quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Brandão Ferreira - Cristovão Colom (01)

Dá-se aqui início a uma série de comentários ao artigo de João José Brandão Ferreira, «A Questão Cristóvam Colom e a sua Actualidade para Portugal», Revista Militar, Maio 2006.
Este artigo mostra como as ideias veiculadas pela pseudo-história são apropriadas e reinterpretadas para serem postas ao serviço de ideais ou visões determinadas da sociedade.
Com esta observação não se quer significar que a História seja imune ao seu uso para fins ideológicos, contudo uma coisa é partir para uma reflexão política, ideológica, filosófica, ou qualquer outra com base na História outra coisa é fazer o mesmo partindo de pseudo-histórias. É que se num debate, ou pior ainda, numa acção, as premissas são diferentes os resultados necessariamente também o serão.

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A História de Portugal regista no seu seio um número considerável de mistérios ou de questões que até hoje não foram completamente esclarecidos.

O mesmo sucede com a História Universal. Não há nenhuma especificidade portuguesa nos mistérios.

Estão neste caso entre muitas:
– A questão sobre o “milagre” de Ourique;


Os milagres são objecto da História? E será que Deus existe? E se existe dar-se-á ao trabalho de intervir nos assuntos humanos? E intervindo nuns, porque não noutros bem mais prementes, moralmente falando?

– O que se passou nas primeiras cortes de Lamego;
– As navegações para Ocidente a partir dos Açores;
– O que aconteceu ao espólio do Infante D. Henrique;
– O significado do Políptico de S. Vicente de Fora;
– O que se passou em termos de navegações entre a viagem de Bartolomeu Dias e a preparação da Armada de Vasco da Gama;
– O afastamento de Pedro Álvares Cabral de qualquer vida pública após a viagem em que descobriu oficialmente o Brasil;


Poderá simplesmente ter-se reformado, indo viver dos rendimentos.

– A reforma das Ordens Militares ao tempo de D. João III;

Isto é um problema?

– O desaparecimento de D. Sebastião em Alcácer Quibir;

Ao referir desaparecimento em vez de morte é porque tem dúvidas. Crerá assim no Mito do Encoberto?

– O Processo dos Távoras;
– A expulsão dos Jesuítas;
– O porquê da construção do convento de Mafra;
– A morte de D. João VI;
– O assassinato do Rei D. Carlos I;
– O desaparecimento das jóias da coroa portuguesa;
– E, mais recentemente, a morte do General Humberto Delgado e o caso Angoche.


Um bom rol de enigmas ao qual se poderia juntar outros, como por exemplo, a morte de D. João II, o porquê da Inquisição, a morte de Sá Carneiro ou o caso Saltillo.

Com tantos e aliciantes desafios é espantoso verificar quão diminuta tem sido a curiosidade dos portugueses em geral, em aprofundar estas matérias, o que apenas encontra paralelo no desprezo a eles dedicado pelos poderes públicos e pela comunidade científica.

Destaques meus. Há tantos aliciantes que alguns têm de ficar de fora.
Que poderes públicos a fazer história? Quer-se criar um Ministério da História que patrocine e vele pela ortodoxia da corrente ideológica que no momento detiver o poder?
As prioridades da comunidade científica não são as das comunidades pseudocientíficas.

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