quarta-feira, 30 de abril de 2008
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Portugueses na Austrália
Peter Trickett, jornalista britânico residente na Austrália, discute no seu livro Para Além de Capricórnio a teoria segundo a qual os portugueses terão sido os primeiros colonos europeus a chegar à Austrália, ainda durante a primeira metade do século XVI.
O autor baseia a sua tese no estudo de alguns mapas do Atlas Vallard (1545), ao constatar que, fixando metade de um mapa e rodando a outra metade por um ângulo de 90º, se conseguem obter as costas australianas Leste e Sul com grande pormenor e atribui a Cristóvão de Mendonça a descoberta da Austrália.
O Museu da Ciência convidou vários especialistas para debaterem este assunto no próximo dia 8 de Maio num colóquio que decorrerá das 10h00 às 13h00 e das 14h30 às 18h00.
LUÍS FILIPE THOMAZ
Instituto de Estudos Orientais da Universidade Católica
Não foi Cristóvão de Mendonça quem descobriu a Austrália
JOSÉ AZEVEDO E SILVA
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Viagens e mistérios nos mares da Indonésia e da Austrália
JOÃO PAULO OLIVEIRA E COSTA
Departamento de História da Universidade Nova de Lisboa / CHAM
Uma terra desinteressante. Os naufrágios holandeses na Austrália Ocidental do século XVII
FRANCISCO ROQUE DE OLIVEIRA
Departamento de Geografia da Universidade de Lisboa
A influência portuguesa na cartografia da Escola de Dieppe: de Nicolas Desliens a Jacques de Vau de Claye, 1541-1579
JORGE SEMEDO DE MATOS
Escola Naval
As rotas tradicionais do arquipélago e sua relação com as rotas não tradicionais
JOSÉ ALBERTO LEITÃO BARATA
Mestre em História dos Descobrimentos
A exploração dos litorais de Samatra
DEBATE MODERADO POR
FRANCISCO CONTENTE DOMINGUES
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
CONTACTOS
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Laboratório Chimico
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terça-feira, 15 de abril de 2008
Alucinação Total
É certo que toda a discussão colombina há anos que está inquinada. Só que agora atingiu o cúmulo do ridículo. Os devotos descobriram que a Torre do Tombo tem em linha o Corpo Cronológico e vai daí atiraram-se a ele como o gato ao bofe e a asneira começou a jorrar.
Como aviso aos incautos e aos distraídos declara-se aqui que a leitura feita no referido fórum dos documentos TT-CC-2-1-41 e TT-CC-2-1-42 é totalmente fantasista e não tem – até agora – nada de verdade.
Os documentos são escritos em português; não têm qualquer caracter grego (mas têm numeração romana medieval); não referem qualquer Cristóvão Colombo (ou suas variantes pseudo-históricas); não referem nenhuma Filipa Moniz; não referem nenhum Moliarte... em suma: alucinação integral.
(Por baixo está simplesmente um rabisco a trancar a página.
Não está, pois, um alfa rodado. Quando muito seria um gama (muito se gosta de complicar!).
sábado, 5 de abril de 2008
Cristóvão Colombo - Um gambito que nunca existiu
A Pseudo-História Colombina enfrenta severas dificuldades para tornar credível a sua fantasia dum Cristóvão Colombo português. Não tendo qualquer documento em que se possa sustentar, socorre-se de fontes secundárias que interpreta de forma muito generosa tentando encaixá-la à força na História. Ora, é aqui que se espalha ao comprido, pois vivendo Colombo numa época extremamente complexa, qualquer explicação que a Pseudo-História tente dar numa vertente entra logo em contradição com outros factos coevos, obrigando-a a contorcionismos vários – quando não mesmo a falsificar as temáticas próximas – criando um mundo virtual paralelo onde princípios como o da simplicidade e da plausibilidade estão completamente arredados.
Partindo a Pseudo-História do postulado de que Cristóvão Colombo é português tem de explicar porque razão não há na documentação portuguesa nenhum Colombo, Colom, Colomo, etc. Logo o nome de tem de ser um pseudónimo. Se é um pseudónimo é porque há algo a esconder. Logo, uma vez mais, postula-se ser um agente secreto. Mas um agente secreto tem de ter uma missão. Então inventa-se-lhe o encargo de enganar os Reis Católicos levando-os para longe da Rota da Índia perseguida pelos portugueses.
É precisamente neste quadro que tudo se desmorona.
Volta-se assim a uma pergunta anteriormente feita, porque carga de água é que D. João II havia de dar aos castelhanos aquilo que eles nunca procuraram? Porque razão haveriam os portugueses de querer afastar os castelhanos dum plano que estes não tinham? Porque razão quereria D. João II lembrar aos castelhanos aquilo de que nunca se haviam lembrado?
O facto de piratas, corsários ou mercadores castelhanos frequentarem o Golfo da Guiné nos anos 70 de Quatrocentos não demonstra que Castela também queria procurar um caminho para a Índia. A guerra de corso movida por Castela a Portugal no período em que D. Afonso V quis a coroa do reino vizinho não é o mesmo que a busca sistemática do caminho para a Índia. Essa guerra terminaria com a chegada da paz. Além do que, nesse tempo, também andavam pelo Golfo da Guiné navios franceses e não há indícios que isso fosse visto como o início da expansão francesa para a Índia – aliás, como também não os há demonstrando ser essa a intenção castelhana. Sendo, apesar de tudo, estes factos manifestações dum Plano Castelhano das Índias, a Rota do Cabo ficava salvaguardada para Portugal pelo tratado de Alcáçovas-Toledo.
Outra falta de raciocínio da Pseudo-História está na conclusão lógica que não retira do seu postulado de ser o tratado de Tordesilhas provocado por D. João II porque os espanhóis não cumpriam, ou poderiam deixar de cumprir, o de Alcáçovas-Toledo. Ora, não respeitando Castela a Rota do Cabo Portuguesa com o tratado de Alcáçovas-Toledo respeitaria um outro tratado com uma repartição diferente do mundo como aquele que foi assinado em Tordesilhas e que, tal como o primeiro, mantinha os castelhanos arredados da Índia? Ou seja, se os espanhóis não cumprissem Alcáçovas-Toledo os portugueses nunca teriam a certeza de que estes cumpririam um outro tratado.
As ideias do Colombo português obedecem ao princípio da simplicidade explicativa? São plausíveis?
Desde o século XII que toda a Europa está em expansão. Portugal não é excepção. Só que a portuguesa assume características próprias, levando-a mais cedo para fora do espaço continental em que se encontra inicialmente confinada. Esta dinâmica expansionista não é só portuguesa mas europeia e cedo ou tarde todos acabariam por seguir o mesmo caminho, como de facto aconteceu em vagas sucessivas até ao século XX.
No século XIV começa a expansão oceânica à escala global e nesta os castelhanos serão os últimos de todos os povos peninsulares, mas não porque D. João II se tenha lembrado de lhes oferecer um continente em troca duma Índia à qual ainda não sabia se algum dia chegaria.
E como muito bem observa Vitorino Magalhães Godinho
... desde o último quartel de Quatrocentos constroem-se os sistemas de circulação oceânica, a grandes distâncias, que entretecem pouco a pouco esses pequenos mundos no mundo atlântico, cuja génese e desenvolvimento se compreendem tão só em função duma rede de trocas à escala do Globo. Nestes níveis sobrepostos actuam actores – mareantes e mercadores, pequenos nobres e escudeiros –, depois a grande nobreza, as linhagens e institutos poderosos, intervindo as coroas desde cedo a tentar organizar o conjunto e subordiná-lo à formação do Estado moderno. É tal combinação do plano político e do fervilhar de iniciativas privadas que vemos em acção, ora firmada de cima ou pelo menos conjugada, ora desencontrada. Aragão desde os séculos XIII e XIV age segundo políticas definidas em relação ao Levante, à Sicília e Nápoles; Fernando o Católico e o Cardeal Cisneros definem, no quadro da política mediterrânea, as acções metódicas no Magreb. Ao invés, Castela intervém descozidamente nas Canárias, a conquista e aproveitamento partem de famílias com meios ou até de sociedades nobiliárquico-capitalistas. Só nos anos 70, com a ameaça portuguesa de unidade dinástica e o aliciante dos tratos dos rios de Guiné se abre um período em que, deixando como sempre a iniciativa a particulares, o Estado defende e concebe o arquipélago como peça numa de estratégica de expansão. Em Portugal parece dar-se o inverso...