
Suporte em papel; caligrafia gótica semicursiva.
Contém na parte inferior tradução em língua castelhana escrita com caligrafia de tipo humanista do século XVI.
Archivo General de las Indias, Sevilha, (...)
(Transcrição e edição a partir de imagem do documento em O Mistério Colombo Revelado, p. 231, confrontada com a edição de Patrocínio Ribeiro, A nacionalidade portuguesa de Cristovam Colombo (...), pp. 35-36, e com a cópia da mesma transcrição em O Mistério (...), p. 230, onde se corrige uma gralha na versão anterior).
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A Christovam Collon noso espicial amigo em Sevilha.//
A Christovam Collon noso espicial amigo em Sevilha.//
Christoval Colon nos Dom Joham per graça de Deos Rey de Portugal e dos Algarves daaquem e daallem mar em Africa Senhor de Guinee vos envyamos muyto saudar; Vymos a carta que nos scrivestes e a booa vontade e afeiçom que por ella mostraaes teerdes a nosso serviço vos agardeçemos muito / E quanto a vossa vynda ca certo assy pollo que apontaaes como por outros respeitos pera que vossa industria. e bõo engenho nos sera necessareo nos a desejamos e prazer-nos-ha muyto de virdes porque em o que a vos toca se dará tal forma de que vos devaaes seer contente ./ E porque por ventura teerees alguum reçeo de nossas justiças por razam dalguumas cousas a que sejaaes obligado, nos per esta nossa carta vos seguramos polla vynda stada e tornada que nom sejaaes preso reteudo acusado çitado nem demandado por nehuuma cousa ora seja civil ora crime de qualquer qualidade ./ E per ella meesma mandamos a todas nossas justiças que ho cumpram asy ./ E portanto vos rogamos e encomendamos que vossa vynda. seja loguo e pera ysso nom tenhãaes pejo alguum ./ e agardecer-vo-lo-emos e teeremos muyto em serviço scripta em Avis a xx dias de Março de 1488 ¶
El-Rey ·:· —
Notas:
O melhor copista engana-se pelo menos duas vezes por página, logo...
Por causa da pouca qualidade da imagem há partes cuja leitura ofereceu algumas dúvidas, pelo que é muito provável mudar-se de opinião perante o original ou melhor cópia.
Por qualquer razão Cristóvão Colombo escreve ao rei propondo-lhe qualquer coisa que o rei acha boa, convidando-o a deslocar-se a Portugal prometendo-lhe ao mesmo tempo uma satisfação, embora se não refira o tipo nem o porquê.
Por este documento não se deduz que Cristóvão Colombo servisse ou tivesse servido D. João II ou a Coroa. A carta revela a «boa vontade e a afeição» que Colombo tem por esse serviço – o que poderá querer dizer que quer começar a servir D. João II.
Não se pode deduzir que está ao serviço de D. João II porque o rei português, por esta carta, parece disposto a recebê-lo na sequência da missiva que Colombo lhe enviara. O rei admite que para o convite contribuiu o que Colombo lhe escrevera na carta cujo conteúdo presentemente se desconhece, além de outras razões também não especificadas e que no que a Colombo diz respeito sairá satisfeito. Esse serviço a acontecer terá um carácter temporário já que na carta se prevê o regresso do destinatário ao seu local de origem.
Cristóvão Colombo por ventura teme a Justiça e nessa eventualidade recebe um salvo conduto limitado, assinado pelo rei para poder entrar, deslocar-se e sair de Portugal sem incómodo. Não se trata duma carta de perdão, pois não cumpre as mais elementares regras diplomatísticas para o efeito, nem por aqui se pode inferir ser Colombo suspeito de qualquer crime grave ou menos grave, já que o rei, a saber do que se tratava, parece não querer dar-lhe grande relevância[1].
No geral, até parece haver um certo tom de condescendência em toda a carta.
Este documento revela alguma cautela, não se comprometendo com algo de concreto, para além de assegurar a Cristóvão Colombo que não será accionado pela justiça régia pelas razões que eventualmente existam contra ele – repare-se que não se refere haver causa contra Colombo, simplesmente que Colombo por ventura terá algum receio da Justiça. Não se firma nesta carta qualquer compromisso além do referido, o resto são promessas vagas e vazias de conteúdo.
A carta é cautelosa sem ser conspirativa; é espectante e nunca assertiva.
Por este documento não se deduz que Cristóvão Colombo servisse ou tivesse servido D. João II ou a Coroa. A carta revela a «boa vontade e a afeição» que Colombo tem por esse serviço – o que poderá querer dizer que quer começar a servir D. João II.
Não se pode deduzir que está ao serviço de D. João II porque o rei português, por esta carta, parece disposto a recebê-lo na sequência da missiva que Colombo lhe enviara. O rei admite que para o convite contribuiu o que Colombo lhe escrevera na carta cujo conteúdo presentemente se desconhece, além de outras razões também não especificadas e que no que a Colombo diz respeito sairá satisfeito. Esse serviço a acontecer terá um carácter temporário já que na carta se prevê o regresso do destinatário ao seu local de origem.
Cristóvão Colombo por ventura teme a Justiça e nessa eventualidade recebe um salvo conduto limitado, assinado pelo rei para poder entrar, deslocar-se e sair de Portugal sem incómodo. Não se trata duma carta de perdão, pois não cumpre as mais elementares regras diplomatísticas para o efeito, nem por aqui se pode inferir ser Colombo suspeito de qualquer crime grave ou menos grave, já que o rei, a saber do que se tratava, parece não querer dar-lhe grande relevância[1].
No geral, até parece haver um certo tom de condescendência em toda a carta.
Este documento revela alguma cautela, não se comprometendo com algo de concreto, para além de assegurar a Cristóvão Colombo que não será accionado pela justiça régia pelas razões que eventualmente existam contra ele – repare-se que não se refere haver causa contra Colombo, simplesmente que Colombo por ventura terá algum receio da Justiça. Não se firma nesta carta qualquer compromisso além do referido, o resto são promessas vagas e vazias de conteúdo.
A carta é cautelosa sem ser conspirativa; é espectante e nunca assertiva.
No endereço da carta aparece a menção de «especial amigo», o que é tido por muito relevante pelos autores que querem ver nela algo mais do que lá há. Considerando todas as interpretações abusivas, descontextualizadas e estapafúrdias que aparecem neste tipo de escritos, o relevo dado a este caso parece-me à partida suspeito.
Já alguém procurou outras cartas cujo endereço contenha igual fórmula?
Já alguém estudou as fórmulas de endereçamento na parte que se destina ao correio ou carteiro?
A referência a «especial amigo» no destinatário é, sem dúvida, interessante. No entanto, e incompreensivelmente, a mesma expressão não é repetida no conteúdo da carta. É, pois, bem mais significativo o facto de não constar qualquer menção de familiaridade no interior dessa carta, limitando-se a um seco «Cristóvão Colombo, nós D. João...», não havendo, tampouco, a expressão muito frequente para com funcionários, oficiais ou dignitários que é «Fulano amigo, nós D. João/El-Rei vos enviamos muito saudar», preferindo-se a fórmula mais distante onde entra o título régio e sem qualquer outra expressão de afecto.
Outro facto que talvez possa ter alguma relevância, é as cartas serem endereçadas depois de assinadas e fechadas, ou seja depois do rei as ter assinado e muito pouco provavelmente na sua presença. Também relevante para as hipóteses que se formulem em torno desta carta, e que as obras que a apresentam não indicam, é a indicação do nome do remetente para além do do destinatário.
Pelas imagens apresentadas não dá para determinar se a pena e tinta usadas, ou mesmo a mão, são as mesmas. Mas do endereço para a carta ressalta claramente a diferença na grafia do nome de Cristóvão Colombo: Cristovam Collon no endereço e Cristoval Colon no texto principal. Também é notável o facto de no endereço aparecer noso e no texto da carta aparecer uma vez nosso e três vezes nossa(s) e em nenhum caso aparecer este pronome possessivo com um só S.
Já alguém procurou outras cartas cujo endereço contenha igual fórmula?
Já alguém estudou as fórmulas de endereçamento na parte que se destina ao correio ou carteiro?
A referência a «especial amigo» no destinatário é, sem dúvida, interessante. No entanto, e incompreensivelmente, a mesma expressão não é repetida no conteúdo da carta. É, pois, bem mais significativo o facto de não constar qualquer menção de familiaridade no interior dessa carta, limitando-se a um seco «Cristóvão Colombo, nós D. João...», não havendo, tampouco, a expressão muito frequente para com funcionários, oficiais ou dignitários que é «Fulano amigo, nós D. João/El-Rei vos enviamos muito saudar», preferindo-se a fórmula mais distante onde entra o título régio e sem qualquer outra expressão de afecto.
Outro facto que talvez possa ter alguma relevância, é as cartas serem endereçadas depois de assinadas e fechadas, ou seja depois do rei as ter assinado e muito pouco provavelmente na sua presença. Também relevante para as hipóteses que se formulem em torno desta carta, e que as obras que a apresentam não indicam, é a indicação do nome do remetente para além do do destinatário.
Pelas imagens apresentadas não dá para determinar se a pena e tinta usadas, ou mesmo a mão, são as mesmas. Mas do endereço para a carta ressalta claramente a diferença na grafia do nome de Cristóvão Colombo: Cristovam Collon no endereço e Cristoval Colon no texto principal. Também é notável o facto de no endereço aparecer noso e no texto da carta aparecer uma vez nosso e três vezes nossa(s) e em nenhum caso aparecer este pronome possessivo com um só S.
Só isto não basta para declarar a oração «noso espicial amigo» apócrifa, já que é muito frequente a oscilação ortográfica, mas estes factos tornam-na bastante suspeita. Para já vai dar-se crédito a Patrocínio Ribeiro[2] quando diz que o documento foi declarado verdadeiro por José Pessanha, conservador da Torre do Tombo, se bem que me pareça possível que para isso não tenha sido dada atenção a este detalhe.
Tomando o documento por aquilo que se tem dito que é algumas perguntas se podem fazer. Mas essas ficarão para outra vez.
[1] Patrocínio Ribeiro, A Nacionalidade Portuguesa de Cristovam Colombo, 1927, p. 36, transcrevendo a carta não a analisa com grande detalhe; comedido como outros depois dele o não foram, cita a interpretação de Teixeira de Aragão, via Luciano Cordeiro, de não se tratar esta carta dum convite [na medida em que não decorre duma iniciativa do rei] mas sim da aceitação dum pedido condicionado feito por Cristóvão Colombo.
[2] Id., Ib., p. 36.
[2] Id., Ib., p. 36.
1 comentário:
humm..Mas que carta tão curiosa!!
Se eu fosse o amiral, utilizaria essa carta numa especie de chantagem destinada a intimidar os reis catolicos e seus cientistas (ignorantes na materia), contrarios aos meus planos...
Quanto mais leio sobre o assunto mais admiro D. Joao II!
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