O realizador de cinema Manoel de Oliveira vai estrear o seu novo filme no festival de Veneza.
A última obra do decano do cinema mundial chama-se Cristóvão Colombo – O Enigma e baseia-se no livro de Luciano da Silva e de Sílvia Jorge, Cristóvão Cólon era Português; a sua exibição será extraconcurso.
Normalmente um romance ou um filme histórico não me merece qualquer comentário público, já que ninguém minimamente bem formado toma isso por História tal como noutras obras de ficção ninguém no seu perfeito juízo questiona a existência de fadas, elfos ou orcs.
O próprio realizador diz que «Não se trata de um filme científico ou histórico, nem de carácter propriamente biográfico, mas sim de uma ficção de teor romanesco, evocativa da grandiosa gesta dos Descobrimentos Marítimos».
Assim vejo-me forçado a concordar com a primeira parte do que Manoel de Oliveira diz, mas sinto-me triste pela escolha da figura para invocar a «grandiosa gesta dos Descobrimentos Marítimos». Cristóvão Colombo só é grande porque se enganou redondamente e pelo caminho encontrou um continente onde por um acaso da História se localiza hoje a maior potência económica do mundo e como tal é um bom mercado para o seu filme, mesmo que ele não venha a ser um blockbuster.
Querendo evocar a épica dos descobrimentos poderia escolher inúmeros outros navegadores desde o mais famoso Vasco da Gama até aos menos vistosos Gil Eanes, Bartolomeu Dias ou até uma ficção em torno de Duarte Pacheco Pereira (ou uma figura inventada) e a exploração das correntes e ventos do Atlântico Sul, um feito de génio como nunca até aí levado a cabo pela humanidade.
Mas se quisesse ser politicamente incorrecto – o que também é uma boa fórmula para o sucesso de bilheteira – poderia pegar em figuras como D. Francisco de Almeida, Afonso de Albuquerque ou até, de novo, Duarte Pacheco Pereira a sustentar o cerco de Cochim.
Agora uma coisa garanto, não sou eu que vou gastar do meu bolso para ver um filme baseado numa tese fraudulenta sobre uma figura menor inventada para satisfazer egos mal alinhavados.
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