A recém-divulgada carta de D.João II a D. Fernando de Aragão de 3 de Maio de 1493 como a primeira notícia
oficial da chegada de Cristóvão Colombo a Portugal depois do feito que o
celebrizou e de como foi recebido pelo rei, fez esquecer por um pouco uma outra
carta bastante mais rica e relevante para
a compreensão da rápida sequência de acontecimentos que levarão à assinatura do
tratado de Tordesilhas.
De facto, esta segunda carta
assinada pelo monarca português também em Torres Vedras mas em 23 de Maio de
1493 é um dos primeiros passos para a resolução pacífica do grande problema que
se colocou a Portugal após o feito de Colombo. Só por isto o seu valor é inestimável
enquanto monumento, pois quanto ao conteúdo confirma o que já se sabia por
outras fontes de igual importância.
Por haver veículos mais sérios de
comunicação científica do que este, e pelas razões referidas, não valeria a
pena dedicar-se neste espaço qualquer nota a esta segunda carta, não fôra o facto de
nela haver duas palavras que demonstram como as ideias dum Cristóvão Colombo português,
com este ou outros nomes, são totalmente improcedentes face à realidade das
fontes. Essas duas palavras foram notadas por Pedro Pinto que, estando a trabalhar com estes documentos sobre
aspectos relevantes para a História, de imediato se apercebeu do rombo que elas
fariam nas ideias dominantes do Colombo português. E em nada contribuindo para
o progresso da arte e da ciência que o ocupa, passou essa informação e a
respectiva transcrição a quem dela pudesse tirar utilidade, o que aqui se
agradece.
Aos praticantes das várias
crenças de Cristóvão Colombo não ser Cristóvão Colombo interessa da longa carta
de D. João II a seguinte passagem, logo no início da mesma:
[...] Recebemos
huũa vossa carta de creença.,
e ouuimos alguũas cousas que da vossa parte per vertude della nos
disse, E quanto aos pregões
e defesa que nos enuiaaes Requerer e
que mandemos dar pera que nenhuũas carauellas e nauios de nossos Reynos e fora delles, nom vaão ao que ora nouamente achou dom christouam
colombo vosso almirante., [...]
Excerto da Carta de D. João II a D. Fernando de Aragão (23-05-1493), Toledo, Archivo Histórico de la Nobleza, Villagonzalo, CP. 553, D. 8.
Excerto da Carta de D. João II a D. Fernando de Aragão (23-05-1493), Toledo, Archivo Histórico de la Nobleza, Villagonzalo, CP. 553, D. 8.
Dizem e escrevem esses autores
que Cristóvão Colombo nunca se chamou Colombo, mas sim Colon, sem acento no
segundo o, e que o Cristoforo Colombo
italiano que a generalidade dos historiadores considera consensualmente não é o
mesmo navegador, almirante das Índias de Castela. São assim duas pessoas
diferentes, sendo que a identificação de ambas numa só é feita por engano
voluntário dos actores históricos coevos ou pouco posteriores.
Este logro, segundo essas teses –
chamemos-lhes assim por conveniência do discurso –, foi atribuído a Rui de Pina
e a Pietro Martire D'Anghiera, pois como muito bem mostra a carta de D. João IIde 20 de Março de 1488 ao futuro almirante o seu nome não é Colombo e que nunca
foi referido em Portugal ou nos reinos vizinhos como tal. Como muito bem
mostra a carta de D. João II, Cristóvão Colombo é o mesmo Cristobál Colón que
saiu de Palos, foi às Antilhas, passou pelos Açores e aterrou em Lisboa.
Esta grafia do nome agora
constatada nesta carta é totalmente irrelevante para a História, pois não traz qualquer
novidade, não se ficou a saber mais do que já se sabia. Mas é um severo revés
para quem quer fazer umas histórias alternativas. O porquê da insistência na distinção
minuciosa das grafias do nome da mesma pessoa pelos defensores de qualquer naturalidade
de Colombo que não a italiana – no sentido geográfico e não no de estado –
reside no facto de não haver qualquer prova que sustente as suas ideias e por
isso sentem a necessidade separar as duas fases da vida do Almirante,
atribuindo pessoas diferentes a cada uma delas. Até ao momento esta abordagem era a
mais fácil por ser aquela que não obrigava a declarar todas as fontes e
testemunhos contrários como falsos, bastava clamar por alguns. Com esta carta reforça-se
a ligação que já havia sido estabelecida pelos historiadores com outros
documentos mas que foi declarada como falsa pelos colombófilos, como o documento
dito de Asseretto.
Como não têm importado todas as
críticas que têm sido feitas, mostrando os erros infindáveis destes raciocínios,
vai-se assistir agora a novos contorcionismos para encaixar uma cartita, que
não pode ser declarada falsa, numa narrativa que quer continuar a negar a
evidência dos factos.