segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Oportunismo

A pseudociência tem como um dos seus atributos a recusa da crítica. O mesmo se passa com a pseudo-história, como já se mostrou nesta página. A crítica é o instrumento de verificação do conhecimento e não pode haver conhecimento sem crítica.
Qualquer discurso que procure passar por História mas que recuse a crítica passa a ser pseudo-história. Como a crítica é geralmente feita por especialistas e estes se encontram principalmente em instituições – universidades, academias e centros de investigação –, a pseudo-história passa a identificar esses organismos com os seus críticos e torna-se assim anti-institucional. Esta rejeição das instituições, confundindo-as com os seus membros, também nisso é reveladora da ignorância do processo de produção historiográfica.
Não deixa por isso de ser curioso que à recusa, por princípio, das instituições se procure sustentar nelas as suas próprias convicções quando erradamente se pensa estarem elas a dar o apoio para as ideias que se professam. É este mesmo raciocínio equivocado que faz pensar serem as instituições a validar um qualquer conhecimento e não os cientistas que na área em causa trabalham, como se a Universidade A pudesse validar, ou não, a Proposição X e a partir daí mais ninguém pudesse defender o seu contrário ou algo de diferente.
Na produção do conhecimento não há qualquer instituição certificadora de verdades e mesmo quando verdades são descobertas são-no feitas por homens, eventualmente institucionalmente enquadrados.
É por isso que, quando, por todo o lado (como aqui e aqui), vão aparecendo afirmações de que a Sorbonne apoia a ideia de ser Cristóvão Colombo português, estamos perante mais uma fraude feita por quem isso afirma. Tal como é fraudulento dizer que François Baradez é professor e é da referida universidade.
Conforme está amplamente demonstrado na página de Kristol Goulm, o jornalista François Baradez escreveu – sabe-se lá porquê – um pequeno artigo laudatório numa revista (Marins et Océans, n.º 3, 1992) de que se publicaram três números antes de fechar. O mesmo Baradez fez publicar noutros periódicos textos laudatórios do livro de Mascarenhas Barreto, facto que poderá indiciar um esforço sistemático de divulgação dos erros do autor do ... Agente Secreto de D. João II. O artigo na Marins et Océans é uma opinião que não é subscrita publicamente por nenhum professor, passado ou presente, da Sorbonne ou de qualquer outra instituição das que geralmente estão associadas à investigação histórica. Tendo cessado a publicação, essa revista foi posteriormente digitalizada e posta em linha por algum instituto ligado à Sorbonne. Quem nisto quiser ver um qualquer endosso pela universidade da opinião de Baradez sobre Colombo – ou de qualquer outro autor da revista sobre os vários temas publicados – erra tanto como aquele que vir na existência de livros numa biblioteca o apoio da mesma às ideias expressas nesses livros – pura burrice!
É, também, nestes pequenos detalhes que se manifesta toda a incoerência da pseudo-história. Esta rejeita a autoridade dos académicos e menospreza as suas instituições, mas ao mesmo tempo procura afincadamente obter o reconhecimento destes. Quando isso não acontece os seus praticantes inventam graus - usados como se de títulos se tratassem - e criam novas instituições que mimetizam as que desprezam.


Adenda de 12-12-2008.

Ver também:
CHRISTOPHE COLOMB ET LE PORTUGAL: ÉTAT DE LA QUESTION
Ouvrages de référence pour comprendre le livre de Barreto...
Les détracteurs du livre de Mascarenhas Barreto
Le professeur Mascarenhas Barreto est-il un mystificateur?

Adenda de 21-12-2008:
Fábrica de diplomas (diploma mill)
Life-experience diplomas from the Web are all the rage
Diploma mill: Bennington University
Adenda de 26-1-2009:
Qui est Mascarenhas Barreto?

9 comentários:

  1. http://kristol-goulm.blogspot.com/2008/04/les-mystifications-de-pizzaro-barreto.html

    ResponderEliminar
  2. É mesmo difícil manter-se calado na face de tantos disparates.
    "Oportunismo - Por: J. C. S. J. às 4:11.
    É este mesmo raciocínio equivocado que faz pensar serem as instituições a validar um qualquer conhecimento e não os cientistas que na área em causa trabalham, como se a Universidade A pudesse validar, ou não, a Proposição X e a partir daí mais ninguém pudesse defender o seu contrário ou algo de diferente.
    Na produção do conhecimento não há qualquer instituição certificadora de verdades e mesmo quando verdades são descobertas são-no feitas por homens, eventualmente institucionalmente enquadrados."

    Obrigado por validar com estas palavras tudo aquilo que os apoiantes do Colombo Português têm andado a fazer por quase 100 anos.
    O refere neste artigo veio já bem explicado no livro do Porfessor Manuel Rosa, o qual sempre lamenta a falta de envolvimento das instituições portuguesas em corrigir as falsidades e em rejeitar a ideia de algum tecelão de Génova poder ter casado com uma nobre em Portugal.
    Eu vou ainda mais além, não é só lamentável é uma vergonha e ainda uma falta de honestidade os nossos académicos apoiarem esse casamento promovendo o tecelão para Burguês e demovendo a Filipa Moniz de Dama privilegiada para serviçal.

    O facto é que enquanto historiadores ou académicos portugueses não levarem a sério o trabalho do Professor Manuel Rosa, que é um dos "cientistas que na área em causa trabalham" (como é óbvio pelo conteúdo das suas intervenções) seguiremos sempre lendo este tipo de artigos escritos com a premissa de que aquele meio mundo que anda às avessas é aquele que recusa acreditar num tecelão da Génova e que quem está correcto são aqueles que apoiam a vida de um tecelão sem estudo e ignorante mas que andava já a participar nas audiências e obras de D. João II 20 anos antes de ser alguém.

    "É, também, nestes pequenos detalhes que se manifesta toda a incoerência da pseudo-história" do genovês.

    Lourenço

    ResponderEliminar
  3. Sr Lourenço

    Por favor defina-me o que era um burguês, na época, para ver se entendo o seu espanto pela inserção nesse estrato social social de Colombo.

    ResponderEliminar
  4. Sobre o estatuto social de Filipa Moniz já aqui se escreveu, por isso queira ler seguindo a ligação com o respectivo nome na barra lateral esquerda.

    Os graus académicos (de bacharel a doutor) resultam da prestação de provas de competência técnico-científica dos seus portadores perante os seus mestres e servem para graduar essas competências. Acessoriamente os graus podem ser usados como títulos de distinção social, precisamente porque ilustram a posse de duma habilitação. Do mesmo modo não se pode usar de um título correspondente a um posto militar-naval ou a um grau das ordens honoríficas quando nunca se foi militar ou nunca se foi agraciado, também quem não possui um grau académico não deve usar o título correspondente - é fraudulento!

    E por aqui se começa a ver como a pseudo-história distorce a realidade histórica e o que entende por rigor.

    Já agora, repito a pergunta acima,
    defina o que é burguês.

    ResponderEliminar
  5. Ce qui a été réellement publié par la Sorbonne ce trouve sur cette page nos venons de recevoir le texte digitalisé :

    http://kristol-goulm.blogspot.com/2008/12/christophe-colomb-et-le-portugal.html

    Une note importante dans ce livre indique :

    La publication du livre de A. MASCARENHAS BARRETO, o Portugués Cristovâo Colombo agente secreto do Rei D. Joâo Il, Lisboa, Referendo, 1988, a suscité de vigoureuses réfutations:
    - Luis de Albuquerque, "Duvidas e certezas na historia dos descubrimentos Portugueses", Vol 1, Lisboa, Vega, 1990, p105-156.
    - Alfredo Pinheiro Marques, As teorias fantasiosas do Colombo "Portugués", Lisboa, 1991 ;
    - Vasco Graça Moura, Président de la Commission Nationale des Découvertes, dans "Cristovao Colombo e a floresta das asneiras", Lisboa, Quetzal, 1991.
    - D. Luis de Lancastre e Tavora, "Colombo, a cabala e o delirio".Lisboa, Quetzal, 1991.

    Ceci est la position de la Sorbonne ou luis de Albuquerque à enseigne.

    Cordielement.

    ResponderEliminar
  6. Kristol Goulm

    Merci par la publication du texte de Georges Boivert, que j'avais envie de connaître. C'est trés éclairissant.

    ResponderEliminar
  7. Mais um livro para os especialistas da Pseudo História Colombina criticarem sem ler:
    http://www.xpoferens.cat/nitoverdera/

    NUEVO LIBRO DE NITO VERDERA YA A LA VENTA
    Cristóbal Colón
    El libro de las falacias
    y relación de cuatro verdades
    ISBN: 978-84-611-8722-5
    Primera edición: Barcelona, septiembre 2007
    232 páginas, 15.60 € (Euros)

    CAPÍTULO I
    La falacia del Colón italiano.
    Ni colombo, ni Colonne
    Cristoforo Colombo
    Cristóbal Colón en los documentos españoles
    Primera conclusión
    Bartolomeo Colombo
    Bartolomé Colón
    Segunda conclusión
    Giacomo Colombo
    Diego Colón
    Tercera conclusión
    La falacia de Cristoforo Colonne

    CAPÍTULO II
    La falacia del Colón mallorquín
    El Príncipe de Viana en Sicilia y Mallorca (1458-1460)
    Juan Alfonso de Aragón y de Navarra
    El Príncipe de Viana en Sicilia
    El Príncipe de Viana en Mallorca
    El Príncipe de Viana y Georges Desdevises du Dezert
    Guiomar de Sayas, amante mallorquina del Príncipe de Viana
    Enfermedades y edad de Cristóbal Colón. Informes genéticos y antropológicos de los doctores José A. Lorente y Miguel Botella
    Edad del Almirante
    A modo de conclusión
    Notas y bibliografía consultada

    CAPÍTULO III
    La falacia del Colón portugués
    Más teorías sobre el Colón portugués
    Cuba versus Cuba
    Menéndez Pidal y la lengua materna de Cristóbal Colón
    La lengua de Colón vista por un filólogo portugués

    CAPÍTULO IV
    La falacia del Colón gallego

    CAPÍTULO V
    Falacias en el Colón catalán
    Cristóbal Colón, catalán
    Luis Ulloa y Cristóbal Colón
    Recomendaciones de Luis Ulloa y Cisneros
    Los Colom de Barcelona y Ricard Carreras Valls
    La falacia del Cristóbal Colón de Barcelona
    La falacia del Cristóbal Colón de Tarroja de Segarra

    CAPÍTULO VI
    Verdades acerca de la lengua de Colón
    La lengua materna de Cristóbal Colón
    Caracteres cifrados
    Colón y el alfabeto hebreo
    Léxico coloquial colombino
    Léxico náutico y toponímico utilizado por Colón
    Cristóbal Colón, creador de la lengua castellana
    La lingua franca como coartada
    Cristóbal Colón, escritor
    Presuntos italianismos en la carta de Colón a Luis Santángel
    El estudio de Josep M. Castellnou
    El lenguaje de Colón, según Caius Parellada
    Aproximación lexicométrica a las interferencias de base fonológica en los escritos autógrafos de Cristóbal Colón
    La lengua de Colón en el “Libro de las Profecías”
    La escritura de Cristóbal Colón: gótica cursiva de la Corona Catalano-Aragonesa

    CAPÍTULO VII
    Verdades sobre el léxico de Cristóbal Colón
    Léxico coloquial, náutico y toponímico en los escritos del Almirante
    Léxico coloquial
    Léxico náutico y toponímico
    Segunda conclusión
    Joan Coromines i Vigneaux y Cristóbal Colón

    CAPÍTULO VIII
    Teoría del Cristóbal Colón de Ibiza
    Los Colom de Ibiza y pobreza documental de los archivos históricos
    Archivo Histórico de la Pavordía de Ibiza
    Archivo Histórico Municipal de Ibiza
    La toponimia como ciencia auxiliar de la historia
    Distribución de topónimos utilizados por Colón y porcentajes
    Topónimos de Ibiza y Formentera

    CAPÍTULO IX
    Verdades sobre la religión de Colón
    Cristóbal Colón, criptojudío
    Cristóbal Colón, Ramón Llull, Arnau de Vilanova, Francesc Eiximenis y Joan de Rocatallada
    Sarah Leibovicci
    Amigos y protectores conversos de Cristóbal Colón
    Colón se lamenta por la ruina del Templo
    El Libro de las Profecías
    ¿Un proyecto criptpjudío?
    Beatriz Enríquez de Arana

    CAPÍTULO X
    Colón no era noble de cuna, sino de “mérito”
    Las armas que “solía tener” Cristóbal Colón
    La armas de Colón: un sello judío hecho a su medida como signo externo de elevado rango social
    Colores propios del blasón de Cristóbal Colón
    Las armerías del Almirante: Fundamentación jurídica de un acrecentamiento heráldico

    CAPÍTULO XI
    El ADN de Cristóbal Colón no coincide con el de los Colom, ni Colombo, ni Colomb
    El “limitado” ADN de Hernando Colón
    El cromosoma “Y” del presidente Thomas Jefferson indica que era de ascendencia judía
    Oscurantismo calculado en torno al ADN y origen de Cristóbal Colón

    CAPÍTULO XII
    La falacia del Cristóbal Colón déspota y cruel: se limitaba a aplicar las leyes dictadas por la Corona
    Los colonos
    Delitos y penas corporales

    CAPITULO XIII
    De Cristóbal Colón a Juan Ponce de León

    ResponderEliminar
  8. Enfin la vérité à propos du pseudo "Professeur Mascarenhas Barreto".

    http://cristobal-colon.net/Colon/origines/barreto.htm

    ResponderEliminar

A moderação de comentários está activada.
Não se quer limitar os comentários, quer-se somente que quem o faça use de urbanidade.
2009-03-21

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.