segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

As armas de Cristóvão Colombo

Um excerto da carta de Isabel de Castela que confere brasão de armas a Cristóvão Colombo é publicada em 1927 por Patrocínio Ribeiro.[1]

«... un castillo é um Leon, que Nós vos damos por armas: conviene a saber, el Castillo de color dourado en campo verde, en el cuadro del escudo de nuestras armas en la alto a mano derecha, y en el outro cuadro alto a la mano isquierda un Leon de purpura en campo blanco rampando de verde, y en outro cuadro bajo a la mano derecha unas islas douradas en ondas de mar, y en outro cuadro bajo a la mana izquierda las armas vuestras que sabiades tener, las cuales armas sean por vuestras armas e de vuestros fijos y descendientes para siempre, jamas...»

E conclui de imediato e sem mais nada:

O brasão que Colombo anteriormente adoptára para si, por sua alta recreação, decerto, — «las vuestras armas que sabiades tener» segundo refere o documento, — era muito significativo e revelador: um escudo com cinco ancoras, dispostas da mesma maneira que as quinas dos cinco escudetes da bandeira de Portugal! Parece que por esta maneira grafico-simbolico o misterioso nauta, que tão ciosamente escondia em Espanha a sua vida preterita, pretendeu soerguer um poucochinho o veu com que ocultava a sua verdadeira nacionalidade luzitana... Este numero simbolico das cinco ancoras — em confronto com as cinco quinas, e com os cinco escudetes da nossa gloriosa bandeira, — revela o misterio. Colombo era português, porque só um português buscaria uma analogia simbolica com o pavilhão épico das quinas!
Manuel Rosa[2] apresenta uma citação muito parecida mas, tal como Ribeiro (que não é mencionado), não referencia a fonte, o que é sistemático em ambos e impeditivo da necessária confirmação dos dados apresentados.
Neste capítulo, além de se tecerem considerações várias como se algum ajuste de contas houvesse a fazer, há uma dispersão por temas marginais, secundaríssimos e esotéricos que em vez de esclarecerem só mistificam. Fazem-se declarações de fé[3], remonta-se ao conde D. Henrique de Portucale para procurar um entroncamento borgonhês, passa-se pela simbologia rosacruziana, para acabar por reconhecer a «tamanha escassez dos factos»[4] e de nada se ter avançado neste capítulo que adiante algo ao que Patrocínio Ribeiro escrevera.

Se as armas apresentadas são as de Cristóvão Colombo e se, para efeitos de discussão académica, as âncoras são legítimas, ou seja, «las armas vuestras que sabiades tener» antes de 1493, então ter-se-á que procurar entre as famílias portuguesas (e estrangeiras!) aquelas que têm âncoras anteriores a essa data e ver se nelas se pode encaixar o navegador de forma mais plausível do que tem sido feito até aqui.
Não sendo âncoras os elementos que deveriam figurar, mas outros quaisquer em X, então dever-se-á fazer o mesmo que em cima foi enunciado.
Mas também se se enveredar pelo caminho «dos elementos que deveriam figurar mas não figuram», então todas as famílias brasonadas antes dessa data são candidatas a parentes de Cristóvão Colombo.
Mas também, ainda, os elementos que constam na ponta inferior do escudo, e que não são referidos pela carta da rainha D. Isabel, deveriam merecer atenção na pesquisa de acordo com os critérios e considerações acima enunciados.

Um problema de outra ordem é o de se saber se Cristóvão Colombo tinha ou não tinha armas antes de 1493.
Na ausência de fontes que o atestem ou desmintam não se pode saber. O que não invalida a possibilidade de se colocar toda uma série de hipóteses que, como tais, nunca serão certezas. É que a possibilidade de fazer História tem limites e quando estes são atingidos há que ter a humildade de o reconhecer e de não inventar.

Como hipóteses, e não como certezas do que quer que seja, e partindo de determinados pressupostos também eles hipotéticos, convinha considerar o seguinte:
Assumindo que Cristóvão Colombo não tinha armas, este poderia ter insinuado ou declarado possuí-las e nunca ter feito prova disso, acabando o poder, voluntária ou involuntariamente, por acreditar, esquecer o assunto ou, não acreditando, deixar-se ludibriar. Afinal um almirante, vice-rei, etc. tem de ter alguma dignidade e pedigree, além de que a própria dignidade que o estado devia apresentar a isso impelia.
Querendo o poder omitir as armas originais de Cristóvão Colombo por este ser o português (ou qualquer outro) que se diz ser, não omitiria também, e se calhar mais facilmente, a falta destas por qualquer razão, como por exemplo pelas razões acima referidas?
Se a rigidez, apresentada quase como canónica, da atribuição, reconhecimento e vigilância das armas era tanta, então porque é que hoje não abundam por todos os arquivos os registos das suas atribuições, confirmações, reconhecimentos e reprovações? Afinal, se a heráldica era assim tão importante, esses registos deveriam ter sido religiosamente guardados e sobrevivido até aos nossos dias. Mas havendo essa rigidez, não havia sempre a possibilidade da excepção pela simples vontade régia que em Portugal, por exemplo, se exprimia na forma escrita sob a fórmula «de minha certa ciência e poder absoluto... sem embargo da ordenação e do parecer dos doutores», o que na prática, e no extremo, permitia ao rei ser senhor absoluto impondo a sua vontade ao arrepio da Lei?

Como se referiu, a possibilidade da História está limitada às fontes disponíveis. Para além delas fica-se limitado à formulação de hipóteses e conjecturas cuja plausibilidade está condicionada pelas possibilidades epocais e argumentação racional. Ora, plausibilidade, possibilidade epocal e argumentação racional não são objectiváveis e é nelas que residem grande parte das verdadeiras polémicas em História. Isto já de si é verdadeiramente complicado, tornando-se ainda mais quando pelo meio aparece quem se recuse a operar com os mesmos valores.

[1] Patrocínio Ribeiro, A Nacionalidade Portuguesa de Cristovam Colombo, 1927, p. 51.
[2] Manuel da Silva Rosa & Eric J. Steele, O Mistério Colombo Revelado, 2006, cap. XVII.
[3] «De acordo com a nossa crença de que Colon era um membro da realeza portuguesa (...)», Id., Ib., p. 525.
[4] Id. ib., p. 526.

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro J. C. S. J.,
Lê a págiga 519 do Mistério Colombo Revelado. Lá está uma das fontes das armas muito clarinho.
Em vez de aceitarem que Colon mentia á Rainha que é uma teoria sem lógica nenhuma vendo que ela o estava pagando desde 1486 sem Colon ter feito nada não se deveria aceitar como primeira opção que as armas são verdadeiras tal como a rainha nos disse?
Pois ninguém na altura escreveu que as armas eram falsas ou usurpadas isso só veio mais tarde com historiadores iguais ao Eliot Morison com suas fantasias de encaixar um plebeu Colombo Genovês na história.
Outra coisa que vem á ideia. E se a Rainha Isabel tinha razões para censuar o passado de Colon? Acha que ía-se encontrar a carta patente das armas originais nalgum archivo da corte de Castela?
Pelo menos agora vocês estão a falar como gente grande e a pensar em vez de criticar sem mais nem menos.
É interessante de ver como estão a tentar resolver o porblema do vosso Colombo pois quanto mais aprendem mais grande se torna o problema que até aqui era simplesmente tido como um tecedor de lã mas agora já o J. C. S. J. parece duvidar dessa teoria.

Anónimo disse...

lolol

Anónimo disse...

Ó J.C.S.J. em prol da verdade não deveria regressar a este artigo e pedir desculpas já que o Srº Manuel Rosa foi provado correcto sobre as armas originais de Colombo como as mostra na sua página
http://www.cristovaocolon.com/portugues/armas.htm
A meu ver tudo aquilo que o Srº Manuel Rosa escreveu vai dia a dia sendo mais e mais confirmado como sendo verdadeiro enquanto o seu apoio do Colombo tecelão de Génova fica cada vez mais em seco.