RIBEIRO, Patrocínio. O Carácter Misterioso de Colombo e o Problema da sua Nacionalidade, Coimbra, Imp. da Universidade, 1916, Sep. Academia de Sciencias de Portugal, 1 série, t. 5.
Texto Integral
Mas a nacionalidade portuguesa de Cristóvam Colombo – afirmada pela carta de Toscanelli e confirmada pela de D. João II – é esclarecida, ainda, por outras pontos comprovativos, por factos históricos que vou enunciar transcrevendo, primeiramente, para elucidação preambular das minhas deduções o que diz o ilustre escritor J. A. Coelho, eruditíssimo autor da «Evolução geral das sociedades ibéricas», que Teófilo Braga cita na sua «Historia da Literatura Portuguesa»:
«... é lusa e bem lusa a ideia, levada definitivamente à pratica, de uma navegação atlântica, científica, sistematicamente realizada, e tendo por objectivo – numa primeira fase devassar os mistérios do Oceano, e numa segunda, relacionar o Levante e o Ocidente, e portanto, substituir por uma nova, linha de comunicabilidade de carácter atlântico a simples artéria de carácter mediterrâneo que se alargava, passando pelos desertos, desde o Indo às Colunas de Hércules. Esta concepção, verdadeiramente nova, de carácter aventuroso e essencialmente marítimo, nunca poderia sair do cérebro dum castelhano, pois estava isolado na cerrada continentalidade do seu planalto... Na Península, só a podia criar o Lusitano, porque ocupava uma situação verdadeiramente insular... franca e largamente atlântica... Por isso, apesar da América ter sido descoberta por um homem de génio ao serviço de Castela, não foi do cérebro do Castelhano que despontou essa ideia; ... criada sob La influencia da alma lusa, levaram-lha de fora, encontrou mesmo por parte do génio castelhano dura e intransigente aposição e, francamente aceita, só o foi por uma mulher superior – a grande Isabel, a qual bisneta do grande Mestre de Avis, era de alguma maneira a nobre e digna representante do génio luso em terras de Castela» ().
Posto isto, vejamos pois.
O maior amigo de Colombo, o seu grande amigo íntimo, foi um frade português que, se estava de posse do segredo confidencial da descoberta, havia de estar, evidentemente, bem informado também sobre a verdadeira personalidade do descobridor do Novo Mundo.
É pena que nada deixasse escrito sobre o assunto esse modesto franciscano, que os historiógrafos têm confundido com outro religioso chamado frei João Perez, quando afinal as suas entidades são perfeitamente distintas.
Colombo – numa carta endereçada aos monarcas de Castela – referiu-se a este seu dilecto amigo duma forma que, de futuro, destruirá todas as dúvidas que ainda prevaleçam no espírito indeciso dos investigadores:
«Ya saben Vuestras Altezas que anduve siete años en su côrte importunandoles por esto; nunca en todo este tiempo se halló piloto ni marinero, ni filosofo, ni de otra ciencia que todos no dijesen que mi empreza era falsa; que nunca yo hallé ayuda de nadie, salvo de Fray António de Marchena, después de aquella de Dios eterno» ().
A oposição singular que o navegador encontrou na côrte de Isabel, a católica, – especialmente dum cortesão de grande influência e muito devotado ao soberano português, Hernando de Talavera, – afim de lhe ser concedida autorização para o seu empreendimento, é bem sintomática; D. João II sabia, tudo quanto se passava em Castela, dentro e fora da côrte; refere Resende que a espionagem diplomática; paga pelo ouro, português, era exercida até pelos próprios castelhanos de destaque em cargos oficiais do paço, «de quem recebia muitos avisos bem necessários a seu serviço e estado e ao bem de seus reinos» e «todolos conselhos e segredos lhe eram descobertos primeiro que nenhuma coisa se fizesse». Desta forma se explica que, tendo sabido que um piloto e dois marinheiros se haviam ausentado do reino afim de irem oferecer os seus serviços a Castela, mandasse, pelos seus espias, apunhalar os marinheiros no caminho e trazer preso a Portugal o piloto que foi enforcado em Évora, para exemplo de futuros traidores à pátria. Mas a despeito da oposição tenaz aos projectos de Colombo, oposição que durou anos seguidos, como se sabe, sempre e sempre mais cheia de embaraços de toda a ordem, a viagem foi autorizada, por fim, e o descobridor fez-se ao mar sob o patrocínio de Isabel, a católica. Ora o ousado nauta pôde, afinal, partir da Península para efectuar a descoberta a que se tinha proposto, porquê?
«... porque nesse tempo – é o cronista Garcia de Resende que esclarece, – entre os Reys de Portugal e Castela houve causas e cousas que pareciam de quebra; El Rey alem das lianças que com França mostrava mandou no reino e fora delle fazer grandes e dissimulados apercebimentos que para se segurar da guerra que desejava escusar, por causa da sua doença, muita lhe aproveitaram» ().
No entanto, dias antes do embarque em Palos, os reis de Castela tinham mandado apregoar pelos seus estados que as caravelas que iam enviar-se às Índias não podiam tocar em portos portugueses, aviso este que tanto poderia ser para salvaguarda dos nossos interesses de povo vizinho e evitar complicações previstas como para obstar a uma deslealdade de Colombo de que, de resto, não se livrou da fama, como as suas cartas posteriores o demonstram, suficientemente, muito em especial aquela que dirigiu a Dona Juana, ama do príncipe D. Juan e irmã de Pedro de Torres, secretário da rainha Isabel, a católica:
«Yo creo que se acordará vuestra merced quando la tormenta sin velas me echó en Lisbona, que fui acusado falsamente qué habia ido ya alla al Rey para darle las Indias. Despues supieron sus Altezas al contrario, y todo fue con malicia. Bien, que yo sepa poco: no sé quien me tenga por tan torpe que yo no conozca que aunque las Indias fuesen mias, que yo no me pudiera sustener sin ayuda de Príncipe».
Mas, apesar da recomendação proibitiva dos soberanos Colombo – no regresso – aportou, intencionalmente, a terras portuguesas. Em 18 de Fevereiro de 1493 fundeou nos Açores, no porto de S. Lourenço da ilha de Santa Maria, onde foi pagar uma promessa que fizera à Virgem durante a viagem, a uma capelinha rústica, edificada sobre a rocha, sobranceira ao Oceano vasto que a sua caravela vinha de sulcar pela segunda vez. Depois, aproando novamente à terra portuguesa, entrou a barra de Lisboa, a 4 de Março, subiu o Tejo; fundeou em frente do Restelo, e foi visitar D. João II – que se achava em Vale de Paraíso – que o hospedou, durante três dias, presenteando-o, à despedida, com uma mula como sinal de distinção. E só a 13 de Março é que levantou ferro para se ir a Sevilha levar, aos castelhanos, a notícia estrondosa do seu feito épico.
Não foram apenas os súbditos de Isabel, a católica, que tiveram a honra insigne de ir descobrir o Novo Mundo, nas caravelas, capitaneadas pelo glorioso nauta. Colombo quis levar portugueses consigo, também. Ao certo, não se sabe quantos teriam ido mas numa relação incompleta da equipagem, que chegou até nossos dias, figuram os nomes de dois grumetes, compatriotas nossos, que a imortalidade bafeje:
JOAO ARIAS
filho de Lopo Arias – de Tavira –
e
BERNALDIM
criado de Afonso, marinheiro de João de Mafra.
Relatando uma transacção comercial com os naturais, quando da sua chegada a S. Salvador, escreveu Colombo aos soberanos de Castela: «Vi dar 16 ovillos de algodon por tres ceotis de Portugal, que és una blanca de Castilla...». O ceotil (nome derivado de Ceuta), foi mandado cunhar por D. João I, exclusivamente, em comemoração da primeira empresa marítima dos portugueses à Africa em 1415, de que resultou a conquista daquela praça mourisca para o nosso domínio. O facto de Colombo consignar este episódio da sua primeira viagem – em que figura a pequena moeda comemorativa portuguesa, tem o seu quê de significativo...
Realmente, Colombo só deixou ficar à posteridade escritos seus em latim e em castelhano; mas, nos escritos castelhanos que dele nos restam, a mais superficial análise revela logo que a ortografia de muitos termos é aportuguesada, que bastantes vocábulos são, a rigor, da nossa língua, e que a construção sintáxica – como da era então por esse tempo – é, positivamente, lusitana.
Colombo, que possuía a crença sincera e fervorosa do português do tempo das descobertas, tinha uma devoção especial com o Espírito Santo. Tendo-se em vista o quanto as impressões subjectivas dos primeiros anos actuam na alma plástica, no espírito dúctil, das crianças isto parece até que vincula, etogéniamente, a sua naturalidade insulana. A festividade dos Açores – a mais antiga, a mais tradicional, – é a do «Divino Espírito Santo», que teve a sua origem primitiva na ilha de Santa Maria onde a divinizada pomba, tinha uma capela sob a sua invocação e festejos anuais de grande pompa, já ao tempo da descoberta da América. Se foi, efectivamente; à ermida do Espírito Santo que Colombo foi orar, quando veio do Novo Mundo; e se a ilha de Santa Maria é de facto, a que figura por «insula de Colombi» (ilha dos Pombos) na carta catalã e no atlas inédito italiano da biblioteca Pinelli, a que já fiz referência, talvez se possa esclarecer um pouco o tenebroso mistério colombino, pois as epistolas latinas de Toscanelli, de 1474, chamam-lhe «Christophorus Columbus» (Cristovam Pombo) e o apelido Pombo ainda hoje existe em Portugal...
No descritivo das suas viagens ao Continente Novo ele extasia-se perante as belezas emocionantes da Natureza, exaltando a frescura convidativa: das sombras dos arvoredos, o pitoresco das encostas alcantiladas, a elevação soberba das montanhas colossais, a fragrância penetrante das flores e o canto melodioso dos passarinhos. Isto- caracteriza, profundamente, a alma lírica do lusitano, o espírito contemplativo do português, navegador e poeta.
Quando a má fé dos espanhóis o intrigava com mais bravio furor e maior hostilidade, não lhe permitiram desembarcar na ilha Espaniola nem sequer fazer consertos nos seus navios avariados pelas tormentosas rotas dos mares ocidentais que ele, pelo seu génio luminoso, lhes dera. Naufragou na Jamaica e após ter pedido, com ansiada insistência, varias e repetidas vezes socorros à colónia daquela outra ilha, o governador resolveu-se, afinal, a atendê-lo e enviou-lhe, como viveres, um porco pequeno e um barril de vinho que mandou pôr no meio da praia, recomendando muito que ninguém da sua gente comunicasse com os companheiros do desventurado nauta e, em especial, com ele. Este gesto infame dos castelhanos demonstra um ultraje feito a um compatriota nosso pois é sabido que já por esse tempo portugueses e espanhóis se assacavam, mutuamente, o epíteto depreciativo de marranos (judeus). E por isso, escarnicadores, lhe enviaram a cuba de vinho e o animal excomungado em que o israelita não pode tocar.
Daí a razão de Colombo consignar, no seu «Diario», esta frase dolorida referindo-se a si próprio: – «O que te esta sucedendo agora é a recompensa dos serviços que prestas-te a outros amos». Outros amos São os reis de Castela, porque o seu verdadeiro amo era o rei de Portugal.
E, por essa ocasião, escreveu também: – «Quem, depois de Job, não morreria de desespero ao ver que, apesar do perigo que corria a minha vida, a de meu filho, a de meu irmão, a dos meus amigos, nos vedavam a terra e os portos descobertos a preço do meu sangue? A preço do seu sangue?!... Sim, a preço do seu sangue, porque tendo-se insurgido contra a autoridade do seu legitimo rei, D. João II; tivera necessidade de se mascarar de genovês para salvar a vida e evitar a vingança do monarca mas vendo sempre ameaçadoramente, na alucinação remordente da sua deslealdade, o punhal homicida dos espias.
No entanto, reconforta-o a esperança da justiça póstuma, a certeza da futura imortalidade: – «Quando chegaste a uma idade conveniente Deus encheu maravilhosamente toda a terra com a fama do teu nome, e o teu nome tornou-se célebre entre os cristãos». Nada receies, tem confiança. Todas estas tribulações estão escritas no mármore e não são sem motivo».
Era a submissão heróica da raça portuguesa que palpitava nele, essa heróica submissão ao fatalismo do lusitano verdadeiro, essa resignação piedosa perante a fatalidade vendo, unicamente, no que lhe acontecia a interferência súbita de Deus omnisciente, o dedo justo da Providência impondo um desígnio, inexorável. No seu brado vibra a força máscula, o belo estremecimento nervoso que ainda anima o português de hoje, quando pretende arrojar-se a um lance perigoso de que possa sobrevir o fim da vida: – Morra o homem e fique fama!
Por disposição testamentaria, o descobridor do Continente Novo, legou várias quantias a mercadores genoveses e a judeus, residentes em Lisboa, recomendando, porém, que «... hasele de dar en tal forma que no sepan quien se las manda dar». Colombo parece pretender pagar, assim, uma dívida antiga de gratidão – aos genoveses, de quem recebeu, talvez, auxílios monetários ou outros quaisquer, e aos judeus que lhe deram a ilustração, a preparação intelectual, como os seus escritos, todos cheios de citações bíblicas, comprovam. A colónia de mercadores genoveses era então muito vasta e acreditada no nosso país, e os sábios semitas viviam livremente na côrte, apadrinhados pelo rei (). Todavia, Colombo recomenda, misteriosamente, que se não diga quem mandou entregar as quantias legadas. Recearia ele que os contemplados – criaturas honestas, decerto – se recusassem a receber o dinheiro do homem que, por egoísmo, privara a sua própria pátria da glória duma descoberta épica?
Cheguei, finalmente, ao ponto mais importante deste meu estudo histórico-determinativo da personalidade misteriosa do descobridor da América: – a análise do curioso hieroglífico com que autenticava os documentos oficiais, e todos os seus escritos em Castelhano, hieroglífico singular que é a chave do enigma colombino. Colombo não era «Colombo», nem «Colomo», nem «de Colon», pois nunca assim se assinou mas, unicamente, desta maneira inconfundível:
XPOFERENS (Chrispoferens).
Ele deixou muito recomendado, aos seus descendentes, que firmassem sempre com a firma de que tinha feito uso:
«... firme de mi firma la cual agora acostumbro, que és una X com una S en cima, y una M com una A romana, en cima, y en cima dela una S y despues una y griega con una S en cima com sus rayos y virgulas, como yo agora fajo; y se parecerá por mis firmas de las cuales se hallaran muchas y por esta parecera. Y no escrebira sino el Almirante puesto que otros titulos el Rey le desse o gafiasse: esto se entiende en la firma y no en su ditado que podra escribir todos sus titulos como la pluquire; solamente en la firma escrebirá el Almirante» ().
Esta recomendação aos descendentes – certamente para que a firma-hieroglífica se perpetuasse através dos tempos – não deixa de ser significativa num homem tão misterioso, dum carácter tão reservado e tão enigmático, que conforme via o seu nome tornar-se mais e mais célebre «... tanto menos Conocido y cierto quiso que fuese su origen y patria». Ora a assinatura do grande nauta, antes de embarcar para a primeira viagem ao Ocidente, era esta:
.S.
.S. A .S.
XMY
XPOFERENS.
Depois da descoberta – quando entrou na posse de todos os direitos e honras que pelo seu feito ganhara – passou a assinar-se assim:
.S.
.S. A .S.
XMY
EL ALMIRANTE.
Varias escritores de diversas nacionalidades – excepto portugueses, que eu saiba, – têm tentado decifrar o enigma da firma. Entre algumas interpretações que existem impressas, apontarei as duas que conheço, não podendo, porém, precisar os seus autores:
Suplex
Servus Altissimi Salvatoris
Christi Maria Yosephus
Christoforo.
Servus
Sum Altissimi Salvatoris
Xriste Maria Jesus
Xriste Ferens.
O Sr. Dr. Arribas y Turull ao tratar da firma «de Cólon», no seu livro, passou sobre ela como gato por brasas... pois diz, textualmente, isto: «Dejando aparte los multiples significados que se han dada a esta geroglifica firma, segundo mr. Lambert de Saint Bris la traduccion del autografo és la siguiente:
Salva me
Sanctos Altissimi Spiritu
Xristos Maria Josephus
Cristobal.
«Mucho menos laberintico el autografo de su hijo y biografo D. Fernando, podeis contemplarlo en esta nueva proyeccion», etc., etc. E segue divagando, largamente, sobre judeus, voltando a afirmar que «el idioma de Cristobal Colon, no ha sido otro que el castellano», acrescentando ainda que «nada hay escrito en italiano ni en português». Pois vai sofrer a decepção de saber que ele deixou um escrito em português puro – a sua firma hieroglífica!
Ora na firma-hieroglífica do descobridor da América – conquanto pese aos eruditos
– não há latim; há, muito lusitanamente, isto apenas: X (
chris) M (
mé) Y (
y); juntando depois, de novo, o M com o A central e com o S superior, ligando-se-lhes o S lateral, para qualquer dos lados, se poderá ler: – «Me assy», porque a letra
chris (X) tem também, neste caso, o duplo valor de
i grego, segundo o seu desenho caligráfico em alguns autógrafos, cujos fac-similes analisei para estudar a minha interpretação. Portanto a firma diz isto, escrito em português – português antigo, português do século XV, mas português autêntico, português de lei, –
«Chrismey me assy»
crismei-me assim, alcunhei-me, denominei-me, adoptei o apelido porque me conhecem, evidentemente.
Mas, se alguma hesitação restar, basta o nome, logo por baixo da firma, para diluir a incerteza e destruir a dúvida.
A palavra XPOFERENS (Chrispoferens) escrita metade em grego XPO (Chrispo) e metade em latim FERENS (o que leva) foi inventada pelo misterioso nauta para achar equivalente próprio ao seu nome de baptismo «Chrispouam» ou «Xpouão» (Cristóvam), segundo a ortografia da época; ora o vocábulo Cristóvam é de origem portuguesa, e a sua significação literal diz: – o que conduz Cristo, o que vai com Cristo, o que leva Cristo. Logo se quisesse assinar-se em latim, escreveria Christophorus, em italiano Christoforo, em castelhano Christobal, e em galego Christobo. Porém, – como era português e não podia assinar o seu nome correctamente (Xpouão ou Chrispouam), que seria revelar a sua verdadeira pátria, – inventou então uma palavra onde entram duas línguas clássicas querendo assim simbolizar nela, talvez, a sua linguagem natal – a nossa bela língua, a língua de Nuno Álvares Pereira, de Gonçalo Velho Cabral, de Fernão Lopes, derivada em grande parte do grego e do latim!
Neste cronista monástico o nome do frade Marchena não condiz com o dos seguintes documentos, mais antigos, que ,confirmam o da carta de Colombo, com todo o rigor:
«Nos parece que seria bien llevasedes con vos un buen estrologo y nos parescio que seria bueno para esto Fray António de Marchena, porque és buen estrologo, y siempre nos paresció que se conformaba con vuestro parecer».
V. «Carta mensajera», dirigida pelos reis católicos ao Almirante, em 25 de Setembro de 1493, dando-lhe várias instruções para a sua segunda viagem ao Novo Mundo, publicada, nos «Documentos Diplomáticos», por Navarrete.
Las Casas – na sua «Historia general de las Índias», parte 1.ª, cap. XXXII, – diz também:
«Segundo parece por algunas cartas de Cristobal Colon escritas por su mano (que yo he tenido en las mias) á los Reys desde esta isla Espaniola, un relegioso que habia por nombre Fray Antonio de Marchena, fué el que mucho le ayudó, á que la Reyna se persuadiese y aceptase la peticion. Nunca pude hallar de qué Orden fuese, aunque creo que fuese de San Francisco, por cognoscer que Cristobal Colon después de Almirante siempre fué devoto de aquella Orden. Tampoco pude saber cuando, ni en qué, ni como le favoreciese ó que entrada tuviera con los Reys el ya dicho Padre Fray Antonio de Marchena».
O físico-mor de D. João II era um judeu, mestre Rodrigo, que tinha grande ascendente sobre o soberano.
O grande «estrolico judeu» Abraham-ben-Samuel Zacuto, professor de astronomia e matemática e autor do «Almanach perpetuus», veio para Portugal a convite de D. João II, que o nomeou astrónomo real.
Mestre Josepo Judeu ou José Vizinho era astrónomo de D. João II e médico da Junta dos Matemáticos; em 11 de Março de 1485 achava-se próximo da Serra Leoa, pois fôra à Guiné de propósito para determinar algumas latitudes, segundo uma nota marginal de Bartolomeu Colombo, irmão do descobridor, no livro «Historia Papae Pii» (Veneza, 1477) que se achava presente quando foi recebido o relatório. Convêm notar aqui, de passagem, que este irmão de Cristovam, parece que tinha algum emprego oficial, e que ainda o desempenhava em 1485.