Continuamos a verificar no mundo da Pseudo-História em Portugal uma deliberada tendência para identificar a informação coeva, portuguesa e internacional, da naturalidade de Colombo como sendo italiana, e dos Estados de Génova, com aquela mais tarde produzida pela historiografia do sc. XIX, no tempo da história nacionalista, a que chamam do "Colombo tecelão". Esta última vem procurando documentá-lo desde então como tendo vivido na própria cidade de Génova. É a tese clássica oitocentista ainda ensinada em Itália, e nos EUA, a que os italianos hodiernos começam a chamar de tese purista, como referimos em artigo anterior neste blogue.
Sendo o nome Colombo comum em Itália, e existindo documentadas homonímias entre vários Colombos quatrocentistas, chamam os da Pseudo-História a este Colombo da cidade de Génova de Colombo tecelão, aferrando-se a que é a este que a historiografia portuguesa se refere...
No entanto, como já aqui tínhamos dito desde o início, são duas coisas, dois pontos inteiramente distintos. Podemos documentar que D. Afonso Henriques nasceu português, mas não temos ainda a certeza absoluta, documentada, em qual das localidades nasceu o Conquistador. Guimarães, como dizia a historiografia tradicional? Viseu (2), como tem vindo a procurar documentar o Dr. Almeida Fernandes?
A História faz-se através da análise serena dos pontos em causa, e misturá-los deliberadamente é pura demagogia, ao serviço de interesses mais de advogado hábil, embora talvez não escrupuloso, do que de historiador digno desse nome. E dado vermos persistir esta deliberada confusão em quanto vamos vendo publicar por essa Rede fora, resolvemos como adequado postar estas palavras, apesar de repetidas, a fim de pelo seu título lhes conseguir dar a necessária indexação nos motores de busca. A táctica da Pseudo-História, também nisso semelhante à dos bons advogados de barra, passa por tentar desacreditar as fontes e estudos coevos, atacando especialmente, ao que parece, Rui de Pina. E esquecendo deliberadamente que Rui de Pina conheceu pessoalmente Cristóvão Colombo, e que independentemente das circunstâncias que tenha vivido no seu tempo, como cronista-mor, o seu testemunho é ratificado por todos os outros, internacionais e contemporâneos.
Túmulo do Doutor João Afonso das Regras
Alguns exemplos de falácias passadas a sofismas deste tipo perduraram na História até hoje. Na História de Portugal, um dos mais importantes aparenta ter sido do grande Doutor João das Regras (1), que precisando apresentar às Cortes reunidas em Coimbra o trono português como vago, a fim de fazer eleger o Mestre, discorreu largamente negando a validade dos casamentos de D. Pedro I com D. Inês de Castro, e do Rei Formoso com D. Leonor Teles. Por esse facto singelo, e que na altura conveio ao interesse político do País, continua a não ser devidamente colocado na cronologia dos reinados em Portugal o de D. Beatriz, rainha legítima e efectiva entre 1383 e 1385, sob a regência de sua mãe D. Leonor Teles de Meneses.
Citamos este caso, um entre muitíssimos, tentando demonstrar até que ponto um sofisma se pode assim enraizar, e até que ponto se pode vir a tornar História Oficial. E por isso, tanto os sofismas e falácias do passado consignados ainda hoje nos compêndios escolares, como as novas propostas demagógicas que prentendam estabelecer novas teorias sem pés para andar, como a do Colombo português, devem ser firmememte combatidas.
A persistência desta confusão afigura-se-nos agora já deliberada, e como tal, um sofisma.
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1) Doutor em Leis por Bolonha, enteado do chanceler Álvaro Pais, com quem colaborou na revolução de 1383-85, Protector da Universidade de Lisboa, D. Prior da Colegiada de Guimarães, chanceler-mor do Reino, ficou famoso por ter elaborado a teoria jurídica tendente a demonstrar que a Coroa se encontrava vaga, permitindo a eleição do Mestre de Aviz, nas Cortes de Coimbra. Cf. http://atelier.hannover2000.mct.pt/~pr511/drjoaoreg.html
2) Cf. Fernandes, A. de Almeida (1994) – Viseu, Agosto de 1109 - Nasce D. Afonso Henriques, Viseu, 1993, e http://www.triplov.com/biblos/fernan.htm
1) Doutor em Leis por Bolonha, enteado do chanceler Álvaro Pais, com quem colaborou na revolução de 1383-85, Protector da Universidade de Lisboa, D. Prior da Colegiada de Guimarães, chanceler-mor do Reino, ficou famoso por ter elaborado a teoria jurídica tendente a demonstrar que a Coroa se encontrava vaga, permitindo a eleição do Mestre de Aviz, nas Cortes de Coimbra. Cf. http://atelier.hannover2000.mct.pt/~pr511/drjoaoreg.html
2) Cf. Fernandes, A. de Almeida (1994) – Viseu, Agosto de 1109 - Nasce D. Afonso Henriques, Viseu, 1993, e http://www.triplov.com/biblos/fernan.htm
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