sábado, 21 de abril de 2007

Reflexões em torno das romãs


A romã é o fruto da planta cujo nome científico é Punica Granatum, nativa da antiga Pérsia. A sua domesticação data de cerca de 2000 a. C., sendo posteriormente cultivada por diversos povos (gregos, egípcios e romanos) sendo também difundida pelos fenícios nas restantes margens do Mediterrâneo.


As suas propriedades permitiram que fossem utilizadas pela Medicina para o tratamento de diversas enfermidades e sintomas das mesmas. Vários foram os estudos de Medicina e de Botânica que ao longo dos milénios se debruçaram sobre esta planta sendo dos mais antigos o de Dioscórides, um naturalista da Antiguidade.
A romã é um fruto fresco que pode ser consumido à sobremesa, mas é também utilizado na culinária como elemento em saladas, como condimento ou na elaboração de xaropes.
No que se refere à romã como símbolo religioso e artístico podem destrinçar-se várias vertentes. A sua referência mais antiga encontra-se nos papiros egípcios de Ebers e na literatura asiática, mas possui uma tradição milenar de representação cultural e mítica.


Os mitos iranianos consideram ser a romã o fruto da árvore sagrada em vez da maçã. Os gregos consideravam o fruto da romeira um símbolo de amor e fecundidade estando por isso associada à deusa Afrodite. Por outro lado os romanos consideravam a romã um símbolo de ordem, riqueza e fecundidade. Nas lendas de Perséfone a romã simboliza a fertilidade, a morte e a eternidade. Perséfone filha de Demeter, deusa da terra e da colheita, foi raptada por Hades, nessa altura jurou jejuar, contudo não resistiu e comeu seis bagos de romã. Esse momento de fraqueza traduziu-se em seis meses de permanência no Inferno, tempo que miticamente representavam os meses de mau tempo de Inverno e Outono.


Na tradição israelita Deus abençoou a Terra Santa com a romãzeira que surge nos textos bíblicos associada às paixões e fecundidade. No Cântico dos Cânticos - um poema apócrifo escrito por volta do século IV a. C. atribuído a Salomão – exalta-se o amor de dois amantes e compara-se a face da amada ao fruto da romãzeira. Este episódio tradicionalmente simboliza o amor de Deus pelo seu povo, por esta razão o pomar de romãs onde a amante promete entregar-se ao seu amor ganha uma importância de maior. Assim, Israel representaria o pomar de romãs e o seu povo a amante. Por conseguinte, a romã simbolizaria a beleza, o amor e a entrega incondicional.

Ainda na herança judaica a romã tem um profundo significado religioso de renovação no novo ano. No Êxodo, quando os judeus saem do Egipto levam consigo romãzeiras, figueiras e videiras que depois plantam em Israel, enquanto reclamam não terem sementes de trigo e cevada como lhes fôra garantido haver na Terra Prometida. A romeira é uma das árvores descritas como fazendo parte dos jardins do palácio de Salomão e o seu fruto é um dos elementos decorativos das colunas do Templo de Salomão cujo pórtico apresentava cerca de 200 romãs nos capitéis.

O consumo de romã pelos judeus faz-se principalmente em três ocasiões:

No dia de ano novo, no Rosh-Hashanah, pois representa a abundância e a esperança; diz-se que possui 613 bagos que são os preceitos da Torá e, tal como ela, o fruto possui uma coroa. No dia 6 de Janeiro, dia de Reis, pois a romã é um símbolo da vida. No ano novo das árvores a 15 de Shevat (este ano a 3 de Fevereiro) quando se inicia um novo ciclo vegetativo. Para comemorar este evento consomem-se os sete frutos referidos na Torá em louvor à fartura na Terra Santa designadamente trigo, cevada, uvas, figos, romãs, azeitonas e tâmaras.

Na idade Média era considerado um fruto cortês e sanguíneo, surgindo nos contos e fábulas de muitos países. Na arte cristã é um símbolo de esperança, prosperidade e riqueza.

A título de curiosidade (mais uma) pode ainda referir-se que em certos países se costuma colocar sementes de romã debaixo do travesseiro como garantia de obter dinheiro, sorte e saúde no ano novo. Deste modo conclui-se que a romã pertence a diversas culturas, tipos de arte, religiões, mitos e superstições.


Como se pode constatar deste curto rol, a romã é um fruto especialmente admirado e usado por todo o mundo antigo e medieval não só pelas suas qualidades reais mas também pelos atributos simbólicos que lhe são dados pelas diversas culturas. A tudo isto acresce-se a sua forma única, esteticamente agradável e por isso usada pelos artistas em detrimento de outros frutos mais uniformes ou de maior dificuldade de execução técnica como, por exemplo, maçãs, melancias, limões ou uvas.

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